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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

POR QUE, CALABAR? b

Parte IV
D. Interpretação Econômica


Revendo esses poucos exemplos, poderíamos então postular que a interpretação mais simples para o caso de Calabar seria econômica. Talvez Calabar, como grande conhecedor da região e dos acessos pelos rios, já fosse contrabandista antes e depois da invasão,62 e teria passado para os invasores em busca de dinheiro. Embora tudo indique que ele não precisava disto, pois já tinha adquirido propriedades e gado em Alagoas, um bom dinheiro sempre teria sido bem-vindo. Mas, se foi contrabandista, de certo havia cúmplices, como deixou transparecer o seu próprio confessor. É que Calado relatou alguns detalhes da confissão de Calabar (com permissão do mesmo) ao general Matias; entretanto, este ordenou ao padre "que não se falasse mais nesta matéria, por não se levantar alguma poeira, da qual se originassem muitos desgostos e trabalhos" (sem dúvida para alguns portugueses importantes).63 Mas, afinal, será que este moço abastado teria passado para o inimigo por dinheiro, pensando em aumentar a sua fortuna? Southey o acha mais provável.64 Calado não o diz, nem Coelho, que somente menciona que Calabar passou a receber o soldo de um sargento-mor.65 Também, através dos anos, não apareceu nenhum indício disto nos documentos, nem a mais ligeira referência como nos outros casos de peso. Ao contrário, há indicações de que ele recusou o suborno.66 Por outro lado, não parece muito provável que Waerdenburch teria oferecido a Calabar o título de capitão caso mudasse de lado, pois desconfiava dele. Se prometeu algo nesse sentido, teria sido mais por uma questão de honra do que por uma razão financeira.67  E. Questão de Honra



Uma interpretação bem mais provável é essa questão de honra; talvez de glória, mas muito mais de reconhecimento, respeito, bom nome, dignidade. Vivendo no século XVII, por ser mestiço e não português "de sangue puro," Calabar, apesar das suas qualidades, de certa forma era um inferior por causa da cor da sua pele, ainda que atualmente algumas pessoas tenham dificuldade em admitir esse fato histórico. Ainda quase um século e meio depois, o vice-rei do Brasil mandou degradar um cacique indígena que antes tinha recebido honras reais, pois "havia desprezado as mesmas… se baixando tanto que se casou com uma negra, manchando seu sangue."68 Mestiçagem aviltada num Brasil mestiço. Na época de Calabar a situação não era muito melhor e parece que até os holandeses sabiam da discriminação racial contra Calabar.69 Talvez baseando-se na história de Southey, o romancista Leal faz Calabar pensar em "vingança de tantos desprezos e tantas humilhações com que me têm amargurado os da vossa raça."70 E outro romancista, Felício dos Santos, bem pode ter razão quando faz o napolitano conde Bagnuolo insultar Calabar chamando-o de negro. Seria mesmo o estopim que o fez sair do acampamento do Arraial do Bom Jesus e passar para os holandeses.71 Anos depois, o próprio governador de Pernambuco (1661-1664) escreveu que Calabar buscara entre os inimigos "a esperança que lhe impedia entre os nossos a vileza do nascimento." E falando sobre Henrique Dias, o herói africano da restauração portuguesa, acrescenta: "Um negro, indigno deste nome, pelo que emendou ao defeito da natureza."72 Por outro lado, Calabar, o mameluco, deve ter observado como os holandeses tratavam melhor os seus escravos,73 e os índios até mesmo com respeito, chamando-os de "brasilianos" por serem os primeiros moradores do vasto Brasil.74 E quem sabe Calabar também fosse um tanto ambicioso e pensasse que poderia fazer carreira do outro lado,75 o que num certo sentido aconteceu, como Coelho lembra ao afirmar que "logo o fizeram capitão."76 Não foi tão logo, mas de fato aconteceu.



F. Motivação Religiosa



Resta ainda uma dupla de motivos que deve ser considerada, a político-religiosa. Estas são duas alavancas importantes da história e naquele tempo estavam entrelaçadas quase que inseparavelmente. Será que houve algum motivo religioso na traição de Calabar? Representantes do pensamento cristão reformado como o presbítero holandês coronel Waerdenburch, reconhecidamente um homem de Deus,77 ou o alemão Von Schoppe, ou o polonês Arciszewski, devem ter tido uma influência nesse sentido. Será que Calabar leu o livro de Carrascon, ou "O Católico Reformado" de Perkins,78 livros que já estavam circulando no Nordeste e sobre os quais frei Calado advertia constantemente os seus fiéis em Porto Calvo, berço de Calabar? Anos depois Calado se lembrava de que se não tivesse ficado em Porto Calvo, "os pusilânimes haviam de ter titubeado na fé, e haviam de estar envoltos em muitos erros e heresias. Porquanto os predicantes dos holandeses haviam derramado por toda a terra uns livrinhos que se intitulavam O Católico Reformado em língua espanhola, composto por Fulano Carrascon, cheios de todos os erros de Calvino e Lutero, e persuadiam os ignorantes (e ainda aos que não eram) de que a verdadeira religião era a que naqueles livros se ensinava."79

