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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Morte do Crente no Catecismo de Heidelberg

Parte XXVIII
Morte do Crente no Catecismo de Heidelberg


Antes de abordarmos o tema “A Morte do Crente no Catecismo de Heidelberg”, permita-me uma rápida palavra acerca do Catecismo propriamente dito.


Apesar de ser de origem reformada, o Catecismo de Heidelberg é pouco conhecido no meio presbiteriano. Isso se explica, em termos, pelo fato dele não ser um dos símbolos de fé das igrejas presbiterianas. A Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos Maior e Breve, adotados por estas, surgiram quase 100 anos após o Catecismo de Heidelberg como mais elaborados, amadurecidos e completos. No entanto, isso não diminui em nada o valor do Catecismo de Heidelberg, principalmente porque nele alguns temas são tratados de modo bem original, como no caso do porquê da morte do crente.

O Catecismo de Heidelberg foi redigido em 1563 por Gaspar Oleviano e Zacarias Ursino, dois catedráticos da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, a pedido do príncipe Frederico III.

Concluída esta pequena apresentação, passemos ao estudo do porquê da morte do crente no Catecismo de Heidelberg.

Já que Cristo morreu por nós, por que também temos de morrer? Essa, que é a pergunta 42 do Catecismo de Heidelberg, traz ao mesmo tempo uma afirmação e uma indagação. A afirmação é: “Cristo morreu por nós”. E a indagação: “Por que também temos de morrer?”.

A morte de Cristo por nós é um assunto incontestável em todo e qualquer catecismo reformado. Portanto, não poderia ser diferente no Catecismo de Heidelberg.
Por que foi necessário que Cristo se humilhasse até à morte? Porque a justiça e a verdade de Deus não podiam ser satisfeitas por nossos pecados, senão com a mesma morte do Filho de Deus. Mas se Jesus satisfez plenamente a justiça e a verdade de Deus, morrendo na cruz do Calvário por nós, por que ainda temos de morrer? Por que não poderíamos ascender imediatamente ao céu no finalzinho de nossos dias na terra (como ocorrerá com os crentes que estiverem vivos quando Cristo voltar), sem termos de passar pelo doloroso processo da morte?

De acordo com o Catecismo de Heidelberg:

1. Nossa morte não é uma satisfação por nossos pecados.

Todo o tempo em que Cristo viveu neste mundo, e especialmente no final de sua vida, suportou no corpo e na alma a ira de Deus contra os nossos pecados, a fim de que, com sua paixão, como único sacrifício propiciatório, livrasse nosso corpo e alma da condenação eterna, e alcançasse para nós a graça de Deus, a justiça e a vida eterna. Cristo padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos para que, inocente, condenado pelo juiz temporal, livrasse-nos do severo juízo de Deus que haveria de vir sobre nós.

Por ser Cristo nosso Mediador, nosso segundo Adão, ele teve que passar pela morte como parte da pena do pecado que nós merecíamos; porém, para os salvos, a morte já não é uma satisfação ou castigo pelo pecado. Ela foi para Cristo; não para nós. “Para Cristo a morte foi parte da maldição; para nós a morte é uma fonte de bênção” (Hoekema).

2. Nossa morte é uma libertação do pecado.

A carga mais pesada que temos de levar nesta vida presente é o pecado. Quanto mais velhos nos tornamos, mais ainda nos pesa o fato de que falhamos em fazer a vontade de Deus. Sente-se um pouco do peso dessa carga quando lemos as palavras do apóstolo em Romanos 8.23: “E não somente ela (a criação), mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”. Contudo, a morte porá fim ao pecado.
O autor aos Hebreus descreve aqueles que estão agora no céu como “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23). Paulo declara que “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito“ (Ef 5.25-27).

3. Nossa morte é uma passagem para a vida eterna.

Nossa morte será também uma entrada na vida eterna. Essas palavras não têm a intenção de negar que há um sentido no qual o crente já possui a vida eterna aqui e agora, posto que o mesmo Catecismo ensina na pergunta 58 que nós já sentimos em nosso coração o princípio da bem-aventurança eterna. Entretanto, o que desfrutamos agora é somente o princípio. Entraremos na plenitude das riquezas da vida eterna somente depois de passarmos pelo portal da morte. Aos que vivem em Cristo, “o morrer é lucro” (Fp 1.21).

Isto significa que a morte, outrora nossa inimiga, foi transformada por meio da obra de Cristo em nossa amiga. “Nosso mais temido oponente foi transformado para nós no servo que abre a porta à bem-aventurança celestial. Portanto, a morte não é o fim para o cristão, mas um novo princípio glorioso” (Hoekema).

“Nossa morte não é uma satisfação por nossos pecados, mas uma libertação do pecado e uma passagem para a vida eterna” (Catecismo de Heidelberg, Resposta 42).

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