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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

V - O APOCALIPSE - Estudo 9

Parte V

O APOCALIPSE - Estudo 9

"O significado das sete taças"


Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br


Texto Bíblico: Apocalipse 15.5-8; 16.1-19 


Uma nova perspectiva será abordada nesta reflexão: são sete taças da ira de Deus, cujos conteúdos são flagelos, pragas. João viu, no céu aberto, o santuário do tabernáculo do Testemunho (15.5), de onde saíram sete anjos portando taças com os mencionados flagelos (v. 6a).

Nesse ponto, um dos quatro seres viventes de Ap 4.7 deu aos anjos taças de ouro que continham a cólera divina. O versículo diz que "O primeiro ser parecia um leão, o segundo parecia um boi, o terceiro tinha rosto como de homem, o quarto parecia uma águia em vôo" (NVI). Um deles deu aos 7 anjos taças de ouro contendo a cólera divina. Encheu-se o santuário de uma espessa cortina de fumaça que provinha da glória de Deus.

A Glória de Deus tanto no Antigo quanto no Novo Testamento apresenta manifestações variadas. A Glória de Deus tem nome. Diz-se em hebraico, Kavod (dbk); em grego é Doxa (doxa). Tanto a Kavod, a Glória Divina, contendo a Shekinah, a Presença Gloriosa de Deus, quanto a Doxa são igualmente essas manifestações da Presença, da Glória, da Majestade e da Soberania de Deus, apresentando em ocasiões diversas modos diferentes de manifestação. A Moisés, a Glória divina apresentou-se num arbusto que pegava fogo, mas não se consumia (cf. Ex 31-5); ao povo de Israel conduzindo-o à noite no deserto, numa coluna de fogo; durante o dia nesse mesmo deserto, numa coluna de nuvens (cf. Ex 13.21); Isaías, no templo, apresentou-se como "a aba de sua veste [que] enchia o templo" (Is 6.1). Não esqueçamos, é uma visão, e a fumaça do incensário fez Isaías percebeê-la como o manto do Senhor no alto e sublime trono. Neste capítulo do Apocalipse, temos o mesmo, porém como uma espessa cortina de fumaça que vem da Glória divina.

Enquanto os sete flagelos não fossem cumpridos, ninguém poderia penetrar no santuário. Isso retrata que já estamos chegando ao Juízo Final. Tenhamos, portanto, na mente, que a ênfase destes capítulos é que o julgamento é uma obra de Deus.

Primeira fase dos flagelos (Ap 16.1-9)

O primeiro flagelo (vv. 1, 2)
"Então ouvi uma forte voz que vinha do santuário e dizia aos sete anjos: 'Vão derramar sobre a terra as sete taças da ira de Deus". O primeiro anjo foi e derramou a sua taça pela terra, e abriram-se feridas malignas e dolorosas naqueles que tinham a marca da besta e adoravam a sua imagem."

A primeira taça é vertida na terra pelo anjo que a portava. O flagelo nela contido atingiu as pessoas marcadas pela besta (cf. 13.16, 17), de modo que foram cobertas por chagas, feridas, machucões terrivelmente dolorosos e úlceras malignas.

Esta praga e as três que a seguem atingem a todos de um modo geral, por serem um ataque ao mundo natural, o mundo dos seres humanos. Jesus está dizendo à Sua Igreja que Deus, Justo Juiz, está fazendo justiça por conta das perseguições que a Igreja sofre.

Recordemos as tremendas perseguições. Havia perseguição de fora, promovida pelo Império Romano, quando os crentes eram perseguidos só pelo fato de colocarem sua fé em Jesus Cristo, e afirmarem o Seu Senhorio. Num ambiente em que não se admitia esse tipo de pronunciamento, dizer que "Jesus é o Senhor" era um crime de lesa-majestade, de lesa-estado, até, porque o imperador, o César Augusto (Cæsar é o título, Augustus porque era considerado "supremo, magnífico, exaltado") era reconhecido como um verdadeiro deus. E assim desejava ser dignificado como "O Senhor", "Kaisar Kyrios!!!" ("César é o Senhor!!!") exclamavam seus súditos e adoradores. Os cristãos, porém, reconhecendo o Senhorio de Cristo, afirmavam, "Iesous Kyrios!!!" Não! "Jesus é o Senhor!!!" sendo impossível dividir a adoração.

Havia, com certeza uma grande caçada aos crentes. Todos temos ouvido e lido sobre os mártires dos primeiros momentos do Cristianismo. A Outra Igreja tem transformado esses mártires em pessoas tão especiais que estão muito acima de quaisquer outras, e criam, deste modo, erros doutrinários e de práxis. São colocadas imagens supostamente buscando figurá-las em nichos e altares, dias são dedicados a esses mártires, que são muito mais irmãos dos cristãos evangélicos na fé pura e inabalável em Cristo que de outros que se dizendo cristãos, acrescentam à crendice e supertição que chamam fé (tão diferente da emunah, a fé, bíblica) outras coisas que a Escritura Sagrada não privilegia.