De fato, houve uma escolha religiosa voluntária por parte de Calabar, o que não era possível na direção oposta.80 Ele podia ter passado para o lado holandês sem filiação à "igreja do estado" e Bárbara podia ter procurado um padre católico romano para o batismo do seu filho. Calabar teria sido considerado um aliado valioso da mesma forma que os tapuias com o seu pajé, os judeus com o seu rabino e os soldados franceses e napolitanos com o seu vigário católico romano. A entrada da família Calabar na igreja reformada foi voluntária e o batismo do seu filho na igreja reformada do Recife em 1634 aponta para isto.81 Finalmente, dez meses depois, no dia da sua execução, Calabar reconheceu mais claramente os seus pecados e se mostrou tão arrependido que os religiosos que o assistiram acharam que "Deus por meio de tal pena o quis salvar, dando-lha no próprio lugar de seu nascimento e onde tanto o havia ofendido."82 Quem sabe Calabar lembrou-se, como posteriormente o índio Pedro Poti durante o seu suplício, das primeiras frases do Catecismo de Heidelberg, escrito em tempos de perseguição pela Inquisição e memorizado pelos fiéis: "Qual o teu único consolo na vida e morte? Que, na vida e na morte, não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo."83  G. Patriotismo  Finalmente, quanto ao aspecto político convém abordar o motivo do amor à terra natal, o patriotismo. José Honório Rodrigues observa que talvez tenha sido Francisco de Brito Freyre (almirante da armada que reconquistou o Nordeste e posteriormente governador de Pernambuco), "dos primeiros a manifestar, ao se referir a Calabar, sentimentos patrióticos em relação ao Brasil," quando diz que Calabar foi enforcado em Porto Calvo, "pátria sua."84 Recentemente, o historiador Flávio Guerra defendeu esse sentimento de patriotismo e, ao mesmo tempo, o ódio luso-brasileiro contra a opressão da Espanha. El-rei teria praticamente abandonado o Brasil e quando chegou o reforço sob o comando de Bagnuolo, os estrangeiros receberam, por ordem régia, tratamento melhor do que os "moradores da terra," dos quais alguns foram indo para suas casas, conforme Calado. Por outro lado, os holandeses prometiam menos impostos do que os espanhóis e tentaram trazer Calabar para si. "A catequização do mameluco estivera sendo trabalhada por um tal de Joer," agente dos invasores, católico romano, que falava muito bem o idioma do Brasil. Finalmente Calabar teria escrito ao governador Waerdenburch, dizendo: "Passei para essa causa sem querer recompensa, e vim para melhorar minha terra, que não tem liberdade de espécie alguma." Waerdenburch teria confirmado à Holanda que "Calabar só se colocou ao nosso lado por convicção, pois recusou as recompensas que vossas senhorias lhe haviam mandado. Diz estar certo de que a sua pátria irá melhor do que com os espanhóis e os portugueses." Guerra conclui que "convicções talvez erradas mas honestas… decorreram do seu idealismo… (para) melhor servir à pátria." E quando, depois, o general Matias acenou com anistia total na tentativa de trazê-lo de volta, Calabar teria respondido: "Tomo Deus por testemunha de que meu procedimento é o indicado pela minha consciência de verdadeiro patriota, não como traidor, mas como patriota." E no fim, em Porto Calvo, antes de entregar-se, teria escrito ao governo holandês no Recife: "Serei um brasileiro que morre pela liberdade da pátria." Infelizmente, não conseguimos localizar os documentos em que a informação de Guerra se baseia. Mesmo assim, a base histórica parece muito sólida.85 





Conclusão



Pessoalmente, tenho a impressão de que o motivo que impulsionou Calabar foi um pouco mais "caleidoscópico." O fator centrífugo ou negativo mais forte talvez tenha sido a ira, ira contra o desprezo racial, inclusive, quem sabe, ódio contra o seu pai português (desconhecido?), uma ira impotente contra a primeira onda de invasores na terra dos "brasilianos." Se fosse fugitivo, a segurança lhe acenaria. Todavia, o fator positivo mais forte certamente teria sido o seu patriotismo, enfatizado por Flávio Guerra.

A descrição intuitiva de João Felício dos Santos talvez possa estar perto da resposta que se esconde na névoa da história. Para Felício, esse amor à terra natal era patente em todas as fases da vida do soldado, quem sabe um desejo de realmente ver "ordem e progresso" no Brasil (talvez o sonho de servir, não a si mesmo, mas à comunidade, com justiça e paz). Como menino, o romancista faz Calabar estudar em um colégio de jesuítas onde se ensinava uma obediência incondicional à coroa católica romana de Castela, mas faz o menino responder que somente devia obediência à sua mãe e à terra brasileira. Como jovem, ele teria percebido que os holandeses amavam o Brasil pela construção e limpeza do Recife (e podia ter acrescentado: por planos de melhorias como o ensino primário generalizado, limpeza dos limpos, proibição do corte do pau-brasil e do cajueiro, etc.). Finalmente, Felício faz Calabar adulto dizer ao frei Calado, seu confessor, defendendo-se do epíteto de traidor: "São partidários dos flamengos todos os que querem esta terra farta e acarinhada, sejam eles de que nação forem."86 Provavelmente foi isto em essência que Chico Buarque também quis enfatizar, em 1973, com seu musical "Major Calabar."87

