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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

XXXVII - UNIDADE NA VARIEDADE

Parte XXXVII

UNIDADE NA VARIEDADE

Romanos 16.3-16


 No último capítulo da Carta aos Romanos, Paulo faz recomendações, saudações e votos. São saudações individuais a vinte e seis pessoas e a cinco famílias, grupos de pessoas ou "igrejas no lar". Das pessoas mencionadas, pelo menos oito são mulheres. Treze dos nomes aparecem em inscrições ou documentos que tem a ver com a nobreza e com o palácio do imperador naquela cidade (cf. Fp 4.22). No entanto, são, na maioria, escravos.




É uma esclarecedora lista de como a fé evangélica se havia espalhado entre todas as classes sociais. Há uma mistura de judeus e gentios; nobres, libertos e escravos; homens e mulheres; idosos e jovens. Mostra como aquela comunhão de fé na cidade de Roma era formada de gente de várias nacionalidades, procedências e estratos sociais. Registra, ainda, como o muro de separação entre judeus e não-judeus fora derrubado, exatamente nos termos de Efésios 2.14,16 (cf. Gl 3.28).


A COLORIDA VARIEDADE


Como já enfatizado, há nesta passagem uma visão da intensa vida da Igreja-dos-Primeiros-Dias. A relação de nomes é de altíssimo significado, e examinando-os com alguma análise, vemos que os tipos são tão diferentes que só um milagre chamado evangelho pode explicar a interação naquela comunidade de fé.

Há judeus e há gentios, já o dissemos, ou seja, gente que vem de um profundo contexto espiritual, e gente que vem do paganismo. Há ricos e há pobres. Há homens e há mulheres.

Os judeus. Era o caso de Priscila e Áquila (v.3), de Maria (v.6), de Andrônico e Júnias (v.7), de Apeles (v.10), de Herodião (v.11).

Há romanos: Ampliato (v.8) e Urbano (v.9), e, pelo menos, um grego, Epêneto.
Escravos: Ampliato, Urbano, Estáquis, Flegonte, Pérside e Hermas.

O significado dos nomes é igualmente muito interessante:
· Áquila = águia
· Asíncrito = incomparável
· Epêneto = louvado
· Estáquis = espiga
· Filólogo = falador, erudito
· Flegonte = ardoroso
· Hermes = intérprete (daí a palavra hermenêutica, a arte da eloqüência)
· Júlia = juvenil
· Maria = bela (alguns traduzem como "teimosa, obstinada")
· Nereu = molhado
· Olimpas = descido dos céus
· Pátrobas = vida do pai
· Priscila = venerável
· Trifena = delicada
· Trifosa = mimosa, graciosa
· Urbano = criado na cidade.

As saudações não são longas, mas são muito expressivas, cheias de gratidão e plenas de amor:

Em relação a Prisca e Áquila (vv. 3,4): "meus cooperadores em Cristo" e "pela minha vida expuseram as suas cabeças" . Para Epêneto (v.5b): "meu amado" e "primícias da Ásia para Cristo". Maria (v.6) foi a que "muito trabalhou por vós". No verso 7, Andrônico e Júnias são "meus parentes", "meus companheiros de prisão" e "bem conceituados entre os apóstolos".

No verso 8, Ampliato é "meu amado no Senhor"; no 9, Urbano é "nosso cooperador em Cristo"e Estáquis é chamado de "meu amado". Apeles (v. 10) é denominado "aprovado em Cristo"; no verso 12, as irmãs Trifena e Trifosa são as que "trabalham no Senhor", e Pérside, veterana senhora, é amada" e "muito trabalhou no Senhor". E passando ao verso 13, Rufo é o "eleito no Senhor".


