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domingo, 7 de março de 2010

XXVIII - CRISTIANISMO X ESPIRITISMO CRISTÃO - IX

Parte XXVIII
CRISTIANISMO X ESPIRITISMO CRISTÃO - IX
(A missão e o sofrimento de Jesus)
 AIRTON - Então, conforme a visão kardecista, foi dura a caminhada de Jesus até chegar ao seu ponto máximo de perfeição, depois do seu estado primário de alma "simples e ignorante". Até ser considerado um Espírito Puro, teria passado por inúmeras vidas corpóreas. Foi, quem sabe, escravo de um senhor rude e cruel; trabalhador braçal na construção de castelos reais; uma mulher desamparada ou uma viúva pobre em algum lugar da África, ou um índio brasileiro contemporâneo de Pedro Álvares Cabral. Vencidas essas provas indispensáveis ao seu aperfeiçoamento - e já na condição de Espírito Puro - achou graça diante de Deus, que o escolheu para uma missão divina da mais elevada importância.

ROGÉRIO - Ele só encarnou aqui uma vez. Já era Espírito Puro quando nosso planeta foi criado e, inclusive, trabalhou na criação da Terra.

AIRTON - Então, Jesus não teria vindo para mais uma prova, eis que não havia nele imperfeições a serem removidas, como bem disseram os desencarnados a Kardec: "A autoridade lhe vinha da natureza excepcional do seu Espírito e da sua MISSÃO DIVINA" (E.S.E., cap. I-4, Kardec, realce meu). A pureza de Jesus seria de tal forma que Deus o escolhera dentre muitos outros Espíritos Puros, eis que estaria Ele no ponto mais elevado da hierarquia espiritual, tudo segundo a visão kardecista. Ora, depois de tanto sofrimento, ou melhor, depois de sofrer tantas encarnações para aperfeiçoar-se, nada mais justo da parte de Deus do que premiar esse Espírito, que em determinada etapa chamou-se Jesus, com a sublime missão de dar início à "mais pura e mais sublime moral, da moral evangélico-cristã" (E.S.E., cap. I-9).

AIRTON - Outra dificuldade de conciliar Cristianismo e Espiritismo diz respeito ao sofrimento de Jesus. Como vimos acima, a "natureza excepcional do seu Espírito" e a sua divina missão de ensinar uma elevada moral à humanidade, como definiu Kardec, garantir-lhe-iam, pelo menos, uma vida terrena livre de qualquer sofrimento. Não foi o que aconteceu. Ainda criança, Herodes tentou matá-lo (Mateus 2.13); viveu uma vida sem descanso e sem bens materiais (Mateus 8.20); seus irmãos não criam nEle (João 7.5); foi duramente criticado e perseguido pelos fariseus, que desejavam tirar Sua vida (João 11.53); foi traído por um de seus apóstolos (Mateus 26.16); angustiou-se no Getsêmani, "e o seu suor tornou-se grandes gotas de sangue que corriam até ao chão" (Lucas 22.44); sem justa causa, foi preso e condenado à morte (Lucas 22.54; 23.25); não recebeu o apoio de seus discípulos quando foi preso (Mateus 26.56, 70, 72, 74); foi escarnecido, humilhado, açoitado, cuspido, e recebeu na cabeça uma
coroa de espinhos (Mateus 27.26-30); finalmente, foi crucificado. Seu sofrimento na cruz é indescritível (Mateus 27.32-56).

ROGÉRIO - Nem sempre o sofrimento é devido às falhas do passado. Jesus Cristo nasceu pobre, sofreu com violenta morte na cruz (em termos, pois para o espírito puro, desligado da matéria, não há tanto sofrimento), mas para que servisse aos homens como exemplo, com seu sacrifício.

AIRTON - Ora, Jesus teria passado por todos os estágios da escala espiritual até chegar à plena perfeição. Inicialmente "alma simples e sem ciência", Ele teria experimentado muitas lutas e vicissitudes em muitas vidas corpóreas, havendo subido de degrau em degrau na hierarquia espiritual. Já no topo da escada, recebe não mais uma prova, mas uma MISSÃO. Tal dissertação da vida espiritual de Jesus está acorde com a afirmação de um espírita cristão. Quando lhe perguntei se, no entender do kardecismo, Jesus teria sido um homem como outro qualquer, que mediante muitas vidas corpóreas atingiu o mais alto grau de perfeição, ele me respondeu afirmativamente: SIM.

