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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

NATUREZA E MÉTODO DA CRISTOLOGIA

Abriu-se este assunto no livro Dogmática Cristã, primeiramente explicando que Cristologia é a reflexão da Igreja sobre a asserção básica de que Jesus é o Cristo de Deus. Porém, como chegou-se a esta conclusão? Para responder a esta pergunta, o autor do livro aqui mencionado, parte da grande pergunta: “o que é cristologia?” Ou melhor: o que realmente significa cristologia?

Iniciando o circuito da resposta, nos é dito que cristologia é a interpretação de Jesus de Nazaré como o Cristo de Deus a partir do ponto de vista da fé da Igreja cristã. “Cristo” é um título, e não o segundo nome de Jesus. O título exprime a identidade de Jesus de Nazaré, de acordo com o testemunho apostólico e a tradição católica. 

A experiência de fé em Jesus como o Cristo vivo significa que a cristologia é mais do que reflexão crítica sobre quem era Jesus em sua experiência terrena. Foge dos domínios da ciência. Jesus Cristo pode ser o objeto da fé porque não é meramente Jesus de Nazaré, uma figura histórica que viveu e morreu certa vez, mas também o Cristo ressurreto e vivo que está presentemente corporificado na comunidade dos crentes. Além de ser Ele o filho de José, é primordialmente o Filho de Deus.
Sem a confissão de fé em Jesus como o Cristo, a cristologia poderia ser reduzida a jesulogia. Assim como existem os kardecistas, os budistas, os confucionitas, os marcionitas, etc. E além de tudo, fé não é um mero desempenho humano, uma obra do intelecto, da vontade ou das emoções. Ninguém pode chamar Jesus de o Cristo puramente como resultado de pesquisa científica histórica. Desta forma, o autor do livro conclui que uma comissão de historiadores cientificamente treinados, formada para encontrar fatos, não poderia provar que Jesus é o Cristo.

A afirmação da comtemporaneidade de Cristo significa que o Espírito Santo atualiza a presença de Cristo através da fé, o lado recebedor de um relacionamento pessoal real. O Espírito Santo é o poder para juntar agora a fé pessoal e Jesus que é o Cristo vivo. É o Espírito que tira o Jesus histórico da distância da história passada e o situa, como o Cristo vivo, no contexto existencial do momento presente. Contudo, o Espírito Santo não atua de maneira direta, não mediada. O Espírito é ouvido em, com e sob a pregação da Igreja. Não se põe o Espírito Santo de Deus diante de um microscópio, ou numa mesa de pedra fria para dissecá-lo, ou ainda diante de uma banca de teólogos, para que seja pesquisado e catalogada a sua estrutura. Deus não se deixa escarnecer.

O retrato de Jesus, o Cristo, que anima a pregação da igreja não é moldado por tais construções arbitrárias da imaginação, mas pelos credos e confissões cristológicos da igreja. E isto, porque o dogma cristológico aponta para além da igreja, assegurando que seu Senhor é o Cristo vivo corporificado em Jesus de Nazaré, e não um mito a-histórico, um princípio metafísico, uma personalidade religiosa ou um virtuoso moral.
O retrato autêntico do Cristo vivo é dado na Bíblia; tudo o mais é, na melhor das hipóteses, alguma espécie de reprodução. Assim, a igreja sempre terá necessidade de testar suas interpretações cristológicas referindo-se ao retrato bíblico de Jesus, o Cristo. Este retrato, porém, é como um único instantâneo. É, antes, como uma montagem de retratos esboçados por diversos artistas, de vários ângulos e em épocas e lugares diferentes. Não se muda o quadro pintado por um grande artista, pois este já deu seu último retoque e o assinou.

O texto o qual aqui está sendo apontado, comenta ainda no assunto cristológico, sobre história, dogmática e fé. Ele afirma que o historiador, o especialista em dogmática e o crente têm suas maneiras próprias de abordar o Jesus Histórico. E assim, ao que parece, nos é mostrado que os três, unidos, podem ser de grande validade para a busca de um melhor conhecimento sobre a pessoa de Jesus Cristo. Como nota explicativa, o autor diz que, com “Jesus histórico”, ele designa Jesus de Nazaré na medida em que pode ser feito objeto de pesquisa histórico-crítica. Mas, logo ele nos lembra que a fé em Jesus como o Cristo não se baseia nos resultados de tal pesquisa. O Jesus histórico não pode produzir a fé, mas a fé, ao meu ver, pode ajudar na pesquisa histórica de Jesus. É tarefa da dogmática servir de “advogado de defesa” para os crentes frente à heterônoma reivindicação da ciência no sentido de fornecer os conteúdos ou legitimar o fundamento da fé.

