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sábado, 16 de janeiro de 2010

ECUMENISMO E O SANGUE DOS MÁRTIRES - IV

Parte VI

ECUMENISMO E O SANGUE DOS MÁRTIRES - IV

"DOMINUS IESUS"


 Vejamos fragmentos dessa Declaração assinada pelo Cardeal Joseph Ratzinger, e referendada pelo Papa João Paulo II em 6.08.2000, que causou surpresa e consternação a muitos. Abaixo dos tópicos fazemos alguns comentários. Os grifos são nossos: 

“A Igreja Católica não rejeita absolutamente nada daquilo que há de verdadeiro e santo nessas religiões. Considera com sincero respeito esses modos de agir e de viver, esses preceitos e doutrinas que, embora em muitos pontos estejam em discordância com aquilo que ela afirma e ensina, muitas vezes reflectem um raio daquela Verdade que ilumina todos os homens». 

Um modo elegante de introduzir o assunto, porém anunciando uma inverdade. Como veremos a seguir, o Vaticano exclui a possibilidade de existir alguma coisa santa e verdadeira nas outras religiões. Mais de uma vez o Documento fala desse raio de Verdade, provinda da Igreja Católica, que alcança as demais religiões. Para melhor compreensão, a Igreja de Roma se assemelha à Lua, que recebe luz (a Verdade) diretamente do Sol (Jesus) e a repassa à Terra (demais religiões). Ora, a Verdade não vem a nós via Igreja Católica. Recebemo-la diretamente do nosso Salvador, fonte de Luz e de Vida Eterna.


“Este diálogo, que faz parte da missão evangelizadora da Igreja, comporta uma atitude de compreensão e uma relação de recíproco conhecimento e de mútuo enriquecimento, na obediência à verdade e no respeito da liberdade”. 

São declarações que mais adiante ficam anuladas. Como a Igreja Católica poderia se enriquecer num relacionamento com apóstatas, excomungados hereges, alijados do Corpo de Cristo? “Respeito à liberdade” soa muito mal diante dos fatos. 

“No exercício e aprofundamento teórico do diálogo entre a fé cristã e as demais tradições religiosas surgem novos problemas, que se tenta solucionar, seguindo novas pistas... É por isso que a Declaração retoma a doutrina contida nos anteriores documentos do Magistério, para reafirmar as verdades que constituem o património de fé da Igreja”. 

Em suma, diz o Documento que na Igreja Católica nada mudou. Continua a mesma e continuam valendo documentos anteriores, pois que fazem parte do seu patrimônio de fé. Afirmação desnecessária, pois sabemos todos que são irrevogáveis as decisões dos “infalíveis” papas. O Vaticano desconfia que a aproximação dos católicos com os protestantes, via ecumenismo, é prejudicial aos seus objetivos, haja vista o real “perigo” decorrente dessa contínua familiaridade.

“O perene anúncio missionário da Igreja é hoje posto em causa por teorias de índole relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso, não apenas de facto, mas também de iure (ou de principio). Daí que se considerem superadas, por exemplo, verdades como... a mediação salvífica universal da Igreja, a não separação, embora com distinção, do Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja, a subsistência na Igreja Católica da única Igreja de Cristo”. 

“Na raiz destas afirmações encontram-se certos pressupostos, de natureza tanto filosófica como teológica, que dificultam a compreensão e a aceitação da verdade revelada... a tendência, enfim, a ler e interpretar a Sagrada Escritura à margem da Tradição e do Magistério da Igreja. E o mistério de Jesus Cristo e da Igreja perdem o seu carácter de verdade absoluta e de universalidade salvífica”. 

Em outras palavras, ninguém deve ler e interpretar a Bíblia sem a intermediação do Magistério da ICAR. Revela-se aqui o cuidado para que os católicos, em atos ecumênicos, não se disponham a examinar livremente as Escrituras sem levar em conta a Tradição, colocada pela ICAR no mesmo nível de autoridade da Bíblia. É um alerta ao perigo do contágio ecumênico, para evitar que o “vírus” da verdade protestante e bíblica não se propague ainda mais. 

“Nem sempre se tem presente essa distinção na reflexão hodierna, sendo frequente identificar a fé teologal, que é aceitação da verdade revelada por Deus Uno e Trino, com crença nas outras religiões, que é experiência religiosa ainda à procura da verdade absoluta e ainda carecida do assentimento a Deus que Se revela.” 

À medida que a Declaração avança para o final, as palavras vão se tornando mais duras, diretas e específicas. Se no começo foram ambíguas, certamente para não causar constrangimentos imediatos, agora elas se revelam sem nenhum receio de declarar o que a Igreja Católica pensa dos não católicos.


“Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na sucessão apostólica — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: Esta é a única Igreja de Cristo”. 

