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domingo, 7 de março de 2010

XXIII - CRISTIANISMO X ESPIRITISMO CRISTÃO III

Parte XXIII
CRISTIANISMO X ESPIRITISMO CRISTÃO III

Espírito Santo, o Consolador


ROGÉRIO - Aquela ceia, positivamente, foi marcada pela tristeza. Nem bem ela começara e o Mestre declarou ser a última vez que comeria com seus amigos, até que estivesse cumprida a Sua missão. E mais: afirmou que dentre os presentes um O haveria de trair. Muito perturbados, os presentes protestaram inocência, reafirmando sua fidelidade ao Messias. Mas o traidor, por sua vez traído pela consciência, não teve ânimo para ali permanecer, retirando-se. E ao sair ainda ouviu de Jesus o pedido revelador da imensa tristeza que Lhe começava a toldar a alma: - o que tens de fazer, faze-o logo. Com efeito, essa angústia foi tão grande que provocaria, mais tarde, o famoso "suor de sangue", fenômeno este que a medicina psicossomática denomina de hematidrose. Este é um fenômeno que ocorre em estados de profunda angústia e que consiste numa grande vasodilatação dos capilares, que se rompem ao nível das glândulas sudoríparas fazendo com que o sangue aflore misturado ao suor. Uma prova a mais de que o corpo de Jesus era de carne.


AIRTON - Nunca foi dito pelo cristianismo que o corpo de Jesus não era de carne e osso. A Palavra diz que o "Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1.14). 

ROGÉRIO - Saiu, pois, o Iscariotes, e já era noite (Jo 13,30). E a noite era de Lua cheia, visto que a Páscoa se aproximava. O disco lunar, rebrilhando no céu claro, deve ter feito com que aquele homem seguisse rente às paredes, tentando esconder nas sombras o peso da culpa que levava. E no coração de todos ficou o amargor da dúvida a aumentar o desconforto daquela noite fria. Estava-se em abril e o inverno já acabara naquela região que praticamente só conhece duas estações por ano. Mas embora o dia seguinte, sexta-feira, fosse de um calor esbraseante (Em Há Dois Mil Anos Emmanuel faz pelo menos nove referências ao calor daquele dia), a noite da última ceia foi fria, fato que João não deixou de anotar (18,18). Aos discípulos o Mestre parecia mais enigmático ainda que de costume, falando coisas cujo sentido não captavam de pronto. Tão logo Judas saiu, Jesus fez um longo discurso, iniciando por dizer que para onde ia os apóstolos não poderiam acompanhá-Lo. Inquieto, Pedro ainda arriscou uma pergunta: - Senhor, para onde vais tu? Por que não te posso seguir agora? Eu daria minha vida por ti! Pois bem. Foi nesse clima de frio, de medo e de incerteza que em seu discurso de despedida Jesus afirmou: -Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador para que fique eternamente convosco.(Jo14,16) - Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (Jo 14,26) E assim falando Jesus saiu dali com os onze restantes e atravessou o ribeiro do Cedron, rumo ao Jardim da Oliveiras, enquanto o luar emoldurava de prata aquele triste grupo. E o Mestre prosseguiu falando:
- Eu tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele Espírito de Verdade, ele vos ensinará todas as verdades, porque ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido. (Jo 16, 12.13) Dali a instantes Jesus estaria preso e no entardecer do dia seguinte morreria a morte na cruz, castigo que Roma reservava aos réus de mais ínfima classe. No amanhecer do domingo, contudo, o Senhor da Vida estaria de novo entre seus discípulos.
Quarenta dias depois, elevar-se-ia no ar, desaparecendo.

AIRTON - Tá certo. Um pouco de poesia não faz mal: a gélida noite, a traição, o disco lunar, sombras da noite. Ainda bem que não era mês de agosto, dia 13, à meia noite, o sino não estava dando as doze badaladas, e não existiam fantasmas rondando a cidade. 

