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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

II - O APOCALIPSE - Estudo 12

Parte II


O APOCALIPSE - Estudo 12

"Eis que vem com as nuvens..."


Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br


O Apocalipse hoje


O inspirador livro do Apocalipse foi escrito, como vimos ao longo de todo o estudo, para dar forças espirituais aos crentes que sofriam a perseguição das autoridades políticas, e eram alvo de ataques dos hereges dentro da Igreja dos dias apostólicos.

As visões e suas lições São sete as visões que ocorrem nos seus vinte e dois capítulos. Mas a mensagem é a mesma: a Igreja de Jesus Cristo, apesar de sofrer perseguição, apesar das tribulações, do martírio, tem um glorioso destino: A VITÓRIA! A condenação atingirá o sistema deste mundo, e Jesus Cristo reinará para todo o sempre como Rei dos reis e Senhor dos senhores! Procuremos, então, ser práticos, e extrair lições de todo o livro do Apocalipse. Como o livro é formado por visões, sete ao todo, um plano adequado para a nossa pesquisa é partir de cada uma.

E por falar em visões...
A primeira visão (1-5)
Seu tema é "Jesus Cristo e a Igreja Militante no mundo e na vida celeste". Apropriadíssimo como abertura para todo o livro.

A primeira lição que devemos aprender é que, visto que Jesus Cristo é o começo e o fim de todas as coisas, o "Alfa e o Ômega" (1.8), "o autor e consumador da nossa fé" (Hb 12.2), nossa esperança deve estar unicamente nEle. Ele é o "que vem sobre as nuvens" e Aquele "que todo olho verá" (Ap 1.7).

Isso significa que é inadmissível para o discípulo de Jesus abraçar qualquer movimento ou idéia que não reflita a atitude e a mente de Cristo. É vigiar como se Jesus estivesse para retornar a qualquer momento (o que, aliás, é verdade), sem facilitar as coisas para o Tentador, aguardando a suprema alegria de louvar o Cristo vitorioso!

Outra importante lição aprendemos nas cartas as igrejas da Ásia (capítulos 2 e 3). Algumas falam de deslealdade, é verdade. Outras, no entanto, mencionam a fraternidade e a comunhão que existiam ou deveriam existir na comunidade de fé que se chama igreja. Você tem vivido isso? Ou quando cantamos:

"Não te irrites mas tolera com amor, com amor.
Tudo sofre, tudo espera pelo amor.
Desavenças e rancores não convém a pecadores,
Não convém a pecadores salvos pelo amor."

Ou, ainda,
Como é precioso, irmão, estar bem junto a ti;
E juntos, lado a lado, andarmos com Jesus,
E expressarmos o amor que um dia Ele nos deu,
Pelo sangue no Calvário Sua vida trouxe a nós.

Aliança no Senhor eu tenho com você:
Não existem mais barreiras em meu ser.
Eu sou livre pra te amar, pra te aceitar
e para te pedir: "Perdoa-me, irmão";
Eu sou um com você no amor do nosso Pai,
Somos um no amor de Jesus!

Isso é verdade, ou apenas uma linda figura de linguagem?

As cartas também exaltam a pessoa de Jesus Cristo, o Qual concede o dom da vida e compartilha a Sua glória, razão porque está no meio dos candelabros como ressaltam os versos 12 e 13 do capítulo 1.

Outras preciosas lições estão nas cartas: o cuidado para não perder "o primeiro amor", ou seja, o doutrinamento, o ardor evangelístico, e a já destacada comunhão. O lugar especial da fidelidade, lealdade e sinceridade é uma questão de honra e de caráter do cristão.

Mais uma lição: receber um novo nome é ter o caráter restaurado. O nome para o povo hebreu era a personalidade e o caráter de alguém, era seu cartão de visita. Receber um novo nome é igual a ter o caráter reajustado à luz da graça de Deus (2.17).

Um evangelho sem compromissos com Jesus Cristo, Cuja mente devemos ter, é insensatez. Cuidado, portanto, com os falsos ensinos (2.20)! Isso significa um compromisso total com Cristo, o que se chama também testemunho, a confissão pública de fé (3.4), o zelo com o amor entre os irmãos na graça de Cristo, significado da palavra Filadélfia (cf. 3.7ss), e o culto em espírito e em verdade, abandonado pela igreja de Laodicéia (cf. 3.15ss).

A segunda visão: "Os sete selos" (6, 7)
À medida que os selos vão sendo abertos, preciosas lições são ensinadas. Com certeza, a primeira delas é sobre o que acontece quando o Cordeiro de Deus governa. Os sete selos apresentam as características e princípios do governo de Cristo.

