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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

QUE DIZ A ESCRITURA SOBRE AS MALDIÇÕES

QUE DIZ A ESCRITURA SOBRE AS MALDIÇÕES



Não se deve julgar a maldição no Antigo Testamento de acordo com a concepção politico-religiosa do mundo de hoje. Esse é o grande problema: tomar as categorias de um outro mundo, semita, de quatro mil anos atrás, complemente distinto no seu modo de pensar do modo grego que é o nosso. Quer dizer, as palavras têm outras categorias; não podemos simplesmente ler algo que foi escrito numa categoria de pensamento oriental (e nós somos ocidentais), há quatro mil anos (quando somos quase do século 21), e dizer que valem a mesma coisa.

É aí que vem a hermenêutica, uma atualização do que se disse no passado para as realidades do presente. Afinal, havia algumas relevantes variáveis em relação ao tempo atual. Naquele tempo, não havia ordem pública policiada. Era diferente! Hoje temos a segurança trazida pela ordem policial. Naquele tempo, se uma pessoa se sentisse ameaçada, jogava uma maldição naquele ou naquilo que o ameaçava. No mundo antigo, uma maldição era pior que a presença de um policial.

Por outro lado, não havia investigação de crimes com a perícia técnica, laboratórios, depoimentos, etc.: criminosos e soldados inimigos temiam a vingança em forma de palavra. 

Um escravo falsamente acusado usava desse recurso. Lembra o livro dos Provérbios:

"Não calunies o servo diante de seu senhor, para que ele não te amaldiçoes e fiques tu culpado" (30.10).

O escravo não podia recorrer à justiça processando alguém por perdas e danos; então, esse era o seu único recurso. O teólogo Von Imschoot lembra que a maldição era, quantas vezes, a única arma do oprimido. Um pessoa oprimida só tinha como se vingar lançando uma praga em alguém. Também o pobre faminto:

"Ao que retém o trigo o povo o amaldiçoa; mas bênção haverá sobre a cabeça do que o vende" (Pv 11.26).

Já imaginaram o que aconteceria com esses comerciantes que escondem mercadoria para aumentar o preço? E o explorado pelo agiota?

"Ai de mim, minha mãe! porque me deste à luz, homem de rixas e homem de contendas para toda a terra. Nunca lhes emprestei com usura, nem eles me emprestaram a mim com usura, todavia cada um deles me amaldiçoa" (Jr 15.10).

Afinal, para os orientais antigos (assírios, cananeus, hebreus, e outros), a maldição, como a bênção, era considerada uma força ativa, como algo extremamente concreto, estava em conexão com o poder da palavra, e era tanto mais eficaz quanto mais perto de Deus se encontrasse quem amaldiçoava, quanto maior fosse o pecado conhecido, e quanto mais importante fosse o bem protegido pela maldição. 

Há, também, todo um vocabulário da maldição. A raiz em hebraico é 'arar, que significa maldizer, amaldiçoar, falar mal. Daí vem meerah significando maldição. Há outras palavras (qabab, naqab, za'am), mas o sentido de todas elas é desejar mal a outrem (Gn 12.3), quando se confirma a própria promessa (Jó 31.30), ou como garantia da verdade de seu testemunho perante a lei .

Quando Deus pronuncia uma maldição, é sempre uma denúncia do pecado, e um julgamento. Por essa razão, quem sofre as conseqüências do pecado, por motivo do julgamento divino, é chamado de maldito, anátema.

Voltando ao que já observado, para os hebreus, uma palavra não era simplesmente um som ou um grupo de fonemas, mas um agente enviado : tinha vida. São os casos da bênção e da maldição, e daí que, em Mateus 8.8, o centurião exclama: "Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas somente dize uma palavra". Bastava essa palavra ser dita, e atingiria o seu servo. O mesmo ocorre no verso 16:

"Caída a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele com a sua palavra expulsou os espíritos, e curou todos os enfermos".


E, ainda:


"Jesus lhe respondeu (a Satanás): Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4; Dt 8.3), porque, por trás da palavra, está Aquele que a criou.

A maldição é, na Bíblia, um perigo para o surdo porque ele não pode se defender. Alguém lhe joga uma praga, e ele não tem com revidar, e nem pode pedir uma bênção do Senhor quando a maldição estiver em curso, razão porque é proibida de acordo com Levitico 19.14: "Não amaldiçoarás ao surdo...; mas temerás a teu Deus. Eu sou o Senhor" (cf. Mt 11.15).

A mesma aliança que Deus faz com Israel é uma aliança de bênção e maldição. Assim também, o evangelho de Cristo é uma aliança de bênção e de maldição: "Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36). 

A maioria das maldições cai em uma das seguintes categorias: declaração de castigos, declaração de ameaças ou proclamação de leis. E, em todos os casos, as maldições são reflexo de violação de relações com Deus: é a idolatria, o desrespeito aos pais , enganar o próximo, aproveitar-se da desvantagem de alguém, aberrações sexuais, propina, a falta de observância da lei de Deus. 


LIÇÕES


1. Só Deus é o Senhor absoluto de todas as declarações de 'arur (maldito). Por essa razão, só Ele pode amaldiçoar alguém, uma coisa ou uma terra. 

2. Ele pode reverter bênçãos, e torná-las maldições. 

3. É por natureza amaldiçoado o perverso, o criminoso, quem viola os mandamentos, quem não desempenha seu encargo sagrado. 

4. Quem age dentro da esfera do proibido pelo Senhor é maldito, por outro lado, baruk é quem edifica sua vida no temor e poder de Deus, ou seja, é abençoado quem tem como alicerce a Cristo. É, no entanto, 'arur (amaldiçoado) quem confia no próprio poder ou no poder humano. Jeremias, o profeta, já falava sobre isso: "Maldito o varão que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor" (17.5,7). Queremos, aliás, esclarecer que este texto não quer dizer que se tem de olhar desconfiado para o vizinho; não diz que é maldito quem confia no vizinho; maldito é aquele que não reconhece que toda força humana é fraqueza diante do poder de Deus.

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