Na verdade, à pergunta "Por que Calabar passou para o outro lado?" temos de responder por enquanto com um "non liquet," pois, mesmo do lado holandês, nem o meticuloso cronista De Laet (1644) e nem o panegirista Barlaeus (1647) mencionam motivo algum. De Laet registra somente que "para os nossos passou um mulato, de nome Domingo Fernandes Calabar" e Barlaeus observa que esse "português abandonou o partido do rei (da Espanha) pelo nosso," mencionando a sua terrível morte por causa da sua infidelidade.88 Talvez seja pessimista demais a conclusão de Capistrano de Abreu: "nunca se saberá."89 Se for localizada uma das cartas mencionadas por Flávio Guerra, teremos uma resposta clara e autêntica. Mas, de fato, atualmente não sabemos com certeza. Na velha Roma, os juízes podiam usar seu "NL" com discrição, porém sem constrangimento. Era uma placa cujas letras queriam dizer "non liquet," isto é, o assunto não está claro (líquido). Se, depois de ouvir as testemunhas, o caso ainda não estava claro, eles erguiam as suas plaquinhas "NL" na hora da votação. Não era um atestado de ignorância, nem prova de indecisão, mas de juízo. Era um sinal humilde de que estavam no limite da interpretação honesta dos dados conhecidos. Precisamos ter sabedoria e coragem para erguer o "NL," porque no caso do capitão Calabar por enquanto não sabemos mesmo. Provavelmente, ele foi movido por um misto de motivos, tendo o amor à sua terra natal como Leitmotiv. Porém, foi sempre uma motivação mesclada, pois "o coração tem razões que a própria razão desconhece" (Blaise Pascal).



Apeldoorn, Holanda, 08-05-2000 A.D.


Dedicado ao meu irmão e colega Rev. Klaas Kuiper (biógrafo de João Ferreira de Almeida [1628-1691], o tradutor da Bíblia para o português e pastor da "Santa Igreja Cristã Católica Apostólica Reformada" em Jakarta, Indonésia).



Post Scriptum


Quanto aos cinco documentos mencionados por Guerra (Aventura, 79-84, 103; Calabar, 42, 69), os mesmos poderiam encontrar-se em Haia, no Rio ou em Recife. Os originais deviam estar no Arquivo Real de Haia, na Holanda (Algemeen RijksArchief), nas respectivas caixas de cartas escritas do Recife para os Estados Gerais dos Países Baixos (ARA-AStG 5753 e 5754; 1631-34 e 1635) ou para os Senhores XIX (ARA-OWIC 49 e 50; 1630-32 e 1633-35). As cópias podem estar no Brasil, pois as transcrições das missivas aos Estados Gerais (1854) constituem hoje a "Coleção Caetano," no Rio de Janeiro; as transcrições das cartas aos Senhores XIX (1886) formam a famosa "Coleção José Higino," no Recife. Os documentos procurados (originais, cópias ou traduções; principais ou anexados) devem ser os seguintes:

(a) Carta de 14-11-1631 de "Aldiembert" a Holanda (Estados Gerais ou Senhores XIX). Guerra informa que segundo Assis Cintra "[Aldiembert] 'teria dito' que Calabar 'apesar de ter sofrido injustamente dos seus patrícios por ser mulato, tem recusado aceitar o nosso oferecimento de dinheiro e honrarias'" (Ver notas 66 e 69. Guerra, Aventura, 83).

(b) Carta entre 22 e 30-04-1632 de Calabar (ao Governador Waerdenburch?). Guerra diz: "Conta-se que Calabar escreveu: '… vim para melhorar minha terra'" (Nota 85. Guerra, Aventura, 84).

(c) Carta entre 22 e 30-04-1632 de Waerdenburch à Holanda (Estados Gerais ou Senhores XIX). Guerra, fazendo citação: "(Calabar) só se colocou ao nosso lado pela convicção, pois recusou-se a recompensas que vossas senhorias lhe haviam mandado. Diz que está certo que conosco a sua pátria irá melhor do que com os espanhóis e os portugueses. Envio-lhes uma carta [de certo a carta "b"] que nos mandou comunicando a sua adesão … Iremos atacar agora Igaraçu" (Notas 66 e 85. Guerra, Calabar, 42).

(d) Carta (entre 01-05-1632 e 03-1635?) de Calabar a Matias de Albuquerque. Guerra informa que a carta (descoberta no ARA por W. Wallitz) é uma resposta à oferta de anistia total para Calabar, dizendo: "Tomo Deus por testemunha de que meu procedimento é o indicado pela minha consciência de verdadeiro patriota… não como traidor, mas como patriota" (Nota 85. Guerra, Calabar, 44s).

(e) Relatório do Major Picard (depois de 19-07-1635) sobre a capitulação de Porto Calvo. Guerra informa que no relato (traduzido do holandês por Wallitz e divulgado por Assis Cintra), Picard diz que Calabar insistiu que aceitassem as condições da capitulação e afirmou: "Serei um brasileiro que morre pela liberdade da pátria." Ao Governo no Recife Calabar escreveu: "Vós, os holandeses, oferecestes a liberdade ao Brasil, ao meu amado Pernambuco. Um homem como eu que recusou honras e proventos, não é traidor; se houve traição foi uma traição justificada pela nobreza do motivo …" (Nota 85. Guerra, Calabar, 69). 