ROGÉRIO - Sim, recebeu uma MISSÃO. E os espíritos missionários costumam ter uma vida assim, para deixar o exemplo.

AIRTON - Os "Espíritos" disseram a Kardec que "para chegar a essa perfeição devem eles passar por todas as vicissitudes da existência corpórea"; que "todos são criados simples e ignorantes..."; que "os sofrimentos da vida são, por vezes, conseqüência da imperfeição do Espírito" porque "QUANTO MENOS IMPERFEIÇÕES, TANTO MENOS TORMENTOS" (realce meu - L.E.,quesitos 132 e 133). Disseram também que os Espíritos Puros, da primeira classe, já "percorreram todos os degraus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo atingido a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, NÃO TÊM MAIS QUE PASSAR POR PROVAS OU EXPIAÇÕES" (realce é meu - L.E., quesito 113).

ROGÉRIO - Mas ele não passou por provas e expiações. Nem ficou atormentado, pois estava muito desligado das coisas materiais.

AIRTON - Se correta a tese da reencarnação, Jesus não mais precisaria passar por provas. Aliás, um certo "Espírito", a quem Jesus chamou de Satanás, tentou interromper Seus sofrimentos e até Lhe ofereceu riquezas (Mateus 4.8-11). Algumas indagações são necessárias: (a) O carma de Jesus não estaria completamente limpo, o que exigiu mais sofrimento? Tal hipótese não se harmoniza com a "natureza excepcional de seu Espírito", nem com a missão divina a Ele confiada (E.S.E., cap I-4). (b) Jesus era realmente um "Espírito Puro", mas por sua livre vontade aceitou e buscou o sofrimento para purificar-se mais ainda? Tal hipótese colide com a declaração kardecista de que os puros estão no último degrau da escala e não mais necessitam de provas. Deus estaria cometendo uma injustiça?

ROGÉRIO - Mas ele não passou por provas. Veio em missão, deixando exemplo com seu sacrifício.

AIRTON - A verdade é que Jesus não sofreu e não morreu crucificado para "expungir" suas próprias imperfeições. Perfeito como era, não precisou de sacrifícios para limpar Seu carma ou para elevar-se na escalada espiritual. "Verdadeiramente, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades"(Isaías 53.4-5). Ele veio para "salvar o seu povo dos seus pecados" (Mateus 1.21). Ele é "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1.29), "para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3.16). Ele "morreu por nossos pecados"; não morreu na cruz para seu próprio progresso (1 Co 15.3). Ele "se deu a si mesmo por nossos pecados..." (Gálatas 1.4). "Porque para isto sois chamados, pois também Cristo padeceu por nós... o qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano...levando ele mesmo seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro..." (1 Pedro 2.21-24).

Estabelecido está mais um conflito entre o Cristianismo e o Espiritismo Cristão. E não citei a ressurreição corporal do Senhor Jesus, cujo corpo físico, se encontrado, seria um troféu nas mãos dos espíritas e das demais seitas que negam a Sua divindade. São dificuldades que eles próprios colocaram em seu caminho ao tentar estabelecer uma estreita conexão entre cristãos e espíritas.

