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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

XV - FÉ QUE FUNCIONA

Parte XV
FÉ QUE FUNCIONA

Tiago 2:14-26 (Parte II)


Autor(a): PR. DAVI MERKH

Casado com sua esposa Carol a 22 anos e têm 6 filhos. Leciona no Seminário Bíblico Palavra da Vida, ministra como pastor auxiliar de exposição bíblica na Primeira Igreja Batista de Atibaia, e é autor de 14 livros. E-Mail: pr_dmerkh@piba.org.br

Como criança, eu gostava muito de brincar dom dominós, montando fileiras sinuosas e derrubando o primeiro na esperança de que todos caíssem. Se por acaso houve uma interrupção do “efeito dominó”, eu sabia que algo estava errado—um dominó fora do lugar, um desnível na superfície, algum outro defeito.



O livro de Tiago mostra o “efeito dominó” na vida cristã. A fé genuína em Cristo Jesus inevitavelmente leva para uma vida de boas obras. Se porventura isso não acontecer, existe ampla evidência de que algo está errado. Ou a pessoa nunca “entrou na linha” (não aceitou Jesus de verdade) ou está com algum defeito sério em sua vida (está desalinhado ou desajustado). 

Já descobrimos no primeiro estudo desse texto que não existe nenhuma contradição entre Paulo e Tiago quando se trata da fé e das boas obras na vida cristã. Descobrimos dois princípios fundamentais:

1. Só fé em Jesus Cristo é que salva, nunca obras. Obras não são uma condição de salvação, nem da santificação, que acontece pela fé em Cristo (Ef 2.8,9).

2. A verdadeira fé em Jesus nunca fica só, mas rompe-se em obras. Obras acompanham a verdadeira fé, como expressão da vida de Cristo em nós. São produzidas por um coração cheio de graça, não culpa.

Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus). Na justificação divina, somos DECLARADOS justos. Na justificação diante dos homens, somos DEMONSTRADOS justos. A fé falsa baseia-se em PROFISSÃO só, mas a fé verdadeira baseia-se em POSSESSÃO. Em outras palavras, a fé que salva rompe-se em obras. 

Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca é só.

Jesus nos disse que “pelos frutos os conhecereis”. Se alguém professa ser crente em Cristo mas sua vida não mudou em nada, será que realmente é salvo? Embora não possamos julgar aos outros, segundo 2 Coríntios 13.5, devemos julgar a nós mesmos: Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Por isso, Tiago sugere provas concretas de uma fé genuína em seu livro. Para ele “’Crer’ é um verbo ativo e presente”. 

Em Tiago 2.14-16 vamos descobrir pelo menos três características de uma fé “de boca pra fora”, e não “de coração para dentro”. Essa fé sem o efeito dominó de obras é inútil, inválida e morta.


I. Fé sem Obras é Inútil (14-16)


Tiago pergunta, “qual o proveito” de uma fé sem obras (vss. 14,16). Tal fé sem obras é inoperante (vs. 20). O que ele está dizendo? Uma fé verdadeira é como uma semente plantada no solo fértil da vida de Jesus, que tem todas as condições possíveis para gerar fruto. Se uma semente não der fruto, só existem duas opções—ou o solo é ruim, ou a semente está morta. Sabemos que em Cristo o “Solo” é perfeito. Então o problema deve estar na semente.

A. Fé Falsa é uma Fantasia! Fé sem obras, nas palavras de Jesus, é como sal insípido, sem sabor, que não presta para nada. É um ramo não ligado à videira, que só presta para ser podado e queimado.

Na época em que Tiago escreveu havia muita empolgação, até mesmo “intoxicação” com a graça. No contexto judaico de legalismo opressivo, em que o povo carregava fardos enormes de “performance” da lei, de repente, a verdade de Cristo os libertou. Mas existia um perigo, perigo que Paulo também atacava em suas cartas. “Pequemos, para que a graça super abunde?” 

“De jeito nenhum!”, vem a resposta tanto de Paulo como de Tiago. Quem tem essa perspectiva nunca compreendeu a graça do Senhor! É a prova mais clara de que nunca fora regenerado. 

Fomos salvos com propósito. Salvação em Cristo é muito mais que um apólice de seguros de vida, que alguém compra e coloca numa gaveta e esquece! A salvação genuína significa uma vida “em Cristo” com “Cristo em nós”.