Infelizmente, ainda não conseguimos localizar nenhum desses documentos em Haia (AStG ou OWIC; somente a tradução de um breve relato de Picard numa missiva portuguesa que não menciona Calabar, em OWIC 50), e eles não constam dos índices das coleções do Recife ou do Rio de Janeiro. As outras cartas de Waerdenburch em 1631 e 1632 foram seis aos Senhores XIX (07-10 e 09-11-1631; 06-01, 09-05, 16-08 e 12-11-1632) e nove aos Estados Gerais (12-02, 24-03, 31-05, 03-08, 07-10 e 09-11-1631; ?-01, 09-05, 16-08-1632). Porém, nelas (mormente na de 09-05-1632, ver nota 21) as informações procuradas não foram encontradas. Temos de reconhecer que isto às vezes acontece com informações históricas sólidas por perda de documentos originais, perda essa acidental (como em F.A. Pereira da Costa, Annais Pernambucanos, III:5) ou intencional (óbvia pela seqüência de documentos referentes ao Brasil atualmente ausentes do Arquivo dos Estados Gerais; ver Schalkwijk, Igreja e Estado, p. 201, n. 112; 465:2.1.5; 466:2.4). Documentos extraviados são a frustração do historiador e apelamos aos que têm alguma pista dos documentos perdidos do Arquivo dos Estados Gerais que se comuniquem com o Algemeen RijksArchief, 2595BE, Den Haag, Holanda.

Guerra menciona como sua fonte Assis Cintra. Cintra publicou sua defesa de Calabar em 1933 (A Reabilitação Histórica de Calabar: Estudo Documentado, Onde Prova que Calabar não Foi Traidor. Depoimento, Acusação, Defesa e Reabilitação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933). A sua tese pode ter sido mal defendida e não muda o fato da traição (Rodrigues, Bibliografia, p. 423, #964), mas o importante era a sua documentação. Mesmo que, em 1933, certos documentos dos Estados Gerais já tivessem desaparecido do arquivo de Haia, Cintra ainda teria à disposição as transcrições da Coleção Caetano, no Rio de Janeiro, a não ser que esses cinco documentos não tenham sido transcritos. Seria uma coincidência, mas tem ocorrido com outros documentos, mormente com anexos interessantes. Infelizmente não há condições no momento de consultar Cintra, Recife ou Rio de Janeiro.



Notas


1 Do lado português, a principal fonte de informações deste período é Duarte de Albuquerque Coelho, Memórias Diárias da Guerra do Brasil, 1630-1638 (Madri: 1654; Recife: Secretaria do Interior, 1944), que menciona Calabar em muitas páginas. Do lado holandês, Joannes de Laet, Iaerlijck Verhael, 4 vols. (Leiden: 1644; 's-Gravenhage: Linschoten Vereniging, 1931-1937); tradução portuguesa: História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Índias Occidentais desde o seu começo até o fim do ano de 1636, 2 vols. (Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1916-1925).
2 J. da Silva Mendes Leal, Calabar (Rio de Janeiro: Correio Mercantil, 1863), p. 140, sugere que o seu nome era Domingos Fernandes, apelidado "o Calabar." Com isto parece concordar a informação do general Matias de Albuquerque, de que o "primo co-irmão" de Calabar era Antônio Fernandes, sendo ambos nascidos, batizados e criados na paróquia de Porto Calvo (Coelho, Memórias, 197; 31-03 e 01-04-1634). De igual modo, alguns dos primeiros documentos holandeses não mencionam o nome Calabar, mas somente "Domingo Fernando," como na carta do coronel Waerdenburch aos Diretores da Companhia das Índias Ocidentais, os chamados "Senhores XIX," em 12-11-1632, sobre a incursão contra Barra Grande: "...porque o mesmo nasceu ali e é grande conhecedor."
3 Frei Manuel Calado do Salvador, Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade (Lisboa: 1648; Recife: Cultura Intelectual de Pernambuco, 1942; 2 vols.), I:48; Ângela Alures Coelho, Memórias, 120: mãe e alguns parentes. F.A. de Varnhagen, História Geral do Brasil (Rio de Janeiro: 1854-1857; São Paulo: Melhoramentos, 1956, 5ª ed.), I:277: Ângela Álvares.
4 Frei Calado chama Calabar de "mancebo mameluco, mui esforçado e atrevido" (Lucideno, I:32). Por servir como pároco em Porto Calvo por alguns anos, Calado conhecia melhor o parentesco de Calabar. Às vezes Calado chama-o de mulato (com desprezo? Lucideno, I:48). Coelho, Memórias, p. 120 (o "mulato" Calabar; 20-04-1632); p. 68 (o "pardo" ferido, 14-03-1630). Laet, Verhael, III:95, 96: "mulaet." Também depois, às vezes, chamado de mulato, como por R. Southey, História do Brasil (Londres: 1810-1819; São Paulo: Obelisco, 1965), II:164; mas, nas notas, o cônego J.C. Fernandes Pinheiro afirma que "todos os nossos cronistas qualificam a Calabar de mameluco e não de mulato" (p. 205, n. 13). Pedro Calmon, História do Brasil (Rio de Janeiro: Olympio, 1961), II:597, nota, julga que pelo nome africano, Calabar, de certo era negro ou mulato. No interior de Pernabuco, por volta de 1600, deve ter havido muitos mamelucos (mestiços índio-europeus), mulatos (mestiços africano-europeus) e cafuzos (mestiços índio-africanos; Alagoas: "pelos cafus," ao anoitecer), de sorte que um mameluco bem podia ter alguns traços africanos e ser chamado mulato. João Felício dos Santos, Major Calabar (São Paulo: Círculo do Livro, s.d. [1ª ed. 1960]; ed. integral): mameluco. Romances usam liberdades históricas (ex: Felício faz Maurício de Nassau filho do "stadhouder" da Holanda, etc.), mas podem ajudar na interpretação dos fatos.


