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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

IV - O SIGNIFICADO DA SALVAÇÃO

Parte IV
O SIGNIFICADO DA SALVAÇÃO
 Quais as implicações práticas da salvação em Cristo Jesus para o homem e a mulher de hoje?  A expressão JESUS SALVA é muito conhecida em nossos dias, pois além de ser convencionalmente anunciada é comum vê-la nos vidros dos carros e nos pára-choques dos caminhões. Entretanto, o que ela realmente significa? Antes de tudo é importante ter em mente que Jesus é salvação. Ele é a própria salvação, ou melhor, a única salvação. Pedro afirmou: "E não há salvação em nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (At 4.12). Para o apóstolo Pedro Jesus é a salvação no mais profundo sentido da palavra. 



Complementando Pedro, o apóstolo Paulo, por sua vez, acrescenta: "Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (I Tm 2.5). Além disso, o apóstolo entendia que o propósito divino para a salvação de alguém é eterno. "... Deus nos escolheu desde o princípio para a salvação...", diz Paulo em 2 Tessalonicenses 2.13. E em Efésios 1 diz ainda que Deus nos escolheu em Cristo para a salvação antes da fundação do mundo. 

O Senhor Jesus, dentre outras maneiras, apresentou a salvação em termos de ato e processo, libertação e manutenção. 

Vejamos, resumidamente, o que significa a salvação em Cristo Jesus. 



1) LIBERTAÇÃO DO PECADO 





Que é pecado?


"Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão desta lei" (Breve Catecismo de Westminster, cf Tg 2.10; 4.17; I Jo 3.4). Em outras palavras, pecado é tudo aquilo que se faz contrário à vontade de Deus. É errar o alvo naquilo que Deus quer para a nossa vida. 

O pecado surgiu no jardim do Éden com a desobediência dos nossos primeiros pais, ao comerem do fruto proibido (Gn 3.12,13; Os 6.7). Uma vez que Adão era o nosso representante diante de Deus, o gênero humano que dele procedeu por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele na sua primeira transgressão (Gn 1.28; At 17.26; Rm 5.12-14; I Co 15.21,22). Por causa desta transgressão todo gênero humano possui agora uma natureza corrompida e escravizada pelo pecado (Sl 51.5; Rm 5.18,19; 6.6,17,20; 8.7; Ef 2.1-3). E o resultado final de tudo isto é que a humanidade perdeu a comunhão com Deus, está debaixo de sua ira e maldição, e assim sujeita a todas as misérias nesta vida, à morte e às penas do inferno para sempre (Gn 3.8,24; Mt 25.41-46; Rm 6.23; Ef 2.3). 

Mas Deus deixou todas as pessoas perecerem em seus pecados? De modo algum! "Tendo Deus, unicamente pela sua boa vontade desde toda a eternidade escolhido alguns para a vida eterna, entrou com eles em um pacto de graça, para os livrar do estado de pecado e miséria, e trazê-los a um estado de salvação por meio de um Redentor" (Breve Catecismo, cf Jo 17.6; Ef 1.4; Tt 1.2). E quando aceitamos a Jesus e por Ele somos salvos, o Pai nos justifica. "Justificação é um ato da livre graça de Deus, no qual Ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de Si, somente por causa da justiça de Cristo a nós imputada, e recebida só pela fé" (Rm 5.18; 2 Co 5.21; Gl 2.16). 

Para que alguém seja salvo por Cristo é necessário que se arrependa dos seus pecados e creia no Senhor Jesus como único e suficiente Salvador de sua vida (Mc 1.15; At 16.31). 



2) LIBERTAÇÃO DO PECADO PARA A VIDA ETERNA 



A morte foi e sempre será, como conseqüência do pecado, a maior de todas as calamidades que o ser humano já experimentou na face da terra. A morte é o pagamento mais elevado do pecado, "porque o salário do pecado é a morte" (Rm 6.23a). Portanto, viver eternamente, há muitos e muitos anos, tem sido o anseio do coração de cada pessoa. Haja vista, por exemplo, a preocupação de Juan Poncil de Leon que no século XV saiu à procura duma fonte da juventude, e de Cleópatra, a rainha egípcia do século I a. C., que passava horas e horas se banhando em água com plantas aromáticas para imortalizar a sua idade juvenil. 

A não conformidade com a morte gera a esperança de uma vida eterna. Eis alguns exemplos da Antigüidade: Indígenas colocavam junto aos mortos as armas que estes haviam usado em vida, na certeza de que lhes seriam úteis nas lutas do além. Os groenlandeses enterravam junto às crianças um cão para guiá-las através do bosque sombrio que supunham existir nos limites da outra vida. Os egípcios punham à disposição do morto, na sua tumba, um esboço de uma das regiões do além. Os gauleses 'emprestavam' dinheiro aos defuntos na expectativa de reavê-lo na outra vida. Os gregos colocavam, na boca dos cadáveres, uma moeda de prata, a fim de pagarem a passagem pela travessia de um rio que, segundo se cria, limitava os dois mundos. 

