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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

I - "... O ANO ACEITÁVEL DO SENHOR”

"... O ANO ACEITÁVEL DO SENHOR”



Parte I



Então, pelo poder do Espirito, voltou Jesus para a Galiléia, e sua fama correu por todas as regiões circunvizinhas. Ele ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado. Chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou, num dia de sábado, na sinagoga, segundo os eu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Ao abrir o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espirito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres. Enviou-me para apregoar liberdade aos cativos, dar vistas aos cegos, por em liberdade os oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor. Fechando o livro, devolveu-o ao assistente, e assentou-se. Os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos."



(Lc 4.14-21).



Começa no versículo quatorze uma das extraordinárias narrativas de todo o evangelho. Jesus está no culto da sinagoga, onde lê Isaías 61.1,2 (acrescido de 58.6). Com essa narrativa, única nos Evangelhos, enquanto Mateus e Marcos dizem que Jesus anuncia o reino, Lucas mostra que o reino é a Sua realidade, é o Messias, o Cristo, o Ungido de Deus.



UMA ANÁLISE BREVE



Diferentes critérios podem ser utilizados passar estudar este trecho. Pode acontecer que alguém tenha uma veia literária, e através dela veja apenas o aspecto poético de Isaías 61. Observe-se o paralelismo entre os termos apresentados, entre os versos, por exemplo:



"Porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres", e "Restauração de vista aos cegos".



Porque, praticamente, é a mesma coisa que está sendo dita. Quando diz:



"enviou-me para proclamar libertação aos cativos", isso é paralelo a "para por em liberdade os oprimidos".



É a mesma idéia, portanto. E todo esse paralelismo, encontra o seu ponto culminante na expressão final: "para proclamar o ano aceitável do Senhor", que é o objeto da nossa reflexão.



Pode ser que alguém deixe de lado o aspecto literário, mas queira destacar o apelo político do que Jesus afirmou, o que, aliás, tem sido bastante explorado. Busca-se ver o lado político de expressões tão fortes como, "anunciar boas novas aos pobres", "libertação aos cativos", "restauração de vista aos cegos", "por em liberdade os oprimidos". O apelo político é muito do agrado dos radicais de plantão.



Desejamos, porém, ver a extraordinária lição de apostolado que se encontra no que Jesus Cristo disse, aplicando a Si mesmo. Enfocamos o embasamento de um ministério que é repassado à Igreja de Jesus Cristo. Queremos analisar a missão quer nos foi entregue pelo Senhor, porque vejo que tudo começa com a unção, visto que nenhum empreendimento em nome de Jesus Cristo subsiste sem a unção do Espírito Santo; nenhuma empresa em nome do evangelho, nenhuma campanha, nada, movimento algum pode subsistir em nome de Jesus Cristo se não tiver a unção do Espirito Santo sobre si. Por essa razão, Jesus leu: "O Espirito do Senhor está sobre mim", e daí em diante Ele explica para quê.



Pedro num culto de proclamação do evangelho, na casa de um militar, um oficial do exército romano, refere-se ao ministério de Jesus Cristo, e afirma: "Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele." (At 10:38), o que vai nos conduzir às expressões que definem a plataforma que vai ser seguida por Jesus Cristo, o Seu programa.



"O Espirito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres. Enviou-me para apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, por em liberdade os oprimidos." (Lc 4.18).



PROFUNDA CARGA EMOCIONAL



"Pobres". falar de pobreza é uma carga emocional fortíssima. O jornal A Tarde (de Salvador) vem falando sobre a fome e a desnutrição no estado da Bahia. Falar de pobreza traz para nós sentimentos tremendamente emocionais;



"Cativos". Falar de prisão é a mesma coisa. É pesado, é triste, traz mágoa.



"Opressão". Há opressão demoníaca neste mundo. O crente é oprimido, mas não possuído.



Jesus fala de cegueira, e lê essas palavras em Isaías 61, capítulo considerado como o cerne da mensagem desse profeta. Jesus se identifica com o fato profético descrito, e demonstra ser Ele mesmo as boas novas; o profeta escatológico, o proclamador do evangelho; demonstra ser Aquele que traz libertação para os oprimidos, função eminentemente messiânica.



Para os pobres, para os cativos, para os cegos, e para os oprimidos que são, não apenas os desafortunados deste mundo, mas todos os que têm necessidade especial de dependência de Deus (Lc 1.53; 6.20). Ou na expressão do comentarista de Lucas da



Bíblia do Intérprete,



"o cativeiro a que Jesus se refere (Lc 4.18, 19) é evidentemente moral e espiritual. O pensamento não se move no plano de abrir portas físicas, para que os presos saiam], mas livrar os homens da invisível, porém terrivelmente real prisão de suas almas".



Na verdade essas palavras de tão forte carga emocional descrevem a falência espiritual à qual Jesus dá especial atenção.



