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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

JERUSÁLEM NOS SALMOS

Parte XII
JERUSÁLEM NOS SALMOS

Para as três maiores religiões monoteistas do mundo, Jerusalém é a Cidade Santa. Para o Judaísmo, o que leva à reverência é a presença das ruínas dos muros da Beth Hamikdash, o Templo, aliada ao fato de ter sido o local onde reinaram Davi e seus descendentes. Para o Cristianismo, ao lado da emoção e sentimento dos eventos da Antiga Aliança, estão os acontecimentos da paixão de Cristo com o julgamento, crucificação, e a vitória sobre a morte no domingo da ressurreição. Além disso, a Jerusalém terrena é uma sombra e tipo da Jerusalém celeste com suas bênçãos e glória (cf. Ap 21.1-4). Para o Islamismo, é El-quds, "A santa" (cf. Is 52.1), porque, segundo sua tradição, Maomé subiu aos céus no seu garboso corcel Baraq.


O fato é que Jerusalém, ou Sião (possivelmente da raiz syn, "proteger", de onde "fortaleza"), nunca foi compreendida como uma simples e secular cidade. Profetas e salmistas sempre olharam a Cidade Santa em termos teológicos, o que é claríssimo no Livro dos Salmos.

Dois grupos de salmos estão especialmente ligados à "Teologia de Sião": os "Cânticos de Sião" e os "Cânticos Graduais" ("de degraus" ou "de romagem"). A Lei prescrevia (Ex 23.27) que todo homem deveria ir em peregrinação (aliyah) a Jerusalém três vezes no ano: na Páscoa (Pessach), no Pentecoste (Shavuot) e na Festa dos Tabernáculos (Sukkot). Nessas ocasiões, o tom festivo, alegre era bastante exaltado, visto que grupos se reuniam nas vilas e rumavam à Santa Cidade. Isso é refletido no Salmo 84.1-4:

"Quão amáveis são os teus tabernáculos, ó Senhor dos exércitos! A minha alma suspira, sim, desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo. Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde crie os seus filhotes, junto aos teus altares, ó Senhor dos exércitos, Rei meu e Deus meu. Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvar-te-ão continuamente".

Outros na mesma linha: o 46, o 68 (cf. vv. 28ss), o 76 (cf. vv. 1, 2) e o 79. O Salmo 48 tipifica todo o grupo dos "cânticos de Sião", e mostra no verso 1 que só o Senhor é digno de louvor, as glórias de Jerusalém (vv. 2 a 11), e, do verso 12 ao fim, a exortação a rodear a cidade como oportunidade de meditar no seu significado e na Pessoa do Deus Eterno.

Muitos conceitos teológicos se salientam nesses cânticos: a cidade messiânica, o sinal da presença de Deus no meio do Seu povo na centralização do Templo. Não podemos deixar de observar que a teologia de Sião ressalta que Deus a escolheu para nela habitar o Seu Nome (haShem), razão porque tanto o Templo quanto a cidade gozam da proteção divina (Sl 78.68, 69; cf. Ex 15.17, 18).

Destacado tema nos salmos é a liturgia do culto do Templo, a abodah, literalmente "o trabalho, o serviço" porque é um 'ebed (servo) o verdadeiro cultuante. A própria peregrinação era considerada parte da atividade sagrada. O Salmo 122 espelha a suprema felicidade dessa ocasião.




Os "Cânticos Graduais", então, retratam a entrada no santuário. Os salmos 15 e 24 provavelmente aludem a esse fato. Recebiam esse nome porque eram entoados na subida (mealah) por ocasião das mencionadas três peregrinações, ou, em outra hipótese, porque os levitas os cantavam nos quinze degraus pelos quais se subia do Átrio das Mulheres para o dos Homens.


O Culto em Jerusalém era vivo, ruidoso, dinâmico, com seus muitos cânticos e processionais. As exclamações de alegria e adoração pela glória, majestade e soberania de Deus eram constantes ("Hallelu-yah!", "Louvado seja o Eterno!", cf. os Salmos 111, 18, 135, 136, 146-150). O Salmo 42.4 traz à memória do poeta a sua liderança à frente dos cultuantes "com brados de louvor e júbilo". E o 47 acrescenta outras manifestações de ritmo e harmonia (cf. Sl 95.1ss; 150).


A descrição da bem-aventurança suprema de se temer a Deus é a espinha dorsal do Salmo 128, o qual acrescenta aos bens dos versos 1 a 4, duas outras graças das mãos divinas: 


uma vida tranqüila e longa 
numa cidade tranqüila e próspera. 
Um dos "cânticos de degraus", o Salmo 122, nos instrui a interceder pela shalom de Jerusalém, ou seja, sua integridade, saúde, sucesso, plenitude, salvação e progresso.


A sempre amada e poderosa figura de Jerusalém cantada no Salmo 46 inspirou Martinho Lutero a escrever "A Marselhesa da Reforma", o hino Ein' Fest Burg ("Castelo Forte é Nosso Deus"), por isso que é salmo que proclama a estabilidade e a segurança da cidade no meio do caos cósmico (vv. 1-3), e dos distúrbios internacionais (vv. 8, 9). Observe-se que este salmo começa com uma confissão de total confiança em Deus (v. 1).


Por fim, o Salmo 87 ressalta o ser cidadão da Santa Cidade, pois nascer em Jerusalém concede uma cidadania toda especial (vv. 5, 6).


Que a proteção divina sobre Jerusalém seja usada como padrão de fé em relação ao cuidado do Senhor por aqueles que nEle põem a confiança: nós somos cidadãos da Jerusalém Eterna. (cf. Sl 125.2; Ap 21.3, 4, 7).

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