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sábado, 23 de janeiro de 2010

UMA VISÃO CRISTÃ DAS FESTIVIDADES DE ISRAEL - 6

Parte VI

UMA VISÃO CRISTÃ DAS FESTIVIDADES DE ISRAEL

Hebreus 10.1-18


Apropriamo-nos do pensamento do filósofo judeu Abraham Heschel ao expressar que as civilizações pensavam e pensam em termos de espaço. Daí as grandes e esplêndidas construções que elas deixaram. Quem não se recorda de ter lido sobre as "Maravilhas do Mundo Antigo", entre elas: as pirâmides do Egito, o Colosso de Rodes, os jardins suspensos da Babilônia, o farol de Alexandria, a Grande Muralha da China. Em nossos dias, a Torre Eiffel em Paris, o Big Ben em Londres, a Estátua da Liberdade em Nova Iorque, e o Cristo Redentor no Rio de Janeiro nos impressionam.


E aí completa o filósofo dizendo que assim não procedeu o povo israelita. Em vez de levantar uma construção, um monumento em termos de espaço que poderia ser derrubado como tantos dos mencionados o foram, eles construíram "monumentos no tempo".

Que expressão linda! "Santuários de tempos", que são as grandes festas mencionadas na Bíblia: Pessach, Hag Shavuoth, Yom Kippur, Hag Sukkoth, ou seja, respectivamente, a Páscoa, a Festa das Semanas, o Dia do Perdão, a Festa dos Tabernáculos. Outro desses monumentos é o "dia de descanso", o Yom Shabbat, do qual devemos aprender o significado de repouso, de honra, de prazer e de alegria.

Mas, como cristãos, que visão temos dessas festividades e dias solenes judaicos? O Dr. J. Scott HORRELL descrevendo o fenômeno da igreja atual diz que "somos mais veterotestamentários do que neotestamentários em nosso pensamento sobre a igreja" É real. Distorções, desvios e muita imaturidade têm sido encontrados entre os grupos evangélicos, históricos alguns, neopentecostais na maioria.

Há uma absurda tendência de confundir a cultura judaica com a fé expressa na Palavra de Deus, admitindo como canônico, portanto, divinamente inspirado, tudo o que procede da cultura e do folclore israelitas. Recordamo-nos que num curso de hebraico moderno patrocinado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, onde havia pessoas de origem israelita e três ou quatro evangélicos, uma senhora, membro de igreja neocarismática, chegou ao ponto de chamar as judias, inclusive a professora, de "nossa irmã". Sim, pelo destino natural de cada ser humano; não, à luz da revelação em Cristo Jesus.

Isso é acorrentar-se aos "rudimentos fracos e pobres" de rituais e festividades que têm pleno cumprimento na Nova Aliança, a HaBerith haHadassah, mencionados por Paulo em Gálatas 4.9. Isso é distorção do foco espiritual, o que retrata uma má teologia da Nova Aliança. Aliás, há quem tenha mais facilidade de seguir o que diz o "apóstolo", o "bispo", o pastor, a pastora ou o pregador da televisão que o que ensina o Novo Testamento. No entanto, os estandartes hasteados no extraordinário movimento espiritual que foi a Reforma Protestante do século 16 (Sola Gratia, Sola Fide, Sola Scriptura, Solus Christu) convocam o povo de Deus a voltar à "fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3) , à palavra de Deus "viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes" (Hb 4.12), à "doutrina que é segundo a piedade" (1Tm 6.3).

O fato é que igreja virou um tremendo empreendimento comercial. Demonizada há pouco tempo, hoje é cortejada pelos políticos e corretores de investimento que buscam o apoio dos "apóstolos" e "bispos" de todas as cores doutrinárias. O sucesso é medido pela capacidade de ganhar dinheiro, templos tornam-se shopping centers literal e metaforicamente falando; prestígio é afanosamente buscado. E a determinação paulina "Eu pela lei estou morto para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.19, 20) tornou-se em algumas personalidades "Não mais Cristo, mas meu narcisismo vive em mim".

É como diz SALINAS "Dentro do movimento evangélico observa-se o retorno a antigas, primitivas práticas, justificadas como bíblicas mas pertencentes a uma época quando a visão teológica de Israel era profundamente limitada e primitiva". Com isso, mexe-se com a soteriologia, e, mesmo com a escatologia. A experiência cultual deixa de ser "em espírito e em verdade", teocêntrica, cristocêntrica para ser antropocêntrica e egocêntrica, porque interessa tão somente o que "eu vejo", o que "eu sinto" e o que "eu experimento".

O fato é que Deus tornou a história de Abraão altamente profética ao ligá-lo ao futuro de todos os povos. Cada acontecimento, cada evento, é uma semente, uma sombra, uma figura que amadurece, desabrocha, realiza-se na Nova Aliança. Isso quer dizer que natureza, história e graça de Deus se unem dando significado especial a cada festividade.

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