5 Coelho, Memórias, 197: "onde foram batizados" (isto é, Calabar e seu primo Antônio). Flávio Guerra, Uma Aventura Holandesa no Brasil (Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 1977), 78s: ainda menino, Calabar foi parar, "não se sabe como, nem conduzido por quem," em Olinda e batizado no dia 15-03-1610 na ermida do engenho N.S. da Ajuda, de Jerônimo de Albuquerque, sendo padrinhos Afonso Duro, rico colono de Évora, Portugal, e sua filha D. Inês Barbosa, nascida em Pernambuco. Flávio Guerra, Calabar: Traidor, Vilão ou Idealista (Recife: ASA Pernambuco, 1986). Talvez com a fórmula: "Si non baptizatus es, ego te baptizo…"
6 Guerra, Aventura, 78: em 1628 Calabar tinha três engenhos de açúcar em Porto Calvo e participava da procura das lendárias minas de prata de Caramuru. Novo Dicionário de História do Brasil, 2ª ed. (São Paulo: Melhoramentos, 1971), s.v. "Calabar" (o artigo merece reparos). Os batavos foram os primeiros moradores históricos da Holanda.
7 Naquela época, os Países Baixos, pertencentes à coroa da Espanha, englobavam Bélgica e Holanda, com capital em Bruxelas. A palavra "flamengos," freqüentemente usada para "holandeses," refere-se propriamente aos moradores do norte da atual Bélgica. Ver a história sociológica do Dr. José Antônio Gonçalves de Mello, Tempo dos Flamengos (Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1978).
8 C.R. Boxer, Os Holandeses no Brasil, 1624-1654 (São Paulo: Editora Nacional, 1961; tradução de The Dutch in Brazil, 1624-1654 [Londres: Oxford University Press, 1957]), p. 45. Em 1630, havia 137 engenhos de açúcar, com uma produção de 700.000 arrobas, ou seja, 10.500.000 quilos por ano. O livro de Boxer dá um ótimo resumo da história geral da época. Evaldo Cabral de Mello, Olinda Restaurada: Guerra e Açúcar no Nordeste, 1630-1654 (Rio de Janeiro/São Paulo: Forense-Universitária/Universidade de São Paulo, 1975).
9 Panfleto De Portogysen goeden Buyrman (O bom vizinho português; Lisbon: Drucksael daer uyt-hangt het Verradich Portugael, 1649. Sic: Lisboa? Sala de impressão com a placa Portugal Traidor? ), p. 13.
10 José Honório Rodrigues, Civilização Holandesa no Brasil (Rio de Janeiro: Nacional, 1940), p. 169: "capa cultural." Ver E.van den Boogaert, ed., Johan Maurits van Nassau-Siegen, 1604-1679: A Humanist Prince in Europe and Brazil. Essays on the Occasion of the Tercentenary of his Death ('s-Gravenhage: The Johan Maurits van Nassau Stichting, 1979).


11 C.R. Boxer, The Dutch Seaborne Empire (Londres: Hutchinson, 1965), 108. 


12 Panfleto Veroveringh van de Stadt Olinda (Conquista da cidade de Olinda; Amsterdam: J. Luyck, 1630). Rev. J. Revius, Biechte des Conincx van Spanjen (Confissão do rei da Espanha mortalmente doente pela perda de Pernambuco; S.l.: s.e., 1630): "mea gravissima culpa."
13 Instrução do almirante Lonck de 01-08-1629 sobre "onze rechtvaardige oorlog," nossa guerra justa contra a Espanha. Sobre a questão da liberdade religiosa durante esta época, ver F.L. Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês, 1630-1654, 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1989), 335-458.
14 F.J. Moonen, Holandeses no Brasil (Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1968), 53.
15 E. Fischlowitz, Christoforo Arciszewski (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1959).


