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quinta-feira, 11 de março de 2010

LVI - OS EXTERMINADORES DE ALMAS

Parte LVI
OS EXTERMINADORES DE ALMAS
 Há certos grupos religiosos que ensinam o aniquilacionismo, doutrina que desconsidera o castigo eterno reservado aos ímpios. Segundo eles, nenhum espírito humano sofrerá eternamente, nem mesmo o diabo. Em suma, os justos, pela ressurreição, alcançarão a vida eterna, e assim viverão eternamente com Deus; e os injustos serão eliminados. Para estes, pena capital; para aqueles, vida plena para todo o sempre.



Em outras palavras, a doutrina aniquilacionista defende cessação total da vida no ato da morte. A alma, princípio vital, sucumbe com o corpo na sepultura. Ao descer ao pó, o homem desaparece por completo. Todavia, segundo essa teoria, os justos ressuscitarão no tempo oportuno e voltarão à condição original de alma vivente (v. nosso estudo “Reflexões sobre a Imortalidade da Alma”.

Todavia, a doutrina do extermínio fica em situação de desvantagem quando examinada à luz da Palavra de Deus, pelos motivos a seguir.

Primeiro, na parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31), Jesus ensinou que os ímpios, logo após a morte (separação alma-corpo) ficam em lugar de tormentos. Ora, se os ímpios são exterminados, por que conservar suas almas num lugar de sofrimento? Não seria o caso de exterminá-los logo? Por que manter em tormentos o rico, se seria eliminado?

Segundo, o lago de fogo não é uma espécie de matadouro, um lugar de extermínio. É um lugar de vergonha, desprezo, angústia, tristeza por que passarão os que lá estiverem, pelos séculos dos séculos. A mesma expressão grega usada em Apocalipse 20.10, “serão atormentados para eis tous aiõnas ton aiõnõn-todo o sempre”, é usada em Hebreus 1.8, referindo-se à duração do trono de Deus, eterno no sentido de interminável; em 1 Pedro 4.11, concernente à Sua glória e domínio para sempre; em Apocalipse 1.8, sobre a eternidade do Cordeiro. Acompanhem a seguinte seqüência de eventos e comprovem que a “segunda morte” não é uma aniquilação, mas um estado eterno de separação de Deus:

Apocalipse 19.20 - A besta e o falso profeta são lançados vivos no lago de fogo.
Apocalipse 20.2 – Satanás é amarrado por mil anos.
Apocalipse 20.5 – Os outros mortos reviveram após os mil anos.
Apocalipse 20.7 – Satanás será solto da sua prisão.
Apocalipse 20.10 – O diabo foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta. De dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.
Apocalipse 20.15 – Serão lançados no lago de fogo todos os não inscritos no livro da vida.

Observem que passados mil anos (Ap 19.20) a besta e o falso profeta ainda se encontravam vivos no lago de fogo (Ap 20.10) e continuarão no mesmo eterno estado de ruína, sendo atormentados dia e noite. Se a besta e o falso profeta não foram exterminados no lago de fogo, também não o serão os ímpios ali lançados. “De dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” quer dizer exatamente o que diz, isto é, que o sofrimento não terá fim.

Terceiro, Jesus disse que não devemos temer os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Devemos temer, disse Ele, aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno a alma e o corpo (Mt 10.28; Lc 12.4-5). Como Autor da vida e da morte, Jesus está ensinando que os ímpios sofrerão eternamente no inferno. Contrastando com os que matam o corpo e não podem matar a alma, o Autor da vida e da morte não só pode matar o corpo [morte física], mas tem poder para lançar no inferno alma e corpo. Ele não está afirmando que lançará no inferno um corpo morto, mas um corpo ressuscitado. Tal ensino está de acordo com Apocalipse 20.5: “Os outros mortos reviveram após os mil anos”, ou “os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram”. Se o castigo eterno significasse eliminação dos ímpios, qual a razão de ressuscitá-los, se já estão eliminados na sepultura? Portanto, os ímpios ressuscitam para receberem a punição divina do castigo eterno. Esse é um nó difícil de ser desatado pelos exterminadores de almas.