ROGÉRIO - Não negamos a doutrina da Redenção. Apenas acreditamos que ela se realizará no mundo através do amor. Para isso, o Mestre nos deixou o seu ensino e o seu exemplo. Quando os homens, repudiando os dogmas e preconceitos a que se aferram há tantos séculos, abrirem as portas da percepção para assimilar a cristalina simplicidade dos ensinamentos do Cristo, eles fatalmente se redimirão pelo amor, cuja prática concorre para o resgate das faltas, como a Escritura deixa bem claro em Prov. 10:12 ("O amor cobre todas as transgressões"),Lucas 7:47 ("Muito será perdoado a quem muito amou") e I Pedro 4:8 ("O amor cobre a multidão de pecados"). O sacrifício de animais pelos pecados dos israelitas era um ato próprio de um povo bárbaro, sendo inconcebível que Deus, o mesmo que afirmou: "Misericórdia quero, não sacrifício" (Oséas 6:6) engendrasse tão absurdo "plano" para resgatar os erros da Humanidade. Cristo se sacrificou para assegurar o cumprimento da grandiosa missão que o fez descer a Terra. Sua morte, sem duvida alguma, estava nas previsões divinas, para provocar o impacto que se fazia necessário na consciência dos homens, seus contemporâneos e os das gerações vindouras. Ele mesmo disse: "Quando for levantado da Terra, atrairei todos a mim!" (João 12:32) Nós, espíritas, entendemos que Jesus veio ao mundo para ensinar aos homens a lição do amor (João 13:34) e que a sua morte, predita por vários profetas, resultou da inadequação da Humanidade para assimilar suas extraordinárias mensagens.
Os discípulos e os primitivos cristãos atribuíram a essa morte um caráter propiciatório porque entre os judeus estava secularmente arraigada a noção do resgate das faltas pelo derramamento do sangue. Era um costume milenar a imolação de animais pelos pecados do povo e isso naquelas eras bárbaras não deixava de ter um fundamento psicológico, pois funcionava como catarse coletiva, contribuindo para aliviar as consciências culpadas. Mas hoje, com as luzes de que dispõe a Humanidade, é possível perceber que não haveria justiça em fazer um inocente responder pelos erros dos culpados. Alias, nem mesmo o sangue de touros e de bodes podia tirar os pecados de ninguém, como podemos ler em Hebreus 10:4. E em Ezeq 18:20 vemos que a responsabilidade é pessoal e o justo não paga pelo pecador.

AIRTON - Onde está escrito nos Livros dos Espíritos, que "Cristo se sacrificou para assegurar o cumprimento da grandiosa missão que o fez descer a Terra"? A resposta se parece muito com João 1.14: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós". Só parece, mas não é a mesma coisa. Deus teria criado um só Espírito Puro ou muitos? A tese de que o sofrimento de Jesus, um "Espírito Puro", fez parte de Sua missão aqui na Terra, não encontra respaldo na própria doutrina espírita, sendo contrária às seguintes questões:
a) À resposta do quesito 96 do Livro dos Espíritos -"Os Espíritos são de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que atingiram";
b) À resposta do quesito 97, do L.E.
- "Em primeira linha podem ser colocados os que atingiram a perfeição: os Espíritos Puros";
c) À observação do quesito 100 - "A classificação dos Espíritos baseia-se no seu grau de progresso, nas qualidades adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se despojaram';
d) À observação, questão 113, com referência aos Puros Espíritos: "Percorreram todos os degraus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo atingido a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que passar por provas ou expiações...";
e) À resposta ao quesito 115. Pergunta: "Entre os Espíritos uns foram criados bons e outros maus? Resposta: "Deus criou TODOS os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem ciência. A cada um deu uma missão,com o fim de esclarecê-los e fazê-los chegar progressivamente à perfeição pelo conhecimento da verdade e para os aproximar de si".
f) Ao contido no quesito 128 - Pergunta: "Os seres que chamamos anjos, arcanjos e serafins formam uma categoria especial, de uma natureza diferente dos outros Espíritos? Resposta: Não. São os puros Espíritos. Encontram no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições".
g) Ao quesito 129, que afirma que os anjos percorrem todos os graus para chegarem à perfeição;
h) Por fim, a sua resposta contradiz a sua própria afirmação, quando dias atrás atendeu a uma questão por mim formulada, como segue: Desejoso de continuar aprendendo, não para seguir, mas para embasar minha refutação, pergunto a algum representante do kardecismo:
JESUS, no entendimento do kardecismo, foi de fato um homem como outro qualquer, que mediante sucessivas vidas corpóreas atingiu o mais elevado grau de perfeição possível, e, em conseqüência dessa condição, foi enviado por Deus com a missão de ensinar aos homens uma elevada moral? Resposta sua: SIM.

