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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

X - O APOCALIPSE - Estudo 4

Parte X

O APOCALIPSE - Estudo 4

"Sete Selos e Suas Surpresas"


Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br


Apocalipse 5.1-14; 6.1-7; 8.1-5




"Vi... um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro, e lhe romper os selos?" (Ap 5.2) 


João viu a porta aberta no céu e as coisas impressionantes que ouviu: uma voz como de trombeta que lhe dizia: "Sobe e eu te mostrarei as coisas que depois destas devem acontecer". O que esteve antes destas coisas foram as Cartas às igrejas da Ásia. Ele viu um trono no céu, e nele Alguém assentado. A linguagem bíblica O descreve como semelhante a uma pedra de jaspe, de sardônio (v. 3). Ao redor do trono um arco-íris que se parecia a uma esmeralda.

Tudo aqui é descrito de modo a chamar a atenção para algo majestoso, grandioso. Não é um simples trono, mas um trono onde Quem está assentado tem a aparência bem diversa dos que se sentam em tronos humanos.

24 tronos estão ao seu redor. Neles estão 24 anciãos, ou seja, 12 representam as tribos de Israel no Antigo Testamento, 12 representam os apóstolos, o Israel da Nova Aliança, vestidos de branco, sinal de pureza espiritual, suas cabeças portam coroas de ouro, afinal, "sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida" é a promessa de uma das cartas. No entanto, essas coroas não estão ali para reverenciar, homenagear, magnificar, exaltar esses anciãos no trono. Eles tomam as coroas e depositam diante do majestoso trono de Deus.

Diante desse trono ardiam 7 lâmpadas de fogo que são os 7 espíritos de Deus. Lembrem-se que sempre que a Palavra "fogo" aparece na Escritura, está associada a uma manifestação divina: no portão do paraíso, uma espada de fogo (Gn 3.24); a manifestação da presença de Deus a shekinah) na sarça ardente (Ex 3.2); colunas de fogo no deserto à noite (Nm 14.14); no Pentecoste, as línguas como de fogo (At 2.3); no inferno, um lago de fogo significando a justiça de Deus sobre os ímpios, injustos e pecadores (Ap 20.10), e não o "reinozinho" de Satanás, como muitos pensam, pois é a sua prisão.

Aparecem também 4 seres viventes com olhos por diante e por trás. São monstros? Não; é apenas o símbolo de vigilância perene diante de Deus. Jesus ensinou sobre a vigilância: "vigiai e orai..." (Mt 26.41). Aqui é diferente; é "vigiai e louvai", porque tudo o que fazem, só o que fazem é louvar a Deus (Ap 4.8).

Uma profunda marca da Igreja de Jesus Cristo em todas as épocas é a esperança, a grande virtude cristã em todos os tempos. Outro modo do cristão dizer este sentimento é usar a expressão "Segunda Vinda de Cristo". Falar de esperança e da Parusia, o Retorno de Cristo, é falar da mesma realidade. Quando celebramos a Ceia do Senhor, celebramos a esperança. A instrução que temos é "até que ele venha" (1Co 11.26). Os escritores do Novo Testamento falaram sobre essa abençoada futura realidade como o apóstolo Paulo que disse, "Damos sempre graças a Deus... por vós, desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus... por causa da esperança que vos está preservada nos céus..." (Cl 1.3-5). E, ainda, "A graça de Deus se manifestou salvadora... educando-nos para que... vivamos... aguardando a bendita esperança e manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tt 2.11-13). Quer dizer, a esperança associada à Segunda Vinda. E, fazendo uma união entre a Segunda Vinda e as pressões espirituais e, mesmo, físicas, exorta o apóstolo Paulo, "regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação..."
(Rm 12.12).

A tribulação vem, e precede a Segunda Vinda de Cristo, razão porque Paulo exorta a que sejamos pacientes aguardando a gloriosa Parousia, que nos vai libertar de tudo o mais! Há, portanto, uma íntima ligação entre sofrimento e o retorno de Cristo Jesus. Percebe-se com absoluta clareza o carinho de Deus ao conceder à nascente e sofredora Igreja do primeiro século o livro cheio de encorajamento e de visão da vitória final que é o Apocalipse. Compreende-se o porquê de tantos símbolos, expressões cifradas, figuras medonhas, até, retratando a tremenda luta espiritual entre o Bem e a Malignidade.

É nesse ponto que surge um livro fechado; um livro selado. São sete selos, ou seja, bem fechado, completamente fechado. Esse livro guarda um segredo. A propósito, para quem gosta de filigranas lingüísticas, a palavra "selo" vem da língua-mãe latina sigilus, que significa precisamente isso: "segredo, sigilo".

