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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DESMITOLOGIZAÇÃO: PROPOSTA AO EXISTENCIALISMO

VI. DESMITOLOGIZAÇÃO: PROPOSTA AO EXISTENCIALISMO
Segundo a desmitologização bultmaniana, a palavra de Deus exorta o homem a que renuncie o seu egoísmo e à ilusória segurança de que o mesmo tem construído. O exorta a que se volte a Deus, que está mais além do mundo e do pensamento científico. O exorta, ao mesmo tempo, a que encontre o seu verdadeiro eu. Porque o eu do homem, sua vida interior, sua existência pessoal, se encontra realmente mais além do mundo visível e do pensamento racional.
O saber a respeito de sua autenticidade já torna o ser humano capaz de atingi-la. Sua autenticidade é aquilo que ele, embora não o realize permanentemente, pode a qualquer momento realizar. Assim, para Bultmann, o Espírito Santo não é uma pessoa, nem um poder que invade a nossa vida, nem é possessão dos crentes; antes é a “possibilidade efetiva da nova vida”. Para ele, a fé genuína em Deus é existencial, não uma realização por meio do nosso próprio esforço.
O mito não pretende ser interpretado cosmologicamente, mas antropologicamente – melhor: de modo existencialista. Para Bultmann os fatos históricos do passado devem ser abordados em atitude existencial. O conjunto de acontecimentos históricos somente é compreendido mediante a participação existencial do sujeito. Assim, Bultmann relaciona a interpretação da história com a interpretação existencialista. Para ele, história e historicidade diz respeito a um fato histórico do passado que pode ser observado pelo historiador neutro. A historicidade é a significação histórica




de um texto para mim. A criação, a redenção ou a ressurreição estão inseridas no âmbito da historicidade, pois somente podem ser compreendidas na dimensão da fé. A crucificação já pode ser objetivada pela história, mas também ganha uma significação historicista, quando tenho que crer nesta para a salvação.
Por conseguinte, tratamos de saber simplesmente que filosofia nos oferece, na atualidade, as perspectivas e as concepções mais adequadas para compreender a existência humana. Neste aspecto, creio que podemos aprender algo da filosofia existencialista, porque a existência humana constitui o primeiro objeto que suscita a atenção desta escola filosófica. A filosofia teria dado clareza última à compreensão do ser que no N.T. estava encoberta pela roupagem mitológica. a teologia seria desnecessária e até incômoda para a filosofia.
Para a filosofia existencialista, a existência humana só é autêntica no ato de existir. Esta filosofia não pretende, nem de longe, garantir ao homem uma auto-compreensão de sua própria existência pessoal, posto que semelhante auto-compreensão de minha existência pessoal somente pode se dar nos instantes concretos do meu “aqui” e do meu “agora”. Ao não dar uma resposta à questão de minha existência pessoal, a filosofia existencialista me torna pessoalmente responsável dela e assim contribui a abrir-me a palavra da Bíblia. A fé cristã e o amor não são grandezas misteriosas e sobrenaturais, mas são posturas autênticas humanas.


A afirmação de que a existência do homem possa ser analisada sem levar em conta sua relação com Deus, pode ser qualificada de decisão existencial, mas esta eliminação não procede de uma preferência puramente subjetiva, senão que se fundamenta na intuição existencial segundo a qual a idéia de Deus não se acha a nossa disposição quando construímos uma teria da existência humana.
A afirmação de que Deus é criador não pode ser um enunciado teórico sobre Deus como creator mundi em um sentido geral. Esta afirmação somente pode ser uma confissão pessoal declarando que eu me compreendo a mim mesmo como uma criatura que deve sua existência a Deus. Ademais, os enunciados que descrevem a ação de Deus como uma ação cultual, e nos apresentam a Deus, por exemplo, oferecendo Seu Filho como vítima expiatória, não são legítimos, a não ser que se entendam em um sentido puramente simbólico.
O fato de que a filosofia existencialista não leva em conta a relação entre o homem e Deus, implica na confissão de que eu não posso falar de Deus como meu Deus, vendo ao interior de mim mesmo. Minha relação pessoal com Deus somente pode ser estabelecida por Deus, pelo Deus atuante que vem a meu encontro em Sua palavra. (Descarta-se a revelação natural)
O idealista não entende como um PNEUMA, atuante como força natural, possa atingir e influenciar sua postura psíquico-intelectual. Ele se sabe responsável por si mesmo e não entende como no batismo de água lhe possa ser transmitido algo misterioso, que então passaria a ser o sujeito de seus desejos e ações. Não entende como uma refeição lhe possa transmitir força espiritual e como a participação indigna na ceia do senhor possa acarretar enfermidade física e morte.
Isto significa que eu não posso alcançar a idéia de criação fazendo abstração de minha existência e compreender, “interpretar” qualquer coisa fora de mim como sendo criação ou ação de Deus, mas que em efetuando essa idéia eu digo primeiramente alguma coisa sobre mim mesmo. Eu ajo sempre e em todas as situações como se eu mesmo fosse criador, e assim entendo a idéia de criação.
A idéia de Deus e a sua ação estão relacionadas, primariamente, com a minha vida, com a minha existência, com o conhecimento de que esta existência é ímpia, na qual eu não posso encontrar e nem ver a Deus. Essa idéia afirma que eu não posso ver a Deus se Ele não se mostrar a mim por sua ação e que eu não tenho o direito de falar dEle à minha maneira nem de ter, não importa o que, algo como realizado por sua ação. (assim, Cristo como ação de Deus, fica inválido)
Francis Schaeffer disse que “o sonho utópico do iluminismo pode ser resumido em cinco palavras: razão, natureza, felicidade, progresso e liberdade. Era absolutamente secular nas suas idéias. Os elementos humanistas que haviam surgido durante a Renascença chegaram ao apogeu no iluminismo. Era o homem partindo de si mesmo, absolutamente.”
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