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quinta-feira, 11 de março de 2010

XXXXVIII - O ESPIRITISMO E A REENCARNAÇÃO DE ELIAS

Parte XXXXVIII
O ESPIRITISMO E A REENCARNAÇÃO DE ELIAS
O espiritismo tem usado alguns textos bíblicos sobre João Batista e Elias, como prova de que a reencarnação faz parte das doutrinas cristãs. Embora o tema já por diversas vezes tenha sido abordado, em matérias diversas, julguei conveniente tratá-lo separadamente.





Os principais textos bíblicos em torno do assunto são os seguintes:

(a) "Eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor" (Ml 4.5).

(b) "E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que havia de vir" (Mt 11.14).

(c) "Os discípulos O interrogavam: Por que dizem, pois, os escribas que é mister que Elias venha primeiro? Jesus lhe respondeu: Certamente Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim, farão eles também padecer o Filho do homem. Então entenderam os discípulos que lhes falara a respeito de João Batista". (Mt 17.10-13).

(d) "Pois [João Batista] será grande diante do Senhor...será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe; e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. Irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos..." (Lc 1.15-17). 

Em muitos casos a Bíblia se explica a si mesma. Quando há alguma dificuldade, devemos buscar auxílio em outras passagens. Em primeiro lugar, consideremos que Jesus, na qualidade de o Filho unigênito, participou da inspiração da Escritura. Vejamos:

"Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra" (2 Tm 3.16-17).

"Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, eu sou" (Jo 8.58). Aqui Jesus falou de Sua eternidade, de Sua existência que não teve começo nem terá fim, da Sua condição de Ser não criado, mas Criador. Sua pré-existência absoluta significa igualdade com Deus. Os judeus compreenderam tão bem essa declaração de eternidade, que ficaram enfurecidos e tentaram apedrejar Jesus (Jo 8.59). A mesma expressão lemos em Êxodo 3.14,15, Deus falando a Moisés de Sua eternidade. Essas considerações introdutórias ao exame do caso Elias/João Batista, por si, já criam dificuldades aos que rejeitam a divindade de Jesus. O "Eu Sou", que existiu antes de Abraão, permeia toda a Escritura, faz parte dela, participou da elaboração de cada doutrina, cada ensino, cada profecia. Analisemos os textos:

Primeiro - Comecemos Lucas 1.15-17. Ali, de maneira alguma se lê que João Batista seria uma reencarnação de Elias. Não se encontra nessa passagem qualquer confirmação da esdrúxula tese reencarnacionista, que nunca pôde ser provada, exceto pelas falas dos próprios "espíritos". Nem direta, nem indiretamente, o anjo Gabriel declara que Elias reencarnaria em João, mas que este teria virtudes idênticas às daquele; desenvolveria um ministério muito semelhante ao de Elias em termos de garra, ousadia, consagração, unção e poder, além das perseguições que sofreria. Comparemos: como iniciaram seus ministérios (1 Rs 17.1 - Mt 3.1); forma ousada de repreender uma autoridade: Elias repreendeu a Acabe (1 Rs 18.17-18); João, a Herodes (Mt 14.3-4); Elias foi perseguido por Jezabel (1 Rs 19.2-3); João Batista, por Herodias (Mt 14.6-8); os dois viviam de forma austera e discreta.

Segundo - Quando Jesus falou "Elias já veio" (Mt 17.12) e "ele é o Elias que havia de vir" (Mt 11.14), estava em suma dizendo que Elias não ressuscitara como todos esperavam, mas que João Batista desempenhara o papel de precursor do Messias, com a mesma coragem, virtude e espírito de Elias. Com estas palavras, Jesus confirmava Lucas 1.17. Situação análoga vamos encontrar em 1 Reis 2.15, assim: "O espírito de Elias repousa sobre Eliseu". Esta declaração foi proferida pouco tempo depois de Elias ter sido arrebatado ao céu num redemoinho (v.11). Pode-se interpretar de forma literal essa passagem? Não. Não se tratava de reencarnação porque Eliseu já possuía o seu "desencarnado" nele encarnado, se fosse o caso. Os dois viveram numa mesma época. Um não podia ser encarnação do outro; não se trata de possessão mediúnica, ou seja, Eliseu não havia incorporado o espírito de Elias, por óbvias e irrefutáveis razões.

Terceiro - Ainda em nossos dias usamos esse estilo de expressão: "Nunca mais surgirá um Rui Barbosa". "O Ronaldinho é um verdadeiro Pelé". São termos comparativos. [Se acreditais na vinda de um Elias], "e, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que havia de vir" (Mt 11.14).
Por suas mensagens vibrantes e seu corajoso desempenho diante de situações difíceis, Elias tornou-se símbolo dos profetas. Moisés, por exemplo, era símbolo da Lei (Lc 16.31). As profecias sobre a vinda de Elias não se contradizem. Muito pelo contrário. Vejam: Malaquias 4.5: "Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor; e converterei o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha e fira a terra com maldição". Lucas 1.15-17: "Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto". Logo, as profecias da vinda de Elias se cumpriram em João Batista. Portanto, Elias veio na pessoa de João Batista. É esta a real interpretação de Mateus 11.14 e 17.10-13.

