Parte XIV
O APOCALIPSE - Estudo I
(Parte 2) O Livro da Vitória
Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA
Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br
João foi um dos homens escolhidos por Jesus para Seu discipulado. A história de sua chamada encontra-se no Evangelho de Mateus 4.21. É chamado de apóstolo, palavra não traduzida, mas transliterada porque veio diretamente da língua grega e significa "comissionado" ou "enviado".
Essa é uma qualidade pertinente à Igreja de Jesus Cristo, que por ser enviada ao mundo tem a reconhecida qualidade de ser apostólica. Não é um título especial para pessoas supostamente especiais que se auto-intitulam "Apóstolo Fulano de Tal". João e os outros discípulos foram comissionados por Jesus Cristo, e por esse motivo assim foram denominados. Os doze discípulos que andaram com Jesus foram tão apóstolos quanto qualquer um dos hodiernos crentes em Jesus Cristo é apóstolo, um comissionado, um enviado do Senhor Jesus onde estiver, seja na fila do ônibus, na do banco, na feira, na escola, em casa, na loja ou na caserna.
O Apóstolo Vidente (1.9,10)
João é também denominado "O Vidente de Patmos". Patmos é a ilha da Ásia Menor (hoje Turquia) onde ele teve essa visão. Vidente é quem teve ou tem uma visão. A Bíblia ensina que os profetas eram antigamente chamados de "videntes" (cf. 1Sm 9.9). Isso significa que o livro do Apocalipse é um livro profético, é O livro marcadamente profético do Novo Testamento.
João estava exilado naquela ilha, por causa do evangelho. Ele o diz no verso 9, quando explica aos seus leitores que é participante das mesmas perseguições pelas quais os primeiros leitores do Apocalipse estavam passando. Naquela ilha, teve uma inesquecível visão num dia de domingo, que é o sentido da expressão "dia do Senhor" (em latim, diz-se dies dominica, que evoluiu ao longo da história da língua portuguesa para nossa forma "domingo").
Essa identificação é necessária para que seus leitores compreendam que também ele experimentou e continua experimentando em Patmos o ódio dos perseguidores do evangelho. Tanto quanto os demais crentes, João é "irmão vosso e companheiro nas aflições". Só alguém que tivesse passado pelo que eles estavam passando poderia falar de modo tão direto ao sofrimento e ao coração, e exortá-los a serem firmes na paciência e no aguardo das soluções a serem trazidas pela mão do Senhor. A leitura do livro dos Atos dos Apóstolos nos faz entender o alcance da ira dos ímpios do Império Romano contra Jesus e Seu evangelho. Por sua vez, todo o capítulo 4 da Segunda Carta aos Coríntios mostra como o apóstolo Paulo descreveu as perseguições que enfrentou.
Não se pode negar que o Império Romano era tolerante para com as religiões, quaisquer que fossem. Porém, isso acontecia se o cultuante também reconhecesse a divindade e senhorio do imperador. Esse não era o caso dos cristãos que não aceitavam repartir a lealdade entre Deus e Seu Filho e César e o Império Romano. Nunca passaria pela cabeça de um cristão do primeiro século ter a sua fidelidade dividida. Por esse motivo, João estava em Patmos, afastado do convívio dos seus queridos irmãos de fé.
Quem Se Revela
Jesus Cristo Se apresenta ao apóstolo João com "uma grande voz, como de trombeta" (v. 10). Isso destaca o poder e autoridade de quem está falando. E quando Jesus fala, dá ao apóstolo uma missão: "O que vês, escreve-o num livro" (v.11a). Esse livro (o da Revelação, o Apocalipse) seria repassado a sete igrejas localizadas na atual Turquia (a região naquela época era parte do Império Romano, falava a língua grega e era conhecida como Ásia Menor, como mencionado acima).
João se volta para ver quem fala (v. 12), e viu uma linda e forte visão: sete candelabros de ouro, e no meio deles um homem com roupas sacerdotais com uma aparência tão impressionante quanto assustadora: cabeça e cabelos brancos, olhos como chamas, pés brilhantes, voz poderosa, portando sete estrelas na mão direita, e, saindo de sua boca, uma espada de dois gumes.
Apesar de parecer o contrário, a visão não é para amedrontar: mas, sim, para encorajar, pois só um Cristo poderoso, majestoso, impressionante, guerreiro e de palavra direta e segura despertaria o ânimo, a fé e a coragem daqueles sofridos cristãos do primeiro século.
Jesus não fora chamado no verso 5 de "príncipe dos reis da terra"? Dele não fora exclamado no verso seguinte "a ele seja glória e poder para todo o sempre"? Como não ser descrito nesta visão com imagens tão fortes e impressionantes? Isso faz lembrar o profundo hino 96 do Cantor Cristão que demonstra a admiração do seu poeta quando diz "Se nos cega o sol ardente, quando visto em seu fulgor, quem contemplará Aquele que do sol é criador?"
Que Aconteceu ao Apóstolo João?
Nos versículos 17 a 20, o escritor relata o que lhe aconteceu quando teve a visão: ficou como morto aos pés do Senhor Que Se revelava de maneira tão ofuscante. João caiu; é verdade. Mas o propósito de Jesus Cristo é sempre erguer a pessoa humana. Jesus não derruba. Há igrejas ensinando que no poder do Espírito (que espírito?), muita gente anda sendo derrubada?! O Jesus sobre Quem leio no Novo Testamento nos respeita! Ele dá sempre salvação, dignidade, paz e objetivo para a vida. Jesus Cristo não deixa no chão e sempre faz serenar o espírito abalado.
Assim, registra João, "ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas." Essa é a suprema mensagem do evangelho: Não tenhas medo! Quando a jovem Maria recebeu a visita do anjo: "Maria, não temas..." (Lc 1.30). Quando caminhava sobre o mar, disse Jesus ao temerosos discípulos no barquinho, "... sou eu, não temais" (Mt 14.27). A um homem chamado Jairo cuja filha estava enferma, Jesus deu uma palavra de tranqüilidade, "Não temas, crê somente" (Mc 5.36). Na manhã da ressurreição, as mulheres ouviram do mensageiro divino: "Não tenhais medo..." (Mt 28.5). Precisa dizer mais?
Pois é; o Cristo glorificado, poderoso e vitorioso o encoraja e dá, outra vez, as credenciais: "Eu sou o primeiro e o último. Eu sou o que vivo; fui morto, mas estou vivo para todo o
sempre! E tenho as chaves da morte e do inferno". Esse não é outro senão o mesmo que disse, "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá, e todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá. Crês isto?" (Jo 11.25,26). E você, crê? (Continua)
Nenhum comentário:
Postar um comentário