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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

VI - TUDO, MUITO, POUCO OU NADA? (1)

Parte VI
TUDO, MUITO, POUCO OU NADA?



A presente pastoral é uma tentativa de se esclarecer algo a respeito da letra de hinos e cânticos espirituais. Meu objetivo não é fazer um estudo detalhado aqui. Nossas considerações serão breves, mas esperamos que sejam o bastante para uma compreensão imediata. 



Qual o critério de avaliação da letra de uma música? Durante o tempo de ministério estudando cuidadosamente a questão, descobri que pelo menos dois critérios são fundamentais. Uma letra deve ser avaliada principalmente em seu aspecto teológico (doutrinário) e poético. 

A meu ver, muita confusão seria evitada se estes dois pontos (o teológico e o poético) fossem adequadamente entendidos. Há cânticos que teologicamente não parecem corretos, mas poeticamente são perfeitamente compreendidos. Quando Davi cantava louvores dizendo que Deus tem ouvidos, olhos, mãos, pés etc., teologicamente não é verdade que Deus possui órgãos e membros. Deus é espírito e não tem corpo como os homens. Davi usava linguagem poética, figurada. 

Outras vezes a compreensão de um cântico depende tão somente do ponto de vista teológico. Pastores e líderes nem sempre são unânimes acerca de uma determinada letra. Muitas vezes depende do ponto de vista de cada um, da forma como o cântico é avaliado. Por exemplo, consideremos o cântico que diz "Porque tudo que há dentro de mim necessita ser mudado Senhor". E aquele outro que fala "Se Tu olhares, Senhor, pra dentro de mim nada encontrarás de bom". E aí, realmente não há nada de bom em mim e tudo que há em mim precisa ser mudado? A resposta é sim ou não dependendo do ponto de vista. Se o cântico for analisado na perspectiva do que Deus já fez em mim na pessoa de Cristo, então as palavras tudo e nada certamente não são as mais indicadas. 
Porém, se os cânticos forem entoados na perspectiva do que somos em nossa própria natureza humana, então as palavras tudo e nada estão no lugar certo. Quando eu entôo estes cânticos, e acredito que a igreja também, é pensando neste último caso. É possível provar isso biblicamente? É claro que sim, do contrário não haveria sentido em cantá-los. 

O apóstolo Paulo, que foi um dos maiores cristãos de todos os tempos, um homem repleto do Espírito Santo de Deus, disse certa vez: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo" (Rm 7.18). Todos os grandes eruditos são unânimes em afirmar que Paulo não está falando de sua experiência antes da conversão, pelo contrário. Curiosamente, em outro lugar a declaração de Paulo é bem diferente: "Todos, pois, que somos perfeitos..." (Fp 3.15). Não existe contradição nessas declarações. É apenas uma questão de ênfase e contexto. Semelhantemente, também podemos e devemos cantar: "Porque tudo que há dentro do meu coração necessita mais de Ti". 

Concluímos, portanto, que em certo sentido podemos dizer que Deus precisa fazer tudo em nós; em outro que Ele precisa fazer muito; em outro, pouco ou até mesmo nada mais dependendo do que, a que e em que sentido e contexto nos referimos. 

Quando a letra de uma música realmente fere a doutrina bíblica, então nem a poesia poderá consertá-la. Mas não é, na minha opinião, o caso dos cânticos citados acima.

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