AIRTON - Desconheço se em algum livro de Kardec há alguma referência a Jesus, como um Espírito Puro especialmente criado por Deus. O estranho é que esse Espírito Puro tenha sofrido e morrido numa cruz "para servir de exemplo". Deveríamos todos nós morrer numa cruz? Talvez devesse aprofundar-se mais nesse mister. Finalmente, por sua resposta e pelo contido no Livro dos Espíritos, conforme os quesitos acima transcritos, Jesus, como todos os Espíritos, subiu de degrau em degrau na escala de classificação até chegar no ápice da plena perfeição. Salvo melhor juízo.

ROGÉRIO - Não, não devemos todos morrer numa cruz, até porque essa era uma pena da época. Eu não disse que foi criado puro. Disse apenas que ele já era puro quando nosso planeta foi criado e só encarnou aqui uma vez. Sua evolução foi em OUTROS MUNDOS.

AIRTON - Estranho é ouvir de um kardecista a afirmação de que o Espírito Puro Jesus passou por mais uma encarnação, a última, aqui na Terra, e que o seu sofrimento foi para servir de exemplo. Vejo uma certa incoerência nisso, em razão do que tenho lido dos livros de Kardec. Persisto em dizer que,do ponto de vista da doutrina kardecista, Jesus não precisaria passar por mais uma vida corpórea num "mundo de expiação e provas". Recordemos:
a) No quesito 113 do Livro dos Espíritos está escrito que os Espíritos Puros percorreram todos os degraus e se despojaram de todas as impurezas da matéria; não mais precisariam passar por provas ou reencarnações. Comentário - Jesus estaria enquadrado nessa situação de plena pureza, como o senhor admite. Como o fim da reencarnação é o aprimoramento do Espírito, e "quando este se houver despojado de todas as impurezas não necessitará mais das provas da vida corpórea" (quesitos 167, 168 e 196 do Livro dos Espíritos), considero o caso de Jesus uma tremenda exceção na doutrina da reencarnação.
b) Como consta do capítulo III, item 4, do Evangelho Segundo o Espiritismo, de Kardec, "a Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas..."; e no item 5, tomei conhecimento de que "quando, em um mundo, os Espíritos alcançam o grau de adiantamento que esse mundo comporta, passam para outro mais adiantado, e assim por diante, até que cheguem ao estado de puros Espíritos". Comentário - Com Jesus deu tudo errado. Ele aceitou as provas que lhe foram apresentadas e, em "outros mundos" (como o senhor Rogério definiu) atingiu a plenitude da perfeição. Logo, pelo raciocínio de Rivail, Jesus,no mínimo, deveria continuar em mundos adiantados. Deus teria sido injusto com esse Puro Espírito? Ora, segundo Kardec, ascender a mundos cada vez mais adiantados é uma recompensa ao Espírito que vem há muito tempo dando duro. Por outro lado, seria um castigo enviá-lo a um mundo mais atrasado (E.S.E., cap III-5). Então, Jesus teria sido duramente castigado, porque teria descido muitos degraus na escala espiritual. Onde estaria a justiça na reencarnação?
c) No item 15 do mesmo capítulo do E.S.E., Kardec diz que a Terra serve de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus, e que as dificuldades por que aqui passam redundam em progresso. Comentário - Por que Jesus, Puro Espírito, retrocedeu a um mundo de provas? Jesus já havia alcançado o nível mais elevado; puro, puríssimo, perfeito, de "excepcional natureza", como bem definiu Kardec, não necessitaria retroceder. A doutrina kardecista da reencarnação ensina o progredir sempre. O terrível sofrimento de Jesus teria sido tão somente para "servir de exemplo"? Ora, o melhor exemplo seriam as suas provas anteriores em "outros mundos". Bastava Ele contar como foi difícil sua caminhada; dizer que ele não rejeitara nenhuma prova; falar dos mundos habitados por Ele; como foi a primeira encarnação; quantas vezes Ele encarnou numa pessoa do sexo feminino e se teve muitos filhos, etc. Agora, morrer numa cruz para dar exemplo não me parece um argumento coerente ou convincente. Necessário se faz, portanto, que o espiritismo cristão esclareça esses desencontros, dizendo-nos por que e para que o Espírito Puro Jesus retrocedeu a um mundo de imperfeições; por que e para que Ele sofreu. Em caso de Jesus ter sido uma exceção na doutrina da reencarnação, seria válido informar onde, nos livros de Kardec, a exceção está prevista.

