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domingo, 7 de março de 2010

XXI - CRISTIANISMO X ESPIRITISMO CRISTÃO

Parte XXI
CRISTIANISMO X ESPIRITISMO CRISTÃO
Em função da exposição de meus argumentos contradizendo doutrinas do Espiritismo Cristão, especificamente quanto a Hebreus 9.27-28 (v. Dificuldades do Espiritismo Kardecista - V), o espírita cristão Sr. Rogério André dos Santos, apresentou seu ponto de vista, contrapondo-se à minha posição, como abaixo. Tal debate, veiculado num grupo de discussão, é útil para conhecermos com maior profundidade a doutrina do espiritismo. 



AIRTON - É evidente que a morte anunciada (Hb 9.27) não abrange a parte imaterial do homem (o espírito), que é imortal. O argumento de que o versículo se refere ao corpo, que morre só uma vez, não encontra guarida numa mente sã. A morte corporal foi instituída por Deus já no Jardim do Éden, após a queda do primeiro casal: "Comerás o teu pão, até que tornes terra...porquanto és pó e em pó te tornarás" (Gn 3.19). Desnecessário seria afirmar, 70 anos depois de Cristo, que o corpo desce à sepultura. Isto é o óbvio. [Abaixo o assunto é melhor explicado].



ROGÉRIO - O espírito nunca morre. Evidentemente, Paulo negou a ressurreição, conforme acreditam os evangélicos: mortos voltando dos túmulos. E não foi a única vez que ele negou: "Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção; semeia-se em vileza, ressuscitará em glória; semeia-se em fraqueza, ressuscitará em vigor. E semeado o corpo animal, ressuscitará o CORPO ESPIRITUAL. Se há corpo animal, há também o corpo espiritual. (...) Eu vo-los digo, meus irmãos, A CARNE E O SANGUE não PODEM POSSUIR O REINO DE DEUS, nem a corrupção possuirá a incorruptibilidade" (I Epístola aos Coríntios, XV, 42-50).



AIRTON - É óbvio que o espírito nunca morre. Não afirmamos o contrário. Ressurreição é mortos voltando do túmulo. É, como já disse, o reencontro da parte imaterial com a material, do espírito com o corpo. Assim aconteceu com Jesus, o primeiro dentre os mortos a ressuscitar. Reviver para nunca mais morrer. E Paulo não ensina o contrário. Examinando o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Kardec, vê-se que ele na Primeira Carta aos Coríntios só analisou até o capítulo 14. O verso 15, onde de forma clara Paulo discorre sobre ressurreição, não foi objeto de exame. O corpo desce à sepultura em corrupção, mas quando surge na ressurreição, surge um corpo espiritual, não natural, totalmente dominado pelo espírito. Antes da ressurreição, um corpo terrestre (1 Co 15.40), corruptível (v.42), fraco (v.43). mortal (v.53) e natural (v.44). Depois da ressurreição: celestial, incorruptível, poderoso, imortal, sobrenatural. Daí porque ele, Paulo, afirmar que "carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus"(v.50). Daí porque se faz necessária a transformação: "...os mortos ressuscitarão incorruptíveis"(v.52), o "que é corruptível se revista de incorruptibilidade"(v.53). Até os vivos, no arrebatamento, passarão por essa transformação (v.51,52; 1 Ts 4.17). 



AIRTON - "Vindo, depois disso, o juízo" (Hb 9.27). Ora, o corpo sepultado não será julgado, isoladamente. Deus não julga o pó; julga o homem. Daí o enunciado referir-se ao homem.



ROGÉRIO - Depois da morte, somos (o espírito) julgados. E não há como retornar àquele mesmo corpo para consertar as besteiras que fez.



AIRTON - Seremos julgados? Como se processará esse julgamento segundo a visão do espiritismo cristão? Não há como retornar ao corpo? Mas onde está escrito? Quem falou? A Bíblia diz que quem morre sem Cristo ressuscitará no dia do Juízo. (Ap 20.5). Entre a morte e a ressurreição ficará em tormentos (Lc 16.19-31). Diz que quem morre em Cristo não será julgado; ficará num lugar de paz, e aguardará a ressurreição quando do arrebatamento da Igreja, na volta de Jesus. (1 Ts 4.16-17; Jo 3.18) 

Segundo os "espíritos" de Kardec, Juízo é algo inexistente ou indefinido. Vejam a questão 331 e 332 do Livro dos Espíritos: Pergunta: "Todos os Espíritos se preocupam com sua reencarnação? Resposta: Alguns há que não se preocupam absolutamente, pois nem mesmo a compreendem. Isto depende de sua natureza mais ou menos adiantada. Para alguns a incerteza do futuro constitui uma punição". Pergunta: "Pode o Espírito abreviar ou retardar o momento de reencarnar-se? Resposta: Pode abreviá-lo, chamando-o por seus votos; também pode retardá-lo recuando ante a prova, pois entre os Espíritos há os covardes e indiferentes. Não o faz, entretanto, impunemente: sofre com isso, assim como alguém que recusa o remédio salutar que poderá curá-lo".
É o tipo da situação em que ninguém manda em ninguém. Se a prova é difícil, o desencarnado recua. Está claro que se a prova é boa, ele aceita imediatamente. Hitler gostaria muito de voltar a ser comandante de uma poderosa nação, com um grande exército, com um arsenal atômico à sua disposição. Mas ser agricultor no sertão do Ceará, nem pensar. E onde estaria Deus? Bom, Deus ficaria de braços cruzados aguardando a boa vontade dos espíritos.


