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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

XVII - CARÁTER MISSIOLÓGICO DA ESPERANÇA CRISTÃ

Parte XVII
CARÁTER MISSIOLÓGICO DA ESPERANÇA CRISTÃ
INTRODUÇÃO



Esta monografia tem como objetivo mostrar que a esperança cristã é o fator motivador para a prática missiológica da igreja. Assim sendo, o nosso estudo estará baseado no termo "esperança " que expressa a expectativa ou o ato de esperar, dando-nos a idéia de um objeto ou algo esperado. Embora sabemos que o objeto ou o produto desta expectativa é Cristo, esse estudo descreverá os momentos de profunda experiência de Deus com o seu povo, de tal forma que levou pessoas à formulação de uma compreensão eficaz ao cumprimento da missão da igreja a partir de Cristo.



Esta compreensão toma forma no Antigo Testamento, onde a esperança era vista como o ato de esperar, ansiar, aguardar. Todos esses verbos dão a conotação de que a esperança do povo de Israel estava baseada em Javé e estava intimamente ligada com o ato de confiar. Assim, no AT, o povo mantinha a expectativa a partir da relação de espera e confiança. Javé era, portanto, o motivo da esperança para o povo que nele confiava. Já no Novo Testamento, a situação que no AT se descreve como esperança, agora é caracterizada como sendo o já de Deus para o povo com a presença do Deus encarnado. Aquilo que antes era futuro, agora se torna presente com a revelação de Cristo, mudando o caráter da esperança em si. Por causa da presença de Cristo, a esperança no NT é reformulada em relação ao seu conteúdo. A esperança adquire um sentido duplo diante do Deus presente: ao agora é preciso acrescentar o ainda não, acrescentando também a esperança no Cristo e o esperar por ele.

Assim, estaremos trabalhando a fundamentação bíblico-teológica da esperança cristã, a metodologia missiológica da esperança cristã e a esperança cristã como articuladora de uma missão contextualizada, entendendo sempre que o caráter missiológico da esperança deve ser visto e analisado a partir do Cristo crucificado, e vai em direção às promessas da ação de Deus no "já" e no "ainda não", não importando a nossa situação, mas tendo consciência de que a nossa fé está baseada em Cristo, na sua obra e exemplo, bem como no seu esperado retorno.

I - FUNDAMENTAÇÃO BIBLICO-TEOLÓGICA DA ESPERANÇA CRISTÃ

Neste primeiro capítulo, estaremos aprofundando o estudo da Esperança Cristã a partir da fundamentação bíblico-teológica. Focalizaremos algumas passagens bíblicas pertinentes ao tema, acreditando que as narrativas bíblicas exemplificam a análise da tradição bíblica e a prática reflexiva como teologia.

1.1 Em o Antigo Testamento:


1.1.1 A missão dos patriarcas é baseada na esperança da promessa e das bênçãos As passagens vétero-testamentárias da esperança judaica tornar-se-ão modelo cristão a partir dos temas bênção e promessa.







Em Gênesis 1: 28, Deus abençoa a Adão e Eva com a missão de que eles frutificassem e multiplicassem sobre a terra. Além desta missão, havia a promessa da bênção de domínio sobre a criação. Assim, o que impulsionava Adão a cumprir a sua missão era o fato de que a dádiva e a bênção por parte de Deus são fatores motivadores para o cumprimento de sua missão. Em Adão, Deus mostra que a sua bênção é determinada pelo cumprimento da missão que ele outorga aos homens, entendendo que a missão de Adão era clara e definida e que ele esperava a manifestação da bênção e da promessa. Em Gênesis 9: 8-17, vemos a ação de Deus chamando Noé para a missão de preservar a raça humana a partir da promessa de que Ele não mais a destruiria. O cumprimento desta missão teve como fator básico a bênção para toda a raça humana.

