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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

XVIII - PACIÊNCIA NA PROVAÇÃO

Parte XVIII
PACIÊNCIA NA PROVAÇÃO

Tiago 5:7-12

Eu odeio esperar. No volante, não quero ficar atrás de um carro andando 30 km/h. No supermercado, fico irritado quando a moça precisa trocar o papel do caixa justamente na hora que eu chego à frente da fila. No banco, perco paciência com as filas serpentinas. 



Sou como aquela pessoa que orou a Deus, “Senhor, dá-me paciência, e eu a quero AGORA!” 

Talvez fiquemos impacientes por causa de filas intermináveis e carros lentos. Mas o livro de Tiago consolava irmãos que enfrentavam situações bem mais difíceis. Muitos deles eram pessoas pobres, marginalizadas, perseguidas por serem cristãos (2:5-7). Precisavam de paciência para sobreviver as tribulações da vida. 

No texto anterior (5:1-6), descobrimos que os ricos haviam oprimido esses pobres. Haviam vivido uma vida luxuosa, enquanto retiveram o salário dos diaristas, levaram os pobres diante dos tribunais para defraudá-los, condenando e matando alguns pela injustiça. 

Foi justamente neste contexto que Tiago agora fala às pessoas oprimidas, atribuladas, sofridas, que estavam passando por males severos sem entender porque Deus não fazia nada. O enfoque muda dos opressores para os oprimidos, dos perseguidores para os perseguidos. Seus leitores enfrentavam a tentação de serem impacientes; queriam que algo acontecesse, e já. Corriam o risco de FAZER algo acontecer, tomando em suas próprias mãos a vingança. 

Tiago usa 2 palavras diferentes que descrevem a qualidade de paciência na vida do cristão. A primeira palavra significa “longânimidade” ou seja, alguém que demora a esquentar, especialmente em relação a pessoas. A segunda palavra traz a idéia de “ficar debaixo” de uma pressão, tribulação ou aflição, especialmente em relação a circunstâncias. Podemos juntar as duas idéias para dizer que, o cristão maduro aprende a permanecer debaixo de sofrimento sem perder paciência com as pessoas ao seu redor. 

7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.


8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima. 


9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas. 

10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor. 

11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo. 

12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo. 

Precisamos fazer algumas observações de imediato. Primeiro, fica óbvio que o tema desse penúltimo parágrafo do livro é paciência (ou talvez, perseverança). Note a repetição: Vs. 7 “pacientes . . . com paciência”; Vs. 8 “pacientes; Vs. 10 “paciência”; Vs. 11 “perseveraram firmes . . . paciência de Jó” 

Segundo, é interessante notar que o texto destaca pelo menos três vezes a vinda do Senhor como a bendita esperança do cristão diante das tribulações. 

Vs. 7 “até a vinda do Senhor”; Vs. 8 “A vinda do Senhor está próxima”; Vs. 9 “O juiz está às portas” 

Juntando esses dois temas (paciência e a vinda do Senhor) podemos resumir a lição principal que Tiago quer nos transmitir: 


A fé verdadeira persevera em meio a tribulação na esperança da vinda do Senhor. 


Como que o cristão maduro enfrenta provação? Descobrimos pelo menos quatro atitudes que nos encorajam nesse texto: 
I. A Fé Verdadeira é Paciente em Provação . . . Confiante da Vinda do Senhor (7,8) 

Como reagimos diantes das provações dessa vida? 

*Uma doença crônica que rouba nossa alegria 
*Um casamento morto 
*Um filho desviado 
*Um patrão ou colega de serviço ou escola que nos aborrece 
*Uma situação financeira desesperada 
*Uma morte que nos deixa com um vazio constante no coração . . . 
A resposta é: esperar, confiante na vinda do Senhor. Não devemos reivindicar bênção, declarar em nome de Jesus que nossos problemas desaparecerão, decretar a vontade do Senhor ou, através do pensamento positivo, verter as nossas circunstâncias. Quem dera, fosse tão simples! O único conselho que Tiago nos dá é: Sede pacientes . . . até a vinda do Senhor. 