MEMÓRIAS 


Há algumas histórias por trás das lembranças de Paulo. A história de Prisca e Áquila. Eu escrevi Prisca? Prisca ou Priscila? Dá no mesmo, porque Priscila é o diminutivo de Prisca (cf. At 18.2, 18,26), como Lucia faz Lucila, Drusa, Drusila e Lívia, Livila. Era um casal devotadíssimo ao apóstolo Paulo, a ponto de sofrerem perigo de vida (cf. 1Co 15.32; At 19.23) Tinham a mesma profissão de Paulo, que, por um tempo, morou com eles. Quando Paulo deixou Corinto indo para Éfeso, o casal o acompanhou (At 18.18). É possível, até, que Priscila pertencesse a uma família da nobreza romana, e Áqüila fosse um judeuda Ásia menor setentrional. Um estudioso do Novo Testamento diz que não há no Novo Testamento um casal mais fascinante que este.

Outra história interessante é a de Rufo. No verso 13, Paulo chamou à senhora, mãe de Rufo, de sua mãe, de acordo com o costume oriental de assim chamar uma senhora mais idosa. Há quem admita ser Rufo filho de Simão, o cireneu que carregou a cruz de Jesus compartilhando com Ele a dor, o maltratto, a humilhação daquela manhã em Jerusalém (cf. Mc 15.21). Se assim ocorreu, que gente extraordinária são os pais de Rufo: o pai carregou a cruz de Jesus Cristo, e a mãe "adotou" Paulo, o grande apóstolo aos gentios.

As duas idosas irmãs em Cristo têm histórias não contadas no texto. Pérside ("natural da Pérsia") e Maria são pessoas que não se entregam. Eram avançadas na idade, e incansáveis no trabalho. Aliás, Paulo usa uma palavrinha que diz isso: kopian, que significa "trabalhar até o cansaço"


A UNIDADE 


Não é fácil viver em unidade, em concórdia. Dietrich Bonhoffer usa as expressões "dom de uma vida comum" e "dom da adoração em comum aos domingos", aplicando-as à bênção de Deus que se chama Igreja. Diz ele que o estilo de vida que acontece na igreja é um privilégio. Mas a verdade é que é muito difícil viver em comunidade. E se não há o alicerce de Jesus Cristo, essa experiência que deveria ser abençoada, abençoadora, enriquecedora, torna-se amarga e, em certos casos, traumatizante. Muitos problemas afloram porque nossos irmãos em Cristo (em quem corre o mesmo de Jesus nas veias) são tratados apenas como outras pessoas, gente que enche os bancos da igreja, mas não como irmãos no Nome de Jesus Cristo, nosso Salvador.

Pois é; o relacionamento humano é uma teia delicadíssima, tenuíssima e fragílima que pode se romper com coisas mínimas e minúsculas, mas que se fortalece quando está fundamentada no respeito, na confiança, na honestidade, na tolerância, no querer o bem, no bem-querer e nas atitudes de boa vontade.

Na verdade, o relacionamento humano e cristão é dinâmico, poderoso e incentiva o crescimento pessoal e da Igreja como um corpo.


PRECIOSAS LIÇÕES


Sacrifício de uns pelos outros (vv. 3-5a). Aqui temos Priscila e Áqüila, o casal amado, recebendo do apóstolo o reconhecimento pelo modo através do qual compartilharam de suas lutas, a ponto de quase serem mortos.

Desde o princípio desta genuína e profunda amizade, Priscila e Áquila foram pessoas que mantiveram aberto o coração, abertas as mãos, e aberta a porta para a expansão do nome e reino de Cristo

Trabalho pelo bem comum (v.6). Paulo saúda a irmã na fé chamada Maria. É digno de observação que as mulheres são significativamente proeminentes na vida da Igreja de Cristo. Nesta lista há solteiras, casadas, viúvas, mães e todas executando um admirável ministério na Causa do Senhor.