A partir de Gênesis 12, temos o chamado de Deus para Abraão e a confirmação de que nele seriam benditas todas as famílias da terra. Abraão responde ao chamado com fé nas promessas e nas bênçãos. A fé lhe foi exigida, porque em sua missão encontrou, por várias vezes as dificuldades que foram vencidas pela fé em Deus, que deu origem à sua missão. Essa fé iniciou-se com Abraão que na história da sua vida viu a missão que Deus tinha para ele cumprir, mas que apontava para um fim maior que haveria de realizar-se. Moltmann nos dá um perfil interessante no que diz respeito ao espaço do crer na realização do prometido:

Se uma palavra é palavra de promessa, isto significa que ela ainda não encontrou sua correspondência na realidade, mas está em contradição com a realidade presente e experimentável... a palavra da promessa sempre cria um tempo intermediário, carregado de tensão que se estende entre o evento e a realização da promessa.







Assim, Deus chama Abraão com o objetivo de alcançar todas as outras nações da terra. O propósito de Deus em Abraão era mostrar ao mundo o caminho da salvação e fazer com que todos pudessem gozar das promessas e das bênçãos feitas a ele. Assim sendo, Deus usa Abraão para um propósito maior - alcançar as nações. Com o nascimento de Isaque (Gênesis 21), Deus mostra a Abraão a sua fidelidade e responde de forma concreta a todas as promessas feitas a ele, pois é em Isaque que Deus vai dar continuidade para às suas promessas de abençoar a todos os povos.

Essa bênção se torna presente em Jacó (Gênesis 32: 22-32), pois Deus começa a lançar os fundamentos para o povo que seriam instrumentos para refletir a sua glória entre as nações, o povo de Israel. Em José, nós podemos ver como a fidelidade de Deus atua, mesmo que de modo estranho ao levar José para o Egito como escravo e abençoando-o, a ponto de promovê-lo aos mais altos escalões da corte, para preservar seu povo e também para abençoar os egípcios e os povos vizinhos naquele tempo de calamidades.

A partir de Êxodo 12, encontramos Moisés que se destaca como uma figura bastante significante para o contexto de missão no Antigo Testamento. Ele é enviado para a missão de resgatar o povo de Israel e fazer dele um canal de bênção para as nações. Isso acontece a partir da libertação do povo que estava cativo, oprimido e sob o domínio de faraó. Vale ressaltar também que Deus usa Moisés, não apenas para libertar o povo, mas para ser o condutor do povo na formação da nação, na elaboração do seu culto e das suas leis, enfim, na expressão da sua fé.







Assim no êxodo, Deus cumpre sua promessa, libertando seu povo da escravidão e do cativeiro. Em Moisés, Deus mostra que o êxodo é a base para a tipologia cristã que antecipa a obra redentora de Cristo. Assim, a ação salvífica de Deus no passado se tornou a base da esperança e da confiança que a salvação poderia ser conhecida como uma experiência na história humana, e não somente um evento além da história atual.  Considerando a promessa e a bênção como elementos de uma esperança judaica primitiva, a cristandade tomou-as como precursoras de uma teologia bíblica desenvolvida na cultura helênica, romana e gentílica do século I. É certo que a Igreja Primitiva levou em consideração o aspecto da esperança cristã inaugurada em Cristo como também o cumprimento da promessa e da bênção.

1.1.2 A missão dos profetas é baseada na esperança do reino messiânico
Considerando o movimento profético como um fenômeno da urgência crítica do período monárquico da nação de Israel, entendo que há elementos suficientes para uma análise quanto ao aspecto da esperança que alcançou momentos históricos decisivos para o povo. Quero referir-me a alguns profetas que, inspirados pelo Espírito de Deus (Isaías 61:1-2; Miquéias 3:8), refletiam a crise social, econômica e política com fortes argumentos teológicos. Essas explanações, todavia, começaram a ser imitadas por um número muito significativo de profetas tanto palacianos (Deutero-Isaías) como campesinos (Amós), pois o perfil profético desses anunciadores traziam em suas mensagens a voz de lahweh, inaugurando um novo período: o reino messiânico.