E no verso 19: "e para proclamar o ano aceitável do Senhor". Esse ano a ser proclamado é a era messiânica iniciada nele mesmo, na pessoa e na obra de Cristo.



No verso 21, verificamos: "Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos". Os contemporâneos de Jesus não duvidavam que o reino de Deus viria algum dia. Todos criam no reino de Deus. Mas Jesus está ensinando que Deus está agindo agora, naquele mesmo momento, no presente, na obra dEle mesmo. E, assim, Ele se torna o centro da História, e até a História, porque a partir dEle ela passou a ser antes de Cristo (a. C.) e depois de Cristo (d. C.). O propósito de Deus é tudo colocar sob a autoridade de Jesus Cristo.



E aqui O temos Senhor da História, agora com a vinda do reino, exaltado, glorificado nos termos de Mateus 28, final do verso 18 que diz: "foi-me dado todo o poder no céu e na terra". E porque recebemos a graça da libertação, podemos encontrar esta expressão do apóstolo Paulo: "Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso" (1 Co 3.22), autoridade que nos é passada por Jesus Cristo.



AS LIÇÕES

O ser humano vive preocupado com o seu salário, com a inflação que parece querer voltar; com os aumentos das passagens dos ônibus (verdade que agora mais espacejados), o avanço e engodo das seitas, com o desenvolvimento do país, com a paz mundial. Pois Jesus traz uma nova compreensão da vida humana, por isso que, plenamente de acordo com sua plataforma de ação, é o portador da obra redentora de Deus, e oferece Sua palavra e Suas ações como desafio à nossa própria fé.

Muitos contemporâneos de Jesus criam que o reino de Deus era só comida e bebida (Rm 14.12), ou libertação política (Mt 27.39-44; Jo 6.14ss; At 1.6); ou, ainda, poder temporal (Lc 22.24-30; Mt 20.20). Até os discípulos caíram nesse erro?! Mas Jesus diz que o reino de Deus já veio em Sua pessoa e dá prova disso (Mt 4.17; 11.1-6; 12.28; Lc 17.20ss). Pois a fraqueza de algumas pregações está na idéia de que o reino de Cristo ainda virá (pregação do premilenismo e dos posmilenismo ). Não é isso o que Jesus Cristo nos ensina, e permitam-me voltar a Lucas 17.20,21 : "Interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência visível. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós." (Mt 12.28; 3.2). É o reino inaugurado, apesar de que será plenamente cumprido na Parousia, na Segunda Vinda (Lc 22.18). É aquilo que C. H. Dodd chamou de "escatologia realizada", as coisas dos últimos dias já estão acontecendo e aconteceram na Pessoa de Jesus Cristo.



Quais são as lições que tiramos desses fatos? A primeira é que Jesus Cristo é o cumprimento das antigas profecias. Apesar de Suas palavras fazerem nascer opiniões diferentes ou de admiração (Lc 4.22), ou de repulsa (v. 28), Jesus cumpre as profecias! Apesar se quererem os Seus contemporâneos os sinais do shalom que Ele traz (v. 23), Jesus Cristo traz a salvação integral, o verdadeiro shalom, a paz. O apóstolo Paulo diz que "Ele é a nossa paz" (Ef 2.14).



A segunda lição é que o reino de Deus é Jesus Cristo entre nós, é o Emanuel. Emanuel é toda uma expressão hebraica, que significa "Deus entre nós", "Deus no nosso meio", "Deus habitando no nosso meio", "Deus conosco". Não é libertação para o futuro, para os últimos dias, mas Jesus é hoje a boa notícia, a graça , a redenção dos homens. Jesus glorificado, Jesus Salvador, Jesus senhor, Jesus, o Cristo, é poder renovador sobre a terra, é salvação para a pessoa humana individual, razão porque o livro dos Atos dos Apóstolos repete até o fim que a verdade está em Cristo Jesus, e mostra o modelo da "Plataforma de Nazaré" na defesa/sermão de Paulo quando fala ao rei Agripa em Atos 26.17,18 :

"Eu te livrarei deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrir os olhos, e das trevas os converter à luz, e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam remissão dos pecados e herança entre aqueles que são santificados pela fé em mim". Tocado por isso, Agripa diz a Paulo, "Ora, Paulo quase que eu viro cristão" (v. 28 BLH),  e esse foi o seu grande erro, perto do reino, mas sem salvação: "Quase aceito o evangelho". O erro de muita gente é um "quase".



A terceira lição a destacar é que a missão da Igreja é dada por Deus. "A missão de Cristo [é] padrão e modelo para missão de sua igreja", diz Grellert em Os Compromissos da Missão.



"Disse-lhes Jesus de novo: Paz seja convosco! Assim como o pai me enviou, eu vos envio." (Jo 20.21). Isso quer dizer que para igrejas que têm como modelo a missão de Jesus, há necessidade de vidas modeladas pelo mesmo Jesus. E assim disse João em sua Primeira Carta: "aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou" (1 Jo 2.6).