ROGÉRIO - Tanto o Catolicismo quanto os duzentos e tantos ramos do Protestantismo asseveram que a vinda do Consolador que Jesus prometera deu-se no dia chamado de Pentecostes, que é 50º dia após a Páscoa. No capítulo 2 dos Atos dos Apóstolos temos a descrição do que ocorreu naquela data. Vamos, então, rememorar o que ali se descreve. Logo depois da ascensão de Jesus, portanto a pouco mais de quarenta dias após ter feito a promessa do envio do Consolador, estavam os discípulos reunidos em uma casa quando um grande ruído se fez ouvir. Logo após surgiram no ar umas luminescências e os apóstolos começaram a falar em línguas que desconheciam. Acontece que Jerusalém estava cheia de gente de várias procedências: árabes, medos, partos, elamitas, gregos, etc. e os discípulos, que eram galileus e na maioria incultos, falavam a essas pessoas em suas próprias línguas, o que as embasbacava. É claro que não poderia deixar de haver quem desse uma explicação "lógica" para o fenômeno, alegando que eles assim falavam porque estavam bêbados. Como se o álcool tivesse o dom de ensinar línguas! Se naquele tempo já existissem parapsicólogos, por certo diriam que os apóstolos falavam em línguas que desconheciam porque o "talento do inconsciente" permitia que grafassem no inconsciente dos ouvintes as línguas em que falavam. De qualquer forma, o dia de Pentecostes ficou sendo, para os vários ramos em que se dividiu o Cristianismo, como o dia em que Jesus enviou o Consolador que prometera. Só o Espiritismo diz que não. O Consolador prometido não veio no dia de Pentecostes e sim dezenove séculos mais tarde, pois que o Consolador é o próprio Espiritismo.

AIRTON - O Senhor Jesus a "Segunda Revelação de Deus" discorda da posição kardecista. Veja o que Ele disse: "E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder" (Lc 24.49; At 1.4). Qual promessa? O Espírito da Verdade, o Consolador, conforme Joel 2.28; João 14.16-17; 15.26; 16.7. A promessa não viria dezenove séculos depois. Ouça Jesus: "Pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, NÃO MUITO DEPOIS DESTES DIAS" (At 1.5). E mais: "Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até nos confins da terra" (At 1.8). Ora, se os discípulos fossem esperar dezenove séculos, como iriam dar testemunho de Jesus naqueles dias? O cristianismo iria esperar para nascer nos braços do espiritismo? A promessa foi cumprida num tempo inferior a 50 dias, como detalhada em At 2.1-4, pois que "foram cheios do Espírito Santo". 

Tal assertiva é confirmada pelo insuspeito Pedro em seu primeiro discurso: "Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas isto é O QUE FOI DITO PELO PROFETA JOEL: nos últimos dias, diz Deus, do meu Espírito derramarei sobre toda a carne" (At 2.14-17,33). Inconsistente e inconseqüente é, pois, a tese dos dezenove séculos. 

ROGÉRIO - Sendo duas opiniões contraditórias, uma pelo menos deve estar errada. Então qual será a certa? Examinemos com atenção o que Jesus disse após a última ceia, em paralelo com os fenômenos ocorridos naquele dia de Pentecostes e vejamos se têm razão católicos e protestantes. Dissera Jesus que o Espírito de Verdade ensinaria todas as verdades e relembraria tudo que Ele, Jesus, havia dito. Muito bem. Se o Consolador viria para ensinar todas as verdades é porque Jesus não as havia ensinado na totalidade, coisa que Ele próprio afirmou (Jo 16,12). Na data de Pentecostes houve alguma revelação nova? Não. Ao menos a Bíblia não diz que houve. 

AIRTON - Deve-se entender a mensagem no seu contexto. Em João 14.26 o "Espírito Santo ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito". A dedução é que aquilo que não foi devidamente entendido o Espírito fará entender; e o que não for lembrado, fará lembrar. Seria só esta a missão do Consolador? Não. Em João 16.8-14, lemos: o Consolador convencerá o mundo do pecado, da justiça, e do juízo, guiando-nos na verdade; e glorificará ao Senhor Jesus. O espiritismo não assumiu nenhuma dessas missões. Aliás, se os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João ficassem aguardando a vinda do espiritismo-consolador, para lhes fazer recordar as palavras de Jesus, os Evangelhos ainda estavam sendo escritos. 