Uma das características é que o Inimigo não descansa. A representação dos quatro cavaleiros com seus coloridos corcéis é evidência do que estamos dizendo. Satanás não dorme, por isso, não facilita as coisas para o crente. O sofrimento é uma terrível característica, mas não é maior que a consolação, amparo e abrigo que vêm do Senhor. O apóstolo Paulo expressou muito bem esse fato ao dizer, "tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Rm 8.18), e chamou as aflições de "leve e momentânea tribulação" (leia 2Co 4.17, 18).

A terceira visão: "As sete trombetas" (8-11)
Se a segunda visão é o que acontece quando Cristo reina, a seguinte fala do que acontece quando o Salvador é rejeitado.

A descrição do que sucede após o toque das trombetas é tremenda. O evangelho anunciado com zelo e amor pelas vidas fora de Cristo, por isso, perdidas, deve, como o livrinho deglutido, nos alimentar, sustentar, nutrir, apesar de ter uma palavra de justiça, representada pelo amargo no ventre (leia 10.10b). Esse evangelho comunicado aos perdidos, apesar de ser doce na boca, é amargo no ventre. Quando pregamos o evangelho é uma delícia. Particularmente, sinto muito prazer em pregar. Minha esposa me recomenda, quando saímos de férias, a não levar paletó. Com isso, quer me preservar de pregar nas igrejas visitadas, para só descansar. Mas, há tantas igrejas, atualmente, nas quais o pastor não usa paletó?! Preguei numa igreja pastoreada por um ex-aluno que vai bastante informalmente para o púlpito. Fui de traje completo. Inusitadamente, o pastor estava também de traje completo, e disse que era em homenagem ao ex-professor. Quando entramos no santuário, todo auditório fez, "U-u-u-u-m-m-m..." A igreja não esperava que o seu pastor estivesse formalmente tragado.

O fato é que aprecio pregar, mas a amargura toma conta de mim quando a mensagem é rejeitada, desprezada. Esse é o amargo do evangelho que sente o pregador.
Como trombeta é sinal de aviso, alerta, é voz de comando, mostra a visão a paciência de Deus no chamado ao arrependimento. Importante lição deste livro.

Ainda as visões
A quarta visão: "A luta contra a trindade satânica" (12, 13)
A paródia da Santíssima Trindade é a "trindade satânica", maligna, formada pelo Dragão, a Besta e o Falso Profeta (veja 12.3ss; 13.1ss; 16.13). Por essa razão, o crente em Jesus Cristo reconhece que enfrenta uma guerra espiritual. Em Efésios 6.12, o apóstolo Paulo nos alerta acerca dessa batalha no reino do espírito. O cristão é atacado por todos os lados. Na sua vida emocional, por exemplo.

Tenho visto crente salvo pelo sangue de Jesus arrastando atrás de si uma miséria de vida, ansiedade, medo, depressão. Não entendo... Uma irmã bem idosa numa das igrejas que pastoreei pediu-me: "Pastor, fale sobre a morte: tenho muito de morrer". Preparei o sermão, preguei-o, e na despedida do culto, à porta da igreja, ela disse: "Muito obrigada pela mensagem, mas ainda estou com medo..." Não mais precisamos mais desse tipo de fardo. Isso é guerra, é batalha espiritual, porque dentro de nós há uma grande luta. Nosso espírito se torna um verdadeiro campo de batalha. Emoções, feridas (e Satanás se aproveita disso...) e o consolo de Deus do outro lado. De um lado, O Senhor e Seus exércitos; do outro, o Inimigo e seus batalhões num campo de batalha que é dentro de nós.

Fico muito impressionado quando leio a história da viúva da vila de Naim. Tinha apenas um filho que era seu arrimo. E ele morreu, e como é costume no Oriente Próximo, levaram o seu corpo num esquife aberto. Vinha o féretro saindo da cidade para sepultar o corpo do moço. Não havia nas cidades hebréias cemitérios urbanos, mas sempre na periferia. Herdamos isso: o Campo Santo, nosso primeiro cemitério em Salvador situava-se há 250 anos na periferia. O centro da cidade era o Pelourinho, o Carmo, Santo Antônio, o Terreiro de Jesus. O cemitério estava bem distante do Centro, onde hoje é o bairro da Federação, perto de nosso templo (que é centrão de Salvador).

O corpo do jovem estava sendo levado para fora da cidade. Nesse momento, porém, vinha entrando na cidade Jesus, os discípulos, admiradores e curiosos. Encontram-se as duas multidões. Uma é a morte, outra é a da vida: o exército da Morte e o exército da Suprema Vida. E o moço foi ressuscitado pelo toque do Salvador. Essa mesma batalha em que Jesus restituiu um jovem às lágrimas de sua mãe é dentro de nós, e está nos capítulos 12 e 13 do Apocalipse. É vitória garantida. É sobre isso todo o livro do Apocalipse (leia 12.11).