ROGÉRIO - Não foi dito ali em cima que o espírito não fica impune ???



AIRTON - Quem diz que o espírito pode recusar ou adiar a prova é o espiritismo. A Bíblia ensina que a condenação ocorrerá depois da ressurreição, isto é, da volta do espírito ao seu corpo de origem, tal qual aconteceu com Jesus. Exemplo disso foi dado logo após a morte de Jesus na cruz. Apenas uma amostra, porque aqueles mortos que ressurgiram voltaram a morrer (Mt 27.52). 



AIRTON - "Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez..." (Hb 9.28). Note-se a similaridade de nossa morte única com a de Cristo, que, encarnado, viveu como homem, e morreu uma vez somente.



ROGÉRIO - SE OFERECEU uma vez somente, seu sacrifício foi único e não sua vida. Não deturpe, por favor.



AIRTON - Ofereceu-se significa que Ele morreu na cruz, morreu de morte morrida (desculpem-me pela redundância). Não entendi nesse ponto a refutação. A idéia ficou confusa. Como homem, Jesus ofereceu sua vida, seu corpo, isto é, Ele morreu na cruz por nossos pecados, para que todo aquele que nEle crê não morra em seus pecados, mas alcance a vida eterna (Jo 3.16). No E.S.E., Kardec não quis examinar Jo 3.16. Do capítulo 3 ele examinou os versos de 1 a 12. Chegou muito perto. Ademais, por que razão Jesus se ofereceu? Como o espiritismo vê isso? Para que um Bom Espírito encarna, vive entre os homens, ensina uma elevada moral aos homens (tudo segundo a ótica espírita) e deixa-se morrer numa cruz? A Bíblia diz que morreu por nossos pecados. Mas onde entra o pecado no espiritismo? Qual o benefício que os desencarnados de Kardec tirariam do sacrifício de Jesus, se esses desencarnados, com Jesus ou sem Jesus, terão que sofrer inúmeras provas, em sucessivas reencarnações para alcançarem a perfeição? 



AIRTON - Para o espiritismo, Jesus é um Bom Espírito que alcançou elevado grau de perfeição, tendo reencarnado para ensinar aos homens uma elevada moral. Em nenhum momento, todavia, Jesus falou de suas vidas passadas. Ele, o Filho, a Segunda pessoa da Trindade, teve apenas uma vida corpórea, e essa vida Ele ofereceu por nós (Jo 3.16).



ROGÉRIO - - Não falou, mas também não falou que encarnou uma vez só. Disse sobre João Batista, que este era Elias.



AIRTON - Ora, se Rivail soube que fora uma reencarnação de Allan Kardec, quanto mais Jesus não saberia. Ele poderia muito bem contar aos seus discípulos todas as suas encarnações, desde o princípio. Seria útil para consolidar o espiritismo, que, segundo a visão kardecista, seria o Consolador prometido. Não desejo sair desfocar o assunto Hebreus 9.27-28. Mas, de passagem e porque o assunto foi abordado: se Hyppolyte Léon Denizart Rivail soube que fora Allan Kardec, numa vida passada, quanto mais não saberia João Batista se fora ou não Elias. Mas, perguntado sobre isso, ele disse: Não sou. 



AIRTON - "Aparecerá segunda vez" (Hb 9.28).


Não encontrei no Livro dos Espíritos ou no Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, qualquer referência à volta de Jesus, como dito em 1 Tessalonicenses 4.16-17, Mateus 24.30-31, Atos 1.11, 2 Tessalonicenses 1.7, 1 Coríntios 15.23,52, Apocalipse 22.20. Mais trabalho para os espíritas "cristãos". Como afirma o kardecismo, Jesus foi a Segunda Revelação de Deus, e o espiritismo, a Terceira e última (E.S.E., cap. I, item 6). Pergunta-se: o que viria fazer na Terra uma Revelação já substituída, que já cumpriu sua missão? Jesus não retornaria? A Palavra é mentirosa? Então os demais livros e versículos analisados por Kardec no seu livro são verdadeiros? O que é verdade, o que é mentira na Bíblia? Kardec responde: "No cristianismo encontram-se todas as verdades. São de origem humana os erros que nele se enraizaram" (E.S.E, cap. VI, item 5). Os erros seriam de interpretação? Então, cabe aos seguidores de Kardec esclarecer.