ROGÉRIO - Na edição da Bíblia publicada pela Enciclopédia Barsa está escrito o seguinte comentário: Esta vinda do Espírito Santo é o cumprimento da promessa de Cristo. Seu principal efeito foi aumentar a graça santificante dos apóstolos e fiéis sobre os quais desceu de forma sensível. Outros efeitos foram: o carisma de falar outras línguas, a coragem de pregar abertamente e um conhecimento extraordinário da doutrina cristã. Mas não foi nada disto que o Cristo prometeu. O Consolador deveria vir para ensinar todas as verdades e não apenas para aumentar a compreensão sobre as verdades já conhecidas. Viria também para lembrar o que o Cristo dissera. Para isso seria preciso que o que Ele havia ensinado estivesse esquecido ou adulterado. Mas fazia apenas 50 dias que aquela promessa fora feita e não mais que dez dias que deixara os apóstolos, pela ascensão. Por que, nesse caso, um emissário especial para recordar tudo aquilo que era tão recente? Mas Jesus também dissera que tinha muitas coisas para ensinar ainda, mas que não poderiam ser compreendidas ou suportadas então. Como admitir que apenas 50 dias depois já essas coisas pudessem ser ensinadas, entendidas ou suportadas? E que ensinos tão importantes seriam esses que os Atos dos Apóstolos não revelam? O Cristo prometera verdades novas e não coragem para divulgar as antigas, já ensinadas. E como é possível que esses ensinos complementares o próprio Jesus não os tenha querido fazer a seus discípulos, que não os poderiam suportar, para que, poucos dias após, os mesmos discípulos os fizessem e para pessoas que nem ao menos haviam conhecido os ensinos precedentes de Jesus? Se os ensinos de Jesus precederam os do Consolador é porque o conhecimento daqueles era um pré-requisito para o conhecimento destes. E se os apóstolos falavam línguas que não compreendiam, esses ensinamentos complementares não só iam cair em ouvidos alheios a toda a anterior mensagem cristã, como também os próprios mensageiros, isto é, os discípulos, continuariam a ignorá-los, visto que desconheciam o que falavam. Não é tudo muito incoerente?

AIRTON - O mundo, de fato, não pode entender as coisas do Espírito de Deus. Não são manifestações para serem entendidas pelo homem natural. A descida do Espírito Santo, em cumprimento à promessa de Deus Pai, confirmada por Jesus, teve um propósito: pessoas de várias partes do mundo presenciaram o fato, e "cada um ouvia falar na sua própria língua, cada um na própria língua nativa" (At 2.6-8). A Palavra foi anunciada a uma multidão, de todas as tribos e raças. Então, tudo muito coerente. Muitas coisas novas, sim, foram reveladas não só pelos evangelistas, mas também por Paulo em suas cartas, por Lucas em Atos dos Apóstolos, e por tantos outros. Exemplo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. O Verbo se fez carne, e habitou entre nós (Jo 1.1,14). "Eis que vos digo um mistério! Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados"(1 Co 15.51). Ademais, Jesus não revela que o ensino do Consolador viria num piscar de olhos. Outras verdades, além das acima descritas, foram reveladas pelo Espírito Santo: na atitude inamistosa para com os gentios, julgando-se que estes não seriam dignos da graça salvadora, o "outro Consolador" demonstrou que "Deus não faz acepção de pessoas, mas, em cada nação, o homem que o teme e que faz a justiça lhe é aceitável (At 10.34,35). Vê-se também a atuação esclarecedora do Espírito na questão da circuncisão (At 10-15, Rm 2.28-29). Portanto, houve revelação divina depois de Cristo, da parte do Espírito Santo, através dos apóstolos, porque "toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, repreender, corrigir, e instruir em justiça" (2 Tm.3.16). 

ROGÉRIO - Agora vejamos, à luz do Espiritismo, o que terá, de fato, ocorrido no dia de Pentecostes: nada mais do que a eclosão das mediunidades de efeitos físicos e de psicofonia xenoglóssica. O barulho que se ouviu e as luminescências que surgiram são fenômenos comuns àquela forma de mediunidade. As "línguas de fogo" são simples manifestações ectoplasmáticas. O célebre físico-químico William Crookes, designado que foi pela Sociedade Dialética de Londres para estudar os fenômenos do Espiritismo, escreveu a certa altura de seu relatório: - Vi pontos luminosos saltarem de um e outro lado e repousarem sobre a cabeça de diferentes pessoas. (Fatos Espíritas - F.E.B.) Mas aquelas "línguas" também poderiam ser simples fenômenos elétricos ou magnéticos decorrentes do preparo do ambiente por entidades espirituais (ver Missionários da Luz - F.E.B.) O falar línguas estrangeiras nada mais é que a mediunidade xenoglóssica, de que há tantos exemplos nos anais do Espiritismo. E tanto é verdade que aquele fenômeno foi meramente mediúnico, que o apóstolo Pedro, vendo o espanto das pessoas, explicou-lhes o que se passava repetindo as palavras do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que eu derramarei do meu Espírito sobre toda a carne: e profetizarão vossos filhos e vossas filhas, e os vossos mancebos terão visões e os vossos anciãos sonharão sonhos. (At. 2,17). O mais curioso de tudo é que são as próprias religiões que aceitam o Pentecostes como a vinda do Consolador prometido que, paradoxalmente, renegam a mediunidade, atribuindo-a ao demônio, à fraude ou a fatores meramente psicológicos, negando assim a própria explicação de Pedro. Tudo isso parece deixar patente que a vinda do Consolador não se deu na data de Pentecostes, visto que as coisas que o Cristo disse que seriam feitas não sucederam, na verdade.