ROGÉRIO - Jesus veio em MISSÃO, não em expiação. Não precisa reencarnar em mundo mais adiantado, pois já atingiu a perfeição. Só reencarna agora em MISSÃO.

AIRTON - Bastava Ele contar [para que seu sacrifício servisse de exemplo] como foi difícil a caminhada; falar dos mundos habitados por Ele; como foi a primeira encarnação; quantas vezes Ele encarnou numa pessoa do sexo feminino e se teve muitos filhos, etc. Agora, morrer numa cruz para dar exemplo não me parece um argumento coerente ou convincente. Que o espiritismo cristão esclareça tais desencontros, dizendo-nos por que e para que o Espírito Puro Jesus retrocedeu a um mundo de imperfeições; por que e para que Ele sofreu. Em caso de Jesus ter sido uma exceção na doutrina da reencarnação, seria válido informar onde, nos livros de Kardec, a exceção está prevista.

ROGÉRIO - Não entendi. Acha que convenceria mais se ele falasse tais coisas, e não como foi, demonstrando ser um Espírito Superior com suas curas e outros "milagres" (que não acreditamos serem coisas contra as leis da natureza) e morrendo pelo próximo em uma cruz???

AIRTON - Ora, se Seu sofrimento foi apenas para "dar o exemplo", como o senhor disse, deveria então ter contado os outros sofrimentos, em "outros mundos", também para servirem de exemplo. Ademais, Kardec admitiu essa possibilidade quando disse que "os Espíritos bons gostam mesmo de descrever aqueles [outros mundos] que habitam, a fim de oferecer ensinamentos para vos melhorar e vos colocar no caminho que vos pode conduzir a eles". (O Livro dos Médiuns, cap. XXVI, quesito 296). Jesus, porém, contrariando os "mensageiros de Deus", nada revelou sobre suas antigas encarnações. Fica a impressão de que o Espiritismo Cristão não sabe porque Jesus morreu na cruz. Como o senhor já admite que Ele morreu pelo próximo, gostaria que desenvolvesse esse raciocínio. Sua morte seria para "que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna"? Kardec confirma? Primeiro, diz o Espiritismo Cristão que Jesus foi um homem como outro qualquer, que precisou sofrer muitas encarnações para atingir a máxima perfeição. Segundo, que Suas provas (reencarnações) ocorreram em outros mundos.
Terceiro, que Ele sofreu para servir de exemplo. Quarto, que Ele veio em missão e só em missão encarnará outra vez. Ora, tudo isso é estranho ao Cristianismo. Por tudo que se lê na Bíblia, Jesus não foi um homem comum (concepção, milagres, isenção de pecados, ressurreição, etc); Jesus nunca revelou provas enfrentadas em "outros mundos", como condição para ser puro; e o próprio Jesus revelou, e outros escritores bíblicos confirmam, que a Sua morte vicária destinou-se à REMISSÃO dos pecados. Vejamos: "Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.28; Mc 14.24; Rm 3.24-26; 5.9; Ef 1.7; 1 Jo 1.7; Hb 9.15,28; Ap 1.5). Veja: "O qual [Jesus] se deu a si mesmo por nós, para nos REMIR de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (Tito 2.14).
As "Vozes do Céu", ao soprarem aos ouvidos de Kardec as instruções codificadas no Livro dos Espíritos, ou se esqueceram ou não quiseram fazer qualquer alusão ao sacrifício vicário de Jesus, assunto da maior importância para o Cristianismo. Nos quesitos 167 e 168 do referido compêndio, os "mensageiros de Deus" ensinaram que o fim da reencarnação é a expiação, com vistas ao progresso da Humanidade; e disseram que o Espírito Puro não mais precisa de novas vidas corpóreas. Eles, os "mensageiros", admitem a possibilidade de um Espírito "reviver corporalmente num mundo inferior àquele onde já viveu" (como teria sido o caso de Jesus) para cumprir uma missão: "Então aceitam com alegria as TRIBULAÇÕES dessa existência que lhes fornece um MEIO DE PROGRESSO" (Questão 178, do L.E.).
Logo, a encarnação aqui de Jesus, como MISSÃO, teria por objetivo seu próprio progresso. Confirmando, no quesito 196 está escrito que os espíritos "melhoram nessas provas", e que "só após várias encarnações e depurações sucessivas é que, num tempo mais ou menos longo, e conforme seus esforços, eles alcançam o fim para que tendem". Verifica-se, portanto, que a encarnação de Jesus é algo difícil de ser explicado e deglutido pelos kardecistas. Mais difícil ainda é continuarem afirmando - para não desmentirem Rivail - que Cristianismo e Espiritismo ensinam a mesma coisa. Para evitar isso, não seria melhor deixarem de lado a Bíblia e o Cristianismo e seguirem somente o contido no Livro dos Espíritos, que "contém especialmente a doutrina ou teoria do espiritismo..."?

