Páginas

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

CRÍTICA À BULTMANN

VIII. CRÍTICA À BULTMANN

“Quais razões obrigatórias convencem um estudioso da estrutura de Bultmann de que Deus, inescrutável e imprevisível, Fonte e Sustentador da realidade, agiu de modo redentor num Homem cuja historicidade, é dúbia e cujo alegado significado advém a nós através de uma neblina mitológica que somente a erudição sofisticada pode penetrar? Bultmann, conforme as premissas dele, não pode apelar a qualquer testemunho interno do Espírito Santo – outro conceito mitológico! Logo, se o homem moderno não quer ou não pode apelar a um voluntarismo muito não científico, sua única alternativa é o ceticismo ou o ateísmo. Então, Bultmann fica sendo um João Batista para o movimento de Deus-está-morto.”
O Dr. Herman diz que Bultmann repele todo acordo entre a fé e a ciência, em que as consequências desta última sejam negadas ou não se conciliem com o conteúdo daquela. A interpretação da obra redentora de Deus, apresentada por Bultmann, segundo o Dr. Herman, não se orienta pelo N.T., e sim por uma filosofia praticamente atéia. Porém, os quatro primeiros dez mandamentos transmitidos a Moisés (Êx. 20:1-17) referem-se ao relacionamento da humanidade com Deus. Eles mandam aceitar o nosso lugar de criaturas de Deus.
Para Euler R. Westphal, Bultmann dá a primazia para a filosofia, pois esta determinou sua produção teológica. Inclusive, ele procurou superar a estrutura hermenêutica tradicional, não como teólogo, mas como filósofo da interpretação. Assim, para Westphal, há um sentimento pastoral genuíno em Bultmann, mas, seu método tem muita correlação com Paul Tillich. Westphal diz ainda que Bultmann criou uma “religião racionalista”.
O problema é que em Bultmann, toda a história da revelação se limita àquele momento em que o ser humano aceitou o presente da graça de Deus através da palavra da pregação. Assim, a história salvífica é resumida num ponto qualquer no tempo. A hermenêutica de Bultmann, para Westphal, torna-se inadequada quando estreita a compreensão do ser humano e reduz a teologia a um universo conceptual filosófico sem fundamento histórico.
Bultmann, faz da sua concepção de ciência e da crítica histórica um princípio de interpretação, tornando a ciência, em alguns casos, objeto de fé e juíza da Escritura.
O grande problema desta hermenêutica antropocêntrica de Bultmann, é que é prejudicial a toda criação de Deus, pois este tipo de religião onde o homem é o centro, acaba desrespeitando as demais criaturas de Deus, pois desta forma, os cristãos encaram os seres humanos como o ponto alto da criação, pois só eles foram criados à imagem de Deus, e acabam com isto, até mesmo prejudicando os demais seres (Pv. 12:10).
Que dizer da idéia de que Deus está totalmente separado da natureza, ou seja, que Ele é o totalmente outro? Certamente Deus se apresenta na Bíblia como um ser independente e diferente da sua criação. Ele não faz parte da terra, e a terra não faz parte dEle. Mas Ele está sempre aqui – distinto, mas não separado do mundo.
Na verdade, as pessoas da Bíblia passam bem mais tempo fugindo de Deus do que buscando a Deus “lá em cima”. Ao longo de toda a Bíblia, Deus surge incessantemente em todo lugar, sobretudo nos locais menos previsíveis.
Deus no N.T. é o oposto daquela figura distante, alheia ao planeta, como ensinado na desmitologização. Ele se envolve intimamente com esta terra, até as últimas consequências. Em Jesus, Deus se torna um de nós, o Criador que por vontade própria “se fez carne, e habitou entre nós” (Jo. 1:14).
Agora, a questão primordial passa a ser: quando e onde na história da cultura ocidental ocorreu tal separação entre Deus e o mundo, para que as pessoas começassem a conceber um universo livre da participação ativa do Criador? A resposta está em que o cristianismo sempre segui-se crendo na presença atuante de Deus no mundo, mas, logo as portas da mente ocidental foram fechando-se, ao girar nas dobradiças bem lubrificadas da grande Máquina universal. Nova visão de mundo, centralizada no homem e baseada na razão natural, espalhava-se pela Europa, depositando toda confiança nas observações e conclusões empíricas de seres humanos racionais e imperfeitos.