16 Laet, Verhael, III:143.


17 Ver F.A. Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, 10 vols. (Recife: Arquivo Público Estadual, 1952-1966), III:12-19.
18 Boxer, Holandeses, 63, nota 27.
19 Ver nota 1. Somente em 1817 Alagoas tornou-se uma capitania independente de Pernambuco.
20 Coelho, Memórias, 120 (20-04-1632). Matias era irmão do donatário Duarte de Albuquerque Coelho.
21 Em 01-05-1632, Waerdenburch fez uma incursão a Igaraçu "sob a fidelidade ou infidelidade de um negro que me serviu de guia" (carta aos Estados Gerais, 09-05-1632; provavelmente a primeira referência a Calabar nos documentos holandeses). F.A. de Varnhagen, História das Lutas com os Hollandezes no Brasil desde 1624 a 1654 (Lisboa: Castro Irmão, 1872), 59. Até novembro de 1632 provavelmente surgiu certa dúvida por causa da confissão do colaborador Leendert van Lom, que alertou o governo a não confiar em nenhum português e que suspeitava de "Domingo Fernando," que joga (cartas) com capitães (de barcos) portugueses, dando-lhes dinheiro e chamando-os de primos (o que não são)." Porém, na hora da execução Lom hesitou em confirmar os nomes dos portugueses, de sorte que ficou a incerteza (Laet, Verhael, III:107).
22 Coelho, Memórias, 138 (07-02-1633).
23 Ibid., 197 (31-03 e 01-04-1634).
24 Os protestantes, inclusive o pastor João Ferreira de Almeida, insistiram que não pertenciam a uma nova seita, mas à igreja cristã "católica reformada," não católica romana. Ver Schalkwijk, Igreja e Estado, 234s.
25 No dia 20-09, não em 10-09 como foi sugerido pela edição impressa do Doopboek por ter omitido "Sept. 20" (Livro de Batismos da Igreja Reformada do Recife, 1633-1654, publicado por C.J. Wasch, Nederlandsch Familieblad, 5 e 6, 1888-1889). Frei Calado diz que Calabar travou amizade com Von Schoppe tomando-o "por compadre de um filho que lhe nasceu de uma mameluca, chamada Bárbara, a qual levou consigo e andava com ela amancebado." Calado não reconheceu o matrimônio protestante (Calado, Lucideno, I:32, seguido por J.B.F. Gama, Memórias Históricas da Província de Pernambuco, 2ª ed., 2 vols. [Recife: Secretaria da Justiça/Arquivo Público Estadual, 1977], I:239). O colaborador Leendert van Lom afirmou (hesitando porém na hora da execução) que "a mulher de Domingo" falou que todos os holandeses deviam ser mortos à bala ("Domingos vrouw," Laet, Verhael, III:107). Em 1636, as atas do governo no Recife falam sobre "a viúva de Calabar" (Dagelijkse Notulen, 13-04-1636). Mameluca (Calado, Lucideno, I:14). Parece que Bárbara também era natural de Porto Calvo, porque em março de 1635 o cunhado ("swagher") de Calabar traz notícias de que os grandes da povoação querem discutir (a rendição; Laet, Verhael, IV:151). Leal, no seu romance, desconhece Bárbara (Leal, Calabar, passim).
26 Magtelt Daays. Engana-se o romancista Felício ao fazer Bárbara e o filho morrerem em 1631 (Santos, Calabar, 97 e 102). Coelho, Memórias, 116.
27 Pastores no Recife no ano de 1634: Christianus Wachtelo (1630-1635) e Daniel Schagen (1634-1637), este mais ligado ao exército.
28 Sobre Calado, ver J.A.G. de Mello, "Frei Manuel Calado do Salvador," Restauradores de Pernambuco (Recife: Imprensa Universitária, 1967). Era um religioso da ordem de São Paulo.
29 Calado, Lucideno, I:46-48. "E como se havia de entender aquela promessa dos concêrtos, que ficaria a mercê d'El-Rei." Calado justifica o não cumprimento do "à mercê d'el-rei," considerando o general Matias como representante do rei. Varnhagen, História geral, I:263, "(Calabar) esperançado talvez de ter algum meio de escapar-se, se em tempo de guerra andassem com ele, de uma parte para outra, à espera de ordens da metrópole."
30 Enforcado, dizem Calado (Lucideno, I:47) e Coelho (Memórias, p. 264); garroteado, diz Guerra (Aventura, 103). João Ribeiro, História do Brasil, 19ª ed., rev. por Joaquim Ribeiro (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1966), 152: "como é próprio da fraqueza humana, vingaram-se." Mas parece que alta traição exigia este tipo de execução (ver Laet, Verhael, III:107, o traidor Leendert de Lom foi decapitado e esquartejado no Recife). O problema era o não cumprimento total das cláusulas (escritas ou orais) da rendição, pois teriam dado quartel a Calabar, "a mercê d'el-rei" (Calado, Lucideno, I:46-48; Carta do governo no Recife aos Senhores XIX, 23-08-1635, prometido o quartel. Laet, Verhael, IV:169).