7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. 
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima. 
A volta de Cristo Jesus é a “bendita esperança” de todo cristão. Jesus falou que neste mundo teremos tribulação (Jo 16:33). Paulo ecoou o mesmo princípio dizendo que “todos que querem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição (2 Tm 3:12).” (cf At 14:22) O próprio livro de Jó (Elifaz) falou, O homem nasce para o enfado como as faíscas das brasass voam para cima. (5:7) 

A palavra “vinda” do Senhor significa mais que a chegada dele. Refere à presença dele também, e esse é o nosso consolo. A dura realidade é que Deus não consertará todos os males desse mundo até a volta de Jesus! 

Rm 8:17,18 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofrermos, para que também com ele sejamos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofimentos do tempo presente não são para se comparar com a glória por vir a ser revelada em nós. 

2 Co 4:17 Porque a nossa leve momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem, porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. 

Conforme a ilutração no texto, é impossível ser um fazendeiro, um “lavrador”, um agricultor, sem ter paciência! Naquela cultura, havia um tempo prolongado entre as chuvas de outubro/novembro (no início do plantio) e março/abril (no final). Um tempo de espera, sem nenhum fruto. Mas o jardineiro esperava. . . . e esperava . . . na certeza de que o fruto viria. A vida cristã é assim. O segredo de perseverança quando o caminho é duro, é saber que Deus está produzindo fruto em nós. Gememos em nós mesmos, esperando a colheita. 

Filipenses nos encoraja na vida cristã, que às vezes parece tão lenta, tão demorada: Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. (1:6). (Cf. 1 Jo 3:2,3: Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é. A a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro. 
Somos encorajados na vida cristã, mesmo que às vezes pareça tão lenta, tão demorada. Deus está produzindo fruto em nossas vidas; mesmo que o resultado final demore, virá! 

Mas, como Tiago pôde afirmar que a vinda de Jesus estava próxima, se quase 2000 anos já se passaram, e Jesus ainda não voltou? Entendemos que, até a primeira vinda de Jesus, todo o tempo e a história estavam marchando em direção ao precipício chamado “eternidade”. Mas, depois da ressurreição e ascenção de Cristo, o próximo evento na cronologia divina é o retorno de Cristo. 
Não resta outro acontecimento antes do final dos tempos. Em outras palavras, chegamos à beirada do precipício e estamos agora andando na margem dele. A qualquer momento, a qualquer hora, Jesus pode voltar. O fim está próximo! No momento em que ele voltar, nosso sofrimento acabará . . . estaremos com o Senhor . . . o sofrimento terminará: 

Ap 21:3,4 Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo, Éis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrmia, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. 

À luz dessa realidade, temos que fortalecer nossos corações . . . Em outras palavras, temos que firmar as raízes para produzirmos fruto em meio a tempestade! As raízes fundas na promessa da vinda do Senhor. Devemos focalizar nessas verdades, encorajar uns aos outros diariamente, lembrar de valores eternos e viver para eles. A palavra “fortalecer” traz a idéia de “fixar, de forma resoluta” (Lc 9:51). 

II. A Fé Verdadeira é Paciente em Provação . . . Confiante na Justiça do Senhor (9) 

9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas. 

Além da perseguição de fora (dos ricos), havia a possibilidade de aflição de dentro da igreja. Tiago é realista. Reconhece que, às vezes, os irmãos não se dão tão bem juntos. Paulo também reconheceu esse fato em Ef 4:2 “com toda humildade e mansidão, com longanimidade (= paciência), suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.” 

