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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

V - “ALEGREI-ME QUANDO ME DISSERAM..."

Parte V

“ALEGREI-ME QUANDO ME DISSERAM..."


Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” (Sl 122.1)




A tocante, inspiradora, edificante experiência de ver o povo de Deus chegando cada manhã ao templo é uma alegria dominicalmente renovada. Podemos, mesmo, imaginar as multidões indo à Beth haMikdash (Templo) em Jerusalém, e cantando à medida que iam se aproximando dos portões da Cidade Santa. É o que diz a nota de explicação do Salmo 122 com a expressão “cântico de degraus” (“gradual” ou “de romagem”, “de romaria” ou “de procissão” em outras traduções). O povo ia ao Templo de Jerusalém, e vem hoje ao templo. Porém, com que objetivo?



A Casa de Deus


É lugar de adoração. Está na Palavra Santa: “...aonde sobem as tribos, as tribos do Senhor, como testemunho para Israel, a fim de darem graças ao nome do Senhor” (Sl 122.4) Jesus Cristo ensina que o Senhor busca adoradores (Jô 4.23), ou como bem o expressou A. W. Tozer: “Deus salva os homens para fazê-los adoradores, fato esquecido hoje em dia por liberais, seitas e (até) cristãos bíblicos”.
Se não somos adoradores, crentes com espírito de louvor, não poderemos trabalhar aceitável e adequadamente pelo reino de Deus, pois o Espírito Santo age através do coração, das mãos, dos pés, dos lábios que se renderam ao Criador. Assim, o louvor é a nossa resposta ao amor de Deus. Cantar, orar, meditar, tudo leva à adoração. Adorar, no entanto, é mais que qualquer um desses atos.
Na verdade, é se deixar inflamar pelo Deus Pai, pelo Deus Filho e por Deus Espírito Santo; cultuar é confessar que se mantém um relacionamento com o Criador. O crente troca a independência, a auto-suficiência, a rebeldia pela rendição a Deus, pela entrega, submissão e pedido de socorro. No culto, louvamos a Deus em conjunto, confessamos nossos pecados em conjunto, recebemos a Palavra em conjunto, e saímos para servir com um só propósito embora em situações e contextos distintos.
Há, porém, que ser assim, visto que, após a salvação, o passo mais importante que o novo crente, o crente deve dar é unir-se ao povo de Deus na instituição que Ele estabeleceu para o propósito de lhe trazer crescimento: a igreja local. No dizer de Paulo, apóstolo: “Escrevo-te estas coisas, embora esperando ir ver-te em breve, para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade” (1Tm 3.14,15). É nesse pensamento que o poeta exclama com tanto entusiasmo, “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!” (cf. v. 4).

No culto comunitário, há pessoas de diferentes origens, níveis sociais, raças e culturas. Todas essas distinções, no entanto, se evaporam no canto congregacional, no canto coral, na oração, na leitura bíblica, na entrega dos bens e vidas, na mesma expectativa quanto à pregação. O crente há de compreender que, ao vir ao culto, algo vai acontecer: sua vida será agraciada pela presença de Deus, pela compreensão do grande, eterno amor, e enriquecida pela comunhão dos irmãos, aquilo que é tão bem expresso na Bênção Apostólica: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.13). É o senso de conjunto, de adoração conjunta em perfeito acordo com o que Paulo acentuou em Filipenses 3.5: “Pelo que todos quanto somos perfeitos tenhamos este sentimento, e, se sentis alguma coisa de modo diverso, Deus também vo-lo revelará”. Há um popular hineto que diz: “Quando estou com o povo de Deus,
eu sinto a maior alegria;
quando estou com o povo de Deus,
eu sinto real harmonia...”

É a fé estimulada, são as energias espirituais renovadas, a coragem, a robustez, a esperança fortalecidas, por que no culto, Deus está presente: “O Senhor está no seu santo templo...” (Hc 2.20); Jesus Cristo está presente: “onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20); o Espírito Santo está presente: “E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus” (At 4.31). E, quando o culto termina, diz o adorador-em-espírito-e-em-verdade, “Alegrei-me de verdade, alegrei-me com tudo o que eu sou, alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor!”
A casa de Deus é um lugar de oração. “Orai pela paz de Jerusalém” pede o salmista no Salmo 122.6. Assim, é ambiente de conseqüente avivamento. Por vezes, vidas são áridas num mundo árido, surgindo a necessidade de reavivar-se a chama dentro de nós. É o reaquecimento, o despertamento que buscamos, prezamos, queremos e pelo qual clamamos.
Habacuque expressou este clamor ao dizer, “Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos; faze que ela seja conhecida no meio dos anos; na ira lembra-te da misericórdia” (3.2). E o Senhor nos responde: “e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” (2Cr 7.14).
A dinâmica do culto consiste em deixar-se o crente individualmente, e a igreja como um todo tocar pelo Espírito de Deus. Isso nos recorda o ensino bíblico de que é pecado trazer no culto divino e ao serviço do Senhor qualquer coisa que não proceda de uma vida renascida. É o fogo estranho de que fala Levítico 10.1 e Números 3.3,4. Irreverência na casa do Senhor é pecado grave, muito grave, e traz sério prejuízo espiritual para toda a igreja. Não expressa a Escritura, “Guarda o teu pé quando fores à casa de Deus” (Ec 5.1a)?