31 Calado, Lucideno, I:46-48, com Calabar durante quatro horas pela manhã e mais três horas à tarde; lágrimas e arrependimento. Leal se engana fazendo padre Manuel de Morais confessor de Calabar (Leal, Calabar, IV:135).
32 Calado, Lucideno, I:47. Coelho, Memórias, 264 (22-07-1645), aguazil (funcionário administrativo e judicial) dos holandeses em Porto Calvo. Castro ou Crasto: Laet, Verhael, IV:162, Manuel de Crasto Fortado.
33 J. Capistrano de Abreu, Capítulos de História Colonial, 4ª ed. (Rio de Janeiro: Briguet, 1954), 155.
34 J. Veríssimo qualifica os motivos, sem mencioná-los: "Foram vis e infamantes os móveis que o fizeram bandear-se" ("Os Hollandezes no Brazil," Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano [RIAP] 54:127).
35 Ver Ruy dos Santos Pereira, Piso e a Medicina Indígena (Recife: Instituto Histórico Pernambucano e Universidade Federal de Pernambuco, 1980), 23.
36 Calado, Lucideno, I:14, 46-48. Rodrigues diz sobre esse "saboroso livro" (no Index, Índice de Livros Proibidos, de 1655 até 1910) que o desejo de Calado "de ver o Brasil livre dos holandeses … conduziram-no muita vez ao erro, à parcialidade, à falsidade." Mas "foi uma injustiça … quando (Varnhagen julgou a obra) defeituosa e sem dignidade histórica"; José Honório Rodrigues, Historiografia e Bibliografia do Domínio Holandês no Brasil (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1949), 11,12. Boxer, Holandeses, p. 68, n. 34,35. Mello, Calado, 9: "É, não uma história, mas o depoimento de um contemporâneo … a fim de influir sobre o Rei a favor dos insurretos …" (1648).
37 Coelho, Memórias, 264 (22-07-1635). Guerra: Coelho precisava de um bode expiatório (Aventura, 79).
38 Varnhagen, História das Lutas, 58; História Geral, I:277. H. Wätjen, O Domínio Colonial Hollandez no Brasil (São Paulo: Editora Nacional, 1938), 119: "um trânsfuga," sem mencionar motivos.


39 Southey, História, II:212, 239, n. 1. Francisco de Brito Freyre, Nova Lusitânia: História da Guerra Brasílica (Lisboa: 1675; Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977). Gioseppe di S. Teresa, Istoria delle Guerre del Regno del Brasile (Roma: Corbelletti,1698), "compilação pouco estimável," conforme Rodrigues (Bibliografia, 147). Raphael de Jesus, Castrioto Lusitano (Lisboa: 1679; Recife: Assembléia Legislativa de Pernambuco, 1979), na sua maior parte cópia de Calado.


40 Guerra, Aventura, 94, 102.
41 Coelho, Memórias, 68, 120.
42 Ibid., 264 (22-07-1635). Nota 131: "Tradução literal do texto espanhol." A tradução (Melo Morais, 1855) rezava: "por sua infidelidade e crimes." Rodrigues avalia esta tradução como "indigna de apreço pelos seus erros e omissões" (Bibliografia, 223, ítem 410). Leal sugere que Calabar tentou organizar com uns cúmplices um desastre no Arraial para acabar com a guerra, e teria fugido depois de pôr fogo na barraca do general Matias (Leal, Calabar, II:104,132).
43 Ver Laet, Verhael, III:95 (Barra Grande, 09-1632); III:112 (Camaragibe, 12-1632); II:190 (descrição do litoral de Porto Calvo). Coelho, Memórias, 197 (Barra Grande, 04-1634).
44 Ver Schalkwijk, Igreja e Estado, 234, n. 81.
45 Como sobre a morte do almirante Pater envolvido na bandeira holandesa. Varnhagem, História Geral, I:276 (n.V).
46 Boxer, Holandeses, 71, n. 38.
47 Guerra, Aventura, 79ss. Guerra, Calabar, 36.
48 Coelho, Memórias, 263 (19-07-1635: "o general assegurou [ao inimigo] que arriscaria a sua própria pessoa para não perder das mãos a de Calabar"); p. 264 (22-07-1635: "tão firme em não entregá-lo." Varnhagen, História Geral, I:263, "(Calabar) traidor por todos os séculos dos séculos."
49 Calado, Lucideno (1648), I:46. Opinião copiada ao pé da letra por Diogo Lopes Santiago, História da Guerra de Pernambuco (1660?; Recife: Fundarpe, 1984), 92, e Raphael de Jesus, Castrioto Lusitano (p. 115). Assim também Varnhagen, História Geral, I:263. Mas o próprio donatário reconheceu que os holandeses fizeram muitos esforços para salvar a vida de Calabar: (Deus permitiu que) "o nosso general estivesse tão firme em não entregá-lo, a despeito de tamanhas instâncias que fazia o inimigo" (Coelho, Memórias, 264, 22-07-1635).
50 Calado, Lucideno, II:241: "se não foram os judeus ..." Panfleto Portugysen, 13.
51 Coelho, Memórias, 262 (17 e 18-07-1635). Laet, Verhael, IV:168.


52 Coelho, Memórias, 263 (19-07-1635). Brito Freyre, Nova Lusitânia, 349: "persuadindo-os a se renderem, capitularam." Não há provas do engano sugerido por Freyre. Guerra, Aventura, 102, parafraseando: "O mameluco, ante a recusa de Picard em atender a intimação do 'terríbil,' reagiu, e, com rara altivez e coragem, retorquiu para o enviado do inimigo: 'Ide e dizei ao General Matias de Albuquerque que o Coronel Picard aceita a proposta'."
53 Calado, Lucideno, I:32.
54 A Companhia reconheceu o valor de Calabar: o diretor De Laet escreveu que esse homem corajoso e forte "fez mui grandes serviços" (Laet, Verhael, IV:162,171). Nótulas Diárias do Governo no Recife, 13 de abril de 1636 (ver 24-01-1636). A viúva do pastor Stetten e seus filhos receberam uma ajuda provisória (Nótulas Diárias, 12-07-1647), suspensa em junho de 1650 (carta da D. Raquel à Stetten ao pastor P. Wittewrongel, de Amsterdam - Recife, 18-05-1652 (GAA-ACA 88, 4, p. 167-169).