ROGÉRIO -Eu disse??? ["que o sofrimento de Jesus foi apenas para dar exemplo?"]. Fazem, sim [ as "vozes do céu" fazem alusão ao sacrifício vicário de Jesus]. Está claro para nós que o inocente não paga pelos erros dos outros. Jesus com seus milagres, sua morte, etc, visava chamar atenção para seus ensinamentos, que devemos praticar.

21 Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós,
deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas. (1 Pedro 2:21). Exatamente isso: morreu deixando exemplo de amor ao próximo, com seu sacrifício, e cada
verdadeiro cristão deve pegar sua cruz e seguir Jesus, amando ao próximo como ele nos amou: 38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.
39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.
40 Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo.
42 E aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa. (Matheus 10:38:42)

ROGÉRIO - Jesus veio em MISSÃO, não em expiação. Não precisa reencarnar em mundo mais adiantado, pois já atingiu a perfeição. Só reencarna agora em MISSÃO.

AIRTON - Ademais, Kardec admitiu essa possibilidade quando disse que "os Espíritos bons gostam mesmo de descrever aqueles [outros mundos] que habitam, a fim de oferecer ensinamentos para vos melhorar e vos colocar no caminho que vos pode conduzir a eles". (O Livro dos Médiuns, cap. XXVI, quesito 296). Jesus, porém, contrariando os "mensageiros de Deus", nada revelou sobre suas antigas encarnações.

ROGÉRIO - Kardec falava das mensagens dos espíritos desencarnados. Jesus não ter falado sobre suas outras vidas não é prova de nada...

AIRTON - Fica a impressão de que o Espiritismo Cristão não sabe porque Jesus morreu na cruz. Como o senhor já admite que Ele morreu pelo próximo, gostaria que desenvolvesse esse raciocínio. Sua morte seria para "que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna"? Kardec confirma? Primeiro, diz o Espiritismo Cristão que Jesus foi um homem como outro qualquer, que precisou sofrer muitas encarnações para atingir a máxima perfeição. Segundo, que Suas provas (reencarnações) ocorreram em outros mundos. Terceiro, que Ele sofreu para servir de exemplo. Quarto, que Ele veio em missão e só em missão encarnará outra vez. Ora, tudo isso é estranho ao Cristianismo.

ROGÉRIO - Por que estranho? Quanto ao objetivo ser esse, pergunto: o que é crer em Jesus ? Para nós, é acreditar nos preceitos que ele ministrou e colocá-los em prática!

AIRTON - Por tudo que se lê na Bíblia, Jesus não foi um homem comum (concepção, milagres, isenção de pecados, ressurreição, etc);

ROGÉRIO - Todos seus "milagres" são leis NATURAIS, tudo explicado pelo Espiritismo.

AIRTON - Jesus nunca revelou provas enfrentadas em "outros mundos", como condição para ser puro; e o próprio Jesus revelou, e outros escritores bíblicos confirmam, que a Sua morte vicária destinou-se à REMISSÃO dos pecados. Vejamos: "Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.28; Mc 14.24; Rm 3.24-26; 5.9; Ef 1.7; 1 Jo 1.7; Hb 9.15,28; Ap 1.5). Veja: "O qual [Jesus] se deu a si mesmo por nós, para nos REMIR de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (Tito 2.14).

ROGÉRIO - Tudo SIMBÓLICO. Sangue por si só não purifica ninguém de pecados. A Humanidade continua a pecar do mesmo jeito, e enquanto continuar cheia de preconceitos, se apegando a dogmas e crenças como os fariseus e esquecendo de praticar os ensinamentos de Jesus tudo vai continuar como está.