A visão do livro selado (5.1-14)

O livro visto pelo apóstolo João estava escrito por dentro e por fora, mas fechado com sete selos. Um mensageiro de Deus fazia uma proclamação que é ao mesmo tempo um desafio, levando o vidente a se lamentar porque ninguém tinha dignidade bastante para abri-lo e nem sequer para olhá-lo. Logo foi tranqüilizado por um dos anciãos do capítulo 4 que lhe assegurou que o Cristo Vivo, o Cristo Vitorioso, o Messias Exaltado era absoluta e perfeitamente digno de romper os selos e abrir o livro. Só Jesus Cristo pode abrir o livro que guarda o segredo.

Nesse ponto da narrativa, João vê no meio da cena (lembremos a cena: o majestoso trono, os 24 tronos, os 24 anciãos, as 4 criaturas com faces de leão, touro, homem e águia, um Cordeiro com aspecto de morto que porta 7 chifres, 7 olhos, e, no entanto, estava vivo!... Tem aspecto de morto mas está bem vivo! O Cordeiro tomou o livro do que estava no trono, e todos na cena como um grande coro se prostraram em grande reverência e cantavam a dignidade dAquele que comprou para Deus com Seu sangue um povo formado de salvos de todas as tribos, línguas e nações para fazê-los sacerdotes do Deus Vivo! Que cena extraordinariamente maravilhosa! E, assim, cantavam:

"Digno és de tomar o livro,
e de abrir os seus selos, porque foste morto,
e com o teu sangue compraste para Deus
homens de toda tribo, e língua, e povo e nação.
Para nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes
E eles reinarão sobre a terra" (vv. 9, 10).

Se a visão tivesse terminado no acima exposto, já seria o bastante. Mas não foi o que aconteceu, porque bilhões de anjos rodeando o trono celestial cantavam a mesma dignidade e honra do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo:

"Digno é o Cordeiro que foi morto,
de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força,
e honra, e glória, e louvor" (v. 12)

E ainda mais: toda criatura no céu, na terra, debaixo da terra e sobre o mar, tudo louvava o Cristo de Deus com exclamações de "Amém!" (v. 14).

Que significam os selos? Os quatro primeiros (6.1-8)

Este trecho fala de um cenário de guerra. Há um convite feito para que João presencie a abertura de cada um. Ao se abrir o primeiro selo (vv. 1, 2), surge um cavalo branco,portando o seu cavaleiro uma arma: um arco. Recebeu uma coroa e saiu para buscar a vitória a qualquer preço.

O segundo selo (vv. 3, 4) faz aparecer um cavalo vermelho, a cujo cavaleiro foi dada uma espada e a missão de tirar a paz da terra.

O terceiro selo (vv. 5, 6) traz à cena um cavalo preto. Seu cavaleiro tem uma balança na mão.

O último selo (vv. 7, 8) apresenta um cavalo amarelo, Morte é o nome de quem o monta, e está acompanhado pelo Inferno.

A cena é pesada e apresenta um palco de guerra. O primeiro cavaleiro vem num cavalo branco, o que pode até dar idéia de ser o Cristo que vence. Não pode ser o Cristo vencedor, porque está no contexto de três outros cavaleiros que só trazem destruição e miséria. O mínimo que podemos imaginar é que seja um disfarce para parecer o Cristo de Deus. Parece mais ser o ambiente de negociações, de compra e venda de votos, de toma-lá-dá-cá dos acordos diplomáticos (arco é em linguagem bíblica o símbolo de aliança, de pacto, de contato, de convênio, haja vista, o "arco da aliança", o arco-íris (cf. Gn 9.8-17). A Segunda Guerra contra o Iraque é isso: os americanos entraram "vencendo e para vencer". Mas não venceram, porque diariamente morre, no mínimo, um militar americano. E até gente nossa que foi para lá em nome da paz, perdeu a vida.

Quando se fala tanto de paz e o cenário só se conforma com a guerra, é evidência da obra e missão deste cavaleiro. Isso casa com Jeremias 6.14 que adverte, "Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz". O cavaleiro deste cavalo branco é o Negociador nos conflitos e guerras, mas que nenhuma vantagem ou negociação traz.

Nessa cena bélica, o cavalo vermelho traz o conflito, o ódio, a violência tanto paga quanto gratuita, o clamor do inocente violentado em seus direitos, o derramamento de sangue. Somos todos testemunhas dessa violência gratuita que ocorre em nosso país.

O cavalo seguinte, o preto, traz a inflação e a conseqüente fome, que são o resultado de revoluções, guerras civis e conflitos militares. Seu refrão representativo dessa inflação não pode ser outro: "Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (v. 6). Isso é um clamor pelo altíssimo preço obtido por uma medida de trigo. Isso significa cerca de 13 litros de trigo pelo salário de um dia do trabalhador, ou 39 litros de cevada pelo mesmo valor. Como poderiam as famílias fazer o pão de cada dia com preços tão absurdamente inflacionados?