"Pois quem conheceu a mente do Senhor, para que o possa instruir? Mas nós temos a mente de Cristo" (1 Co 2.16);



"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas a si mesmo se esvaziou, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achando na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz." (Fp 2.5-8);



"Pois os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8.29).

Assim, temos que moldar a nossa vida pela de Jesus Cristo. Então, se como nós afirmamos, Missões é o nosso braço para alcançar este mundo para o Senhor. Temos o fato de que o Deus vivo é um Deus que envia. Os povos pagãos, vizinhos de Israel, não tinham deuses que enviavam a qualquer lugar pessoas com uma mensagem. Mas o nosso Deus é um Deus que envia: Ele enviou Seu Filho ao mundo, diz a Bíblia; enviou os apóstolos; Jesus Cristo enviou os setenta; e envia a Igreja; ele mesmo manda o Espírito Santo à Igreja para a unção, e a nossos corações, por isso Ele nos envia, também ao mundo perdido. "Disse-lhes Jesus de novo: Paz seja convosco! Assim como o pai me enviou, eu vos envio." (Jo 20.21) , "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu vos enviei ao mundo." (Jo 17.18).



E aí vem, a quarta lição: é preciso redescobrir a importância da escatologia, que é o ponto de contato entre a teologia (aquilo que nós cremos), e a missão (aquilo que nós fazemos). É preciso centralizar tudo na escatologia, porque do ponto de vista da teologia, se não tivermos uma dimensão de futuro, o evangelho deixa de ser evangelho e se torna ética: um clube ético, e só. Se não olharmos para a Segunda Vinda de Cristo, teremos um grupo de idealistas que toda manhã de domingo vem para cantar, orar, e pronto, idealismo apenas e nada mais.
Agora do ponto de vista de Missões, a escatologia é a sua razão. O Povo de
Deus não pode ter crise de identidade, pois sabe quem Deus é, e sabe que é o povo desse Deus maravilhoso, Vivo e Verdadeiro! É povo que sabe o que faz! E sabe para que vive, porque a identidade da igreja como povo de Deus é uma identidade missionária!

Além disso, o povo de Deus não pode perder a memória. Quanta gente desmemoriada lá fora! De vez em quando é dito que "O Brasil está perdendo a memória, destruindo os seus monumentos, e seu passado". A nossa memória é o Novo Testamento, é a Escritura Sagrada! A nossa memória são as ações apostólicas, o que eles fizeram no passado! A nossa memória são os atos da Igreja Primitiva; como agia, assim queremos agora! O Povo de Deus há de estar padrões acima do mundo. Que história é essa de querermos nos igualar ao mundo?! E damos um exemplo: se o mundo vem à Igreja e ouve sua própria música aqui sendo tocada, onde está o fermento levedando a massa? Se nos colocamos no mesmo pé de igualdade, ou até abaixo, como vamos elevar os padrões do mundo? Mas Jesus, o Cristo de Deus, é decisivo e normativo para os assuntos de fé e prática.



Afunilando o assunto um pouco mais, isso vai trazer mais uma lição: é a de que ninguém pode obedecer às ordens de "ir" ou de "servir" se não tiver amor. Porque a obra de expansão do reino de Deus não pode ser realizada com carência de amor. Aí Jesus perguntou a Pedro: "Simão, filho de João, [verdadeiramente] tu me amas?" (Jo 21.16). E Jesus perguntou tantas vezes porque Pedro nunca respondia "[verdadeiramente] eu te amo", mas tão somente "eu te amo, eu tenho significativa amizade por ti". Que significa isso hoje? Sem dúvida, temos três passos no compromisso nosso com Cristo. Quando Jesus nos pergunta, "Fulano, você verdadeiramente me ama?", temos um convite à autoconsciência. Você tem que tomar consciência de quem é diante de Deus, e deste mundo também. Você representa as mãos de Deus, os pés de Deus e os olhos de Deus; você é um instrumento de Deus, um agente do reino de Deus. A segunda coisa é que você tem um convite à consciência da Pessoa de Jesus Cristo que é o Senhor do nosso futuro, é o Messias de Deus, é o ungido do Pai, é o Filho de Deus, é o Senhor de nossas almas, é o Salvador de nossas vidas. Você tem, igualmente, um compromisso. Há um hino que diz,



"Eis-me submisso pra teu serviço".



Bonito, não é? Porém, há crentes que parecem que cantam assim:

"Eis-me sumiço...",



quer dizer, "caio fora, desapareço, não quero compromisso com a Igreja de Cristo". Mas temos um convite ao compromisso com a Igreja de Cristo. Um convite ao compromisso é o que precisa acontecer conosco, nos termos de Romanos 5.8: "Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu pôr nós, sendo nós ainda pecadores". Que o Senhor nos ajude nesses compromissos!

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