Páginas

sábado, 16 de janeiro de 2010

ECUMENISMO E O SANGUE DOS MÁRTIRES - III

Parte VII

ECUMENISMO E O SANGUE DOS MÁRTIRES - III

PALAVRA DA DIOCESE


A Diocese de Pelotas (RS) divulgou em sua Home Page algumas considerações sobre o Ecumenismo. 

Destacamos: 

“Ecumenismo é a aproximação, a cooperação, a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes Igrejas Cristãs: os católicos, os ortodoxos, os protestantes, os crentes, os evangélicos. É o caminho proposto por Jesus: "que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17,21). Unidade não é a mesma coisa que uniformidade; sermos diferentes pode ser, dentro de certos limites, uma coisa muito enriquecedora”. 

“O Ecumenismo significa: conversão de coração para reconhecer o que há de bom nas outras Igrejas cristãs; procurar conhecer as outras Igrejas, sem preconceito e sem ingenuidade; tratar as outras Igrejas como gostamos que a nossa seja tratada”.

Estas notas soam dissonantes na orquestra ecumênica sob a batuta do Vaticano. A afirmação “outras Igrejas cristãs” sai do tom exigido na Dominus Iesus, mais adiante examinada. Se existem outras igrejas cristãs, então a Igreja Católica e as demais formam uma unidade. Mas uma encíclica de 1994 diz que “as opiniões diferentes são irreconciliáveis com a unidade”. E a Dominus Iesus declara que “os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma das Igrejas e Comunidades eclesiais”.


PALAVRAS DE D. ESTEVÃO BETTENCOURT 

“O Ecumenismo é o movimento que visa a restabelecer a plena comunhão entre a Igreja Católica e as demais denominações cristãs que no decorrer dos séculos se foram separando do grande tronco católico: orientais (nestorianos, dissidentes em 431; monofisitas em 451; ortodoxos em 1054), protestantes separados em 1517, Velhos Católicos em 1870. O Ecumenismo é algo inspirado pelo Espírito Santo em nosso século, quando se verifica que as separações não têm mais as razões de ser que as suscitaram na época da respectiva cisão. Em nossos dias há quase total identidade de Credo entre católicos e cristãos orientais. Com o protestantismo o diálogo é mais difícil [grifo nosso], dado o esfacelamento do bloco protestante, onde as denominações mais recentes já perderam muito ou quase tudo do patrimônio doutrinário genuinamente cristão, reduzindo o Cristianismo a uma escola de bons costumes inspirados pela Bíblia sem referência explícita aos sacramentos. Além das diferenças doutrinárias (ora mais, ora menos apagadas), nota-se que uma das dificuldades para o bom entendimento entre cristãos provém de questões de ordem histórica (as Cruzadas, por exemplo, no Oriente...), cultural, nacionalista.... Aqueles que se dizem protestantes, mas que não professam o verdadeiro Cristianismo estão alijados do Corpo de Cristo, e, por conseguinte, não podem ser considerados cristãos”. 

É evidente que não pertencem ao Corpo de Cristo os que não professam o verdadeiro Cristianismo. Uma declaração nada mais do que óbvia. Nesse rol estão católicos e evangélicos que não vivem o Cristianismo. Semelhantemente à Dominus Iesus, como veremos a seguir, as palavras de D. Estevão longe estão de admitir a paridade das igrejas cristãs. Como se vê, ser cristão, no entendimento do Vaticano, não é pertencer a Cristo; é pertencer à Igreja de Roma. Não se pode nivelar as igrejas evangélicas. Não cabe uma generalização com base em grupos dissociados da verdade bíblica. Nas “questões de ordem histórica”, como citado, poderiam ter sido mencionados a famigerada Inquisição, as conversões forçadas e o extermínio recente de Sérvios ortodoxos, dentre outras.


COMENTÁRIOS DE UM PASTOR 

Do pastor Addson Araújo Costa: 

“Ademais, esta onda de ecumenismo de uma "união" religiosa está cheia de hipocrisia, enquanto nas capitais do Brasil artistas padres propõem o conchavo, no interior padres organizam abaixo-assinados para impedir a entrada de novas igrejas naquelas cidades. A sua proposta de "amor" está condicionada à adesão, caso esta não ocorra eis a rejeição, o escrutínio pessoal dos líderes, depreciação daquelas igrejas, a exclusão mental dos crentes e todo tipo de prejulgamentos”. “Cabe agora aos evangélicos se irão querer uma nova inquisição travestida de comunhão, ou seja estar dentro da barriga do leão. Ou se continuarão avante, lutando teológica e biblicamente, por um evangelho autêntico que transforma vidas; se continuarão afirmando que o único Cabeça da Igreja é Cristo, e não um Papa, sabendo portanto que as igrejas e pastores são independentes e autônomos diante de Deus, de conselhos e hierarquias inventadas e portanto contrárias à Bíblia... A Igreja do Senhor Jesus não é uma instituição em que se nasce nela, mas que se entra nela por meio da fé em Cristo Jesus; ademais a verdadeira Igreja Universal de Cristo não é uma instituição visível e humana e sim composta por todos os salvos desde o Pentecostes até a vinda do Senhor. 

