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quinta-feira, 11 de março de 2010

LXIII - LEVANDO A SÉRIO O SEGUIR A CRISTO

Parte LXIII
LEVANDO A SÉRIO O SEGUIR A CRISTO

Leitura básica: Lucas 9.57-62

 Aqui está Jesus se dirigindo para Jerusalém com os discípulos. Naturalmente, precisavam eles passar pela Samaria, já que estavam na região norte da Palestina. E por ali passando, agora se defronta o Mestre com três aspirantes a segui-Lo. Nesses três homens, diferentes tipos de caráter a partir de suas afirmações e reações; três naturezas tão diferentes como o óleo, a água e o vinho. 



A história conta como Jesus lidou com cada um deles, e, dependendo do tipo de resposta, que instrução/exortação dera. O amigo e irmão que está afastado de uma igreja analise se por acaso se identifica com algum destes candidatos ou com o modo como são descritos.

O PRIMEIRO CANDIDATO


O primeiro candidato está nos versos 57 e 58: "Quando iam pelo caminho, disse-lhe um homem: Seguir-te-ei para onde quer que fores. Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninho mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça".

Temos neste primeiro caso um teólogo. Se lermos a mesma história no Evangelho de Mateus, um detalhe será visto: que "um escriba" aproximou-se de Jesus. Não é um homem comum, portanto; não era como nós. Era versado nas Escrituras, sabia analisar o que estava escrito na Palavra de Deus. Era um rabino, sabia cada detalhe de cada expressão, de cada palavra, e, até parece exagero, de cada letra como no Talmude se faz (quando se o lê, de um lado está o texto, e do outro, o comentário de um rabino, de um escriba). E esse homem é um escriba, e se oferece para seguir a Jesus com palavras decididas! 

Que beleza de palavras!... "Seguir-te-ei para onde quer que fores", disse ele. Palavras muito semelhantes vamos encontrar em outros lugares da Santa Escritura, por exemplo, as proferidas por Pedro. Estão registradas em Lucas 22.33: "Senhor, estou pronto para ir contigo tanto para a prisão quanto para a morte". Que palavra decidida... logo depois, porém, negou a Jesus. 

É importante o detalhe de Mateus ao dizer que o primeiro homem era um escriba. Não eram atraídos a Jesus apenas os camponeses, como há quem pregue; não eram atraídos apenas os artesãos, como há quem diga. Mas esse voluntário é um escriba, um homem de mentalidade superior, cheio de entusiasmo, autoconfiante. Ou seria ele um precipitado, um irrefletido? Sua palavra é bonita e tocante à luz de Lucas 9.23 onde Jesus diz, "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me".

"Seguir-te-ei para onde quer que fores", disse ele. Mas tudo indica que ele não estava consciente das implicações do que estava decidindo. Talvez pensasse que o caminho que Jesus trilhava levaria ao sucesso, ao poder. Não havia apóstolos que também pensavam assim? A mãe de dois deles não foi a Jesus e pediu que no Seu reino colocasse um dos filhos à direita e outro à esquerda? Primeiro-ministro um, Ministro das Finanças o outro. Quem sabe esse escriba poderia ser Ministro da Educação no reino de Deus? Mas Jesus sabia que assim não era: era um caminho sem retorno, caminho que O levaria ao Getsêmani e ao Calvário porque o Seu compromisso com a vontade do Pai e com a necessidade do ser humano não era superficial. 

Esse homem devia calcular a despesa. "Meu amigo, você precisa calcular quanto custa me seguir". Ele disse: "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem - e essa é uma expressão messiânica - não tem onde reclinar a cabeça". Ninguém deve dizer que foi induzido a seguir a Jesus sob falsas promessas. As exigências de Jesus Cristo são as mais altas possíveis. Seguir a Cristo é segui-Lo a Jerusalém; seguir a Jesus Cristo é acompanhá-Lo às pedras do Calvário; seguir a Cristo é renunciar às alegrias do mundo; é compartilhar o próprio compromisso de Jesus, a Sua missão, os Seus alvos, o Seu sofrimento. É preciso seguir o Mestre de modo firme e sem ilusões. E o que Jesus quer é dedicação total de acordo com o mencionado verso. O que Ele deseja é capacidade de segui-Lo sem meias verdades e meias medidas, sem reservas e sem poréns. 

