Páginas

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

XXX - O ANÚNCIO DA IGREJA

Parte XXX
O ANÚNCIO DA IGREJA

Neste trecho, entendo que o Senhor Jesus apresenta a Igreja como seu propósito; assim como esboça sua composição, seu caráter e missão: 




(MATEUS Cap: 16)


[13] Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem?

Embora, em seu ministério público, Jesus tenha interagido com quase todos os partidos judaicos: os herodianos, que, conforme indica o nome, eram partidários de Herodes; os zelotes, que queriam, pela força das armas, libertar Israel do domínio romano; os fariseus, ortodoxos estudiosos das escrituras; e os saduceus, partido da classe sacerdotal; foi com o povo que Jesus, de fato, desenvolveu o seu ministério. Ao povo pregou; alimentou; curou. Foi com o povo que andou e que se confundiu.
A pergunta era, portanto, uma aferição: o que as bençãos recebidas pelo povo geraram neste em termos de compreensão de quem Jesus era?

[14] E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas.

A resposta deixou a desejar, conseguiram ver em Jesus um grande profeta, catalogaram-no entre os maiores, porém, não acertaram. Ouvir, ser curado e alimentado por Jesus não é garantia de chegar a ter dele o conhecimento que dá vida eterna (Jo 17.3).

[15] Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?
Outra aferição, esta mais importante: os discípulos conviveram com Jesus, obtiveram informações privilegiadas, quer pelas perguntas que puderam fazer, quer por ensino exclusivo, quer pela observação no dia a dia. Detendo mais informações, estavam mais preparados para responder; era de se supor que acertariam.

[16] Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", responde Pedro. Tu és o Cristo, o messias, o salvador vislumbrado pelos patriarcas e anunciado pelos profetas. Certo, porém, incompleto, se parasse por aí: todos criam que o messias seria o maior dos profetas (Dt 18.15), entretanto, um profeta. Pedro teria ido apenas um pouco mais adiante que o povo. Ele vai mais longe: "o filho do Deus vivo". Revolucionário! Os teólogos, de então, diziam que Deus era único, logo, não podia ter filho. Por que? Porque se Deus tivesse um filho, este teria de ser um Deus também, então, já não seria um único Deus, mas, dois deuses. Eles não conheciam a doutrina da Trindade, não sabiam que há três pessoas e um só Deus. Pedro disse-o: Jesus de Nazaré é o Cristo; Jesus de Nazaré é Deus. Resposta completa. Os teólogos entenderam que Deus haveria de mandar um salvador, entenderam ser um grande profeta - Moisés assim pareceu dizer (Dt 18.15) - não entenderam que, ao anunciar um salvador, Deus anunciava a sua visita. Não imaginavam que a salvação humana custaria tão grande preço.
Franco Zefirelli, cineasta italiano, fez o filme Jesus, que chamou de seu afresco. O filme, originariamente, apresentado em duas partes, tinha, como término de sua primeira parte, cena que procurava retratar o texto que estamos trabalhando: Zefirelli descreve Pedro ajoelhando-se enquanto proferia a declaração em questão e, ato contínuo, os demais discípulos tomados pelo impacto da afirmação, testemunhando sua concordância, também se ajoelham. Não sei se foi assim mesmo que aconteceu, porém, indubitavelmente, é a cena que mais se coaduna com a profundidade do que foi dito. Jesus é mais que um profeta a ser ouvido; mais que um mestre a ser seguido; é Deus a ser adorado. Esse é o conhecimento, acerca de Jesus, que dá vida eterna (Jo 17.30).

[17] Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.

Não foi a convivência com Jesus que os fez saber a verdade. Foi uma revelação!
O conhecimento-experiência, acerca de Jesus, que dá vida eterna, é uma revelação do Pai - Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o TROUXER; e eu o ressuscitarei no último dia. (JO 6:44).

[18] Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.



Que pedra?



A afirmação, ou melhor, a revelação: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".



Que igreja?