CONSELHO DE IGREJAS 

Vejamos alguns tópicos da declaração assinada pelo Pastor Walter Altmann, Presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas - CLAI, entidade criada em 1978, e que representa 155 igrejas e organismos ecumênicos em todo o continente latino-americano:

“Com grande surpresa e, mesmo, consternação, o CLAI (Conselho Latino-Americano de Igrejas) tomou conhecimento da «Declaração “Dominus Iesus” sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja», firmada pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, Cardeal Joseph Ratzinger. O CLAI lamenta detectar nela um obstáculo a mais ao ecumenismo, provindo do interior da Igreja Católica Romana, de alto nível e referendada pelo Papa João Paulo II... 

“Ao contrário, toma o ensejo para afirmar um exclusivismo católico-romano que em nada pode contribuir para fazer avançar a causa ecumênica, abalando, ao invés, a credibilidade do testemunho de Cristo que nos é comum”. 

“Aliás, não é nem tanto na classificação das igrejas protestantes como “não-igrejas” em sentido verdadeiro que reside a maior causa para o desapontamento suscitado pela Declaração, mas sim em suas preocupantes omissões”.

A polêmica e surpreendente “Dominus Iesus” foi uma água fria na fervura do ecumenismo cristão. Em poucas palavras colocou por terra anos de trabalho em prol do diálogo. Essa declaração nasceu no seio da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, antes denominada Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) e Congregação do Santo Ofício. O espírito conservador, exclusivista e totalitarista continua encarnado na pessoa do cardeal Joseph Ratzinger, seu responsável. 

 PALAVRA DA MÍDIA
Notícia do Jornal da Tarde, em 6.9.2000, sob o título “O mais duro golpe no ecumenismo”:

“A divulgação de trechos do documento Dominus Jesus (Senhor Jesus, em latim) provocou reações negativas entre líderes de outras igrejas cristãs. Em Paris, o presidente da Federação Protestante da França, pastor Jean Arnold de Clermont, disse que o documento era uma "triste surpresa". Para o presidente do Conselho da Igreja Evangélica Alemã, reverendo Manfred Kock, foi um "revés". Na Inglaterra, o chefe da Igreja Anglicana, George Carey, disse que o texto parece ignorar 30 anos de diálogo ecumênico”. 

Artigo publicado em “O Estado de S.Paulo, 28.09.2000, com o título “Um retrocesso no ecumenismo religioso”, assinado pelo embaixador Antonio Amaral De Sampaio, diplomata aposentado. Alguns trechos: 

“A declaração formulada recentemente pela Congregação da Doutrina da Fé, denominada Dominus Iesus, consagra surpreendente retrocesso na política da Igreja Católica com referência ao ecumenismo religioso, a qual havia registrado avanços durante o pontificado de João Paulo II. 

Situação esta que agora incorre no risco de ser comprometida, caso seja mesmo alçado a posição oficial do Vaticano o resultado das elucubrações orientadas e dirigidas pelo cardeal Joseph Ratzinger, o principal guardião da doutrina católica. O referido prelado é o tradicionalista prefeito da antiga Sagrada Congregação do Santo-Ofício, que, se hoje ostenta outra denominação, mais consentânea com a atualidade, ainda não logrou libertar-se do espírito do passado, que gerenciou a Inquisição, perseguiu heréticos e fez perecer na fogueira milhares de inocentes [grifo nosso], vítimas de superstições, da ignorância e maldade humanas, ou, mais simplesmente, apenas fiéis de outras confissões, algumas tão respeitáveis quanto aquela que tem sua sede política, administrativa e doutrinária em Roma. Significa ela um verdadeiro salto para trás, ensaiado - o que para alguns se afigura inquietante - no mesmo contexto temporal que trouxe a canonização de Pio IX (Giovanni Maria Mastai-Ferretti). Esse papa do século 19, hoje mais conhecido como o autor intelectual do Syllabus, foi também o formulador do dogma da infalibilidade pontifícia.
A essência do dictum do cardeal Ratzinger estabelece que os indivíduos apenas podem alcançar a salvação dos pecados por meio das graças espirituais da Igreja Católica; que as demais confissões religiosas - incluindo os diversos ramos do protestantismo - padecem de equívocos que colocam seus fiéis em situação de deficiência na busca da salvação.
Não se compreende que tal se aplique no caso de outras denominações cristãs de consagrada respeitabilidade, assim como do judaísmo e do Islã.
O pontificado de João Paulo II aproxima-se de seu termo e o papa, avassalado pela doença de Parkinson e outros achaques próprios de sua avançada idade, agravados pelo atentado que sofreu, parece que deixou progressivamente de exercer, sobre a hierarquia eclesiástica e o clero em geral, os poderes de comando e controle que constituem uma de suas prerrogativas”. (No próximo bloco, a Declaração Dominus Iesus).
1   2   3   4   5   6   7   8   9

Nenhum comentário:

Postar um comentário