É até possível ampliar a explicação exortando a guardar os ouvidos, os olhos, a mãos, a mente e o coração. Dominados haveremos de ser por um anseio de uma maior consagração. O cristão evangélico não “assiste ao culto”: dele participa. O culto não é um drama encenado para uma platéia de espectadores, ou realizado tão somente pelo oficiante sem a presença de um auditório. É ato corporativo. Aliás, a alegria do culto divino é um sentimento antecipado, e acentuada essa alegria quando compartilhamos a adoração com outros crentes. Portanto, não basta a um cristão dizer que pode orar, cantar, ler e meditar em casa, ou ligar a TV e ter a igreja eletrônica com um pregador de estúdio “olhando” para você (?!) da tela fria do televisor, porque nada vai compensar o culto que você perdeu, e nada vai comprar as bênçãos divinas, os temores afastados, as falsas idéias e doutrinas corrigidas, e a fé revigorada na adoração coletiva.



Algo Prático



O cantar. É errado chamar a primeira parte do culto de Louvor, visto que, na realidade, todo culto, e o culto todo é uma tremenda apoteose de louvor. Não pode haver culto se não há adoração com seriedade, se o louvor é sem reverência, sem humildade, sem espírito de dependência, sem espírito de cooperação, sem confiança, sem quebrantamento e sem consagração.
A música são as flores do jardim da adoração. O objetivo é unicamente a glória de Deus, nunca o destaque pessoal. A música deve afunilar juntamente com as leituras bíblicas, a oração e as ofertas para o tema a ser explanado e desenvolvido no sermão. Cuidado com a música de qualquer jeito, sem ensaio, improvisada, porque nosso Deus não merece nem tolera isso!
Por que substituir os teológica e musicalmente bem escritos hinos, hinetos e doxologias por corinhos de paladar duvidoso, escritos em mau português, popularescos, com uma teologia que não é bíblica, como, por exemplo, “Jesus é a aliança entre você e eu...”, onde em poucas palavras há um erro crasso de linguagem? O hino deve ser reverente, bíblico, trazer o amor de Deus e enfatizar a adoração.
O bom hino comunica o amor do Pai. Há quem se interesse pelo som, pela harmonia ou pelo ritmo, mas não pelo Senhor que é exaltado nos seus versos. Há quem esteja mais interessado no que alguém imaginosamente chamou de LIT-ORGIA, em vez da liturgia (palavrinha boa que significa “o trabalho do leigo”); há quem se interesse pelo barulho em vez do serviço a Deus, o “trio elétrico” evangélico”, a “axé music” evangélica em vez da calma onde se manifestou o Espírito de Deus a Elias (1Rs 19.12b). O irmão Lawrence afirmou, “Não consigo imaginar como pessoas religiosas podem viver satisfeitas sem a prática da presença de Deus”. Sim, a alegria da presença de Deus, porque a alegria não é encontrada em cantar certo tipo de música ou viver com certo grupo. Consiste na obediência.
As ausências. A palavra de Deus é claríssima sobre esse tema: “consideremo-nos uns aos outros, ... não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns...” (Hb 10.24,25). A tradução do Pe. Negromonte esclarece ainda mais, “Não deixando as nossas reuniões...”
É ausentar-se podendo estar presente, o velho e persistente comodismo. É não deixar que a chuva, o calor, o frio, a TV, a corrida de automóveis, o futebol, o dever de casa, a praia, os passeios, ou o turismo eclesiástico nos impeça de vir à própria congregação, pois é preciso crescer com a igreja, crescer na igreja, crescer para a Igreja de Cristo em sua expressão local, a comunidade de fé de você faz parte.
Quando deixamos a congregação, quando nos ausentamos da igreja, não recebemos as bênçãos do culto, perdemos o fervor, o espírito de unidade, não levamos os filhos a crescer e a igreja perde a cooperação.
Se a adoração, o louvor, o culto não nos transformar, não pode ser chamado culto, louvor, adoração (cf. Mt 5.23,24), visto que adorar, louvar, cultuar é transformar-se. Se a adoração não nos levar a maior obediência, é só agitação, mas não um ato de culto. Quando entramos no templo é a expectativa, quando saímos é obediência; quando entramos é fé e esperança, quando saímos é amor.

Neemias nos inspira: “porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força” (8.10b), por isso, “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!”

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