AIRTON - Nada está patente. Como demonstramos acima, a Bíblia frustra a intenção do espiritismo de ser o Consolador prometido, a tese dos dezenove séculos é insustentável, e Pedro não declarou que o Pentecostes havia sido um fenômeno mediúnico. Disse ele que a ocorrência estava predita em Joel 2.28, confirmado por Jesus. 



ROGÉRIO - Quando Allan Kardec recebeu a notícia da missão que lhe cabia, quis saber qual o nome do Espírito sob cuja égide aqueles ensinos se dariam e obteve a seguinte resposta: -Para ti chamar-me-ei A Verdade. Na época nem Kardec, nem ninguém, parece ter percebido a enormidade desta revelação. Seria este o Paráclito que Jesus ficara de enviar mais tarde? A ser assim esse "mais tarde" teria demorado não aqueles absurdos 50 dias, mas dezenove séculos, pois só então as pessoas, consideradas globalmente, estariam em condições de receber os demais ensinamentos que Jesus não quis dar por ser muito cedo para que fossem entendidos ou suportados. Se tais ensinos, que não puderam ser dados pelo próprio Cristo, houvessem sido trazidos e aceitos apenas alguns dias depois, isto faria de Jesus um
professor bem medíocre, incapaz de transmitir aquilo que daí a pouco seria ensinado por outro, com sucesso. Não. Foram necessários 19 séculos, mesmo, para que as pessoas pudessem assimilar verdades maiores. E ainda assim, quantos de nós não as podemos suportar nem agora...E note-se: Jesus disse que o Espírito de Verdade não falaria por si, mas sim que falaria de tudo o que ouvira dizer (Jo 16,13). Esses ensinos, portanto, seriam o resultado não de uma opinião pessoal, mas de um consenso. Ora, o Espiritismo se estriba exatamente sobre a universalidade do ensino dos Espíritos e Kardec não se cansou de chamar a atenção sobre isto. O Espiritismo não é fruto de uma ou de algumas opiniões isoladas, quer de homens quer de Espíritos, e nisto está a maior garantia de sua veracidade. Assim sendo, se para muitos o dia de Pentecostes foi o dia em que Jesus mandou o Consolador que prometera, para os espíritas esse dia só chegaria com a difusão do Espiritismo. O Espiritismo, sim, a par do consolo que derrama, trouxe novas verdades que, sem contraditar nada do que o Cristo ensinara, ampliou-Lhe os preceitos e restabeleceu as verdades mutiladas ao longo dos séculos. Como a verdade deverá ir sendo revelada à medida em que formos adquirindo condições de assimilá-la, é necessário que o Paráclito permaneça conosco "para sempre", tal como dito por Jesus. O Espiritismo veio e aí está, enquanto que o fenômeno de Pentecostes foi uma ocorrência isolada, não obstante as conseqüências que teve na época. Vemos por esta forma que o Espiritismo está absolutamente conforme a promessa de Jesus feita naquela noite fria e triste da Palestina, quando a Lua rebrilhou nas gotas de sangue que uma enorme angústia fez verter de Sua fronte atormentada pela perspectiva do suplício que sofreria nas mãos dos que se julgavam detentores da verdade e monopolizadores do bom-senso. Aos que assim não pensam, cabe provar o contrário.

AIRTON - Sinceramente, admiro a forma engenhosa e inteligente com que Kardec alinhavou toda essa estória. É bom lembrar que ele não teve sucesso no seu próprio país, a França, onde o espiritismo não avançou tanto quanto no Brasil. Como vimos por inúmeras passagens da Palavra de Deus, cristianismo e espiritismo não ensinam a mesma coisa. O espiritismo seria muito mais autêntico se andasse com suas próprias pernas. Sua fraqueza está exatamente em tentar legitimar seus ensinos através das Sagradas Escrituras. A estória é cativante, bem engendrada: a revelação, a palavra dos desencarnados, os diversos mundos habitados, as operações mediúnicas, a voz dos mortos... Tudo isso, associado ao esoterismo, desperta a curiosidade dos incautos. Mas o que mais me chama a atenção é a forma sutil com que Kardec e seus seguidores torcem o texto bíblico. Ora, a Bíblia diz que a Palavra de Deus aumenta a nossa fé (Rm 10.17). Iríamos então esperar dezenove séculos, pela revelação kardecista, pelo Dr. Fritz & Cia, para conhecermos as verdades reveladas? Ora, "toda Escritura é divinamente inspirada".