VIDA ETERNA é a expressão que praticamente resume a missão de Cristo, agora e sempre, para todo aquele que nEle crê. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16). Paulo salienta: "Ele (Cristo) vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados" (Ef 2.1). A palavra "vida" usada por Paulo em Efésios 2.1 é, em grego, ZOE e não BIOS, indicando, desse modo, aquela qualidade de vida espiritual e eterna que só Jesus pode dar. 
Vale a pena ressaltar que "a vida eterna não é simples existência eterna; significa existir com todas as faculdades desenvolvidas em plenitude de alegria. Não é existir como a erva seca, mas sim, como a flor em toda a sua beleza" (Carlos Spurgeon, O Conquistador de Almas). 

A vida eterna consiste no conhecimento de Deus (cf Jo 17.3). Este conhecimento, longe de ser uma simples questão de compreensão intelectual acerca de Deus, significa, na verdade, um relacionamento pessoal, devocional e íntimo com Ele. A vida eterna é uma obra da livre graça de Deus que adquirimos quando nos convertemos, isto é, quando nos arrependemos de nossos pecados e cremos em Jesus para a nossa salvação. E nem mesmo a morte física serve de obstáculo para a vida eterna; pelo contrário, a morte, para os crentes, é "uma libertação do pecado e um passo para a vida eterna" (Catecismo de Heidelberg, cf Jo 5.24; Rm 7.24; Fp 1.23). Além disso, ter a vida eterna é o mesmo que estar salvo num processo irreversível (Jo 5.24; 6.47; 10.27,28; I Jo 5.13). Vida eterna, como o próprio nome indica, não é uma coisa que temos hoje e perdemos amanhã. Neste caso seria vida transitória, jamais eterna. 

"O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 6.23). 



3) LIBERTAÇÃO DO PECADO PARA A VIDA ETERNA EM SANTIDADE DE VIDA 



A santidade de vida consiste no fato de morrermos cada vez mais para o pecado e vivermos para a retidão (cf Rm 6.6; 12.1,2; Ef 4.20-24; I Pe 1.2). E não há outra coisa que Deus mais deseja para aqueles que foram libertados do pecado, enquanto estiverem no mundo, senão uma vida contínua de santificação. "Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação", diz Paulo (I Ts 4.3). E Pedro complementa: "... segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo" (I Pe 1.15,16). 

Paulo diz ainda em Efésios 1.4 que a nossa eleição por parte de Deus visava a nossa santificação: "... nos escolheu... para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele". E não somente isto, mas a santidade de vida é também uma das grandes evidências de nossa eleição e salvação (cf 2 Pe 1.3-11). 

É necessário que estejamos atentos para o estado perigoso de muitos que professam a fé cristã hoje em dia. Sem a santificação "ninguém verá ao Senhor", diz o autor de Hebreus (Hb 12.14). Quanto a este particular, o erudito John Owen, puritano do século XVII, afirmou: "Não há imaginação mais tola e perniciosa, que costuma caracterizar os homens, do que esta - que pessoas não purificadas, não santificadas, cujas vidas não são santas, supostamente possam ser levadas àquele estado de bem-aventurança que consiste no aprazimento de Deus. Nem tais pessoas desfrutariam de Deus, e nem Deus seria uma recompensa para elas. A santidade, na verdade, será aperfeiçoada no céu, mas os seus primórdios invariavelmente estão confinados a este mundo". 

"Não há salvação sem santificação", costumavam dizer os puritanos do passado. 

De que maneira trocamos o pecado pela vida de santidade? Como a velha natureza ainda faz parte de nossa vida, devemos lutar constante e diligentemente contra toda forma de pecado. O bispo anglicano J.C.Ryle, em seu famoso livro Santidade, apresenta-nos uma receita infalível para se lutar contra e vencer o pecado. Diz ele: "A santidade também é algo que depende em muito do uso diligente dos meios bíblicos. Quando falo em meios, tenho em vista a leitura da Bíblia, a oração privada, a freqüência regular à adoração pública, o ouvir constante da Palavra de Deus e a participação regular na Ceia do Senhor. Afirmo como um simples fato que ninguém que se descuida quanto a esses exercícios pode conseguir grande progresso no caminho da santificação. (...). Deus opera através de meios, e Ele nunca abençoará uma alma que pretenda ser tão elevada e espiritual que possa dispensar esses exercícios, como se fossem desnecessários". 

O Pai celestial nos abençoará através dos meios, mas só se estivermos dispostos a nos apropriarmos deles (Mc 14.38). E não se esqueça: Jesus Cristo deve ser o maior exemplo de santidade a ser imitado por você (Cl 2.6; I Pe 2.21,22; I Jo 2.6). Pois só assim é possível manifestar a fé verdadeira, porque, como sabemos, a fé sem obras é morta! 

4) LIBERTAÇÃO DO PECADO PARA A VIDA ETERNA EM SANTIDADE DE VIDA, VISANDO A GLÓRIA DE DEUS

Em sua pergunta de nº 3, o Catecismo de Doutrina Cristã declara: "Para que fim vos criou Deus a vós e a todas as coisas?". "Para a sua própria glória", é a resposta. Esta declaração singela resume o conteúdo de toda a Bíblia no que concerne ao propósito de Deus para a Sua criação em geral, e para o ser humano em particular. 