ROGÉRIO - Sua volta não será em carne, nem mesmo em espírito - pois sempre está conosco. Será com a aceitação do Evangelho em todo o mundo. Veja detalhes em minha HP.



AIRTON - Se Ele não voltará em carne nem em Espírito, então não voltará. Se o espiritismo cristão julga que Ele não voltará para uma missão determinada (para arrebatar sua Igreja, para julgar, para reinar), então cabe ao espiritismo cristão explicar as passagens bíblicas sobre Sua volta e dar a devida interpretação. Jesus está conosco? Está em nosso meio como estão todos os espíritos, segundo a visão espírita? Está conosco fazendo o quê? Mas Ele falou que iria e mandaria outro Consolador, este sim ficaria conosco; e este Consolador prometido Kardec interpretou como sendo o espiritismo, embora não se saiba onde ele foi buscar essa absurda idéia. 



ROGÉRIO - Então, entenda que Paulo só podia estar falando do CORPO, que morre uma vez só, não se recompõe.



AIRTON - Paulo afirma que o que é corruptível se reveste de incorruptibilidade (1 Co 15). O corpo fraco e mortal reveste-se de poder e imortalidade. O mesmo espírito une-se ao corpo original. Tal qual aconteceu com Jesus. E a aparência é a mesma do primeiro corpo (veja-se Moisés e Elias na Transfiguração de Jesus). Morre uma vez porque após a ressurreição nunca mais morrerá. Hebreus 9.27 diz exatamente que após a morte o homem ficará aguardando julgamento.



ROGÉRIO - Elias e Moisés eram espíritos que foram vistos materializados. Eram espíritos, sumiram e tornaram a desaparecer. Os apóstolos estavam cheios de sono, pois eram médiuns de efeitos físicos e cediam energia para o fenômeno. Jesus também apareceu como espírito, pois entrou em lugares fechados, entre outras coisas que a narrativa demonstra serem características de uma materialização. E uma materialização que não era total quando Jesus surgiu a Maria Madalena, pois não deixou que ela o tocasse. A materialização, o perispírito, são coisas estudadas, coisas que sabemos que existe. Mas se alguns preferem acreditar em mortos levantando dos túmulos com corpos de características espetaculares.



AIRTON - Ali foram vistos Elias e Moisés. Deus chama os espíritos pelo nome. Os espíritos, ao contrário do que afirma o kardecismo, só encarnam uma única vez, e seus corpos descem ao pó uma única vez. (Hb 9.27). Daí serem conhecidos por seus nomes originais. Do contrário, Moisés não seria Moisés, mas seria, por exemplo, Pedro, João, Maria, Francisco, Josefa. Elias não seria Elias, mas seria João Batista, Raimunda, Antonia, Godofredo. Por obra da vontade de Deus eles apareceram ali da mesma forma como Deus nos verá na ressurreição. A afirmação de que os apóstolos ali presentes eram "médiuns de efeitos físicos que cediam energia para o fenômeno" parece-me estapafúrdia. Jesus, um Espírito bastante elevado, a Segunda Revelação de Deus -segundo Kardec - ainda assim precisaria da energia dos pobres mortais Pedro, Tiago e João? Se o rei Saul foi morto porque freqüentou uma sessão espírita, Deus permitiria tal ocorrência? Vejam: "Assim morreu Saul por causa da sua infidelidade ao Senhor; não guardou a palavra do Senhor, e até CONSULTOU UMA ADIVINHADORA"; e não buscou ao Senhor. Pelo que Ele o matou, e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé" (1 Sm 27.7; 1 Cr 10.13-14). Jesus apareceu num corpo ressurreto, diferente do corpo anterior; um corpo poderoso e glorioso, não mais sujeito à morte. É assim que ensina a Bíblia e o cristianismo (1 Ts 4.16-17; 1 Co 15.42,43,44,51,52-54). O que vale é o que a Palavra diz porque é a Verdade. A palavra do espiritismo cristão ou kardecista baseia-se na palavra dos "desencarnados", nos quais, segundo Kardec, não se pode confiar. A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS é doutrina do cristianismo, e Jesus foi o primeiro: "MAS DE FATO CRISTO RESSURGIU DENTRE OS MORTOS, E FOI FEITO AS PRIMÍCIAS DOS QUE DORMEM" (1 Co 15.20). Desculpem-me pelo óbvio, mas ressurgir dentre os mortos é ressurgiu dentre os mortos. E o corpo não ressurge sozinho. Ressurge com o seu espírito original. Está escrito em bom português.



AIRTON - A Bíblia ensina que o decreto condenatório, a sentença final ocorrerá depois da ressurreição, isto é, da volta do espírito ao seu corpo de origem, tal qual aconteceu com Jesus. Exemplo disso foi dado logo após a morte de Jesus na cruz. Apenas uma amostra, porque aqueles mortos que ressurgiram voltaram a morrer (Mt 27.52).