ROGÉRIO - Na versão grega dos Evangelhos e dos Atos, JAMAIS se encontra a palavra "Santo" ao lado da palavra "Espirito". Esta se encontra isolada muitas vezes. 

AIRTON - O que não vem ao caso. O que importa é sabermos que o Espírito constitui uma Pessoa do Deus em trindade. A Bíblia aplica a essa Pessoa diversos outros nomes: Espírito de Deus (Mt 3.16), Espírito (Mc 1.10), espírito da Verdade (Jo 14.17), Consolador (Jo 15.26), Espírito da Profecia (Ap 19.10), Espírito de Adoção (Rm 8.15), Glorioso Espírito de Deus (1 Pe 4.14), espírito de Vida (Rm 8.32), Espírito de Santidade (Rm 1.4), espírito de Sabedoria, Espírito de Conselho, Espírito de Inteligência, Espírito de Poder (Is 11.2), Espírito do Senhor (Is 61.1), Espírito do Filho (Gl 4.6), Espírito Eterno (Hb 9.14), Espírito de Juízo (Is 4.4), Espírito de Graça (Zc 12.10).

ROGÉRIO - Ex: "E disseram a Paulo, sob a influência do Espirito, que não subisse a Jerusalém" (Atos, 21:4) Em algumas traduções francesas, está: "Sob a influência do Espirito Santo".

AIRTON - Pois é. Eis aí a presença do Consolador prometido, guiando, ensinando, dirigindo, orientando. A influência não foi exercida por algum desencarnado. Nem pelo Espiritismo, inexistente na época. O Consolador não veio com atraso de dezenove séculos, porque já no primeiro século a Bíblia registra Sua personalidade: consola (At 9.31, Jo 14.16, 15.26, 16.7), ensina (Jo 14.26; 1 Co 12.3), guia (Jo 16.13), reprova (Jo 16.8), pensa (Rm 8.27), fala (At 13.2; Ap 2.7), intercede (Rm 8.26), determina (1 Co 12.11), capacita (Ef 6.17), entristece-se (Ef 4.30), convence do pecado (Jo 16.8), nomeia e comissiona ministros (At 13.2; 20.28), habita nos santos (Jo 14.17). 

ROGÉRIO - "Aquele que pede, recebe, o que procura, acha; ao que bate, se abrirá. Se, portanto, bem que sejais maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos; com muito mais forte razão vosso Pai enviará, do céu, um BOM ESPIRITO aqueles que lhe pedirem" (Lucas, cap. XI).



AIRTON - Lucas 11.13. A Palavra está se referindo aos salvos. O Pai dará o Espírito, a plenitude do Espírito, o enchimento do Espírito àqueles que buscarem, tal como aconteceu no Pentecostes. Nenhuma conotação há com o espiritismo que viria dezenove séculos depois. Deus seria um mentiroso se somente atendesse o pedido tanto tempo depois. Muito pelo contrário, Jesus disse que o batizo no Espírito Santo seria breve (At 1.5). Inconsistente, portanto, a interpretação segundo a qual o Espírito Bom ou Espírito Santo refere-se ao espiritismo ou à sua doutrina. Fosse assim ninguém teria recebido o Espírito, porque ninguém de sã consciência que eu saiba roga ao Pai tais ensinos. Tempos depois do Pentecostes o Consolador continuou atuando (At 7.55, 8.15, 39; 10.44, 13.2). 



ROGÉRIO - "Estevão, cheio de graça e coragem, fazia grandes prodígios e milagres no meio do povo. E alguns da Sinagoga se levantaram a disputar com Estevão. Mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito que falava nele" (Atos dos Apóstolos, VI, 8,9,10) 

AIRTON - Pois é, vemos o Espírito Bom ou Espírito Santo operando séculos antes do advento do espiritismo. 