O que agora estamos vendo é que os sofrimentos destes crentes estão sendo vingados, pois a ira de Deus cai pesadamente sobre os que fazem a Igreja de Jesus Cristo sofrer. Na verdade, o ensino da Escritura Sagrada é que a vingança não é nossa: pertence a Deus (Rm 12.19). Nossa é a esperança nEle. Como diz a Santa Palavra no Salmo 146.5: "Como é feliz aquele cujo auxílio é o Deus de Jacó, cuja esperança está no Senhor, no seu Deus".

O segundo flagelo (v. 3)

"O segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se transformou em sangue como de um morto, e morreu toda criatura que está no mar."

Águas se transformando em sangue: já vimos esse filme. No Egito, pouco antes do êxodo hebreu, as águas se tornaram sangue. Também este flagelo atinge a natureza, e, por extensão, as pessoas e suas circunstâncias. Imagine não poder abrir uma torneira porque a água sai em forma de sangue, nem tirar água de um poço, nem ir a um rio, riacho, lago, colher um pouco de água fresca na fonte por causa do sangue, não tomar um gostoso banho em nossas lindas praias porque está tudo poluído e impuro... O segundo anjo derrama sua taça no mar, que se tornou sangue e morreram peixes, moluscos e animais que o habitam. O simbolismo das águas que se tornam sangue é altamente sugestivo para aquelas igrejas da Ásia Menor (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia). Os seus perseguidores derramavam o sangue dos fiéis: agora, estão experimentando o mesmo. Está bem esclarecido isso no versículo 6, que menciona o próximo e semelhante flagelo: "pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes destes sangue para beber, como eles merecem".

O terceiro flagelo (vv. 4-7)

"O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes, e eles se transformaram em sangue. Então ouvi o anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: 'Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas; pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem'. E ouvi o altar responder: 'Sim, Senhor Deus todo-poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos".

Derramada a terceira taça nos rios e mananciais, tornaram-se eles em sangue. É uma extensão da segunda taça, examinada acima. E o anjo proclama a justiça divina que não deixa impune a injustiça humana. Mais uma vez, a natureza é atacada pelo flagelo.

O quarto flagelo (vv. 8, 9)

"O quarto anjo derramou a sua taça no sol, e foi dado poder ao sol para queimar os homens com fogo. Estes foram queimados pelo forte calor e amaldiçoaram o nome de Deus, que tem domínio sobre estas pragas; contudo, recusaram arrepender-se e glorificá-lo".

Nunca vi tanto calor quanto neste janeiro passado. E para o ano vai ser pior. Parece que o Sol verão a verão fica mais quente?! Na sociedade urbana em que vivemos, cada ano mais ruas são asfaltadas e prédios são levantados. A absorção de calor pelo asfalto e pelo concreto é algo incrível, e essa quentura é jogado em cima de todos.

Imagine, então, essa taça da ira de Deus jogada no Sol. Deus na Sua infinita sabedoria, colocou cada planeta no seu lugar, cada estrela na sua posição. O Sol não pode ficar mais distante porque morreríamos de frio, nem mais perto, ou seríamos esturricados.

Mas imagine Deus colocando o Seu dedo, ou melhor, Sua taça de ira em nossa estrela, o que fez aumentar seu poder de gerar calor: combustível em cima do Sol. Os seres humanos atingidos blasfemaram contra o Criador, em lugar de suplicar piedade, misericórdia, permanecendo, deste modo, impenitentes!

Um modo de martírio muito freqüente na época da Igreja primitiva era a fogueira. Quantos crentes, irmãos nossos foram para a fogueira unicamente pelo privilégio e a bênção de se considerarem pessoas salvas no sangue e no Nome de nosso Senhor Jesus Cristo. E agora temos o Sol como uma verdadeira fogueira em cima dos seus carrascos. Com o aumento da intensidade do calor do Sol, os opressores dos cristãos receberiam em si mesmos idêntico suplício.

Segunda fase dos flagelos (Ap 16.10-21)

O quinto flagelo (vv. 10, 11)

"O quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino ficou em trevas. De tanta agonia, os homens mordiam a própria língua, e blasfemavam contra o Deus dos céus, por causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram arrepender-se das obras que haviam praticado".

As pragas a partir de agora mudam de alvo. Como é possível alguém passar por tudo isso e não se arrepender?! Passar por tudo o que acima foi experimentado e não glorificar o nome do Senhor, e pedir misericórdia e piedade do Senhor? Com certeza, as pragas têm outro alvo. Em vez do mundo natural, é o mundo político que as recebe.