ROGÉRIO -Voltaram a morrer ? Ué, mas para vc não se morre uma vez só ?



AIRTON - Esta é uma boa oportunidade para que as dúvidas sejam dirimidas. Há dois tipos de ressurreição:


1) Ressurreição do corpo que estava morto, ou restauração da vida, mas que voltará a morrer. É uma volta do corpo à vida terrena, como aconteceu com Lázaro, que morreu, ressuscitou, morreu, e agora aguarda a ressurreição no Juízo. Outros exemplos iguais ao de Lázaro: o filho da viúva de Serepta (1 Rs 17.19-22); o filho da sunamita (2 Rs 4.32-35); o defunto na cova de Eliseu (2 Rs 13.21); a filha de Jairo (Mc 5.21-23, 35-43); o filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17), Dorcas (Atos 9.36-43), Êutico (Atos 20.9).
2) Ressurreição plena, final, não mais para retornar à vida terrestre, mas para possuir o mesmo corpo, porém adaptado ao mundo espiritual, como já reportado acima. Nesta ressurreição inclui-se a de Jesus. Veja: Cristo devia padecer e, SENDO O PRIMEIRO A RESSUSCITAR DOS MORTOS..." (Atos 26.23). 


ROGÉRIO - Sim, e a este corpo nós espíritas chamamos de PERISPÍRITO, que já foi pesquisado por vários cientistas. Não é o mesmo corpo que desce a sepultura.



AIRTON - A Bíblia não fala em perispírito. [Jesus ressurreto disse aos apóstolos: "Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; tocai-me e vede, pois um ESPÍRITO não tem carne nem ossos, como verdes que eu tenho]. 



ROGÉRIO - Como eu disse, há analogia total entre os fatos citados e os fatos espíritas. Não vejo razão para crer em mortos saindo dos túmulos com corpos com características espirituais.



AIRTON - O espiritismo cristão não vê, mas o cristianismo vê, consoante a Palavra de Deus. Veja 2 Coríntios 4.4. Ademais, Paulo fala de revestimento de imortalidade. Logo, longe está de tratar-se de perispírito que por natureza seria imortal. 



ROGÉRIO - O perispírito, sim. Mas ele conserva a nossa última aparência. 


AIRTON - Pensamento truncado. A ressurreição não pode ser do perispírito porque perispírito não morre nem se reveste de imortalidade. Acredito que o que o espiritismo cristão chama de perispírito, o cristianismo chama de corpo transformado, glorioso, ressurreto. O perispírito subiria e o corpo ficaria na terra. Mas, e no caso de Jesus? Onde está Seu corpo? Ele ressuscitou realmente e disso as Escrituras dão testemunho. Ele próprio afirmou mais de uma vez que ressuscitaria.

ROGÉRIO - As pessoas não tinham condições de entender que Jesus veio trazer verdades espirituais, não materiais. A idéia de mortos vivendo com seu próprio corpo é por demais materialista. Eu não sei onde está seu corpo. Mas o fato dele ter sumido nada prova. Como não compreenderiam que a ressurreição é espiritual, poderiam ter sumido com o corpo para o bem de todos. Futuramente, tudo seria esclarecido. 

Mais do que evidente que Jesus na verdade foi contra o MATERIALISMO aqui, Segundo Ele, a vida espiritual é a verdadeira vida, pois a vida terrena e transitória e passageira, espécie de morte, se a compararmos ao esplendor e atividade da vida espiritual. O povo daquela época estava dominado pelo materialismo. Jesus veio trazer as verdades espirituais. "E quando chegaram a Mísia, intentavam ir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu" (Atos 16:6,7). 

AIRTON - Essas considerações nada trazem de novo. É claro que todos viveremos, no futuro, no mundo espiritual. Mas se considerarmos o corpo como materialismo, nenhuma doutrina é mais materialista do que a do espiritismo cristão. Haja vista a premente necessidade que os desencarnados terem novos corpos, para alcançarem a perfeição. A maior dificuldade do espiritismo cristão, segundo meu entendimento, é buscar sustentação na Bíblia; é usar o nome cristão; é desejar viver à sombra do cristianismo. Sem essa tentativa de simbiose, de entrelaçamento, de sincretismo, o espiritismo seria muito mais autêntico. [Nota: Quanto ao corpo de Jesus, já se passaram dois mil anos e ninguém o encontrou. O sepulcro de Jesus ficou sob vigilância em tempo integral]. 

AIRTON - Seremos julgados? Como se processará esse julgamento segundo a visão do espiritismo cristão?

ROGÉRIO - Pelas obras e não pela crença de cada um, como Jesus mesmo descreveu.

AIRTON - A Bíblia diz: "Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé - e isto não vem de vós, é Dom de Deus - NÃO DAS OBRAS, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8-9). 