Jesus conhecia o íntimo daquele homem, e na Sua resposta, Ele talvez fizesse referência ao incidente com os samaritanos, porque diz Lucas que quando estava passando pela Samaria quis dormir numa cidade e não O receberam. Talvez Jesus estivesse querendo dizer isso: "Olha, eu nem tenho onde dormir; passei por sua terra e não me deixaram ficar lá, tive que seguir adiante". É aí que na palavra de Jesus, dá-se o uso de uma parábola, a descrição do Seu ministério, onde a falta de descanso é uma constante. Não esqueçamos isso: o crente em Jesus Cristo não foi chamado para cruzar os braços, e talvez nem tenha onde descansar. Teria ele levado a sério o seguir a Cristo realmente?

Nesse ponto, entra o segundo candidato (vv. 59,60).


O SEGUNDO CANDIDATO


"Segue-me. Ao que este respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Replicou-lhe Jesus: Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus".

Observem que este segundo candidato foi diretamente convidado por Jesus Cristo. Não foi como o primeiro que se ofereceu; esse Jesus olhou nos olhos e chamou. No entanto, o homem Lhe pede licença para sepultar o pai. Ele quer seguir, mas só depois de cumprir uma sagrada obrigação que era sepultar o pai. Sabem qual era o problema? É que o pai nem estava doente?! "Sepultar o pai" é uma expressão idiomática da língua aramaica: "Eu vou segui-Lo, mas primeiramente eu não quero mais ter qualquer ligação com a minha casa; quando meu pai falecer, eu sigo".

Era relutante, tem um conflito de interesses, era demorado, precisava de um "empurrãozinho". Mas, quem sabe, há outra possibilidade? É que o pai nem estivesse morto, pois se tivesse falecido, o homem não estaria ali conversando com Jesus, mas em casa. Não é verdade? O pedido, então, era para ficar em casa até que o pai falecesse. E esse era um atraso sine die. Mas os assuntos do reino de Deus não podem ser adiados! Quem tem a visão de Jesus, e de Sua vontade e de Sua obra não deve negar nem atrasar a vocação celestial. E Jesus pronuncia as palavras que à primeira vista parecem duras ("Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos"). Não necessariamente eram palavras pesadas: se o homem voltasse para casa, não mais viria a Jesus. Então, Jesus, na verdade, foi direto, foi prático. Num grande incêndio ninguém fica dentro do prédio; num grande sinistro, num terremoto, enchente, naufrágio, os médicos têm que assistir os vivos, e não assistir aos funerais... Por isso, Jesus declarou: "Deixa os espiritualmente mortos enterrar os corporalmente mortos" (cf. Ez 24.15-18). É renunciar aos preconceitos, às idéias formadas, e dar preeminência e prioridade à vontade de Deus, ao Seu domínio no coração e na vida.

Que teria sucedido a este candidato após a palavra de Jesus? Levou a sério a convocação?


O TERCEIRO CANDIDATO


Ele deve ter ficado chocado com essa situação, e resolveu contemporizar: quis misturar o primeiro caso ("Senhor, eu vou seguir!") com o segundo ("Senhor, vou sepultar meu pai!"). E disse assim: "Senhor, eu te seguirei; mas deixa-me primeiro despedir-me dos que estão em minha casa. Jesus, porém, lhe respondeu: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus".

Ele se oferece para o discipulado, mas estabeleceu condições porque queria tempo para despedidas. É tranqüilo, é entusiasta, mas tem o coração dividido; acha difícil cortar os laços com o passado, e com a sua cultura. Jesus percebe nele a decisão, mas, ao mesmo tempo, um freio. Falta-lhe o empenho, o compromisso com o qual deve enfrentar o futuro para o qual Deus o estava chamando.

