Páginas

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DESMITOLOGIZAÇÃO COMO UM DESPERTADOR À FÉ PRÁTICA


IX. DESMITOLOGIZAÇÃO COMO UM DESPERTADOR À FÉ PRÁTICA

Podemos dizer que a paixão primária de Bultmann é comunicar o Kerygma, ou a mensagem cristã, ao mundo do século XX. A fim de levar a efeito esta tarefa, dedica-se, negativamente, à desmitologização das origens documentárias bíblicas, ao passo que, positivamente, propõe uma análise existencial da proclamação do Evangelho.

Apesar dos questionamentos e críticas à hermenêutica de Bultmann, Westphal diz-nos que ela representa-nos um desafio, pois a teologia que está preocupada com a proclamação, precisa ouvir o ser humano na sua situação concreta, na sua auto-compreensão e na sua existência sofrida de miséria.  O livro de Dale & Sandy Larsen explica que existem questões referentes ao cristianismo, que acabaram tornando-se em mitos. E isto, por causa de algumas ações errôneas de alguns cristãos, que tomaram algumas atitudes desprovidas de sabedoria divina, e estes mitos são:

1º. “Os cristãos só sabem julgar os outros. Agem como sentinelas morais da sociedade, e tentam censurar tudo, das artes à educação sexual”.
2º. “A igreja, ao longo dos séculos, sufocou a voz e os dons das mulheres, tratando-as como seres de segunda classe”.

3º. “A religião cristã é alienada do mundo natural. A Bíblia manda subjugar a terra, e a cultura cristã ocidental tomou isso como permissão para explorar danosamente a natureza”.

4º. “O cristianismo é anticientífico. A igreja ao longo da história reprimiu o aprendizado em geral e a investigação científica em particular. Os cristãos promovem até a pseudociência, tentando obrigar a ciência a se enquadrar numa interpretação literal da Bíblia”.

5º. “ Vejam os erros cometidos em nome do cristianismo – das Cruzadas aos escândalos dos televangelistas”.

6º. “Os missionários cristãos forçam os povos indígenas a abandonar a sua cultura. Os cristãos não respeitam o valor espiritual dos costumes e das religiões nativas”.

7º. “Todas as religiões ensinam basicamente a mesma coisa, mas os cristãos insistem em afirmar que a sua religião é a única verdadeira. Afirmam com arrogância que Jesus Cristo é o único caminho até Deus. Isso pode valer para os cristãos, mas não vale para as demais pessoas”.

Poucos se ofendem quando os cristãos seguem um “conjunto de diretrizes morais” pessoal e privado. É quando o tornamos público que incorremos em “santa” indignação, e essa publicidade desmedida e impensada, acaba motivando alguns a tentarem nos imaginar como religiosos cegos e mitologizados! Alguns cristãos usam a clava da justiça moral uns contra os outros tanto quanto contra os não cristãos. Vejo até mesmo a desmitologização de Bultmann, é claro que sem os seus exageros, como que nos lembrando que a implicância com aspectos exteriores sempre foi um modo cômodo de os cristãos driblarem as suas faltas íntimas. Assim, vejo que existem tanto o Wunder quanto o Mirakel na vida cristã, e ambos devem andar de acordo.

A maioria das pessoas concordavam que determinadas coisas eram certas e outras, erradas, mas começavam já a perder de vista o por quê essas coisas eram certas e erradas ou por que sempre haviam sido certas e erradas. Isto faz-me lembrar de uma estória que vi na Internet, com o seguinte título: COMO CRIAR UM PARADIGMA, e que dizia assim:

“Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro uma escada, sobre ela, um cacho de bananas.

Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.

Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo sem nunca ter tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...

Vez por outra, questionemo-nos porque estamos batendo...”

A desmitologização também nos desperta para o fato de que muitos cristãos desperdiçam seus bens usando a fé como desculpa para a sua atitude negligente. Li no livro “Sete Mitos Sobre o Cristianismo” que um cristão, quando sendo advertido sobre o cuidado com a ecologia, disse: “Ecologia?, zombou o homem. Por que, irmão? Tudo vai acabar no fogo mesmo...”