ROGÉRIO - Paulo diz: "Não vem de obras, para que ninguém se GLORIE". Sim, é necessário praticar o bem sem interesses, por amor e não por vaidade, pois HUMILDADE é boa obra. Ao dizer que ninguém se salvaria pelas obras da lei, Paulo estava querendo demonstrar que de nada adiantava a escravidão as formulas e ordenações sem a fé. A lei, por si mesma, não salva e não salvava ninguém, apenas prescrevia o que é certo e o que é errado, o que se deve e o que não se deve fazer. A seu ver, estavam justificados os gentios que cumpriam naturalmente a lei, sem que para isso estivessem sujeitas a ela como os judeus (Romanos 2:12 e seguintes). Ele advertia os cumpridores hipócritas dos preceitos biblicos. Alias, é justamente isso o que ele faz em Romanos, 2:17-23: 

"Mas se tu, que te dizes judeu e descansas na lei; que te glorias em Deus; que conheces sua vontade; que discernes o melhor, segundo a lei e te jactas de ser guia de cegos, luz aos que andam nas trevas, educador de ignorantes, mestre de crianças, porque possuis na lei a expressão mesma da ciência e da verdade... Pois bem, tu que instruis os outros, a ti mesmo não instruis! Pregas: não roubar! E roubas! Proíbe o adultério e adulteras. Aborreces os ídolos e saqueias os templos. Tu que te glorias na lei, transgredindo-a, desonra a Deus". 

O próprio Paulo afirmou em Romanos 2:6: "(Deus) dará a cada um segundo as suas obras". Paulo também escreveu: "Importa que compareçamos perante o tribunal do Cristo, a fim de que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito enquanto no corpo" (2.Cor.5:10) E Paulo escreveu ainda o mais belo texto que se conhece sobre o poder e a glória da caridade, que ocupa todo o capitulo 13 da Primeira Epistola aos Corintios. 

AIRTON - "Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus PARA AS BOAS OBRAS, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.8-10). Nossas boas obras são decorrentes da nossa situação de justos.

ROGÉRIO - É mesmo ? Quer dizer que basta crer que Jesus é Deus para sair fazendo boas obras? Então, porque isso não ocorre no mundo cristão, nem entre os evangélicos que, me desculpem, são altamente intolerantes. Sei até de pessoas que não conseguiram emprego porque não eram evangélicos e o empregador preferir colocar uma pessoa com menos capacidade só porque era evangélica; Por que só uns poucos, talvez os de espírito mais evoluído, permanecem realmente regenerados? A maioria ostenta um cristianismo de fachada, persistindo com os mesmos sentimentos íntimos de 'homem velho': egoísmo, desamor, intolerância, racismo, ausência de empatia e de fraternidade. Mesmo admitindo que os indivíduos se transformem, que efeitos tem produzido o Evangelho nos grupos sociais que se intitulam cristãos, tanto católicos como protestantes? Acaso o mundo foi transformado, após quase dois mil anos de catequese? Reinam paz e harmonia entre os povos cristãos? Foi implantado nos corações o ideal da solidariedade humana? Ou continuam os homens a digladiar-se, não raro trucidando os adversários em nome do próprio Cristo, como ocorreu nas 'Cruzadas', nos tribunais da 'Santa Inquisição', no massacre dos camponeses alemães (com o apoio do próprio Lutero), na matança dos huguenotes e nas lutas fratricidas dos nossos dias entre os cristãos irlandeses? Observe-se que o próprio Jesus preveniu: 'Pelos frutos os conhecereis'... (Mat 7:16) 

AIRTON - Tudo isso soa como uma meia verdade. As obras, embora necessárias, não salvam, se não acompanhadas na fé no Senhor e Salvador Jesus. É preciso crer que Ele foi o Verbo que desceu do céu e tomou a forma de homem; ressuscitou dos mortos e voltará para arrebatar a sua Igreja e julgar os povos. O espiritismo faz obras, mas não para glória do Senhor Jesus nem em decorrência da fé nEle. Reinará paz e harmonia com o espiritismo? O mundo está conturbado e a culpa não é do cristianismo. É dos homens que não dão ouvidos ao Seu evangelho. 

ROGÉRIO - Espiritismo ensina a fazer o bem por amor ao próximo, algo que nada mais é que uma obrigação, e não esperando recompensas de Jesus, salvação, vida eterna. Isso virá depois, quando realmente merecermos, quando formos perfeitos, mas estamos todos longe disso. 