Quarto - O francês Hippolyte Leon Denizart Rivail soube ser ele a reencarnação dum poeta celta chamado Allan Kardec. Ora, se a crença da reencarnação fosse assim tão difundida e aceita; se Jesus fosse um médium; se vivessem os apóstolos nesse clima de experiências espirituais, João Batista, como aconteceu com Kardec, seria o primeiro a saber que ele não era ele mesmo. Mas vejam:

"Perguntaram-lhe [a João Batista]: Então quem és? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Não". E como insistissem para saber quem ele era, respondeu com as palavras do profeta Isaías: "Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor. Perguntaram-lhe.
Então por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de vós está alguém que não conheceis. Este é aquele que vem após mim, do qual eu não sou digno de desatar as correias das sandálias" (Jo 1.21-27). João responde aos que procuram apoio bíblico para a tese da reencarnação: EU NÃO SOU ELIAS. João era bastante sincero e firme em suas declarações. Se ele realmente tivesse dúvidas ou não soubesse, certamente responderia: EU NÃO SEI SE SOU ELIAS. Ora, um profeta que anuncia a vinda de um Salvador até então desconhecido ("alguém que não conheceis"); que teve a humildade de sair de cena no momento em que Jesus iniciou seu ministério (Jo 3.30); que conhecia a missão que lhe fora confiada, a de preparar os corações para receber as Boas Novas (Is 40.3), um profeta assim cheio do Espírito Santo (Lc 1.15); um profeta que recebeu público reconhecimento de Jesus ("Dentre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista...") (Mt 11.11), um profeta assim só poderia responder com absoluta convicção. Devemos crer nas suas palavras, ou seja, que ele não era nem nunca foi Elias. Poderia parar por aqui, mas vou prosseguir.

Quinto - Por ocasião da transfiguração de Jesus, quando apareceram Moisés e Elias (Mt 17.3) João Batista já havia morrido, pois fora decapitado por ordem de Herodes (Mt 14.10). Ora, João era quem deveria aparecer ali, e não Elias, segundo a tese reencarnacionista. Na questão 150 do Livro dos Espíritos lê-se que a alma "tem um fluído que lhe é próprio, colhido na atmosfera de seu planeta, e que REPRESENTA A APARÊNCIA DE SUA ÚLTIMA REENCARNAÇÃO" (o realce é meu). Então, a última aparência daquela alma, que em determinado momento recebeu um corpo humano e se chamou Elias, seria a de João Batista. O que significa dizer que os próprios "espíritos" de Kardec fazem coro com João Batista: ele não era Elias. Concordo.

Sexto - A teoria da reencarnação fundamenta-se no ciclo "morrer-renascer-morrer", ou seja, sucessivas mortes e sucessivos renascimentos. No monumento sobre o túmulo de Allan Kardec, no cemitério de Pére Lachaise, em Paris, está escrito: "Nascer, morrer, renascer ainda é progredir sempre: esta é a lei". Para um espírito retornar à vida corpórea é preciso que tenha desencarnado, isto é, que o corpo haja descido ao pó, exceção somente admitida no caso da primeira encarnação, no estado em que a alma é "simples e ignorante" - tudo isso conforme a doutrina kardecista. Como Elias não morreu, mas foi trasladado ao céu (2 Rs 2.11), não há como imaginar que ele tenha reencarnado em João Batista. Seria um contra-senso. Alegar que a história da trasladação de Elias não merece crédito, não convence, porquanto o kardecismo usa a Bíblia para justificar suas doutrinas. Seria outro contra-senso.

A Bíblia, a palavra de Deus, é de inspiração divina. Vejamos:

Em primeiro lugar, Allan Kardec reconheceu que Jesus veio em missão divina ensinar uma elevada moral; declarou que Jesus foi a "Segunda Revelação de Deus"; reconheceu que Jesus é um Espírito Puro; espíritas há que afirmam não haver Jesus passado por sucessivas encarnações, como acontece com as demais almas. A Sua evolução teria sido "em linha direta com Deus". Ora, um Espírito com tais virtudes fala sempre a verdade.

Em segundo lugar, Jesus aprovou a Bíblia. Vejamos: Jesus leu a Bíblia (Lc 4.16-20; Is 61.1); Ele ensinou a Bíblia: "E começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras" (Lc 24.27); Ele disse que a Bíblia é a Palavra de Deus: "Invalidais, assim, a Palavra de Deus pela vossa própria tradição..." (Mc 7.13); Ele cumpriu as Escrituras: "...era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lc 18.31; 24.44); Jesus afirmou que a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17); declarou que Davi falou pelo Espírito Santo (Mc 12.35,36); usou a Bíblia para derrotar o inimigo, no deserto (Dt 6.13.16; 8.3; Mt 4.1-11); no exemplo de o "rico e Lázaro", disse que a leitura da Bíblia é fundamental: "Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos" (Lc 16.29).

Há outros argumentos que provam a inerrância e inspiração divina da Bíblia. Diante do exposto, não podemos duvidar do que está escrito em 2 Reis 2.11: "Indo eles andando e falando, de repente um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro, e Elias subiu não céu num redemoinho".

Segundo a doutrina espírita, somente um espírito desencarnado, ou seja, que se separou do corpo mediante a morte, pode assumir novas vidas corpóreas. Elias não preenchia essas condições. Ele subiu inteiro para o céu. Foi direto para um estado de pureza, sem passar pelas provas das reencarnações. Logo, João Batista não foi uma das encarnações de Elias.C


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