O último cavalo, o amarelo, é o fim de tudo. O que se perde de vidas e recursos humanos numa guerra é estarrecedor. São vítimas inocentes, crianças, até, sacrificadas no altar do deus Marte, o deus da guerra dos romanos. O jornal noticiou que o número de baixas do lado da coalizão atingiu um ponto crítico: é maior na paz que quando estavam em guerra?!

Outros dois selos (vv. 9-17)

Chegamos ao quinto selo (vv. 9-11). A cena apresenta debaixo do altar as almas dos martirizados. Aqueles irmãos e irmãs da Igreja apostólica que foram jogados às feras; cobertos com breu, e seus corpos incendiados para iluminar avenidas inteiras; senhoras, moças e adolescentes que foram violentadas, estupradas e depois mortas pelo Nome de Jesus. Tinham eles nos lábios uma exclamação que é, ao mesmo tempo, uma pergunta. Observem que eles estão absolutamente conscientes (há grupos que pregam que com a morte, o espírito fica dormindo na sepultura. No entanto, eles estão absolutamente conscientes do que lhes aconteceu. Cada um recebeu um manto branco e a recomendação de que tivessem paciência (vv. 10,11).

Os mártires pedem vingança. Mas a vingança não pertence a nós, e, sim, ao Senhor, ensina a Santa Palavra (Dt 32.35). Que eles tivessem paciência, a paciência e a perseverança próprias dos cristãos.

O selo seguinte (vv. 12-17), ao ser rompido, trouxe um grande terremoto. Houve um eclipse solar, quando a Lua se apresentou rubra como sangue. Despencaram as estrelas, e o próprio firmamento foi enrolado como um cobertor.

Jesus já havia falado sobre isso em Mateus 24, ao mencionar o princípio das dores. Montes e ilhas, continua João, saíram dos seus lugares, e o medo tomou conta de todos os poderosos (que só o são quando podem controlar os outros), de modo que se esconderam nas cavernas, tocas, buracos feitos nas montanhas pedindo que as rochas os escondessem Daquele que está sentado no trono, por haver chegado o Dia do Retorno de nosso Senhor!

O sétimo selo (8.1-5)

Na abertura do último selo, algo diferente aconteceu. Em lugar dos louvores, hinos, cânticos, exclamações de júbilo, fez-se silêncio. Silêncio por cerca de meia hora. Perceberam o contraste? Alguém maldosamente já disse que esse vai ser o único momento de tristeza para as mulheres no céu porque vão ficar caladas durante meia hora...

Sete anjos receberam trombetas e, à chegada de um oitavo anjo, foi-lhe dado muito incenso que, juntamente com as orações dos salvos, subiu ao trono divino.

O incenso era o modo gráfico, concreto como o hebreu dizia que a sua oração subia aos céus. Na mente do hebreu tudo tinha que ser bem concreto. Se falava em sacrifício, não era como o nosso pensamento que apenas diz, "temos que fazer um sacrifício..." Ele matava um animal, e, dependendo de sua situação econômica, esse animal era um boi, cordeiro ou casal de pombos. Quanto às orações, tomava um pedacinho de incenso e punha no incensário. Enquanto orava, a fumaça perfumada ia subindo. Dizia ele, então, "a minha oração está subindo ali no incenso..." Não é a nossa mentalidade que é helênica, grega, abstrata. No chamado Dia do Perdão (Yom Kippur), o sumo-sacerdote tomava dois bodes. Um era sacrificado no arraial; quanto ao outro, ele descarregava os pecados do povo na cabeça do animal e alguém o levava para o deserto, onde ele morria de queda no despenhadeiro ou de fome. Tudo muito físico e gráfico, portanto.

O anjo toma, então, fogo do altar e o joga à terra, resultando em problemas cósmicos: terremotos, trovões e relâmpagos. Os anjos então se preparam para tocar as trombetas.

Silêncio no céu... Sinal de admiração? De maravilha? Cessa a adoração vocal. O silêncio, porém, também é adoração. A adoração é multiforme: quando estamos em cântico é louvor, adoração; ao entregarmos o dízimo, é louvor; na celebração da Ceia Memorial, é louvor; em oração silenciosa, é adoração. Em silêncio, também.

Essa é a música celestial, razão porque em sua peregrinação terrena, a Igreja de Jesus Cristo é instruída e encorajada a cantar em harmonia e no mesmo ritmo. Coesa, unida, firme, constante, abundante e perseverante, ela há de prosseguir até a Parusia, a Segunda Vinda de Cristo, o Juízo Final e a Bem-aventurança eterna!

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