AIRTON - O cristianismo ensina que não podemos comprar a salvação (doutrina contrária ao ensino do espiritismo) com boas obras. Seríamos deuses e viveríamos independentes da graça de Deus. Fosse assim o movimento espírita chamado Legião da Boa Vontade estaria no rumo certo. Porém, esse movimento ensina que podemos ser amigos de Satanás, amar a Satanás. Veja um trecho do "Poema do irmão Satanás", de Alziro Elias Davi Abraão Zarur, que se considerava a reencarnação de Allan Kardec. : "Amigos meus, oremos por Satã/Amemo-lo de todo o coração/E respondamos sempre com o perdão/Aos males que nos faça, hoje e amanhã/E, um dia, todos nós iremos ver/Satanás redimido, a trabalhar/Por aqueles que veio tresmalhar/Dos rebanhos do Cristo, a reviver/Por mim, com honra, eu amo Satanás/Meu pobre irmão perdido nos infernos/Com este amor dos sentimentos ternos/Pra que ele, também receba paz". Ora, a Bíblia diz que o inferno foi preparado para o diabo e seus anjos. Zarur certamente fará companhia de seu prezado amigo. Como temos visto, cristianismo e espiritismo não ensinam a mesma coisa, como declarou Allan Kardec. A Bíblia ensina que o diabo deseja tragar o homem, e que a melhor maneira de oferecermos resistência a ele é sermos obedientes a Deus (Tg 4.7; 1 Pe 5.8). Jesus disse que o diabo só deseja matar, roubar e destruir (Jo 10.10). A recompensa não virá depois "quando formos perfeitos". O resultado de nossa vida com Cristo ou sem Cristo dar-se-á logo após a morte (Lc 16.19-31, o Rico e Lázaro). Morremos uma vez somente, e após a morte segue-se o juízo (Hb 9.27). Veja: "Se com tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus O RESSUSCITOU DENTRE OS MORTOS, serás salvo" (Rm 10.9). "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11.6).

ROGÉRIO- O samaritano da parábola acreditava na ressurreição de Jesus ? Não, e Jesus o colocou como exemplo a seguir para alcançarmos a VIDA ETERNA, pois aquele samaritano amava seu próximo mais do que o sacerdote, que achava que bastava decorar textos bíblicos. E samaritanos eram tidos como hereges. Por que Jesus colocou um samaritano como exemplo ? Não estava o Cristo lançando solene admoestação ao preconceito? Não estava o Mestre Amigo dizendo que a Justiça do Pai não incide sobre ritos e dogmas, mas sobre relações da humanidade? Afinal, resumiu o Senhor toda a lei e os profetas a quê? Vejamos: "(...) tudo que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles; esta é a lei e os profetas" (Mateus 16:27). Logo, quanto aos critérios do Pai do Céu, no exercício de sua Justiça, nada falou o Mestre a respeito de rótulos ou ritos, apenas de atitudes, de relações de humanidade. 

AIRTON - "Resumiu o Senhor": Jesus é Senhor? Mais adiante explicarei a parábola do samaritano. As obras, isoladamente, ainda que sejam boas, não salvam. Os ditadores, os assassinos, de vez em quando praticam alguma boa obra. 

ROGÉRIO - Se são ditadores, se são assassinos, não tem boas obras e na verdade são hipócritas. Espiritismo ensina reforma íntima do homem e da Humanidade, e não o bem com interesses. Nos chama para o trabalho, pois os espíritos de luz trabalham na obra do Pai, não vivem em ocioso paraíso.

AIRTON - Também se estão contra a Palavra; se consultam médiuns e feiticeiros; se consultam os mortos, da mesma forma não podem produzir boas obras. Para que as obras sejam decorrentes da fé, precisa o homem arrepender-se (Lc 5.32; At 2.38), deixar o pecado (Pv 28.13), aceitar o senhorio de Jesus, crer na Sua morte e ressurreição (Rm 10.9), e permanecer na fé (Jo 15.4). Enfim, somos salvos para as boas obras; não somos salvos pelas boas obras. A exemplo da LBV, muitos estão contra a Palavra, são amigos do diabo, têm negócio com o diabo (iguais aos satanistas declarados) e ensinam que o homem e satanás podem ser amigos. As obras desses garantem-lhes salvação? 

ROGÉRIO - Paulo mesmo, ao dizer que o homem (carne) morre uma vez só, a ressurreição não é material e sim espiritual.

AIRTON - Ressurreição espiritual? O espírito se revestindo de imortalidade? Isso não ocorre nem no conceito da reencarnação, em que o espírito continua o mesmo e muitos corpos são mortos para que haja sucessivos progressos rumo aos "mundos ditosos". Seria o espírito retornando à vida corpórea várias vezes? Então seria re-re-ressurreição. É aquele caso do renascer de novo de novo de que falou Kardec, objeto de futura análise. Ora a Bíblia fala em ressurgir dos mortos. Os espíritos não ressurgem dos mortos.

ROGÉRIO - A nossa última aparência na Terra está no nosso perispírito, conforme eu disse. Claro que também o espírito pode se manifestar com a aparência de uma vida anterior, como o espírito que fora João Batista na última encarnação, surgiu como Elias.

