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quinta-feira, 11 de março de 2010

XXXXV - O BOI DO SACRIFÍCIO E O SACRIFÍCIO DA OFERTA

Parte XXXXV
O BOI DO SACRIFÍCIO E O SACRIFÍCIO DA OFERTA


Recebi a seguinte consulta de uma recém-convertida: “Pastor Airton, estou com uma dúvida muito grande. Gostaria de saber mais sobre a história de Gideão e os midianitas. Pelo que eu entendi é que o Anjo do Senhor apareceu a Gideão e pediu para que ele sacrificasse o segundo boi de seu pai e derrubasse o Altar de Baal. E assim ele fez; e com os 300 homens destruiu os midianitas. Mas gostaria de saber o seguinte: Por que a Igreja ...[ela pediu para não citar o nome da igreja em que congrega] em época de sacrifício de Gideão, pede para fazermos sacrifícios com dinheiro, propriedades, etc? 
Exemplo: Se eu for participar da Fogueira...[nome de uma campanha anual dessa igreja], se eu tenho uma casa e um carro, a Igreja diz que meu segundo boi será o carro. Outro exemplo: Se eu tenho duas casas, a igreja diz que o segundo boi será a segunda casa, se eu tiver apenas uma casa, mas se tiver aquele dinheirinho poupado (ex: R$2.000,00) a igreja diz que esses dois mil reais são o segundo boi [e precisa dar à igreja]. Agora, a minha maior dúvida é: Que tipo de sacrifício Deus pediu pra Gideão? O sacrifício que a Igreja pede tem o mesmo sentido do sacrifício que Deus pediu para Gideão? A igreja diz que se participarmos com Fé e acreditarmos, Deus nos devolverá em dobro o que sacrificamos e estaremos protegido dos diabos e demônios. Me esclareça estas dúvidas; estou freqüentado a Igreja, há apenas a 1 mês, e me sinto perdida. Observo que se todo o início de cada ano, em época de Fogueira..., eu terei que dar o que de maior valor eu consegui naquele mesmo ano, em forma de sacrifício como foi pedido a Gideão, nunca conseguirei prosperidade financeira, pois tudo que ganharei no ano terei que por em sacrifício no ano seguinte. Gostaria por seu intermédio e seu profundo conhecimento, maiores esclarecimentos a respeito do assunto abordado’.

RESPOSTA

[Antes, desejo comentar o seguinte: vejam os leitores como estão caminhando alguns segmentos da Igreja Evangélica. Vejam que perversidade estão praticando contra pessoas ingênuas, de boa fé, novos convertidos, que fazem qualquer coisa para não desagradar a Deus. Que maldade estão fazendo com essa gente; não apenas com os novos, mas com os velhos; repassa-se a idéia de que a melhor aplicação financeira é na igreja, que dá uma rentabilidade de cem por cento; apanha-se qualquer passagem da Bíblia e faz-se uma vinculação fajuta ao sacrifício da oferta, sem a qual - dizem - o crente, o filho de Deus não será abençoado. O “ou dá tudo ou não tá com nada” e “se um não der, há dez que darão” são normas que vigoram há mais de vinte anos].

Você, com suas palavras, derrubou o raciocínio dos teólogos de sua igreja. Há uma incoerência, como você reconhece, no ensino que você relata. Dizem que as ovelhas recebem em dobro o que ofertam, mas que todos os anos as ovelhas devem ofertar o que de maior valor conseguiram. Quando terão a tão sonhada prosperidade material prometida? Toda a prosperidade vai para a igreja. Não se vai à igreja para TER prosperidade. Isso é materialismo mesquinho. Igreja é lugar de transformação de vidas. Aceita-se Jesus para SER nova criatura, receber o “fruto do Espírito” (Gl 5.22) e crescer, isso sim, na “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). 

Quando as ovelhas param um pouquinho para raciocinar; quando elas não comem tudo pelas mãos dos outros, mas procuram refletir, descobrem que tudo não passa de uma estratégia sabiamente montada para arrecadar mais e mais. 