Falar sobre o reino messiânico no período dos profetas é detectar cuidadosamente as estruturas escatológicas que o tema da esperança judaica proporcionou ao povo Por exemplo, a crise econômica do reinado de Judá prejudicou sensivelmente os camponeses por causa dos altos impostos que indicaram para os profetas menores, o anúncio de uma conversão da injustiça social para uma vida digna e respeitada. Os profetas desse período caracterizavam a esperança a partir de uma reconversão do reinado monárquico, ou seja, o rei, os súditos, os profetas, os sacerdotes, o exército e até mesmo o povo seriam alcançados pelo reino do Messias, pois a injustiça social seria aniquilada.

O que significaria então essa esperança no reino messiânico? Certamente, os profetas traziam um anúncio voltado para uma figura política, sacerdotal, profética e humana, pois o Messias seria o representante justo de Deus entre o povo. É nesse contexto simbólico-figurativo que o Messias deixa de ser imagem e memória, ideal e ficção e, fenomenologicamente falando, torna-se a esperança de realização num homem que satisfaria os ideais divinos de justiça. Afinal, era ao rei que cabia a função de administrar o mishphat e o tsadíq (justiça e direito). Sendo assim, os profetas anunciam um reino messiânico como uma repulsa ao reinado dos reis que não exerciam cabalmente a função digna e justa. Embora o ritual da unção do rei fosse uma indicação de que o mesmo fôra escolhido por Deus, os profetas anunciam um rei que é o próprio Deus: o Renovo Inaugura-se um novo momento na história de Israel: a esperança de que o reino messiânico seja efetivamente inaugurado.




A esperança judaica do reino messiânico é descrita por vários pesquisadores como manifestações históricas: quando Davi começa a construção do templo, Natã o adverte do seu pecado de adultério como sendo a decadência do seu reinado. A história dos cronistas narra episódios de uma estrutura familiar real totalmente desvinculada do contexto da justiça divina. Certamente, o reinado davídico não é o messiânico, pois a injustiça dentro do próprio palácio é praticada por aquele que era tido como o escolhido de Iahweh. Já, no reinado de Salomão, a injustiça é mais acentuada: o sistema tributário para manutenção do templo, palácio e oligarquias tribais (sistema de prefeituras), denominado corvéia, opunha-se totalmente ao projeto já outrora declarado por lahweh (comp. 1 Reis 2:1-4). A partir de Salomão, a monarquia sofre divisões, más estruturações, principalmente no aparato litúrgico, religioso e cerimonial. Doravante, a nação de Israel e Judá vão ser dominadas e o povo vai sentir-se desesperançado. A resposta histórica da esperança messiânica somente é descrita pelos profetas que presenciaram o retorno do cativeiro babilônico comandado pelo rei persa Ciro. Este momento histórico é considerado messiânico porque a nação passa por uma renovação étnica, os valores da tradição javista, eloista, sacerdotal e deuteronomista voltam a ser lembrados e os novos líderes são escolhidos a partir do contexto da justiça e do direito margeados pela experiência e vivência do cativeiro. 




Concluindo, o período profético dentro da história de Israel é caracterizado como um anúncio da esperança judaica de um reino messiânico. Esse reino, todavia seria comandado por lahweh, visto que administraria o direito e a justiça ao povo.

1.2 Em o Novo Testamento
1.2.1 A missão de Jesus é cumprir a esperança da salvação
Dentro da teologia bíblica desde Gênesis, Deus já incluíra em seu projeto de criação do universo o resgate do homem dominado pelo pecado (Gn 3:1-15). Essa missão em resgatar a humanidade, por iniciativa divina, concluiu-se em Jesus. Sua missão foi a de cumprir o resgate da humanidade, doando-se gratuitamente e cumprindo satisfatoriamente a vontade de Deus-Pai. Esse cumprimento da missão deve ser entendido escatologicamente dentro do contexto da soteriologia, pois Jesus é quem inicia e Cristo é quem concretiza a esperança soteriológica. Não são duas pessoas, mas sim duas características essenciais da função divina que representa a esperança e a salvação. Cristo é a consumação de uma missão permeada pela esperança que a criatura tinha de ser resgatada pelo seu Criador.

