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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

XVII - O ESPÍRITO SANTO, MISSÕES E A IGREJA BRASILEIRA

Parte XVII
O ESPÍRITO SANTO, MISSÕES E A IGREJA BRASILEIRA
O Espírito Santo é eminentemente missionário e a missão da igreja no mundo é participar da missão do Espírito.


Esta declaração nos deve conduzir a uma reflexão séria, principalmente porque hoje, mais do que nunca, a sociedade brasileira necessita de uma mensagem evangélica confrontadora. O que não significa dizer que ela queira necessariamente ser tocada em suas feridas; porém, à luz da Bíblia, não podemos oferecer às pessoas um evangelho paliativo e barateado como temos visto hoje em dia. O cristianismo puro e simples (para usar o título em português do livro de C. S. Lewis) precisa ser a mensagem pregada e o estilo de vida de todo homem e de toda mulher salvos em Cristo.



É triste constatar o tipo de evangelho enganador que está sendo anunciado atualmente. Um evangelho descompromissado da ética cristã e da santidade de vida. Um evangelho falsificado que propõe atalhos ao invés do verdadeiro caminho. No meio artístico, por exemplo, ouve-se falar daquele e daquela como os mais novos irmãos na fé; entretanto, aqui e ali ficamos sabendo dos escândalos que esses "irmãos" cometem. Não negamos que haja conversões autênticas entre os artistas, porém, é preciso o quanto antes que o verdadeiro evangelho, com todas as suas implicações para a igreja e a sociedade, seja resgatado em nosso meio. É necessário que "o sal da terra" e "a luz do mundo", a igreja de Jesus Cristo, ofereça, mediante o evangelho da verdade, a verdadeira vida para todo aquele que perece em seus próprios pecados. E isto só acontecerá quando a igreja proclamar o evangelho de poder e no poder do Espírito, visto que ela também precisa enxergar além de si mesma, de sua institucionalização e de seus paradigmas obsoletos.

Além disso, em se tratando da apresentação do evangelho ao povo brasileiro, a igreja evangélica, não raramente, tem ido ou para o extremo da mensagem desencarnada, distante da realidade cotidiana do povo, mediante a apresentação de um evangelho transcendente que alcança as estrelas mas esquece da terra; ou tem, por outro lado, oferecido Jesus Cristo às pessoas como se Ele fosse um produto de consumo à disposição nas prateleiras do mercado eclesiástico. Outras vezes apresenta-se Cristo no melhor dos estilos "fada madrinha". Em nome dEle promete-se ao povo casa, carro, dinheiro; enfim, toda sorte de prosperidade. Cremos sinceramente que Cristo pode dar tudo e até mais do que é prometido ao povo em termos de prosperidade; contudo, não podemos perder de vista as implicações e exigências do evangelho autêntico. As pessoas não devem ser confrontadas somente em termos de: "Você não conseguiu? Venha para Jesus que você consegue", mas sim, encaradas como pecadoras que precisam urgentemente da graça redentora.

E por que precisamos nos preocupar com isto? Justamente porque a sociedade brasileira carece do evangelho que esteja encarnado na vida dos crentes e na vida dela mesma. Um cristianismo integral, como expressão de vidas santificadas e consagradas ao Senhor, é o que realmente impactará nosso país e o mundo. Cristianismo integral é a manifestação viva daquilo que dizemos acreditar. Paulo é um exemplo fabuloso de compromisso com a verdade do evangelho. Ele nunca a comprometia. Podia como poucos ser imitado como imitador de Cristo. Semelhantemente o povo brasileiro precisa ver na igreja de hoje pessoas que vivam o que dizem crer. A prática é a expressão do que acreditamos. Se não praticamos o que dizemos, então a nossa pregação não passará de retórica evangélica desqualificada.

O livro de Atos é um exemplo fabuloso de prática cristã autêntica sob o comando do Espírito Santo. Eis que o Livro está aí, diante de nós, para ser conferido, lido e relido pelo povo evangélico ou não, sob uma nova (ou velha?) ótica: a ótica do Espírito missionário. Em Atos o Espírito Santo faz a diferença. O livro de Atos se torna único no Novo Testamento porque nele o Espírito Santo se revela como um Espírito missionário. Por isso, abordar o segundo tratado de Lucas numa perspectiva missiológica é fazer verdadeira justiça ao seu autor. Há teologia em Atos? É claro que sim. Mas apresentá-lo missiologicamente é a maneira mais natural de fazê-lo. Sendo o Espírito Santo missionário, o que segue é conseqüência natural, isto é, a igreja neotestamentária formada a partir do Pentecostes passa a ser naturalmente uma igreja missionária. A relação Espírito-igreja é a chave do sucesso em Atos. No entanto, do começo ao fim de seu segundo livro, Lucas deixa claro que o Espírito Santo é quem comanda a igreja em sua missão. Achamos importante enfatizar este ponto, visto que atualmente existe uma concepção equivocada acerca da pessoa e obra da terceira pessoa da Trindade em geral, e de sua missão em particular.

O Espírito Santo é Deus, e Deus soberano. Ele conduziu em triunfo a Igreja Primitiva em sua missão evangelística, sendo o mesmo Espírito a conduzir nos dias de hoje a igreja brasileira em sua tarefa missionária. Num estudo sistemático, podemos observar que o Espírito Santo é quem vocaciona, capacita e dirige soberanamente seus obreiros e a igreja na missão. Além disso, é Ele quem vai adiante, abrindo portas e preparando o caminho para o sucesso da obra missionária. E o mesmo Espírito que vocaciona, capacita e dirige os missionários e a igreja na missão, além de preparar o campo, é quem transforma este mesmo campo em base missionária. A visão missionária é uma dádiva do Espírito para a igreja do Senhor Jesus. Praticar esta visão, como o fez a igreja de Antioquia, é entender o verdadeiro propósito para o qual a igreja de Jesus existe.

Tudo que o Espírito Santo fez em Atos visava a ação missionária da igreja. O Pentecostes, por exemplo, não aconteceu para que a igreja vivesse em torno de si mesma, comodamente, degustando tão somente aquela experiência sobrenatural. No Pentecostes o Espírito Santo capacitou a igreja e continuaria capacitando-a para ser testemunha de Jesus em todo o mundo. Concedeu o que a igreja esperava e o que ela buscava: poder para testemunhar. Poder para proclamar as boas novas de Deus em Cristo Jesus, mas também poder para vencer o medo, a covardia e a timidez por Cristo Jesus. Os dons ou manifestações do Espírito (línguas, curas, profecias, etc.) foram dados pelo Espírito Santo com o objetivo de que a igreja testemunhasse de Jesus ao redor do mundo. Nada do que a igreja recebe do Espírito tem nela um fim em si mesmo.

No passado o Espírito Santo e a Igreja Primitiva deram continuidade ao que Jesus começou a fazer e a ensinar. Hoje, é possível que nosso maior desafio seja o de jamais esquecer que a missão do Espírito e da igreja cristã não terminou com Atos 28.



Extraído com permissão do livro ATOS DO ESPÍRITO SANTO (Ed. Descoberta, 2002) de autoria do Rev. Josivaldo de França Pereira.


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