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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O QUE O REINO DE DEUS NÃO É

Parte IX

O QUE O REINO DE DEUS NÃO É


Ora-se muito sem discernimento "Venha o Teu reino". Mas o que não é o reino de Deus? Diria, em primeiro lugar, que não é um domínio geográfico, um país terreno com uma capital terrena como um certo segmento teológico que anuncia, na sua posição mais extremada, que o reino de Deus vai ser estabelecido num determinado lugar (Israel) tendo como capital Jerusalém, e ali Jesus Cristo vai reinar. Essa é uma posição extrema que a Escritura Sagrada não apoia. 

Não é, também, a Igreja. Agostinho e os teólogos da Outra Igreja ensinaram e ensinam que o reino de Deus é a Igreja.


Também não é uma utopia, uma sociedade ideal a ser construída pelos homens, como certos reformadores sociais cristãos também pregam, de modo que com a pregação do evangelho se espalhando cada vez mais, por fim começa o reino de Deus sem ninguém perceber. Não é isso o que os noticiários trazem.


Aliás, há uma longa história de equívocos sobre o reino de Deus. Já houve, até, quem quisesse antecipá-lo pela violência: os zelotes, mencionados no Novo Testamento (cf. Lc 6.15b; At 1.13b), que eram fanáticos políticos de Israel e representavam a extrema esquerda. Isso na época em que Roma estava dominando aquela terra, os zelotes levavam um punhal (sicar) escondido no manto, e, quando encontravam um romano num lugar mais discreto, apunhalavam-no. Daí vem a palavra sicário (= malfeitor, facínora). Queriam trazer o reino de Deus, que, entendiam, se estabeleceria no momento em que os romanos saíssem de Israel. No meio dos apóstolos havia ex-zelotes (Simão, Lc 6.15b; e, talvez, Judas Iscariotes). Um dos discípulos tomado desse espírito político até perguntou a Jesus: "Senhor, é neste tempo que restauras o reino a Israel?" (Atos 1.6). Esperavam que Jesus viesse como um zelote, um grande zelote de extrema-esquerda.


Os fariseus queriam implantar o reino de Deus não com a violência, mas com a observância da Lei. Se todos observassem a Lei de Moisés o reino de Deus se implantaria, diziam. E os profetas continuaram proclamando, apesar de toda a pregação dos fariseus: "o reino há de vir!" (cf. Mq 5.2,4, 5a; Ml 3.1; Sf 3.13-15; Am 5.18; Jl 2.12, 13, 28-32). 


E o reino veio! Veio no Senhor Jesus Cristo! (cf. Mc 1.14, 15). Por isso eu creio no reino de Deus!

O QUE O REINO DE DEUS É

Para Jesus, o reino de Deus era e é uma experiência que não se baseia na força das armas, e não tem dimensões de espaço nem de tempo, mas é, na verdade, um novo relacionamento entre Deus e a pessoa humana, entre o ser humano e o Ser Divino. Então, como já vimos, o anúncio do reino de Deus feito por Jesus foi o que o povo hebreu tinha ansiado por centenas de anos! Era o que João Batista anunciara que estava chegando (Mt 3.2,4; Mc 1.2, 3, 7, 8); foi o que Jesus havia anunciado quando disse: "É chegado o reino de Deus!" (Mc 1.15). E é por essa razão que o reino de Deus é chamado "as boas notícias"! É o significado da palavra evangelho (gr. evaggelion).


Mas quando Cristo revelou que Seu reino era interior, espiritual, poucos O aceitaram (Jo 1.11, 12). O povo esperava, como os zelotes, alguém que trouxesse muitas bênçãos materiais, um grande chefe político. Porém Jesus exigia uma mudança interior aos que pertencessem ao Seu reino. E no "Pai Nosso" encontramos uma excelente explicação (Mt 6.10), porque temos o paralelismo típico do pensamento hebreu quando Jesus diz: "Venha o teu reino", e a expressão igual (com outras palavras) é: "Seja feita a tua vontade".


Daí temos que o reino de Deus é uma sociedade no espaço-tempo, onde a vontade do Pai faz de modo tão perfeito como no infinito-eterno. O reino de Deus é a vida eterna que pela fé se recebe aqui e agora tendo efeitos imediatos enquanto eternos e permanentes. O reino de Deus é vida, é o reino dos céus (expressão, aliás, usada por Mateus que, sendo judeu, não queria usar o nome de Deus).


O reino de Deus é definido por Paulo do seguinte modo: "porque o reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito Santo." (Rm 1 4.17). O reino de Deus é Seu domínio sobre nós, e nossa submissão a Ele; quando nEle cremos, e fazemos a Sua vontade, pertencemos a esse reino. O reino de Deus é a Sua presença nos guiando, Sua graça/presença em nós, como a nuvem durante o dia e o fogo durante a noite guiavam o povo de Israel no deserto.

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