A quinta visão: "Sete flagelos" (14-16)
No verso 13 do capítulo 14, há uma linda bem-aventurança que diz, "Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham". Conhecemos em geral bem-aventuranças para a vida. O Sermão da Montanha apresenta algumas delas (Mateus 5.3-12): "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados" (v.4); "bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (v.7); "bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (v.9). Todas de vida. Porém, bem-aventurança para a morte?!

Pois é; a diferença é Cristo quem faz. Não é simplesmente "bem-aventurados os mortos", e ponto final: é, sim, "... que desde agora morrem no Senhor". Cristo é a medida de todas as coisas. O filósofo grego Protágoras afirmava que "O homem é a medida de todas as coisas". Não é, não. Só Cristo faz a diferença entre o flagelo atingindo o cristão e o amparo e abrigo dos céus. O outro, vive no seu flagelo e na sua dor se não tem Cristo e o Consolador.

A sexta visão: "A destruição do mal" (17-19)
Encontramos na sexta visão outra extraordinária bem-aventurança. Está em 19.9: "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro". Em outras palavras, e de modo bem contemporâneo, é abençoado quem é chamado para o chá-de-cozinha ou para a recepção do casamento de Jesus e Sua noiva, a Igreja. Sabemos que o "Cordeiro" é Jesus Cristo; "bodas" é festa de casamento. Temos um convite assegurado para a recepção do casamento de Cristo com a Igreja. Em alguns convites de casamento, vem um cartãozinho dizendo que a recepção será no local X, e é exclusiva de quem recebeu o convite individual. A cerimônia de casamento de Jesus e a Igreja, ou seja, Sua Parousia,Segunda Vinda, todos verão. Todos estão convidados. Mas para a recepção, a Ceia, só quem tem nome de Jesus gravado no coração; só quem confessa a Jesus como Salvador e Senhor. E lá estaremos! E os alicerces da fortaleza do Mal serão abalados, derrubados e destruídos. É a queda da Babilônia (representação da malignidade) nos três capítulos citados 17, 18 e 19).

E para terminar: a sétima visão (20-22)
O tema da visão culminante do livro do Apocalipse é "o Juízo e a vitória final". Verificamos que o livro é um crescendo de emoções, de sentimentos, mas, é sobretudo, de conhecimento do Cristo revelado. É como um poema sinfônico, um poema em canção. Começa com música suave, bem leve e vai crescendo cada vez mais e mais, até culminar numa explosão de sons, numa arrebatadora sinfonia! Assim é o Apocalipse: vai crescendo e crescendo, falando de dor, sofrimento e perseguições, para daí a pouco alertar para o julgamento e uma conseqüente prisão, até que, finalmente, chega a esse clima de vitória última! O Apocalipse é um crescendo de emoções, de sentimentos, e, ainda mais, de crescimento na graça e no conhecimento do Cristo que se revelou! Suas promessas desde o capítulo primeiro tiveram cumprimento ao longo de toda a obra.

A glória da Nova Jerusalém, eterna morada de Deus com os Seus faz lembrar o final do Salmo 23: "certamente que a bondade e a misericórdia (cf. Ap 21.4, 5, 7) me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias (Ap 21.3)". Que abençoada consolação saber que não haverá mais dor, nem morte, nem pranto, nem vestígio de uma lágrima sequer porque estamos com o Senhor em permanente comunhão!
O verso 20 do último capítulo apresenta uma expressão que foi o grito de anseio da Igreja apostólica, como continua a ser a exclamação da Igreja de todos os tempos: "MARANATA!!!" Quando dizemos "Maranata", oramos pedindo a volta de Cristo, pois na língua aramaica, "Vem, Senhor Jesus", significa "Volta, Senhor, para o nosso meio!" A oração está em ordem inversa, pois é precedida por um "Amém!". Esse amém veio antecipado porque representa uma afirmação cheia de fé e de certeza na promessa que Cristo fez: "Certamente cedo venho!" Essa é a graça de Jesus Cristo (leia 22.21), o amor que não merecemos, mas que Ele nos concede e levou-O ao Calvário.

LEITURAS SUGERIDAS
CONYERS, A. J. O Fim do Mundo. SP, Mundo Cristão, 1997. Trad. O. Olivetti.

MCALISTER, R. O Apocalipse - uma interpretação. Rio, Carisma, 1983.

PATE, C. Marvin (Org.). As Interpretações do Apocalipse - 4 pontos de vista. SP, Vida, 2003. Trad. V. Deakins.

SILVA, Mauro Clementino da. Análise Escatológica do Apocalipse de João. Campo Grande, 1994.

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