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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

II - LEVANDO A SÉRIO A CEIA DO SENHOR

Parte II
LEVANDO A SÉRIO A CEIA DO SENHOR


"Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, havendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto do meu sangue; Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim como do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor" (1Co 11.23-29).


A Ceia Memorial tem sido celebrada num ambiente espiritual, profundo, reverente e cheio de certeza, além do destaque que a Ceia do Senhor nos fala numa linguagem silenciosa porém plena de energia. Temos o pão e o vinho, elementos simples, porém altamente destacados nesta celebração. E nesta simplicidade, ela se torna um meio de comunicação de algumas importantes mensagens para o povo de Deus. Quando levamos a sério a celebração da Ceia do Senhor, usamos de determinadas linguagens:


A LINGUAGEM DE COMEMORAÇÃO (v.25)


Paulo diz isso: "Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim", ou seja, "para que pensem novamente em mim."

A presença de Jesus Cristo é algo extraordinário na vida cristã. Pela inspiração do Espírito de Deus, até mesmo a escolha de certas palavras tem o seu lugar na Escritura Sagrada. Aqui, apenas uma filigrana lingüística: na língua hebraica, a palavra que significa "manifestação de Deus, presença divina" é shekinah, a gloriosa presença de Deus no meio do Seu povo. Cada vez que a glória do Senhor se manifestava no meio do povo de Israel, fosse no deserto, em Canaã, ou nas grandes batalhas, sempre era celebrada a manifestação da shekinah divina (cf. Sl 78.60; Is 18.1; 22.19).

Quando João escreveu a narrativa que abre o Evangelho que leva o seu nome, ele disse "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade"; a palavra grega utilizada não é do hebraico: é grega, tem outra origem. O impressionante, no entanto, é que o vocábulo utilizado por João para dizer, "o Verbo habitou, marcou presença, manifestou-se entre nós", é a palavra grega que diz skinê. Percebam o som do hebraico sh ki nah e do grego s ki nê. As duas palavras têm praticamente o mesmo radical. Coincidência, ou vontade de Deus que as palavras assemelhadas fossem usadas pelo escritor sagrado?

Para que se manifeste a glória de Deus, e para que pensemos nEle, é que a Ceia do Senhor é celebrada por Sua Igreja. Jesus Cristo estabeleceu duas ordenanças, e somente duas: o Batismo e a Ceia Memorial. São ordenanças sem qualquer benefício acessório para a salvação. Uma pessoa em sendo salva por Jesus Cristo, na verdade não precisa, para acrescentar algum valor maior à salvação, do Batismo. O malfeitor da cruz não precisou se batizar, mas já estava com Jesus Cristo no paraíso após a crueldade daquele momento.

A outra ordenança é a Ceia do Senhor. Então, quando observamos a Ceia do Senhor, fazemos algo pelo Senhor, não por nós ou pelos outros, mas pelo Senhor, porque estamos pregando o Seu sacrifício para a salvação de todo aquele que crê. Estamos dizendo isso quando tomamos o pão nas mãos, que é o corpo de Jesus Cristo que sofreu no Calvário; e quando tomamos o cálice, dizemos que o sangue de Jesus Cristo foi derramado por nós. Estamos pregando a mensagem de livramento de redenção para todo o que crê!

Como precisamos de memoriais! Sim; precisamos de memoriais para que nos lembremos de quem somos, daquilo que somos, porque estamos aqui, e aonde estamos indo. Quando nosso país joga na Copa, os memoriais brasileiros se apresentam por todos os lados: é a bandeira do Brasil sendo desfraldada. E não existe sentimento maior, e quem já passou por isso o sabe, que estar num outro país, e se emocionar com o verde-amarelo tremulando nos mastros com outras bandeiras. Isso se chama filia, o amor cívico, patriótico. Não é doença, não: é patriotismo mesmo!

Sim; precisamos de memoriais. Quando se ouve o nome de Maria Quitéria, logo lembramos do Dois de Julho, a data principal da Bahia! Falamos de amor conjugal, lembramos a aliança. Com certeza: precisamos de memoriais. Temos que lembrar da nossa indignidade e da beleza do perdão. Por essa razão, temos o memorial da Ceia do Senhor. É isso o exatamente o que faz a Ceia do Senhor: ela nos relembra o dom da vida através da morte de Jesus Cristo. Assim, quando nos reunimos seriamente para celebrar este ato memorial, utilizamos a linguagem da comemoração.

A LINGUAGEM DA COMUNHÃO (vv. 17-20)

Paulo disse: "Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, mas para pior" (v. 17). Aconteceu, infelizmente, com a igreja de Corinto, que se reuniu não para o melhor, mas para o pior; reunia-se para a indignidade. Não confundamos as coisas: quando falamos de comunhão, não estamos falando de encontro sobrenatural, místico; não estamos dizendo que nos unimos a Jesus Cristo através do Nirvana, como querem pregar as religiões orientais; não estamos tendo uma visão, não; não é comunicação com um morto como querem ensinar por aí, não! A Palavra nos ensina que a Ceia do Senhor é um memorial. Não há comunhão física, ao se participar da Ceia do Senhor, entre o homem pecador e o Deus perfeito, mas uma comunhão espiritual, sem dúvida, pela lembrança de Cristo na cruz, se a levamos a sério.