Igreja é uma palavra que pode ser traduzida por reunião, assembléia, nação e afins; por se tratar de ajuntamento de pessoas que têm afinidades, características e/ou objetivos comuns. Portanto, Jesus está falando de um grupo de pessoas especiais: as pessoas que receberam a mesma revelação que Pedro e os discípulos.
A Igreja é a reunião daqueles que, a exemplo de Pedro, receberam, do Pai, a revelação de que Jesus Cristo é Deus vindo para salvar-nos, que deve ser adorado, adoração, esta, que começa com a entrega da vida.
A Igreja é a reunião dos adoradores de Jesus. Neste sentido a missão da Igreja é agradar o seu Senhor; é a Igreja como noiva: - Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva , a esposa do Cordeiro (AP 21:9); - Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo (AP 21:2).
A noiva, na sua ação de adorar, é a satisfação do desejo do Pai: - Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores (JO 4:23).



e sobre esta pedra edificarei a minha igreja



A partir da confissão-adoração: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" Jesus construirá a sua igreja. Será que a Igreja é edificada enquanto e na medida em que adora?
Paulo parece dizer que sim: - E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito (2CO 3:18).
Será que adorar passa, também, pela contemplação?
Adorar tem várias conotações: prestar homenagens; reverenciar; prestar culto e, entre outras, também, contemplação. Por exemplo: Adorai o SENHOR na BELEZA da sua santidade (SL 96:9). Derek Kidner (Salmos - introdução e comentário - ed. Vida Nova e Mundo Cristão) diz sobre adorar na beleza da santidade: "a verdadeira adoração reflete isto no amor e admiração dados a Ele." Adoração, aqui, é o mesmo que contemplação amorosa.



Nesta contemplação (adoração) somos edificados.



O Pai desvenda-nos o rosto (por meio da revelação), mostra-nos o Filho e o Espírito Santo nos transforma. Assim Cristo edifica a sua Igreja. Torna-nos parecidos com Ele à medida que o adoramos.
Igreja é, portanto, também, a reunião das pessoas que estão sendo transformadas pelo Espírito Santo à imagem e semelhança de Cristo.

contemplando, como por espelho, a glória do Senhor,
Qual é o espelho?
Penso e algumas coisas que devem ser usadas como espelho:
i- a bíblia: JO 5:39 - Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. A Igreja lê as escrituras para ver Jesus, não apenas para ter informações sobre ele. Ele é a vida eterna que está no texto sagrado.
ii- a criação: SL 19:1 - Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. A natureza expressa a glória de Deus. A glória de Deus é a sua bondade (Ex. 33.19). A igreja perscruta a natureza para ver Jesus, a encarnação da bondade de Deus.

A palavra reunião pode dar uma conotação equivocada: de que só há igreja quando essas pessoas, de características especiais, e encontram. Por isso gosto muito do que o Pedro disse: 1PE 2:9 - Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
Aliás, Jesus disse "e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" num contexto muito peculiar: Haviam três nações, representadas por três cidades, que tinham pretensões universais: romanos, representados por Roma; judeus, representados por Jerusalém e os gregos, representados por Atenas. Os romanos acreditavam que a salvação do mundo estava em todos se submeterem à sua "pax", o que significava submeter-se a eles. Os judeus acreditavam que a salvação dos homens estava na submissão destes a eles que, como sacerdotes, os conduziriam no caminho de Deus; os gregos, por sua vez, acreditavam que a tal salvação estava em todos submeterem-se a seu modo de pensar.



e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.



Jesus diz que vai fundar uma nação que libertará de fato os homens do inferno. Pois, sua nação atacará o inferno e as portas deste não resistirão ao ataque daquela, liberando os seus prisioneiros. Por que ataque? Porque fala das portas não prevalecerem. Jesus falava no contexto das cidades muradas, onde a porta é o último bastião, a última defesa, se as portas não resistem ao ataque, a cidade é invadida e tomada.

Outro elemento que, penso, está contido nessa afirmação é o fato de a igreja ser o braço ministerial de Jesus Cristo, uma nação de soldados da libertação, pois, como disse João: 1JO 3:8 -Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo.

Eis o projeto de Jesus: uma nação de adoradores - a noiva; uma nação de soldados - o corpo.

O corpo depende da noiva. 


A medida que a igreja vai sendo edificada vai, também, assumindo seu papel ministerial, ou seja, destruindo as obras do diabo. Quanto mais a igreja adora, mais eficaz se torna contra o inferno.

1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   11   12   13   14
15   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25   26   27   28
29   30   31   32   33   34   35   35a   36   37   38   39   40   41   42

Nenhum comentário:

Postar um comentário