Dentro do plano bíblico de salvação, Cristo é o enviado de Deus para cumprir a esperança soteriológica da vontade divina. Sendo assim, Ele se torna a Missio-Dei de uma esperança divina compartilhada com a humanidade. Jesus cumpre essa missão porque é Deus que salva.







1.2.2 A missão de Jesus é inaugurar a esperança do Reino de Deus
O aspecto escatológico da missão de Jesus é o de inaugurar a temática do reino de Deus como uma nova esperança: a da prática da justiça. O Reino de Deus é inaugurado por Cristo porque concentra em si a esperança da humanidade. Ele cumpre os aspectos do reino messiânico já anunciado pelos profetas vétero-testamentários. A missão de Jesus ao inaugurar o Reino de Deus, coloca-se em duas situações de concretização: a primeira é o de fundamentar o conteúdo do Reino de Deus, e a segunda é o de identificar os efetivadores desse reino: o novo homem em Cristo. Portanto, a missão de Jesus traz juntamente consigo elementos visíveis da esperança no anúncio do Reino de Deus, ou seja, os sinais visíveis do Reino de Deus. O primeiro sinal do reino é a presença de Jesus no meio do seu povo. Essa presença traz como resultado final a alegria, paz e celebração (Lc 17:21; Mt 18:20). O segundo sinal do reino de Deus é a pregação do evangelho, ou seja, o Kerigma. Pois não havia até então evangelho para ser pregado. Assim, a vinda de Cristo inaugura o tempo da proclamação. Um tempo de anúncio das boas novas a todos, especialmente aos pobres (Lc 4:18 - 19; 7:22). O terceiro sinal do reino foi o exorcismo. A idéia aqui apresentada é a de que a possessão demoníaca é real e terrível, sendo que a libertação só é possível através de um encontro de poderes no qual o nome de Jesus prevalece. O quarto sinal do reino foram as curas e os milagres realizados por Jesus, dando visão aos cegos, curando enfermos, dando audição aos surdos, fazendo coxos andar, ressurgindo mortos, acalmando tempestades, multiplicando pão e peixes, tudo isso não só apontando para a realidade da chegada do reino, mas eram prenúncios do reino final, em que os problemas vividos pelos homens seriam banidos para sempre. O quinto sinal do reino é o milagre da conversão e do novo nascimento. O encontro com Deus e com o poder salvador do evangelho, faz do homem nova criatura (II Cor 5:17). Um sexto sinal é o povo do reino1 em quem se manifesta o que o apóstolo Paulo denomina de "fruto do Espínto" (GI 5:22-23). Assim sendo1 fica claro que o reino de Deus é governado por paz, amor, alegria, bondade, longanimidade, benignidade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. O sétimo sinal do reino é o sofrimento. No exemplo de Cristo nós temos o paradigma para a nossa atuação como efetivadores deste reino. Foi necessário que ele sofresse a fim de entrar na sua glória. Cristo sofreu por nós, deixando o exemplo maior para que pudéssemos mostrar um sinal concreto para todos de que recebemos a salvação de Deus, ou seja, do seu reino. Concluindo, fica bastante claro que todos esses sinais apontam para uma esperança inaugurada em Cristo.

1.2.3 A missão de Jesus é criar expectativas de vida
Após vermos que a missão de Jesus era inaugurar a esperança do reino de Deus, vamos agora ver a conotação que essa missão vai assumir em relação à criação de expectativas de vida. Vale ressaltar, que o significado da esperança dos contemporâneos de Jesus está intimamente ligada na pluralidade do conceito vétero-testamentário visto anteriormente. O que caracterizava essa época era a expectativa messiânica. A idéia aqui apresentada é de um libertador da nação. Já na pluralidade da época de Jesus, encontramos quatro tipos de expectativas: a primeira, chamada de apocalíptica, entendia que o presente estava entregue a poderes malignos e fadado a desaparecer. Haveria todo tipo de desgraça como terremotos, fome, fogo, guerras e depois surgiria um novo tempo, repleto de paz e justiça num mundo eterno onde a morte e todas as configurações malignas estariam vencidas. A Segunda, chamada de rabínico-farisáica, adotou elementos da apocalíptica e desenvolveu um tipo de escatologia semelhante, que unia as diversas esperanças a respeito dos tempos finais. Há, evidência do caráter político-nacionalista de esperada manifestação do reino de Deus. O povo, privado de força política, vivia esta expectativa no legalismo. Desta forma, constatamos