AIRTON - Eis uma declaração vacilante. Não sei se o representante do espiritismo fala em nome de todos os espíritas. Mas tal exceção é uma novidade para mim. A questão 150, do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, assim afirma: Pergunta: "Como constata a alma a sua individualidade, se não tem mais o corpo material? Resposta: Tem ainda um fluído que lhe é próprio, colhido na atmosfera de seu planeta e QUE REPRESENTA A APARÊNCIA DE SUA ÚLTIMA ENCARNAÇÃO: SEU PERISPÍRITO". Logo, o chamado perispírito conserva a aparência do último corpo no qual houve a reencarnação, conforme Kardec. Esse novo argumento não seria para justificar a aparição de Elias (em vez de João Batista, sua última encarnação) na Transfiguração do Senhor Jesus? 

ROGÉRIO - Mas é um símbolo isso [ressurreição de Jesus]. 

AIRTON - Há realmente simbologia na Bíblia, mas Jesus ressurgiu dos mortos e em nenhuma hipótese podemos chamar isso de símbolo. 
ROGÉRIO - Ressurgiu materializado, provando a sobrevivência da alma. 

AIRTON - E a Bíblia diz que de igual modo os mortos em Cristo ressurgirão. É claro que a alma sobrevive porque imortal. 

ROGÉRIO - Morto em Cristo não é simplesmente aquele que morre o idolatrando como Deus. Não basta dizer "Senhor, Senhor", tem que pôr seus ensinos em prática. Quem pratica não vai mais sair da vida espiritual pra reencarnar e a vida espiritual, que é a verdadeira vida, será eterna.

AIRTON - Por esta e outras o espiritismo não pode ser considerado cristão, porque não está afim com as doutrinas básicas do cristianismo. O Senhor Jesus não é idolatrado. Ele é adorado porque Ele é Deus, e Deus deve ser amado e adorado sobre todas as coisas. Assim diz a Palavra. 

ROGÉRIO - Se vcs estão a fim, por favor explique a parábola do bom samaritano.

AIRTON - Claro que estamos afins, afinados, vinculados, acordes com a Palavra. Nessa parábola Jesus nos revela como, na prática, devemos amar o próximo. Primeiro, amar a Deus sobre todas as coisas (aí incluído o Senhor Jesus na qualidade de Deus). Segundo, amar ao próximo como a nós mesmos. O sacerdote e o levita, supostamente tementes a Deus, não colocaram em prática esse amor. Fé e obediência a Cristo, e boas obras, são coisas intrínsecas. Ser cristão, mas ser insensível à dor do necessitado, é não ter a certeza de que tem o Espírito Santo. Todavia, Jesus não afirma nessa parábola que a fé é dispensável. Ainda que não haja tempo suficiente na vida para fazer sequer uma boa obra, a fé no Senhor Jesus, na redenção que há no Seu sangue, poderá nos garantir a salvação, a exemplo do ladrão na cruz. Que boa obra ele fez, mesmo após invocar o nome de Jesus? Nem antes nem depois de clamar misericórdia praticou qualquer boa obra. Mas recebeu ali mesmo na cruz o perdão de seus pecados e a promessa de vida eterna, em razão de sua fé salvífica, a fé no Senhor Jesus. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso"(Lc 23.39-43). Nossa salvação se fundamenta na morte sacrificial de Cristo e no Seu sangue derramado no Calvário, "pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, e são justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus" (Rm 3.23-24). 

AIRTON - O assunto nessa história [a do Rico e Lázaro] não é a ressurreição, mas note-se que o RICO estava desesperado, sem esperança nenhuma de alcançar os "mundos ditosos" do espiritismo.

ROGÉRIO - Explique o "mundos ditosos do Espiritismo".

AIRTON - Pois não. No seu livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. III, item 4, Allan Kardec afirma existir vários mundos, classificados "segundo o estado em que se acham e da destinação que trazem": mundos primitivos; de expiação e provas (a Terra); de regeneração; MUNDOS DITOSOS, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos. Nota: Excluímos os argumentos e refutações sobre a passagem do Rico e Lázaro, porque merece ser discutida à parte. 

AIRTON - Pois é, todas as bíblias dizem da necessidade de CRER, e crer significa colocar confiança pessoal no ato redentor de Cristo Jesus. 

ROGÉRIO - O que é crer em Jesus pra você ? Para nós, é acolher no coração os seus ensinos e passar a viver de acordo com os seus preceitos. E o que foi, realmente, que Ele ensinou? Quais os preceitos que ministrou? Ensinou a amar até mesmo nossos inimigos, a perdoar e esquecer as ofensas, a extirpar do coração o egoísmo e o orgulho, a fazer aos outros o que queremos que eles nos façam, a sempre retribuir o mal com o bem, a socorrer os irmãos em suas necessidades sem visar a qualquer recompensa, a compreender, servir, perdoar indefinidamente... 