Ao longo destes 39 anos de ministério da palavra e das ordenanças, ainda me emociono quando participo da Ceia do Senhor! E cada vez que seguro o pão, e o parto na frente dos irmãos, eu me emociono, porque me vem à mente que sou indigno pecador, e que pela graça de Deus fui feito Seu filho! Lembro-me, quando tomo a jarra de vinho, e derramo um pouco no cálice, de que fico com as mãos trêmulas; são 39 anos celebrando a Ceia do Senhor praticamente mês a mês (e houve época quando o fiz duas vezes no mês), mas ainda hoje tremo quando tenho na minha memória e coração a cena de Jesus Cristo no Calvário, e o Seu sangue escorrendo pelas mãos, pela Sua testa, pela face, e pelo tronco da cruz...

Sim; há uma comunhão espiritual pela lembrança de Cristo na cruz, e pela nossa identificação com essa cruz: a minha cruz, não de Cristo, mas a minha cruz!

Há uma comunhão entre os crentes na Ceia Memorial, mas não é comunhão-de-cafezinho! Por isso, Paulo está preocupado, e diz "Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem tampouco as igrejas de Deus. Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, mas para pior".

Havia divisões na igreja de Corinto quanto a questões de doutrina. A igreja estava seccionada por causa de trajes (capítulo 11)?! Havia divisões por causa de uma doutrina (cf. capítulos 12 e 14); E depois todos queriam se reunir para "tomar cafezinho"?! A Ceia do Senhor não é para isso, porque a tomamos agora, e se não temos essa impressão profunda, sairemos com a mesma amargura e rancor com que entramos. A conduta dos irmãos de Corinto destruía o propósito da igreja, e o propósito da Ceia! O que Paulo está enfatizando é a harmonia da Ceia, a qualidade de vida espiritual, a unidade da igreja, e quando celebramos com seriedade a Ceia, é isso o que estamos proclamando!

A LINGUAGEM DA CONSAGRAÇÃO (vv. 27-29)

Quando celebramos a Ceia usamos esse tipo de linguagem. "De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice".

Interessante que a Ceia do Senhor não torna ninguém melhor: ninguém vai sair melhor porque tomou a Ceia do Senhor. E, no entanto, há um paradoxo: o irmão pode sair pior se tomou a Ceia do Senhor indignamente! É o que Paulo diz, por essa razão é dever de cada um solene e seriamente examinar-se sobre quais são os seus interesses e propósitos quando se aproxima da Mesa do Senhor. Veja bem a seriedade de seus objetivos.

Estive lendo sobre os levitas e sacerdotes (Números 3 e 4). Fiquei arrepiado! Que coisa impressionante a legislação, como eram as normas no acampamento de Israel no deserto: somente podiam se aproximar dos móveis os sacerdotes, nem os levitas que eram os seus auxiliares.

Quando havia necessidade de desmontar o tabernáculo para se transferirem para outro lugar, os sacerdotes entravam, embalavam os móveis, com várias camadas de tecidos (e de cores diferentes para mostrar o grau de santidade do objeto), e depois que tudo era embalado, e ninguém via a forma do objeto, os levitas pegavam o pacote e faziam o carregamento nos carros de boi para o transporte pelo deserto. E sempre é lembrado o seguinte: "e o estranho que se chegar será morto" (Nm 3.10, etc.).

Os levitas funcionavam, entre outros deveres, como guardas de segurança do tabernáculo. A lei não era fácil: era marcial, lei de guerra! O "estranho" não era o pagão, não; era o próprio povo de Israel. Só que há uma diferença muito grande: na Igreja Cristã o pastor não é o sacerdote, e os outros, o "povão"! Na Igreja de Cristo fomos todos elevados ao sacerdócio, por isso podemos nos aproximar dos objetos, da Mesa do Senhor! Mas tem uma coisa: se o irmão vier à Mesa do Senhor com as mãos sujas, "será culpado do corpo e do sangue do Senhor" (1Co 11.27b)! O irmão não sai melhor, mas pode sair pior do santuário. Quanto seriedade é exigida dos participantes?!

Então, estou vindo com fé na morte de Jesus Cristo? Vivo diariamente pelo poder da ressurreição de Jesus Cristo? São perguntas que tenho que fazer! É Jesus realmente o alimento da minha alma? Sou eu um dos Seus, e sou eu um com os Seus? Estou em harmonia, minha vida é digna da comunhão com os outros crentes? Permanece a minha aliança com o Deus vivo? Se não conheço a Jesus Cristo, como posso me lembrar dEle?

Phillip Henry diz que o crente quando for participar da Ceia deve fazer três perguntas:
· Que é que eu sou? Filho de Deus, salvo pelo sangue de Jesus? Lavado pelo Seu sangue?
· Que é que eu tenho feito? Minhas mãos estão limpas, ou manchadas. Meu coração está limpo, ou borrado, sujo?
· Que é que eu desejo? Quais os meus sonhos e visões, que almejo na Causa de Jesus Cristo?

Não é sério? Então, devemos dar graças a Deus pelo privilégio de termos um diálogo com a Ceia do Senhor, e, assim, que venhamos à mesa do Senhor em espírito de comemoração porque essa é a linguagem que falamos agora, em comunhão espiritual porque essa é a realidade que vivemos agora, e consagração pessoal porque esse é o propósito, o objetivo, o alvo de nossa vida sempre. E lembrando, sobretudo, que a Ceia do Senhor não é um funeral (para que cara triste?): a Ceia do Senhor é uma celebração de fé, de alegria, de esperança porque nós olhamos para o dia da volta de nosso Senhor Jesus Cristo!

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