Bultmann faz parte de uma sociedade de iluministas – doutos e intelectuais radicais, que propõem-se a executar a tarefa de secularizar a vida e vedar as portas do universo diante da interferência divina. Se todas as coisas podem ser compreendidas pela razão humana, se o miraculoso (Mirakel) não existe, se não existe nenhum Deus vivo e ativo nas questões humanas, então a fé cristã não passa de uma risível superstição. Se a humanidade é a medida de todas as coisas, como o existencialismo bultmaniano prega, então um Deus pessoal que pode interferir no progresso humano – e pode recriminar os homens por esse progresso – não é somente um problema filosófico, mas um estorvo irritante. Na verdade, Bultmann apoia o deísmo. Deus foi deportado do universo e entronizado como um criador benévolo, necessário para colocar o mundo em funcionamento, mas dispensável ao andamento das coisas daí em diante.
Wayne W. Carley, falando sobre a pesquisa científica da religião, nos assevera que, “na verdade a própria religião, e não a ciência, é ameaçada pela introdução da religião nas aulas de ciência. O evolucionismo pode resistir e certamente resistirá à investigação científica ao longo do tempo. Mas a própria verificação de crenças religiosas como o criacionismo num ambiente científico destrói o fundamento da religião: a fé. Colocar uma crença religiosa sob análise científica, que exige provas materiais, corrói a fé essencial à crença”.
Bultmann diz que ciência e fé são excludentes, porém, a história nos mostra que os primeiros cientistas europeus, como Copérnico, Kleper e Galileu, eram cristãos devotos que encaravam a ciência como uma forma de conhecer e glorificar a Deus. Eles acreditavam que a natureza e as Escrituras eram igualmente uma revolução divina; ambas eram necessárias para compreender melhor o Criador. Agora, com todo o respeito ao Dr. Bultmann, prefiro ouvir os cientistas, não pela fé que tinham, mas por que são pessoas mais confiáveis dentro da ciência para falar sobre ciência! Galileu não via a necessidade de uma ruptura entre ciência e teologia, pois Deus é o Autor dos dois livros – da natureza e das Escrituras.
Rudolf Bultmann deveria ser avisado que se a ciência só lida com o mundo material, não é justo que faça declarações sobre o mundo imaterial. Ao fazê-lo, os cientistas jogam nos dois times ao mesmo tempo, alegando que um time tem de abandonar a disputa por não Ter aparecido para jogar (I Co. 2:13,14). Certamente há aspectos da fé cristã que não podem ser colocados na lâmina do microscópio, pois a ciência é um instrumento poderoso – mas não dá todas as respostas.
Bultmann diz que o N.T., na verdade, é a declaração mitologizada dos homens, isto é, suas palavras não descreveram a realidade do que estavam vendo, eram como se fossem etiquetas falsas penduradas em situações reais. Em Através do Espelho, Alice encontra Humpty Dumpty sentado no seu muro, correndo o risco de cair lá de cima. Durante a confusa conversa que se segue, Humpty Dumpty diz: “Isso é glória para você!” – e explica o que ele quer dizer: “Isso é para você um belo argumento irrefutável”. Alice protesta, dizendo que “glória” não que dizer “um belo argumento irrefutável”. Humpty Dumpty retruca: “Quando uso uma palavra, ela significa exatamente o que quero que signifique – nem mais nem menos”. Desta forma, parece que os escritores da Bíblia estavam como o Humpty Dumpty, mas, mesmo que as palavras pudessem significar o que eles escolhessem, se eles e nós não concordarmos sobre os significados, não podemos sequer travar uma conversa.
Joguemos limpo com as evidências, Tomé não foi convidado a contemplar uma visão de Jesus entre as nuvens. Jesus lhe ofereceu dados – a melhor prova, o seu próprio corpo – e desafiou Tomé a avaliá-lo por si mesmo. Jesus, de fato, bendisse as pessoas que nEle creram sem jamais ver o seu corpo ressurreto. Ele fala, aqui, da maioria dos milhões de pessoas que nEle creram. Mas, esses milhões, tiveram outros tipos de provas! Assim, os cristãos que conhecem a Deus e crêem na Bíblia, podem ter confiança absoluta de que toda verdade é verdade de Deus, e de que ele exprimiu essa verdade na Bíblia e em toda a criação.
Até as leis da ciência natural estão sendo revolucionadas por novos paradigmas! Quando a fronteira entre a realidade física e a realidade virtual é indefinível, quando Gary Kasparov diz que o computador Deep Blue passou a jogar xadrez como se pudesse pensar, então a contradição se tornou a norma. Se as coisas são assim no mundo da tecnologia, por que não o seriam no místico mundo da religião?
Antes de ponderar se o cristianismo é verdadeiro ou não, temos de perguntar: será que queremos que seja verdadeiro? Aceitá-lo é aceitar a possibilidade de que a minha vida precisa mudar, e convidar Deus a operar as mudanças. Aqui o intelecto pode entrar em conflito com a vontade.