AIRTON - Uma meia verdade. É claro que a fé e a obediência devem andar juntas. Jesus disse: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama"(Jo 14.21). Porém, a Bíblia explica que devemos crer na Sua morte e ressurreição (Rm 10.9); que devemos crer que Jesus é o próprio Deus que desceu do céu para consumar Seu plano de salvação (Jo 3.16); que Ele morreu e ressurgiu, e os que morreram nessa fé também ressurgirão (1 Ts 4.14). [Nota: Precisamos crer como creu Tomé, que declarou: "Senhor meu e Deus meu" (Jo 20.28). Estes sinais miraculosos "foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20.31)]. Do contrário, como quer o espiritismo, não precisaria Deus assumir a forma humana e morrer numa cruz. Bastaria mandar um recado por algum profeta, para que andássemos em boas obras. Estaríamos salvos por nossos próprios esforços, independentemente do sangue derramado na cruz. O espiritismo cristão pode pensar assim. O cristianismo, não. É por essas e outras que o termo Espiritismo Cristão é inadequado. 
ROGÉRIO - Tanto "crer" significa praticar seus ensinos, que assim está descrito o julgamento na Bíblia: 

31 Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; 32 e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; 33 e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. 34 Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; 35 porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; 36 estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me. 37 Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? 38 Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? 39 Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te? 40 E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes. 41 Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos; 42 porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; 43 era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes. 44 Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? 45 Ao que lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim. 46 E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna. Está também escrito que cada um receberá segundo suas obras.

AIRTON - Esse ensino (Mateus 25.31-46) assemelha-se ao do samaritano, cujas considerações já expusemos acima. Referida palavra, isoladamente, não estabelece, não equaciona a doutrina da salvação. Bom lembrar que a Bíblia não se divide numa parte mentirosa e outra verdadeira. Ela constitui um todo indivisível. Analisando bem, o texto em pauta, muito apreciado pelos espíritas, depõe em alguns aspectos contra a crença espírita. Vejamos. No verso 31 temos: "Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória". Ora, vemos aí duas declarações contrárias ao ensino kardecista: a) a volta do Senhor Jesus para fazer justiça; b) a declaração de Sua divindade. O espiritismo nega a divindade de Jesus, e nada ensina sobre o Juízo Final, único, de uma só vez. Por que um Bom Espírito, uma Segunda Revelação de Deus, ultrapassada, vencida, substituída pelo espiritismo - tudo conforme o pensamento esdrúxulo de Kardec - voltaria à Terra em glória, para julgar? A Palavra diz que todo joelho se dobrará diante de Jesus. Então, o que faz a diferença entre os bons espíritos, que já se aperfeiçoaram, e esse Bom Espírito chamado Jesus, que também passou por encarnações, como admite o espiritismo? Por qual razão no verso 34 Jesus é chamado de Rei? No verso 41 Jesus declara que o fogo eterno foi preparado para o diabo e seus anjos. Ora, para o espiritismo não existe fogo eterno, nem diabo. Agora existem? As sucessivas reencarnações purificam os desencarnados. Esse é o caminho da perfeição, conforme pensam os espíritas. E como pode admitir o espiritismo que o Rei voltará para julgar todo mundo de uma só vez e mandar uma boa parte para o fogo eterno? Dificuldades à vista. 

AIRTON - Ofereceu-se significa que Ele morreu na cruz, morreu de morte morrida (desculpem-me pela redundância). Não entendi nesse ponto a refutação.

ROGÉRIO - Ofereceu-se, significa que ele se sacrificou por nós. Evidentemente, foi uma vez só.

AIRTON - Foi o que afirmei. Seu sacrifício POR NÓS foi único. Corretíssimo. Sua morte na qualidade de homem foi única. Mas faltou mais alguma coisa: morreu por nós, "para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). 

ROGÉRIO - Mas você colocou isso como prova de que só se vive uma vez. Jesus viveu muitas vezes (na Terra, uma vez só), mas o sacrifício ocorreu uma só vez. Nós, espíritas, entendemos que Jesus veio ao mundo para ensinar aos homens a lição do amor (João 13:34) e que a sua morte, predita por vários profetas, resultou da inadequação da Humanidade para assimilar suas extraordinárias mensagens.

AIRTON - Quem diz que morremos apenas uma vez é a Bíblia (Hb 9.27). Quanto a Jesus haver vivido muitas vidas, como diz, é crença espírita. Não faz parte do ensino do cristianismo. Daí porque Kardec faltou com a verdade quando disse que cristianismo e espiritismo ensinam a mesma coisa. "Sua morte resultou na inadequação da Humanidade para assimilar suas mensagens"? Difícil de entender. Ora, foi dito acima que ele morreu por nós! E a Bíblia diz que a Sua morte e ressurreição fizeram e faz parte do plano divino para redenção nossa. Ele veio, sofreu, morreu e ressuscitou para que todo aquele que nEle crê, bem como na Sua morte e ressurreição, seja salvo, a exemplo do ladrão na cruz, já mencionado. (Jo 3.16). Mais: Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5.8).

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