A ordem é para não se queixarem uns contra os outros. A palavra “queixar” traz a idéia de ficar exasperado com alguém, ao ponto de agonizar por dentro, de gemer. Foi usada em vários outros textos: 

2 Co 5:2, 4 E por isso, neste tabernáculo gememos, aspirando por ser revistidos da nossa habitação celestial 
Rm 8:23 E não somente ela, mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, guardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo 
Mc 7:34 Jesus, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse . . . 
Rm 8:26 O Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis 

Tiago adverte os leitores a não se queixarem entre si, pois existe um perigo real deles mesmos serem julgados, caso tiverem errado. Mas ao mesmo tempo oferece uma palavra de consolo—o Juiz está à porta. Em outras palavras, vingança pertence ao Senhor, não a nós. Se nosso irmão nos maltrata, se somos blasfemados, alvo de fofocas, Deus sabe disso. Ele pode providenciar uma solução. 

Em vez de criar casos entre irmãos, devemos sofrer a injustiça (confiantes na justiça do Senhor) antes de corer o risco de injustiçar o outro. Vingança pertence ao Senhor, mesmo dentro da família da fé. Deus quer que paz reine entre nós (veja 1 Co 6). 

III. A Fé Verdadeira Persevera em Provação . . . Confiante da Misericórdia do Senhor (10,11) 

Temos uma rica tradição histórica! A fé dos nossos antepassados, que não tiveram os mesmos privilégios como nós, nos deixa um exemplo. Os profetas, que falaram com autoridade como representantes do Senhor, sofreram muitos males, mas com grande paciência. 

A razão porque todos esses antepassados perseveraram, é porque sabiam algo que seus perseguidores não sabiam—que seu Deus era misericordioso e bondoso (compassivo). 

10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor. 
11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo. 
A palavra “misericordioso” significa “de grande compaixão”. Em outras palavras, Deus SENTE o que sentimos. É isso que o livro de Hebreus fala sobre Jesus: 

Hb 4:15, 16 “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se (=sentir junto, sofrer junto conosco) das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. (cf. Hb 2:17,18) 

Temos que confiar no caráter do nosso Deus! Em meio a sofrimento, temos que fixar nossa âncora naquilo que sabemos ser verdadeiro a respeito de Jesus. O difícil em tempos de crise é acreditar que Ele realmente quer o nosso bem . . . que Ele realmente é um Deus bom . . . que Ele sente conosco . . . que nos ama. 


IV. A Fé Verdadeira Persevera em Provação . . . Confiante na Soberania do Senhor (12) 


12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo. 

Esse versículo parece mudar de assunto. Mas está ligado à idéia de respostas à provação. 

Quando nos encontramos em apertos, somos tentados a fazer votos precipitados na esperança de nos livrar da situação. Podemos imaginar situações em que alguém, querendo se livrar de uma dificuldade, assume um ompromisso, jura por algo sobre o qual não tem controle, ou faz uma promessa. Em outras palavras, é muito fácil em meio a provação, dizer coisas que você não quis dizer—votos, promessas, ameaças, palavrões: “Se o Senhor me livrar dessa, prometo servi-lo o resto da minha vida . . .” O juramento é uma tentativa de “validar” as palavras, de assumir uma postura de controle e poder que não temos. Deus é o único soberano. Só Ele nos livrará do sofrimento, no tempo dEle. Não podemos apressar a vontade dEle através de promessas vãs. Por isso, a fé persevera em provação confiante na soberania do Senhor, sem tentar manipular a situação pelas nossas palavras. 

Ninguém gosta de esperar. Mas às vezes é a melhor maneira de mostrar nossa confiança no Senhor. 

Glorificamos a Deus quando perseveramos pacientemente pela vontade dEle, confiantes 

1) da Vinda dEle para “acertar as contas” (7,8) 
2) na Justiça dEle, para fazer a coisa certa (9) 
3) na Misericórdia dEle, para ter compaixão de nós (10,11) 
4) na Soberania dEle, para resolver tudo em Seu tempo (12) 

A fé verdadeira persevera em meio a tribulação na esperança da vinda do Senhor.

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