Creio que ele queria a opinião dos parentes, ou que os amigos dissessem alguma coisa a respeito do projeto. Creio que ele queria voltar para casa para perguntar, "Meu amigo, estou querendo seguir a Jesus, que é que você acha?" Mas as despedidas em casa poderiam resultar numa despedida de Jesus para sempre. Por essa razão, o Senhor mostrou que não se pode perder tempo quando se trata de atender a um convite divino, mas é preciso fazê-lo com segurança. Apesar do pedido até razoável daquele, ele ocultava alguma relutância, porque lembrando dos que ficaram em casa, estava começando a vacilar no desejo de seguir. 

Jesus entra, agora, com a figura do arado. Figura perfeitíssima: quem toma do arado e olha para trás, corre o perigo de estragar o sulco aberto pela ferramenta, e, assim, o trabalho que está sendo realizado se prejudica. Como nem todo mundo já chegou a ver um arado, vamos ver uma figura de hoje: andar de bicicleta. Já experimentou andar de bicicleta olhando para trás? Corre-se o perigo de um desastre.

A exigência de Jesus Cristo vai além, até, dos antigos profetas (cf 1Rs 19.19-21). O trabalho de Cristo é colocar as mãos firmes no arado para quebrar o solo duro dos nossos próprios corações e dos semelhantes nossos. 

Quem olha para trás prejudica esse serviço (v. 62). É preciso se dar inteiramente a Ele trabalhando com retidão. Com o arado se faz assim. Há uma história contada por todos os evangelistas que diz que um moço que nunca havia trabalhado com um arado foi trabalhar numa fazenda. O fazendeiro lhe disse que ia trabalhar com o arado, e deu-lhe as instruções. Olhe para um ponto, e vá com o arado para ele. "Sabe fazer?" "Sei." À tarde, para surpresa do fazendeiro, estava tudo torto. "Eu não lhe expliquei para olhar para um ponto e seguir para ele?" "Mas eu fiz isso!" "E como está tudo torto? Qual foi o ponto que você escolheu?" "Aquela vaca lá adiante". A vaca andava, o rapaz ia atrás. Não se pode deixar de ter a retidão exigida pelo reino de Deus. 

Lucas não diz o que aconteceu aos três homens. Percebemos, no entanto, que Jesus não os rejeitou. Quanto ao primeiro candidato, Ele disse, "Você calcule o custo, e depois me siga" (v. 58). Talvez ele tenha seguido, talvez não. Ao segundo, Jesus disse especificamente: "Vai, e fala do reino de Deus" . (v. 60). Quanto ao último, não diz o texto que renunciou, ou que Jesus mandou embora. Ele disse, "Ninguém que pega no arado pode olhar pode olhar para trás; você tem que seguir sempre" (v. 62). A Bíblia não diz igualmente o que aconteceu. Por essa razão, porque o discipulado convida ao auto-compromisso: o auto-confiante é alertado, como foi o primeiro; o super-cauteloso é estimulado como sucedeu com o segundo; e o que quer ganhar tempo é chamado a ser sincero e honesto como ocorreu com o terceiro.

Na verdade, o privilégio e a seriedade de seguir a Jesus Cristo são de tal grandeza que não há lugar para compromissos outros, para desculpas com o mundo, para com o coração dividido. O que Jesus quer é seguidores que levem em conta o preço, que estejam prontos para segui-Lo imediatamente, e que não tenham o coração dividido. Não é fácil seguir a Jesus Cristo! Sofremos grandes pressões: da sociedade, da mídia, dos familiares, tudo que vem batalhando de modo incrível para que não sigamos a Jesus Cristo. Somos perseguidos, espezinhados; quem vai seguir a Jesus não pode olhar para trás, não pode pensar em descanso, mas só em pressões; quem segue a Jesus recebe uma ordem: "Vai, e anuncia o reino de Deus". Quanto está implícito no seguir a Cristo...

Henry Drummond, grande pregador do século passado, falava aos sócios de um clube em Londres, e dizia: "Senhores, a taxa de inscrição no reino de Deus custa "nada", mas a mensalidade custa "tudo". É permanecer em Cristo, é perseverar, é ser constante, porque a perseverança e a constância são o teste do discipulado, pois é o segredo de vencer qualquer dificuldade, e como Jesus falou sobre permanecer, sobre aderir às Suas palavras, ao Seu ensino, ao Seu evangelho. E este é o convite que eu lhe quero fazer.

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