Como os pastores são ovelhas diante do grande Pastor, e como tal devem, também, dizimar e ofertar com a mesma fidelidade com que exigem do rebanho, eles por sua vez devem estar sentindo na carne o que é dar quase tudo que ganhou no ano anterior. Mas será que eles também são dizimistas e ofertantes? Tenho minhas dúvidas. 

Não é boa a hermenêutica que busca em fatos do Antigo Testamento motivos para aumentar a arrecadação das igrejas. O princípio dos sacrifícios de animais na antiga dispensação era o de que sem derramamento de sangue não há perdão de pecados. Esses sacrifícios apontavam para Cristo, o Cordeiro de Deus (Jo 1.29). “Convinha-nos tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus, que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios... mas Cristo, tendo vindo como sumo sacerdote dos bens já realizados, por meio de um maior e mais perfeito tabernáculo...e não por meio de sangue de bodes e bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, havendo obtido uma eterna redenção. Se a aspersão do sangue de bodes e touros, e das cinzas de uma novilha santifica [santificava] os contaminados... quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo?” (Hb 7.26,27; 9.11,12,13,14). 

Não é boa a doutrina que coloca sobre as ovelhas um jugo difícil de suportar, como bem você está admitindo. Jesus disse: “Meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11.30). Em repreensão aos escribas e fariseus, Ele observou: “Atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem nos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los” (Mt 23.4). Você, cara leitora, já está sentindo o peso do fardo. [Se a leitora se diz perdida no começo de sua fé, quanto mais perdida ficará dentro de mais algum tempo] 

O apóstolo Paulo, ao pedir ofertas, dizia: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade, pois Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7). E mais: “Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade” (1 Co 16.2). Esse é o tipo de ajuda que Deus quer. Que não seja por coação, mas por amor; que seja conforme a prosperidade de cada um; que seja com alegria, mas não por constrangimento. 

Respondendo mais diretamente à sua indagação, digo que o “boi” oferecido em holocausto por Gideão não pode servir de modelo e razão para darmos à Igreja metade de nossos bens ou aquilo de maior valor que ganhamos. Fazer vinculação é perverter a sã doutrina. É descabida e condenável sob todos os aspectos a pressão sobre as ovelhas usando tais expedientes. 

Quanto à segunda parte de sua consulta, digo que o crente, para ser abençoado, não necessita de participar dessa ou daquela campanha anual. Os sacrifícios anuais fizeram parte do Antigo Testamento, como dito acima. A nossa salvação está garantida pelo único e eficaz sacrifício de Cristo. Se precisarmos de sacrifícios anuais, estaremos voltando ao tempo do Antigo Testamento e já não somos salvos pela graça, mas pelas obras (Ef 2.8-9) Começamos a ser abençoados a partir do momento em que aceitamos Jesus como Senhor e Salvador e passamos à condição de filhos de Deus (Jo 1.12; Rm 10.9). Muito mais abominável é exigir de um membro o pagamento para participar de uma reunião anual, considerando-se que as ovelhas já contribuem mensalmente com seus dízimos e ofertas. 

A exigência de sacrifícios anuais está em desacordo com a Palavra de Deus. A exigência de sacrifícios pecuniários acima de dez por cento está em desacordo com os princípios do dízimo, segundo os quais os crentes devem ficar com NOVENTA POR CENTO de seus ganhos. Os bens, adquiridos com esses noventa por cento, já estão portanto dizimados. Se qualquer um desses bens for ofertado, então a oferta será muito superior a dez por cento; será dízimo sobre dízimo. Dízimo significa ficar com noventa por cento. Essa é a vontade de Deus. Parece que este detalhe, no seu caso, não está sendo considerado. 

Trazer os sacrifícios de animais do Antigo Testamento e aplicá-lo à realidade atual, vinculando-os ao sacrifício do dízimo e à necessidade de renovadas bênçãos é um fato inusitado e estranho ao Cristianismo. É um desvio doutrinário com cheiro de heresia. Se alguma igreja estiver com real dificuldade financeira, carente portanto de aporte de recursos, o caminho melhor será apresentar aos fiéis a demonstração de receita e despesa do mês. As ovelhas, conhecendo a situação, farão contribuições espontâneas de acordo com as posses de cada um. 

Portanto, o boi do sacrifício nada tem a ver com o sacrifício do dízimo.

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