No livro, o autor nos aconselha que é importante guardar uma distinção entre dogmática e fé. O que é relevante para as construções construtivas do teólogo não é necessariamente essencial para a existência ou mesmo para o bem estar da fé. A fé pode existir muito bem sem estar a par da mais recente pesquisa, ao passo que a dogmática não pode ignorar o contínuo processo e os resultados da pesquisa histórico-crítica. A fé vive do testemunho a respeito de Cristo na pregação da igreja e na mensagem das Escrituras. A dogmática é uma reflexão crítica que continua na igreja em prol de uma compreensão mais madura da fé, de seus fundamentos e conteúdos.
Um dos pontos em debate na teologia contemporânea diz respeito ao ponto de partida correto da cristologia. Tradicionalmente, a cristologia era feita “a partir de cima”. a cristologia procedia de maneira dedutiva, movendo-se da divindade eterna de Cristo lá em cima para sua natureza humana cá em embaixo.
Quando o dogma cristológico foi posto na defensiva por seus críticos modernos, fez-se a tentativa de salvar seu significado mediante uma concentração no Cristo querigmático. Esta é uma maneira contemporânea de fazer cristologia a partir de cima. contudo, não podemos dar-nos por satisfeitos em assumir o Cristo querigmático como ponto de partida da construção dogmática.

Existe hoje em dia entre os teólogos um virtual consenso de que a cristologia deve partir de baixo. Neste ponto reside o mais profundo significado da nova busca do Jesus histórico. Mas, como sancionado em Dogmática Cristã, nem o dogma nem o querigma são, de si mesmos, suficientes para fornecer a base e o conteúdo da fé. Diz-se que há boas razões para exigir que a cristologia comece de baixo! Fato este devido a que a cristologia se baseia no Cristo testemunhado pela fé apostólica, e esse Cristo não é outro senão Jesus de Nazaré.

Porém, o perigo de começar a cristologia de baixo é que ela pode terminar numa “cristologia baixa” sem utilidade para a fé cristã. “Cristologia baixa”, segundo o autor, é definida como uma interpretação de Jesus que o trata como mero ser humano. Ela converte a clássica categoria cristológica do “verdadeiramente humano” (vere homo) no “meramente humano”. Se assim for, como então poderemos fazer uma cristologia confiável? Como conseguiremos usufruir de um conhecimento sobre Cristo que nos ajude na fé e no conhecimento, sem o temor de estarmos criando um cristo de laboratório?
Uma boa resposta, dada pelo livro Dogmática Cristã é que a reflexão cristológica é um processo hermenêutico em que os movimentos “a partir de cima” e “a partir de baixo” não são mutuamente excludentes, e sim dialeticamente relacionados numa compreensão abrangente da identidade e do significado da pessoa de Jesus, o Cristo. Esse processo de interpretação pode ser chamado de “círculo” ou “arco” hermenêutico.
Importante também é saber que, segundo o autor do livro, o pesquisador do N.T. precisa achar nos ensinamentos de Jesus todas as sementes do desenvolvimento cristológico posterior. Não atingir esse objetivo significaria que a cristologia perde suas origens no Jesus real da história.

Nesta busca sobre as sementes do desenvolvimento cristológico, encontra-se alguns grupos distintos de pesquisadores. Primeiro: alguns eruditos localizam a raiz da cristologia na automanifestação do próprio Jesus. Segundo: outro grupo de eruditos localiza o dado central da cristologia no acontecimento histórico da ressurreição de Jesus. Em terceiro lugar, há os que não fundamentam a fé cristológica nem no Jesus terreno nem em sua ressurreição, mas tão somente no querigma da igreja primitiva.
Para a dogmática, não há necessidade de jogar uma dessas linhas de interpretação contra as outras. O Jesus histórico, o Cristo querigmático e o dogma cristológico – estes três constituem a matéria da qual a cristologia é feita.
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