descobrimos que não basta aceitar mentalmente certos fatos como verdadeiros. Mas, precisamos seguir esses fatos até uma Pessoa, e depois seguir essa Pessoa até o fim. 

O que ocorreu com Bultmann não é o desejo de descobrir a verdade; é um preconceito filosófico contra o que a Bíblia diz objetiva e claramente. Primeiro ele determinou o que os livros do N.T. não poderiam ter dito (que Jesus operou milagres, ressuscitou, alegou ser o Filho de Deus), depois enquadrou na categoria de mitologização as declarações que não se ajustam aos seus preconceitos.
Quando nós, cristãos, alegamos que a nossa fé é verdadeira, queremos dizer mais do que simplesmente o fato de o nosso livro apresentar com exatidão as verdades a respeito de Jesus. Queremos dizer que nosso Senhor é real e vivo, não um símbolo, uma lenda ou um herói morto (I Co. 15:17). Bultmann retruca que no tempo de Jesus as pessoas não se guiavam por princípios científicos: eram ingênuas e preparadas para crer em milagres. Para refutar essa afirmação, basta lembrar como os discípulos mais próximos de Jesus reagiram à primeira notícia da sua ressurreição: embora fosse a sua maior esperança e o seu maior desejo, não acreditaram (Lc. 24 e Jo. 20). Eles


sabiam tanto quanto nós que pessoas que sofrem a morte por tortura não ressurgem vivas e sãs depois de permanecer sepultadas por três dias.

Bultmann erra ao dizer que a humanidade é a medida de todas as coisas, como se a reconciliação com Deus dependesse única e exclusivamente de nós, como se tivéssemos condições de expiar o nosso pecado, aliás, o que Bultmann entende de pecado é fora do comum! Algo está rompido no nosso relacionamento com o Criador. Não estamos onde deveríamos estar em relação a esse Deus que nos fez. Então, a pergunta crucial para todos nos é: o que é que esse Deus exige para corrigir esse relacionamento? Como é que nós – qualquer um de nós, de qualquer cor, língua ou passado religioso – podemos voltar para Deus? Nós acreditamos que Deus revelou o que exige de nós. Primeiro, precisamos reconhecer que somos responsáveis por esta separação, pois deliberadamente nos rebelamos contra o nosso Criador. Não podemos reparar o dano. Não podemos – por mais que queiramos, por mais que tentemos – consertar as coisas. Se de fato se fizer algo a respeito dessa separação, quem terá de fazê-lo é o Deus Todo-Poderoso e onisciente que ofendemos. Só podemos confiar naquilo que Deus misericordiosamente realizou a fim de reparar as coisas (II Co. 5:19; I Pe. 2:24; Cl. 1:21,22).

1   2   3   4   5   6   7   8   9   10

Nenhum comentário:

Postar um comentário