ROGÉRIO - Fazem, sim. Está claro para nós que o inocente não paga pelos erros dos outros. Jesus com seus milagres, sua morte, etc, visava chamar atenção para seus ensinamentos, que devemos praticar.

AIRTON - Nos quesitos 167 e 168 do referido compêndio, os "mensageiros de Deus" ensinaram que o fim da reencarnação é a expiação, com vistas ao progresso da Humanidade; e disseram que o Espírito Puro não mais precisa de novas vidas corpóreas.

ROGÉRIO - A não ser em MISSÃO.

AIRTON - Eles, os "mensageiros", admitem a possibilidade de um Espírito "reviver corporalmente num mundo inferior àquele onde já viveu" (como teria sido o caso de Jesus) para cumprir uma missão: "Então aceitam com alegria as TRIBULAÇÕES dessa existência que lhes fornece um MEIO DE PROGRESSO" (Questão 178, do L.E.). Logo, a encarnação aqui de Jesus, como MISSÃO, teria por objetivo seu próprio progresso.

ROGÉRIO - O NOSSO progresso, principalmente.

AIRTON - Confirmando, no quesito 196 está escrito que os espíritos "melhoram nessas provas", e que "só após várias encarnações e depurações sucessivas é que, num tempo mais ou menos longo, e conforme seus esforços, eles alcançam o fim para que tendem".
Verifica-se, portanto, que a encarnação de Jesus é algo difícil de ser explicado e deglutido pelos kardecistas.

ROGÉRIO - Por quê???

AIRTON - Mais difícil ainda é continuarem afirmando - para não desmentirem Rivail - que Cristianismo e Espiritismo ensinam a mesma coisa.

ROGÉRIO - Ensinam. O que Cristo não ensinou é que devemos crer que ele morreu para nos salvar e que todo o bem que podemos fazer pelo próximo surgirá como mágica.

AIRTON - Para evitar isso, não seria melhor deixarem de lado a Bíblia e o Cristianismo e seguirem somente o contido no Livro dos Espíritos, que "contém especialmente a doutrina ou teoria do espiritismo..."?

ROGÉRIO - Ficamos com o Cristianismo Redivivo, que é o Espiritismo.

AIRTON - Depois de uma análise mais acurada, verifiquei a necessidade de alguns esclarecimentos adicionais, o que será bom para ambas as partes. Vejamos:
Primeira questão - O senhor afirmou, embora sem citar a fonte da informação, que Jesus "já era Espírito Puro quando a Terra foi criada". Pergunto: O senhor acredita que primeiro Deus criou os demais corpos celestes, e, por último, a Terra?

ROGÉRIO - Deus, nosso Criador (e não "primeiro Deus") não pára de criar. A Terra não foi o primeiro planeta a ser criado e também não foi o último.

AIRTON - Sr.Rogério, permita-me somente mais esta observação. Parece-me que o sr. não entendeu minha indagação. O sr disse que Jesus progrediu em outros mundos, e que já era espírito puro quando da formação da Terra; logo, outros mundos existiram antes que a terra fosse criada. Volto a perguntar: o senhor acredita no que o senhor falou,ou seja, que os "outros mundos" foram criados antes da Terra? Se afirmativa a resposta, favor citar alguma referência.

ROGÉRIO - Não respondi: Deus não pára de criar, a Terra não foi o primeiro e nem o último mundo.
Referência ? Não posso agora no momento fazer uma citação exata, mas é o que os espíritas acreditam.
AIRTON - Segunda questão: O senhor disse, embora sem citar a fonte da informação, que o sofrimento de Jesus,inclusive sua morte, "foi em termos, pois para o espírito puro, desligado da matéria, não há tanto sofrimento". E disse também que Jesus "nem ficou atormentado, pois estava muito desligado das coisas materiais". Pergunto: No seu entendimento, Jesus não sentiu dores: o Seu sofrimento na cruz e no Getsêmani teria sido uma encenação?

ROGÉRIO - Não. Ele sofreu, mas menos do que uma pessoa comum sofreria.