Ora, os ímpios ressuscitarão não para morrer novamente, mas para receberem o castigo da vergonha, do desprezo e do eterno afastamento de Deus. Vejam: “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Dn 12.2). Os exterminadores querem a pena de morte para os ímpios, na seguinte seqüência: Morte física e conseqüente morte da alma; ressurreição dos ímpios; extermínio dos ímpios. Mas o texto apresentado não aprova tal raciocínio. Os ímpios ressuscitarão “para vergonha e desprezo eterno”, ou seja, estarão eternamente envergonhados e desprezados, afastados de Deus. Jesus fala que os maus sofrerão a ressurreição “da condenação” (Jo 5.28,29). O inferno é lugar de “tribulação e angústia” (Rm 2.9) e de “pranto e ranger de dentes” (Mt 22.13; 25.30). Tais castigos só podem ocorrer em corpos vivos, pois um corpo morto, eliminado, exterminado não sofre tribulação e angústia, nem chora, nem range os dentes. Aliás, nada sofre porque a morte é indolor.

Os exterminadores enfrentam, portanto, dificuldades para sustentar sua tese. Jesus revelou que os justos ressuscitarão “para a vida”, e os ímpios, “para serem condenados” (Jo 5.29); na carta aos romanos Paulo indica que “haverá tribulação e angústia para todo ser humano que pratica o mal” (Rm 2.9); em Daniel 12.2 lê-se que os ímpios ressuscitarão “para a vergonha e desprezo eterno”; Apocalipse 14.11 diz que não haverá descanso “nem de dia nem de noite” para os adoradores da besta; Apocalipse 20.10 anuncia que os que forem lançados no lago de fogo “serão atormentados dia e noite, para todo o sempre”; Jesus declara que os insensatos e hipócritas serão punidos severamente num lugar “onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8.12; 24.51; 25.30), e onde estarão amarrados, em trevas, para todo o sempre (Mt 22.13).

Convenhamos, defunto não chora, não se angustia, não range dentes, não passa por tribulação, não se atormenta, não sente vergonha ou desprezo. Logo, não deve prevalecer a idéia de que os ímpios serão exterminados. Deus não ressuscitará os ímpios para exterminá-los em seguida (Ap 20.5).

Agiria assim para que morram “conscientes” da punição? De maneira alguma. Não há consciência na morte. A morte é o fim das angústias e tribulações. No extermínio não há castigo eterno.

Reviver para morrer, sair da sepultura para, em seguida, ser exterminado – sinceramente, se trata de um pensamento que colide frontalmente com a Palavra. A ressurreição do corpo é para que viva; não para que morra. Não fosse assim, não haveria razão para ressuscitar os que já se acham mortos.

Além disso, a tese do extermínio dos ímpios é incompatível com a doutrina dos diferentes graus de castigo, conforme ensina a Bíblia.

Os exterminadores dizem que a pena será uniforme para todos os ímpios, isto é, a eliminação sumária será aplicada a todos, indistintamente. Mas a Bíblia nos ensina que haverá diferentes graus de castigo. Leiam:

“Assim como haverá diferentes graus de glória no novo céu e na nova terra, também haverá diferentes graus de sofrimento no inferno. Aqueles que estão eternamente perdidos sofrerão diferentes graus de castigo, conforme os privilégios e responsabilidades que aqui tiveram” (Notas Bíblia de Estudo Pentecostal). Vejam os textos pertinentes:

“Virá o Senhor daquele servo no dia em que o não espera e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis. E o servo que soube da vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que não a soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado” (Lc 12.46-48).

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações. Por isso, SOFREREIS MAIS RIGOROSO JUÍZO” (Mt 23.14). (Mc 12.40 diz: “...Estes receberão juízo muito mais severo”; Lucas 20.47 diz “...Estes receberão maior condenação”).

“De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajar o Espírito da graça?” (Hb 10.29).

Os exterminadores também defendem que a parte imaterial do homem morre com a morte física. Ou seja, ao descer à sepultura, o homem morre por completo. Essa tese também não pode ser levada a sério. Jesus disse ao ladrão ao seu lado, no Gólgota: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.43). Jesus afirmou que aquele homem arrependido seguiria para o Paraíso, após a morte. Quem subiria? O corpo? Não, o corpo seria sepultado. Corpo e alma? Não, somente na ressurreição o homem se recompõe e terá um corpo imortal e incorruptível (1 Ts 4.16-17). Somente a alma subiria? Sim, é o que afirmou Jesus. Por acaso subiria pata o Paraíso apenas o “sopro”, o “fôlego” do ladrão? Não. Deus não deseja salvar sopro. Seria até hilariante pensar que Jesus subiria para o Paraíso e, ao Seu lado, iria o “sopro” do ladrão! Fôlego e sopro dizem respeito ao mecanismo da respiração. São inerentes ao corpo e falecem com o corpo.

Na mesma linha de raciocínio estão as palavras de Estevão: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). O que Jesus iria receber? O sopro? Não. Estevão iria juntar-se àquele ladrão, na glória. Iria fazer parte do grupo dos salvos que, em paz, aguarda a ressurreição.

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