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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DESMITOLOGIZAÇÃO: PROPOSTA HERMENÊUTICA

VII. DESMITOLOGIZAÇÃO: PROPOSTA HERMENÊUTICA

Para Bultmann, a desmitologização é um método hermenêutico, que resolve a dificuldade do homem moderno de crer. Assim, na concepção de Bultmann, o teólogo não pode dispensar a filosofia, procurando superara limitação da hermenêutica tradicional historicista. As idéias de Schleiermacher, sobre o dado em comum entre o autor e o leitor que é a humanidade de ambos, na interpretação, é bem vinda a Bultmann.


Quando interrogamos a Bíblia, qual é o interesse que nos guia? Não há dúvida de que a Bíblia é um documento histórico, e temos de interpretá-la segundo os métodos da investigação histórica, isto é, temos de estudar sua linguagem, a situação histórica de seus autores, etc. Mas, qual nosso verdadeiro e real interesse? Temos de ler a Bíblia como se tratasse-se unicamente de um documento histórico, que nos serviria de “fonte” para reconstruir uma época passada? Ou então a Bíblia é algo mais que uma fonte histórica? Da minha parte, creio que nosso interesse há de apoiar-se realmente em escutar o que a Bíblia tem a nos dizer atualmente, e o que constitui a verdade acerca de nossa vida e de nossa alma. (Então, o significado é formulado pelo leitor?)
A hermenêutica existencialista é a base para a compreensão bíblica, segundo Bultmann. Para tal, ele usa uma investigação chamada de crítico-histórico formal (por isto, dizem que Bultmann não despreza a hermenêutica tradicional). Bultmann exclui dessa investigação o Evangelho de João. Na sua opinião este livro é por sua natureza muito menos histórico que os outros evangelhos que o precederam.

Bultmann também usa o método das religiões comparadas. Ele tenta de vários modos mostrar a existência de relações entre o N.T. e as religiões não cristãs, como se a fé cristã seja resultado de vários conceitos religiosos. Para Bultmann é impossível uma teologia (exegese) que seja livre de premissas. No mesmo instante ele exige que ela esteja livre de preconceitos.

Pretender que uma exegese possa ser independente das concepções profanas é uma ilusão. Então, o ponto de partida para o conhecimento de Deus seria antropocêntrico. A filosofia, com isto, é competente para elaborar o quadro conceptual. Esta não é tarefa da teologia. O intérprete precisa ter uma compreensão prévia do assunto transmitido no texto e uma relação vital com o assunto contido no texto, ou seja, a pré-compreensão, a participação do leitor na vida humana o possibilita a interpretar a participação do autor. Isto acontece quando o leitor é arrebatado pela história, podendo até mesmo se ver na história. Deve haver então, uma identificação do intérprete com o autor, como um sentimento de empatia. Bem, a filosofia como um dos meios para a interpretação é bem vinda, mas, o grande problema é que Bultmann a coloca como a única base para a exegese!

A crítica da visão mitológica do mundo peculiar da Bíblia e da pregação eclesiástica, presta um valioso serviço à fé, porque a chama a uma reflexão radical sobre sua própria natureza. Os textos não somente transmitem informações, mas me revelam coisas que me dizem respeito.

O grande perigo é que, segundo Westphal, a teologia vista assim, poderia então privilegiar uma outra figura da história contemporânea, em lugar de Jesus, com o objetivo de compreender a existência humana.
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