AIRTON - Terceira questão: A morte de Jesus na cruz, segundo o entendimento do senhor, teve as seguintes finalidades: (a) "Para que servisse aos homens como exemplo"; (b) para "provocar o impacto que se fazia necessário na consciência dos homens..." (c) "Resultou da inadequação da Humanidade para assimilar suas extraordinárias mensagens"; e (c) foi para "chamar atenção para seus ensinamentos". Pergunto: Não estaria havendo alguma contradição em suas afirmações?

ROGÉRIO - Não acho. Por quê?

AIRTON - Quarta questão: O senhor afirmou corretamente que a morte de Jesus foi "predita por vários profetas". Pergunto: O senhor crê que esses profetas falaram sob inspiração divina, sendo, portanto, a expressão da verdade tudo o mais que falaram? Se negativa a resposta, eles teriam simplesmente adivinhado?

ROGÉRIO - Divina, ou seja, diretamente inspirada por Deus, não. O que chamavam profeta, nós chamamos MÉDIUM.

AIRTON - Quinta questão: Com relação a 1 Pedro 2.21 ("Porque para isso fostes chamados, porquanto, também Cristo padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais as suas pisadas"),usado pelo senhor para justificar que Jesus sofreu para dar exemplo, esclareço que um pouco mais à frente, no versículo 24, Pedro diz que "Ele levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; pelas suas pisaduras fostes sarados". Tais palavras confirmam o que o próprio Jesus afirmou, conforme Mateus 26.28, dizendo da finalidade de Sua morte (para remissão de pecados).

ROGÉRIO - Eu já disse que vejo isso como um simbolismo. As pessoas continuam a pecar do mesmo jeito. Ele não levou pecado algum. Mas se vivenciarmos seus ensinamentos, seguindo seu exemplo, aí, sim, o pecado se afastará do mundo.

AIRTON - Sexta questão: O senhor disse que o significado de crer em Jesus, "é acreditar nos seus preceitos e colocá-los em prática". Eu confirmo suas palavras e acrescento que é, também, adorá-lo como Senhor e Salvador, porque "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus, e o Verbo se fez carne, e habitou entre nós" (João 1.1, 14). "Este [Jesus] é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo 5.20).

ROGÉRIO - Sobre esses versículos, já falei muitas outras vezes e quem quiser pode conferir em minha Home Page o que penso sobre o assunto. MESMO que Jesus fosse Deus, ele não dirá a um homem que só teve virtudes: "Você irá para o INFERNO, o mesmo lugar de Hitler, Stalin e a"Fera da Penha", porque, mesmo só praticando o bem e tendo apenas virtudes, esqueceu-se do fundamental: entrar para uma igreja evangélica, se batizar e me aceitar como o Deus Salvador".

COMENTÁRIOS DO PASTOR AIRTON - No meu entendimento, alguns pontos não ficaram bem esclarecidos pelo representante do espiritismo:
a) se Jesus "trabalhou na criação da Terra", e se progrediu em "outros mundos", logo a Terra foi criada por último. Assim sendo, admite o espiritismo haver vidas em outros planetas onde Jesus, como um "homem comum" se desenvolveu.
Só que não há provas científicas para tal fato, e a Bíblia diz que Deus fez o homem após a criação do nosso planeta e dos luminares (Gn 1 - 2);
b) Não ficou convenientemente explicado o desencontro entre a doutrina espírita (Livro dos Espíritos) e o que afirmou o debatedor com relação ao sofrim ento de Jesus. Pelo que disseram os "espíritos" a Kardec, um Espírito Puro não continua sofrendo, ainda que em missão;
c) Notei certa dificuldade do debatedor em explicar a razão e finalidade do sofrimento de Jesus; esquivou-se o mais que pôde para não admitir que Ele morreu em nosso lugar, para remissão de pecados;
d) O debatedor disse que a morte de Jesus foi "predita por vários profetas" e que "estava nas previsões divina". Mas depois, quando instado a admitir a veracidade das palavras de todos os profetas, disse que eles não foram "diretamente inspirados por Deus", mas que eram "médiuns". Ora, a palavra "DIVINO" significa "de, ou proveniente de Deus", conforme o Dicionário Aurélio.


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