O Reino de Deus será erigido quando ele libertar Israel da escravidão, sob os povos do mundo, por meio de poderosos sinais, históricos o cósmicos, e obrigar os povos a reconhecê-lo como Senhor. Já o terceiro grupo tinha também sentimentos apocalípticos e era formado pelos essênios. Consideravam-se o único Israel verdadeiro. Para esse grupo a espera do Messias davídico foi relacionada a pessoa do Messias de Israel, visão essa extraída do Antigo Testamento. O quarto e último grupo é o mais radical. São os Zelotas, que não se contentavam em esperar calmamente a vinda do Messias, mas desejava sua vinda através da luta armada. Eram profundamente nacionalista e traduziam sua expectativa em uma prática guerreira de libertação, com o objetivo de forçar a realização do reino por meio da força. É nesse contexto de espera que aparece a pessoa de Jesus, o Messias. A expectativa do Antigo Testamento de lahweh iria intervir na história. O Verbo se faz carne (Jo 1:14); Deus tornou-se homem, o Todo-Poderoso apareceu na terra e veio ao encontro do homem. Em Jesus, o dia mundial da salvação chegou como o grande dia de Deus. Aquilo que era futuro, tornou-se presente nele uma realidade já presente entre os homens (Lc 10:23; 11:20; 17:20)




Portanto, em Jesus, a expectativa de vida se faz presente. Jesus assume a missão de gerar vida, colocando a esperança sob uma nova perspectiva. Em Jesus, a esperança se torna uma realidade concreta, gerando uma expectativa nova para as pessoas. Essa nova expectativa gera também um novo tempo: um tempo de paz, de amor, de justiça e saúde. Gera um tempo de celebração, um tempo de festa, algo que só a missão de Jesus faz tornar realidade. Essa missão, portanto, traz uma nova expectativa, pois ele cumpre aqui e agora e aponta suas ações e palavras como sendo um acontecimento salvífico do fim dos tempos.




1.3 Na Teologia Paulina
1.3.1 A ressurreição escato-cosmológica de Jesus enquanto paradigma missiológico O apóstolo Paulo coloca na base angular de nossa esperança o evento pascal e pós pascal e a união com ele (1 Tess. 4:14). A ressurreição de Jesus, e em conseqüência, a dos fiéis são ações salvíficas de Deus (1 Cor 15: 22 5) A pregação da ressurreição era uma esperança viva. Ela elimina todas as dúvidas acerca da autenticidade da reivindicação de Jesus, além disso, se a ressurreição de Cristo não fosse um fato, a experiência na estrada de Damasco não teria passado de um sonho apenas e nada convenceria Paulo disso. Ele sabia que Cristo havia ressuscitado. Esse era portanto o fator determinante para a ação missiológica de Paulo: O Cristo ressurreto! Para o apóstolo tudo o que se refere a Jesus Cristo é portanto, objeto de esperança e de ação missiológica, especialmente a sua ressurreição. Desta forma, o pensamento escatológico de Paulo une sempre o evento da ressurreição de Jesus no contexto da expectativa escatológica, em relação aquilo que há vir e a espera do futuro é sempre baseada no evento Cristo.