Temos membros de uma mesma família fazendo parte com outras famílias de uma mesma família de fé. Paulo até o menciona. No verso 10, ele fala dos "da casa de Aristóbulo"; no verso 11, "os da casa de Narciso", no verso 13, de Rufo, sua mãe e sua irmã, e no verso 15, de Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã (provavelmente, pai, mãe e filhos).
O Novo Testamento menciona que, em muitas ocasiões, famílias inteiras eram batizadas (cf. At 10.44-48; 16.15, 33330-34; 18.8; 1Co 1.16; 16.19; Cl 4.15; Fm 2). Havia casos em que pequenos grupos se reuniam em uma casa. É o caso de um núcleo que tinha seus encontros na casa de Áquila e Priscila (v. 5a). Alguns foram companheiros de prisão do apóstolo (cf. v.7). Dr. Dale Moody, nosso ex-professor, fez uma significativa afirmação ao dizer que será um dia glorioso quando os cárceres forem transformados em púlpitos.

Aceitação de uns pelos outros (v. 16). Paulo recomenda uma saudação muito comum no Oriente Próximo ainda hoje: o beijo (cf. Gn 29.11; 33.4; 1Sm 10.1). Além de ser um sinal de afeição entre parentes,um sinal de amor, havia, também, um tom de homenagem (Gn 29.11; Ct 1.2). No Novo Testamento,é um sinal de amizade e saudação (Mt 26.48).

Era, lembremos, um ato de fraternidade entre os semitas, mas não entre os romanos. Por outro lado, o costume já se havia difundido nas igrejas conforme atestam os seguintes exemplos textuais: 1Coríntios 16.20; 2Coríntios 13.12; 1Tessalonicenses 5.26 e 1Pedro 5.14.. Paulo, porém, não o entende só como sinal de amizade, nem como uma ordenança ritual. Paulo usa a palavra "santo", "ósculo santo", para evitar toda e qualquer conotação maldosa. Equivale, então, em nossa cultura, a um fraternal abraço e aperto de mãos, um cordial "Bom dia!"

É preciso recuperar o significado da comunhão. Aliás, comunhão (koinonia) é uma das grandes palavras do Novo Testamento. Fala de uma abordagem sistêmica, pois é vital para a saúde espiritual da igreja e do crente como indivíduo. Pode não parecer, mas uma há uma comunhão o dedo e o fígado de alguém, a perna e o coração porque corre um sangue vital. Devemos buscar a comunhão, nos aproximar de alguém. É preciso lembrar que avivamento e comunhão andam de mãos juntas.

Há uma recomendação do apóstolo que é apropriada para encerrar esta reflexão. Encontra-se em 1Coríntios 16.14b: "Fazei todas as vosss obras com amor". É recomendação perfeitamente pertinente porque nenhum dom espiritual, nenhum desejo de unidade ou de comunhão é coisa alguma sem o amor. É ele quem põe um ponto final nas divisões, faz desaparecer o orgulho, que regenera o interesse, a solidariedade e a fraternidade de uns pelos outros.

O amor é o começo do crescimento espiritual. Será preciso lembrar que o primeiro aspecto do fruto do Espírito é o Amor? Por ele, manifesta-se a humildade (Rm 12.4), desenvolve-se a compreensão e o ministério do ouvido amigo. Assim é: "Todas as vossas obras sejam feitas com amor".


Oração

Senhor, nós Te pedimos:
Que nos conheçamos sempre melhor
Em nossas aspirações e nos compreendamos
Mais e mais em nossas limitações.
Que cada um de nós sinta e viva
as dificuldades dos outros.
Que ninguém fique alheio aos momentos
De cansaço, dissabor e desânimo do próximo.
Que nossas discussões não nos dividam,
Mas nos unam na busca da verdade e do bem. Que cada um de nós, ao construir a própria vida,
Não impeça o outro de viver a sua.
Que nossas diferenças não excluam ninguém da comunidade.
Que olhemos para cada um, Senhor,
Com os Teus olhos e nos amemos com o Teu coração.
Que a nossa fraternidade não se feche em si mesma,
Mas seja disponível, aberta e sensível
Aos problemas de cada um.
E que, no fim de todos os caminhos,
Além de todas as buscas, e depois de cada encontro,
Não haja vencidos nem vencedores,
Mas somente irmãos.
Assim seja. Amém!

(Autor desconhecido)

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