As perguntas no vs. 14 é retórica; os leitores já sabiam a resposta: “Qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Entende-se que existem vários tipos de “fé”. Existe uma fé verdadeira e uma fé falsa. A primeira é uma possessão, a outra é mera profissão. Por isso a pergunta, “pode, acaso ‘semelhante’ fé salvá-lo?” Esse tipo de fé falsa é inútil. 



B. Fé Falsa é Insensível.


Vss 15 e 16 ilustram a insensibilidade (inutilidade) de tal fé. Por ser uma fé morta, não responde. Não faz nada. Não reage. Não sente. Não faz bem para ninguém, muito menos a pessoa que diz que a possui. Seria o auge de auto-engano e crueldade imaginar que meras palavras de consolo tomariam o lugar de obras de consolo. “Aquela” fé é “de boca pra fora”. As palavras de quem diz “Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos” caem para terra. É uma fé falada, não uma vida vivida. É uma falsa compaixão, sem coração, sem realidade, uma fantasia

Temos que questionar a nós mesmos se temos criado calos na nossa fé. Se estamos ficando endurecidos pelas necessidades que encontramos ao nosso redor. Se não somos mais chocados pela miséria que o pecado tem produzido em nosso mundo... crianças com defeitos físicos... mendigos ... bêbedos... aidéticos... ovelhas sem pastor. 

Será que somos compassivos diante de por atores e atrizes em filmes e novelas, mas endurecidos diante de tragédias na vida real? De que vale nossa ortodoxia se não resulta em ortopraxia?

Quantas vezes nossa fé não passa de hipocrisia, palavras vazias que soam bonitas mas que fazem absolutamente nada? Quantas vezes caímos numa rotina de chavões evangélicas, mas que não fazem bem para ninguém! Há pessoas que conseguem farejar falsa doutrina de 50 km, mas não conseguem dar um copo de água fria para uma pessoa sedenta. Tiago, falando em nome de Deus, não tem paciência para esse tipo de fé cerebral e hipócrita. 

Fé sem obras é hipocrisa.

Obras sem fé é religiosidade.

Fé que rompe-se em obras é espiritualidade.

II. Fé sem obras não se valida (18-25) A palavra “justificação” admite de mais de um significado no Novo Testamento. Quando Paulo fala em “justificação” do crente, normalmente descreve um ato judicial do Supremo Juíz, em que Ele declara alguém não somente livre do pecado, mas coberto da justiça de Jesus (2 Co 5:21). Ser “declarado justo” é o significado básico de “justificação”. Nesse caso, essa “transação” acontece entre Deus e o homem só, e é invisível por outros homens. Então, como saber se é verdadeira?


A única maneira de tornar fé visível é pelas obras.


A fé invisível torna-se visível quando veste-se em obras.


Assim como existem dois tipos de fé (profissão e possessão), também existem dois tipos de justificação. Existe um outro significado, o uso de Tiago aqui, que significa “mostrar-se justo” ou “validar”(cp. Rm 3:4,1 Tm 3:16, Lc 7:35).



Por exemplo, quando falamos em “justificar um voto”, queremos dizer “validar nossa ausência na votação”. Quando Tiago fala em justificação, tem em mente essa idéia de “validar”a fé. É a idéia de ter o “reconhecimento de firma” da nossa fé. No cartório humano nossas obras validam a fé que dizemos que temos. 


Paulo diz, “Deus justifica quem crê em Jesus, sem obras da lei.” Tiago acrescenta, “O homem tem sua fé validada pelo fruto que produz.” Em ambos os casos, salvação é sempre pela fé, sem obras, sem condição, a não ser fé em Cristo Jesus. Mas essa fé é “radical”—produz mudanças na “raíz” do coração, que com o passar do tempo, produzem fruto.


A. Fé Verdadeira exige Mais que Conhecimento e Emoção (18-19). 


Tiago usa o efeito “choque” para defender sua tese. Distingue entre dois tipos de fé—uma fé falsa, invisível, ou pelo menos incompleta, que até os demônios tem, e uma fé verdadeira, visível, que manifesta-se pelas obras.

Segundo vs. 19, os demônios são ortodoxos! Monoteístas, trinitarianos, crêem na divindade e humanidade de Jesus, crêem que Jesus morreu na cruz pelos pecados, crêem que ressuscitou ao terceiro dia! Além disso, eles têm uma reação emocional a esses fatos (tremem). Mas não são salvos. Falta-lhes um ingrediente essencial, que transforma fé falsa em fé genuína: CONFIANÇA.