Se os não católicos desejam participar da Igreja de Cristo, então que reconheçam e professem e declarem que a Igreja Católica é a verdadeira, a única instituída por Cristo. 


“Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste [subsistit in] na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. Com a expressão « subsistit in », o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição, isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica. Acerca destas, porém, deve afirmar-se que o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica”. 

“Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares... Por isso, também nestas Igrejas está presente e actua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objectivamente tem e exerce sobre toda a Igreja”. 

As demais igrejas possuem elementos de santificação, mas não plena, pois lhes falta o vínculo à Igreja-Mãe, diz a Declaração. Dizer que existem elementos de santificação e de verdade nas demais igrejas, deixa margem a dúvidas. É uma ambigüidade. O que significa mesmo possuir elementos de santificação e verdade e não ser Igreja de Cristo, não ser santa nem verdadeira? As igrejas que mantém estreitíssimos laços com a “Depositária da Verdade” podem usufruir das benesses da graça divina, porém derivada da graça revelada à Igreja de Roma. Os acatólicos, diz o Documento, não podem obter graça sem a intermediação da Igreja tronco, única e verdadeira.

“As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram baptizados nestas Comunidades estão pelo Baptismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja”. “Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma — diferenciada e, de certo modo, também unitária — das Igrejas e Comunidades eclesiais; a Eucaristia e da plena comunhão na Igreja”. Daí a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação...”. 

Não somos igreja, mas podemos batizar, e os batizados são incorporados a Cristo, porém há necessidade de ingressarem na Igreja Católica para serem salvos. Mais ambigüidades. Somos ou não somos Corpo de Cristo. Somos ou não somos cristãos. Somos ou não somos filhos de Deus. A declaração mais estapafúrdia é a de que os homens precisam da Igreja Católica para salvação.

“Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior...” 

“Seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma, embora convergindo com ela para o Reino escatológico de Deus”.

Ecumenismo, para o catolicismo, representa incorporação, adesão. O Vaticano não entende que nenhuma igreja é caminho de salvação. O Caminho é Jesus. Aquele que nele crê será salvo, e passa a fazer parte da verdadeira Igreja de Cristo. Em todo o Documento está nítida a crença de que a Igreja Católica é o Caminho, e fora dela não há salvação. Ser batizado, participar dos Sacramentos e pertencer à Igreja-Mãe são condições que levariam à salvação. Nada mais contrário ao ensino das Sagradas Escrituras. O Corpo de Cristo é o somatório de todos os salvos em Cristo, vivos ou mortos, de todas as épocas.


"Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho... Não se lhes pode porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos. Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objectivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação”. 

As palavras do Vaticano se revelam aqui na plenitude de seu exclusivismo. Tudo agora ficou bem claro. Não há salvação para os que estão fora do catolicismo. A situação destes é grave e deficitária, pois só Roma tem a plenitude dos meios de salvação. Os protestantes têm o único e verdadeiro caminho de salvação: JESUS CRISTO. 

“A paridade, que é um pressuposto do diálogo, refere-se à igual dignidade pessoal das partes, não aos conteúdos doutrinais e muito menos a Jesus Cristo — que é o próprio Deus feito Homem — em relação com os fundadores das outras religiões”.
O Documento esclarece que não pode haver igualdade no diálogo ecumênico. Os católicos poderão dele participar, mas cientes de que estão em nível mais elevado. Ora, a Igreja de Cristo representa a soma dos que nEle confiam e a Ele consagram suas vidas. Realmente não se pode falar em paridade em relação aos conteúdos doutrinais, pois a maioria dos dogmas da ICAR está em desacordo com a Bíblia Sagrada.

“A Igreja, com efeito, movida pela caridade e pelo respeito da liberdade, deve empenhar-se, antes de mais, em anunciar a todos os homens a verdade, definitivamente revelada pelo Senhor, e em proclamar a necessidade da conversão a Jesus Cristo e da adesão à Igreja através do Baptismo e dos outros sacramentos, para participar de modo pleno na comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo”. 

“Os Padres do Concílio Vaticano II, debruçando-se sobre o tema da verdadeira religião, afirmaram: « Acreditamos que esta única verdadeira religião se verifica na Igreja Católica e Apostólica...”. 

O Vaticano não pode falar em “respeito da liberdade”, nem do respeito às crenças dos não católicos sem antes fazer mea-culpa. Que primeiramente admita seus erros e o fato de que a Igreja Católica tem contribuído para cercear essa liberdade. O Documento deixa para o fim a declaração mais importante: somente mediante adesão ao catolicismo, mediante batismo e participação dos sacramentos o homem pode participar da plena comunhão com Deus. O que não é verdade: “Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Para sermos recebidos como filhos de Deus, basta crer, confiar e obedecer: "Mas a todos os que o receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; filhos nascidos não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1.12,13).

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