Será que a Bíblia e um livro científico não podem ficar lado a lado numa estante ou na mente humana perscrutadora? Ou será que sempre haverá incompatibilidade e conflito? Muitos cristãos que militam nas ciências dizem que a observação do mundo material os arrasta para a fé, não para longe dela. A questão é que, a investigação científica legítima e a teologia honesta precisam reconhecer as limitações do conhecimento humano.

Bultmann, de certa forma, também nos faz pensar sobre a vigilância na vida! Principalmente se tratando de vigilância nos três sentidos deste termo, que são: conservar, reservar e guardar. Se o termo “mundo” no N.T. refere-se a “este mundo visível”, devemos nos lembrar que a alma humana não se submete apenas à matéria. Após a morte, todos saímos do corpo, do mundo (Sl. 89:48). E isto, muitas vezes, nos gera temor que escraviza! “Este mundo” é o mundo do que é passageiro e da morte, que foi originado pelo pecado de Adão e Eva. A morte, assim, não é própria da matéria, mas é própria do pecado (Rm. 6:23). Pelo pecado de Adão e Eva não veio a necessidade da morte, mas a possibilidade da morte. E é aqui onde Bultmann nos auxilia na advertência de que, se nós morremos através da carne, então porque confiarmos na carne?
Mas, para Bultmann, o que realmente significa carne? Acertadamente ele diz que é o visível, o que se toca, o disponível, o passageiro. Quando a carne tem poder sobre mim? Quando ela se torna o fundamento da minha vida; quando vivo “segundo a carne”; quando deixo-me seduzir pelo visível, ao invés do invisível; quando preciso de algo comprovável para minha segurança.

O teólogo alemão diz que nossa vida é marcada pelo “preocupar-se”, e com alguns êxitos visíveis, acabamos confiando na carne. Esta consciência de segurança cria, às vezes, o gloriar-se e, às vezes, com algumas derrotas visíveis, cria-se a “ansiedade”, e esta cria a “desesperança”. Porém, isto não condiz com a realidade invisível, pois o visível não nos traz real segurança, pois a real vida do ser humano é a invisível. O visível é disponível, mas é passageiro, e quem vive a partir dele, está condenado a ser passageiro (Jo. 10:10).
Do visível surge a escravidão ao temor, a falsa sensação de que podemos perder tudo a qualquer momento, é a incerteza do amanhã. Vida autêntica é a que vive além do visível, renunciando a segurança autocriada e vivendo “segundo o Espírito”, é a “vida na fé” (Gl. 2:20). Tal vida só é possível a partir da fé na “Graça de Deus”, que é a confiança no invisível. A “Graça de Deus” é graça que perdoa pecados. O pecado é o passado visível que nos prende, e a Graça é o futuro invisível que nos liberta. Isto é fé conservadora: livrar-se, em Cristo, do passado visível, e abrir-se ao futuro invisível conquistado por Cristo. Assim, a desmitologização lembra-nos da nossa distância para com o “mundo” e a “carne”, mostrando-nos a postura do “como se não” de Paulo (I Co. 7:29-31). A situação visível não pode nos dominar (Fp. 4:12,13). “Andar em espírito”, então, é não viver “segundo a carne”. É não viver só o que vejo, mas o que não com os olhos carnais também, e principalmente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de todos os exageros e erros de Bultmann, ele foi um teólogo de suma importância para que pudéssemos repensar as bases da nossa fé. A desmitologização foi um anseio científico por parte de Bultmann, mas também pode ser uma maneira de revermos a nossa vida cristã, se é autêntica em Deus ou se é apenas mera religiosidade infundada e materialista!
Enfim, examine a base da fé cristã. Não aceite apenas a versão de outra pessoa qualquer, só por ouvir dizer, mas analise você mesmo a Bíblia. O que é que ela ensina? Examine a credibilidade do cristianismo. Investigue as provas (Mirakel’s e Wunder’s). há mais um passo a dar. Por mais que alguém estude e pondere o cristianismo, há ainda a necessidade de tomar uma decisão pessoal – vou ou não me entregar a essa Pessoa? Direi não apesar de todos os indícios, todas as evidências? Ou depositarei a fé em Jesus, dedicando a vida a seguí-lo, não como um grande mestre do passado, mas como o meu Salvador vivo, como o meu Senhor? 
 1   2   3   4   5   6   7   8   9   10

Nenhum comentário:

Postar um comentário