Este primeiro flagelo da segunda fase foi derramado sobre o trono da besta, sendo que seu reino ficou tomado por trevas. Os homens foram atingidos por úlceras e, por causa da intensa dor, até mordiam a própria língua. Quando se morde a língua involuntariamente já é doloroso, imagine mordê-la porque a ira divina está sobre alguém... Essa língua mordida que podia proclamar o Nome do Senhor e dar glórias a Deus, louvar ao Senhor, passou a pronunciar palavrões, blasfêmias, clamando e reclamando contra o Criador.

O sexto flagelo (vv. 12-16)

"O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e secaram-se as suas águas para que fosse preparado o caminho para os reis que vêm do Oriente. Então vi saírem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs.

São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso. 'Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha.' Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedon".

O alvo da sexta taça foi o rio Eufrates (o que passa em Bagdá, no Iraque e é despejado no Golfo Pérsico). Quando jogada a taça naquele grande rio, ele secou. Isso de seca, já conhecemos igualmente. Muitos rios, no nosso sertão, ficam completamente secos na época de estiagem. Mas quando vêm as primeiras chuvas, eles enchem, e o impressionante é que há vida nesses rios, pois em pouco tempo já estão pululando com peixinhos, camarões, e reverdecem as suas margens. A caatinga, então, parece um mar com a sua folhagem verde...

No Oriente Próximo isso de rio seco é história já contada. O rio seco recebe o nome árabe de uadi (wadi), e ocorre neles o mesmo fenômeno conhecido no sertão: às primeiras chuvas, enchem-se de água. Jesus contou uma história onde falava de um desses uadis, a parábola dos dois alicerces (cf. Mt 7.24-27). O Vidente João fala do rio Eufrates, um grande rio que se tornou um uadi, para que desse o preparo para os reis que vêm do Nascente (v. 12).

João presenciou uma coisa horrorosa: saíram das bocas do Dragão, da Besta e do Falso Profeta espíritos imundos que se pareciam com rãs. E como na falsa religião, como vimos anteriormente, tudo é uma paródia do evangelho de Jesus Cristo, há uma maligna e horrorosa trindade. Falamos em Pai, Filho e Espírito Santo com vistas às relações essenciais da Santíssima Trindade, mas agora temos a infernal e Maligníssima Trindade formada pelo Dragão, a Besta e o Falso Profeta.

Nesta nova praga política, quando a besta se vê acuada, envia representantes seus para reunirem os que por ela foram seduzidos e estão desorientados. Deste modo, a Trindade Maligna vai agir diretamente sobre os que têm poder sobre as nações, os chefes de governo dando-lhes autoridade e poder para a realização de suas más obras.

O sétimo flagelo (Ap 16.17-21)

"O sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e do santuário saiu uma forte voz que vinha do trono, dizendo: 'Está feito!' Houve, então, relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto.

Nunca havia ocorrido um terremoto tão forte como esse desde que o homem existe sobre a terra. A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das nações se desmoronaram. Deus lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e as montanhas desapareceram. Caíram sobre os homens, vindas do céu, enormes pedras de granizo, de cerca de trinta e cinco quilos cada; eles blasfemaram contra Deus por causa do granizo, pois a praga foi terrível".

Como os últimos flagelos, também este ataca o mundo político, mas é espalhado pelo ar. Surgem fenômenos atmosféricos como relâmpagos, trovões e pedras de gelo, e, ainda, um tremendíssimo terremoto, que fez a grande cidade se dividir em três partes. Babilônia era o país, mas era, também, o nome da metrópole que se dividiu, o que aumentar o horror da cena. Por conta disso, as ilhas fugiram e os montes não mais foram encontrados. Já imaginou o leitor se, de repente, a Ilha de Itaparica, a Ilha da Maré, a da Madre de Deus e as outras desaparecessem de nossa Baía de Todos os Santos? Foi o que aconteceu. Os montes, as colinas, os outeiros sumiram do mapa, tal foi o horror momento.

Em algumas traduções do Apocalipse está dito que cada pedra de gelo pesava um talento. São 35kg. Tem havido chuva de granizo em alguns lugares. São pedras até pequenas, mas fazem grande destruição: ferem pessoas, fazem mossas em automóveis. São diminutas, mas a força da queda é tão grande que elas causam desastres. Imagine uma pedra de 35kg caindo sobre alguém...

Chama a nossa atenção a expressão "está feito" encontrada no versículo 17. Esse "está feito!" pode ser colocada em paralelo com o "Está consumado!" de João 19.30, quando Jesus recebeu o gole de vinagre. "Acabou! Chegou ao fim! A obra está realizada!", é o que está sendo dito.

Essa é a grande mensagem do Apocalipse. Essa lição não pode sair de nossa mente, e quando ligamos a questão da obra consumada, do que tem acontecido, do que vai acontecer, do que Deus nos alerta, sem dúvida, é o momento de uma reflexão séria e profunda sobre nós mesmos e nossa circunstância de vida.

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