A glória de Deus é o tema da revelação geral (a criação) e da revelação especial (a Palavra). O Salmo 19 é um exemplo maravilhoso de declaração e manifestação da glória de Deus pela criação (vv1-6) e pela Palavra (vv7-14). Contudo, somente a Bíblia é a única regra para nos dirigir na maneira correta de glorificar a Deus. E dentro do que estamos apresentando até aqui, concluímos, pela Palavra de Deus, que a salvação em Cristo, que consiste na libertação do pecado para vivermos eternamente em santidade de vida, não tem outro fim supremo e principal senão o de glorificar a Deus. 

Mas o que significa glorificar a Deus? A palavra glorificar às vezes significa tornar alguém glorioso, ou conceder-lhe glória; outras vezes quer dizer reconhecer alguém como glorioso, ou manifestar sua glória. No primeiro sentido se diz que Deus glorifica (torna ou concede glória) tanto a Cristo (At 3.13) como aos justificados (Rm 8.30). Neste caso, portanto, não podemos glorificar a Deus, pois nada podemos acrescentar à perfeição que Ele tem em si mesmo. 

O segundo sentido de glorificar, que ocorre várias vezes nas Escrituras, quer dizer que podemos e devemos declarar por palavras e atitudes que Deus é glorioso, isto é, honrá-lO e louvá-lO como tal, e tornando conhecidas de outros Sua majestade, bondade, etc. 

Nós glorificamos a Deus quando cantamos para Ele, quando oramos a Ele, quando estudamos a Sua Palavra e, principalmente, quando fazemos a Sua vontade (Mt 12.50; Lc 6.46-49). Ademais, é importante ficar claro que de nossa parte apenas glorificamos a Deus quando fazemos as coisas com o propósito de glorificá-lO de fato (cf I Co 10.31). Digo isto simplesmente porque Deus não tem prazer naquilo que não O Glorifica. Por exemplo: Quantas vezes oramos a Deus com o fim de satisfazermos simplesmente os nossos próprios interesses? Não duvido que é na oração que muitas vezes usurpamos a glória que pertence a Deus. Tiago 4.3 diz: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres". Ao tratar dos impedimentos à oração, R.A.Torrey comenta Tiago 4.3 de um modo que deve nos levar à reflexão. Diz ele: "Um propósito egoísta na oração rouba-lhe o poder. Muitas orações são egoístas. Pode tratar-se de coisas perfeitamente adequadas para ser objeto de petição, coisas que sejam da vontade de Deus conceder, mas o motivo da oração é inteiramente errado, e assim ela se anula. O verdadeiro propósito na oração é para que Deus possa ser glorificado na resposta. Se pedirmos algo simplesmente para recebermos o que pedimos e usá-lo em nossos prazeres ou em nossa própria gratificação, estamos 'pedindo mal' e não podemos esperar receber aquilo que pedimos. Isto explica porque muitas orações permanecem sem resposta" (Torrey, Como Orar). Deus quer abençoar muito a você e a mim, mas para isso precisamos fazer a coisa certa, do jeito que a Bíblia nos ensina a fazer. 

O sentido da vida consiste em atribuir a Deus a glória que exclusivamente Lhe pertence. Por isso precisamos ter em mente ainda outra coisa: É necessário reconhecermos que se existe alguma bondade, habilidade e talento em nós é por causa da graça e misericórdia de Deus para conosco. I.H. Marshall, comentando a trágica morte do rei Herodes em Atos 12, disse corretamente: "A lição é que o próprio Deus age contra aqueles que usurpam a Sua posição e reivindicam para si mesmos as honras divinas". Talvez não cheguemos ao ponto de reivindicar para nós mesmos as honras divinas como Herodes fez, mas não estamos tão longe desse erro como poderíamos pensar. Toda forma de soberba e orgulho é uma péssima indicação de que alguém está querendo para si o que deveria atribuir a Deus. A Bíblia, assim como a história antiga e moderna, tem vários exemplos desastrosos da chamada síndrome de Lúcifer. Porque quem a si mesmo se exaltar será humilhado por Deus. E ser humilhado por Deus é uma experiência deveras terrível. Mas quem a si mesmo se humilhar será exaltado por Deus (Mt 23.12; Pv 15.33). 

Aprendamos, pois, as sábias lições de João Batista ("Convém que Ele cresça e que eu diminua", Jo 3.30), de Paulo ("Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo", Gl 6.14) e do Senhor Jesus Cristo ("Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos", Mc 10.45). 

Concluindo: Somos libertados da escravidão do pecado por Cristo para vivermos dia-a-dia a nova vida que glorifica a Deus. Portanto, façamos da seguinte oração o nosso compromisso de fé: 

Resolutos, Senhor, e com zelo e fervor,
Os teus passos queremos seguir!
Teus preceitos guardar, o teu nome exaltar,
Sempre a tua vontade cumprir.
(Sammis e Ginsburg)


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