ROGÉRIO - As traduções francesas trazem "Espirito Santo". O rev. Nielsson declara em "O Espiritismo e a Igreja": "Os termos da Vulgata Latina, spiritum bonum, correspondem exatamente aos dos originais gregos." É fora de dúvida que o termo "Espirito Santo" foi incorporado as traduções dos Evangelhos, não tendo jamais constado dos originais. Isto foi feito com o propósito de servir aos interesses da Igreja, que, no Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, e no Concílio de Constantinopla, realizado em 381, havia aprovado o dogma da Trindade, pelo qual o Pai, o Filho e o Espirito Santo constituem uma só e única entidade. Havia, portanto, necessidade de o assunto ser corroborado pelos livros sagrados, o que, evidentemente, lhe daria foros de verdade. Quando a Biblia, nas modernas traduções, fala em Espirito Santo, está a se referir ou ao Espirito de Deus ou ao Espirito do homem("nascer da água e do espirito", que está Espirito Santo em algumas traduções") ou a um espírito desencarnado ou a comunidade dos bons espíritos ou, ainda, ao dom da mediunidade ("cheio do Espirito Santo", "dons do Espírito Santo"). Tudo porque colocaram "Santo" onde não devia, para reforçar a idéia da Santíssima Trindade. Jesus ainda prometeu o Consolador , que é a Doutrina Espirita, enquanto católicos e protestantes acreditam ser a assistência do Espirito Santo à Igreja. Dizem que basta pedir ao Espírito Santo, que não haverá erros. Mas como explicar, então, todos os absurdos cometidos pela Igreja Católica, principalmente na Idade Media? E pra piorar, os protestantes, com todas suas divergências em relação aos católicos, também se dizem inspirados pelo mesmo infalível Espírito Santo. 

AIRTON - Embora a palavra TRINDADE não esteja na Bíblia, a idéia de um Deus trino está subentendida nas Sagradas Escrituras. A Terceira Pessoa assim considerada é, portanto, uma Pessoa Santa. Vejamos algumas passagens em que o Deus em trindade é manifesta: no batismo de Jesus, em que o Espírito desceu sobre Ele em forma de pomba. Como explicar que o espiritismo ou a doutrina espírita tenha ali se manifestado? (Mt 3.16-17); na recomendação de Jesus para que todos sejam batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19). Quer seja Espírito, Bom Espírito ou Espírito Santo, a recomendação jamais seria para batizarmos em nome do espiritismo. Creio que nem o kardecismo cumpre esse ensino dado pela "Segunda Revelação de Deus"; na bênção apostólica do apóstolo Paulo, que fala da comunhão do Espírito Santo (2 Co 13.13). Como poderíamos entender comunhão com as doutrinas espíritas, se ainda não existiam? E mais: "O Pai, a Palavra, e o Espírito Santo, e estes três são um"(1 João 5.7). 

ROGÉRIO - "... Mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada" (Mateus 12:31) Sobre esse versículo, assim diz Emmanuel, no livro O Consolador: "A aquisição do conhecimento espiritual, com a perfeita noção de nossos deveres, desperta em nosso íntimo a centelha do espírito divino, que se encontra no âmago de todas as criaturas. Nesse instante, descerra-se à nossa visão profunda o santuário da luz de Deus, dentro de nós mesmos, consolidando e orientando as nossas mais legítimas noções de responsabilidade na vida. Enquanto o homem se desvia ou fraqueja, distante dessa iluminação, seu erro justifica-se, de alguma sorte, pela ignorância ou pela cegueira. Todavia, a falta cometida com plena consciência do dever, depois da bênção do conhecimento interior, guardada no coração e no raciocínio, essa significa o "pecado contra o Espírito Santo", porque a alma humana estará , então, contra si mesma, repudiando as suas divinas possibilidades. É lógico que esses erros são os mais graves da vida, porque consistem no desprezo dos homens pela expressão de Deus, que habita neles." 

AIRTON - Como se vê, o comentarista aceitou a expressão Espírito Santo, e usou a de "espírito divino", esta não bíblica. O texto é claro quanto à blasfêmia contra o Espírito de Deus, e não contra o espiritismo, que só iria surgir muitos séculos depois. Convém lermos o verso seguinte: "E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro" (Mt 12.32). Ora, perdão é uma palavra inexistente no dicionário espírita. Diz o versículo que o blasfemador não terá nenhuma chance no futuro; isto depõe contra a doutrina espírita, que ensina oportunidades iguais para todos no processo da reencarnação. O verso 37, do mesmo capítulo citado, fala em Dia do Juízo. Então, haverá um dia em que todos serão julgados, o que também contraria o kardecismo.

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