B. Fé Verdadeira Justifica-se Pelas Obras (20-23). Abraão foi DEMONSTRADO justo 30 a 40 anos depois que foi DECLARADO justo, quando ofereceu Isaque no altar (Gn 22). Leia bem o texto. 

Tiago afirma a salvação pela fé somente . . . vs. 23 deixa isso muito claro, citando Gn 15:6.

“Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça”. Mas veja bem: O processo que se iniciou depois que ele creu em Deus--a semente da sua fé-- brotou, e 40 anos depois, justificou-se diante de Deus e do mundo. Sua fé na realidade de Deus, na obra de Deus em sua vida, na promessa de Deus, era tão grande, que ele podia colocar TUDO no altar de Deus, seu único filho, o filho da promessa, sua esperança do futuro, sua alegria. Somente uma fé madura, arraigada na soberania e no amor de Deus, é capaz disso.

Conforme vss 22 e 23, “foi pelas obras que a fé se consumou”, ou seja “se aperfeiçoou”, se fez “perfeita”, completa. Em outras palavras, o fruto da fé é obras.

Às vezes, teremos que esperar muito tempo, como Abraão, para ver que tipo de fruto a fé a de produzir. Mas certamente será produzido. E se não existe, temos toda razão para questionar se a fé existe também.

Por isso vs. 24 diz que somos justificados—no sentido de sermos demonstrados como pessoas de fé—pelo fruto da nossa fé. A pessoa é DEMONSTRADA justa pelas obras baseadas em fé.,

Um segundo exemplo é Raabe. Ela começou do outro lado do espectro da humanidade que Abraão—prostituta, cananita, mulher mentirosa. Mas ela também foi aceita por Deus, baseada numa fé inabalável em Deus e Sua Palavra, e depois, manifestada diante de todos por obras de fé, obras arriscadas. Ela colocou tudo no altar também, e assim sua fé foi validada.


III. Fé sem obras é morta (17, 20, 26)


O grande clímax do texto está no vs. 26. De fato, começa no vs. 17: A fé invisível—fé “de boca pra fora”—não é uma fé viva, não é uma fé verdadeira, mas morta. A ordem é simples: Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus).

Assim como um corpo sem o espírito não tem força, nem vida, assim uma “fé” que não rompe-se em obras é morta. Fica totalmente insensível, fria, dura. Não reage. Não sente. Não mexe. Não cresce. 

O que fazemos revela quem somos. Se não fazemos nada, somos mortos. Se a árvore só produz fruto podre, a árvore está podre:

Mt 7:16-20 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.

1 Jo 3:7-10 Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabro, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecadno, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, também aquele que não ama a seu irmão.

Não podemos “fabricar” boas obras. São o produto natural de quem tem vida em si, a vida de Jesus, cultivada e demonstrada pelo Espírito Santo, que nos “cutuca” em direção a um caráter aprovado por Deus. Tiago escreve por esse mesmo Espírito para nos “cutucar” em direção às obras que revelam uma fé verdadeira. Podemos recapitular as “obras” que ele mesmo já mencionou até esse ponto no livro como provas de uma fé genuúina, uma fé presente e ativo:

1. Reage as provações com alegria (1.2-12)

2. Resiste tentação, CRENDO que Deus é bom e que não tenta a ninguém, mas que a culpa pelo pecado vem de mim mesmo (1.13-18)

3. Recebe a Palavra, como praticante e não somente ouvinte. Quem foi regenerador pela Palavra da verdade não consegue mais viver sem ela. Deve sua vida a Ela! (1.19-25).

4. Reflete sua religião em generosidade, santidade e palavras peneiradas (1.26,27).

5. Rejeita favoritismo (2.1-13). 

Mais tarde na carta, Tiago dará outras obras que são fruto natural de quem realmente crê em Jesus. Mas por ora, cabe a nós fazermos o que Paulo sugere em 2 Co 13:5, e examinar-nos a nós mesmos, para ver se realmente estamos na fé. Se confiamos, mas confiamos mesmo em Cristo Jesus e somente Cristo, então é hora de deixar que a vida dEle seja vivida em nós, em nosso caráter, transformado diariamente, de glória a glória, à imagem de Cristo.

Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca fica só.

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