1.3.2 A missão de Paulo na confecção escatológica da esperança cristã



O apóstolo Paulo teve um papel muito salutar na confecção do conceito escatológico da esperança cristã. Afinal, não fôra fácil para ele conscientizar os cristãos acerca dessa realidade, pois a influência judaica (acerca do messianismo) e a grega (a respeito da utopia filosófica) são religiões ou sistemas já muito bem estruturados e de difícil acesso. Dessa forma, pode-se afirmar que a missão de Paulo foi a de compor a metodologia teológica necessária para se conceber a esperança cristã. Para o apóstolo, a fé é o critério para se compreender a esperança (Romanos 1:16-17). Ela é o sujeito, pois o objeto da esperança é, normalmente, escatológico: a glória de Deus, a esperança reservada nos céus (CI 1:5), a graça que será concedida na revelação (escatológica) de Jesus Cristo. Era preciso que o apóstolo desse aos cristãos a segurança necessária aos obstáculos enfrentados: o sofrimento, a desesperança, a injustiça, a opressão, às doenças etc. O amor também ocupa uma saliência na tríade paulina (1 Coríntios 13:13, pois fé, esperança e amor são dons a serem exercitados), veiculado pela expectativa da comunhão em Cristo pelo Espírito. Sendo assim, essa construção do amor entre fé e esperança ajuda a concepção paulina para estabelecer conceitos, diretrizes e medidas pastorais a favor das comunidades primitivas.




A variedade das experiências, pelas quais Paulo orientou as comunidades a suportarem, resultou como elementos didáticos da preocupação apostólica em redescobrir novos horizontes para a fé cristã. Esses horizontes foram vistos nos personagens bíblicos (Rm 4:18), naquilo que não vimos ou sentimos (Rm 8:24; Hb 3:6), na glória de Deus (Rm 5:2); na libertação do pecado (Rm ~:20), na salvação do justo (Rm 8:24), na alegria dos justificados (Rm 12:12), na libertação do perigo (2 Cor 2:10) etc. Enfim, várias passagens que estruturam o pensamento de Paulo, além, é claro, de conciliar a missão, a glorificação de Deus e a unidade do Corpo.

1.3.3 Temas e Figuras paulinas para a missão da esperança 
A esperança tem uma missão: tornar eficiente a fé cristã e proporcionar expectativas àqueles que são alcançados por ela. Para isso, o apóstolo Paulo desenvolveu temas e figuras que exemplificam a sua eficácia. Queremos, então, esboçar os temas e as figuras.

FIGURAS: Tempo (kairós) 
TEMAS: Juízo e misericórdia pela ação
de Deus na História 

FIGURAS: Épocas (kronos) 
TEMAS: Rememorações dos feitos de Deus 

FIGURAS: Reino (basiléia) 
TEMAS: Paradigma de restauração e manifestação da graça de Deus




FIGURAS: Israel 
TEMAS: Referencial da tipologia Povo de Deus
com um ministério definido 

FIGURAS: Alturas/Nuvens 
TEMAS: Dimensão escatológica da soberania de
Deus/referencial para a glorificação divina 

FIGURAS: Espírito Santo/poder/autoridade 
TEMAS: Poder de Deus/essência à qualidade
dos cristãos na evangelização 


FIGURAS: Testemunhas
TEMAS: Proclamação/Serviço/referencial para o sofrimento cristão 

FIGURAS: Confins da Terra 
TEMAS: Dimensão Extra territorial da pregação







FIGURAS: Visão/discernimento 
TEMAS: Testemunho da experiência cristã,
p. exemplo a ressurreição de Cristo 

FIGURAS: Palavra 
TEMAS: Conforto/Consolo 

FIGURAS: Glória 
TEMAS: riação de uma expectativa extra- temporal;
dimensão escatológica da promessa e
bênção inauguradas pela esperança cristã 

FIGURAS: Parousia de Cristo 
TEMAS: Expectativa da redenção final da criação/
consumação do projeto de Deus 

FIGURAS: Céu 
TEMAS: Referencial de oposição ao
baixos domínios territoriais 

Percebe-se que os temas encontrados nas figuras paulinas não são uma limitação do significado que ela encerra, mas uma tentativa de explicar e exemplificar o propósito da experiência cristã. Sendo assim podemos afirmar que essas figuras tinham uma missão: concretizar na mente dos cristãos que a realidade da esperança era a catalisadora dos sofrimentos, das desesperanças, das injustiças, das estruturas opressoras e desumanas. Em cada uma delas, o contexto neo-testamentário é provedor de um ação realizadora da missão da esperança.

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