55 G. Groenhuis, De Predikanten (Groningen: Wolters-Noordhoff, 1977), 36.


56 Coelho, Memórias, 120 (20-04-1632).
57 Ver J.A.G. de Mello, "A Situação do Negro sob o Domínio Holandês," em Gilberto Freyre e outros, Novos Estudos Afro-Brasileiros (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937).
58 Informações geralmente contidas nas "cartas gerais" do governo no Recife aos Senhores XIX, 1630-1632 (ver o índice da coleção "Brieven en Papieren" no Instituto Histórico no Recife; RIAP 30:129-144).
59 Pedidos de Hooghstraten ao Conselho Ultramarino em Lisboa para pagar o soldo prometido (Lisboa, Arquivo Histórico Ultramarino, cod. 14:88 e 278:230v, de 28-09-1647 e 25-02-1649).
60 Boxer, Holandeses, 380-382. Muitas referências nos documentos holandeses.
61 J.A.G. de Mello, João Fernandes Vieira, 2 vols. (Recife: Imprensa Universitária, 1967), I:105-127.
62 Abreu, Capítulos, 155.
63 Calado, Lucideno, I:48.


64 Southey, História, II:164.


65 Coelho, Memórias, 264 (22-07-1635).
66 Guerra, Aventura, 83: segundo Assis Cintra "[Aldiembert] 'teria dito' que Calabar, 'apesar de ter sofrido injustamente dos seus patrícios por ser mulato, tem recusado aceitar o nosso oferecimento de dinheiro e honrarias'." Guerra, Calabar, 42: Waerdenburch teria escrito à Holanda que "(Calabar) só se colocou ao nosso lado por convicção, pois recusou-se a recompensas que vossas senhorias lhe haviam mandado." Ver o post scriptum deste artigo.
67 Santos, Major Calabar, 107 (capitão Jouer de Haia, o "língua," tradutor), 113-115. Calabar era capitão, não major, ver Laet, Verhael, IV:162s, em Porto Calvo, julho de 1635, Major Picard, Capiteyn Langley, Capiteyn van Exel, Capiteyn Domingo Fernandes Calabar, Capiteyn Jan Muller.


68 C.R. Boxer, Race Relations in the Portuguese Colonial Empire, 1415-1825 (Oxford: Clarendon, 1963), 86-130; 1771.


69 Guerra, Aventura, 83: Calabar "(sofreu) injustamente dos seus patrícios por ser mulato." Ver nota 66 e o post scriptum deste artigo.
70 Southey, História, II:164: "se o tratamento recebido dos comandantes o desgostou." Leal, Calabar, I:141, em um conclave com conspiradores, faz Calabar dizer: "A minha raça é outra … Tolerais-me quando vos sou útil" (II:100), e faz com que o futuro sogro de João Fernandes Vieira bata com um ferro no rosto de Calabar, marcando-o (I:146; "ansiedade de vingança, III:29; IV:104). Ambos, Vieira e Calabar, seriam apaixonados por Maria César (I:141), sugerindo ainda outro motivo. Isso, porém, não é válido, pois Leal desconheceu Bárbara (nota 25).


71 Santos, Major Calabar, 112s. Leal, no seu romance histórico, não aproveita o desgosto geral contra Bagnuolo por fazê-lo chegar depois da deserção de Calabar (Leal, Calabar, IV:54). Calado, segundo Boxer, é um crítico muito escarninho de Bagnuolo (Boxer, Holandeses, 68, n. 35).


72 Brito Freyre, Nova Lusitânia, 240, 254.
73 Ver nota 57. Observe-se sobre o tratamento dos escravos, as instruções de João Fernandes Vieira e as de Nono Olferdi para os novos colonos no Sergipe. Schalkwijk, Igreja e Estado, 74, n. 81.
74 Também o índio Pedro Poti, membro da igreja cristã reformada, assina a sua carta na língua tupí como "regedor (dos) brasilianos em Paraíba" (31-10-1645). Talvez fosse bom usar de novo este nome arcaico, porém honorífico, como coletivo para todas as nossas tribos indígenas em geral. "Brasilianen," passim nos documentos holandeses para as tribos tupis (como tupinambás, potiguaras, sergipes, etc.), distinguindo-os dos tapuias (nhanduis, cariris). Os (luso) "brasileiros" eram chamados "portugueses" ou "moradores." Calado, Lucideno, I:xvi, "brasilianos" no sentido de "moradores."
75 Abreu, Capítulos, 155.
76 Coelho, Memórias, 264 (22-07-1635).
77 Carta de Dom. (Rev.) Pistorius aos Senhores XIX, Recife, 04-11-1631.
78 Schalkwijk, Igreja e Estado, 231-235.
79 Calado, Lucideno, I:68s.
80 Schalkwijk, Igreja e Estado, caps. 12-15, sobre a liberdade religiosa nessa época, mormente pp. 388-458.
81 Ver notas 25 e 26.
82 Coelho, Memórias, 264 (22-07-1635). Brito Freyre, Nova Lusitânia, 350: "com piedosas mostras de verdadeiro arrependimento e lágrimas constantes, nascidas mais do temor de Deus que do receio do castigo." Guerra, Aventura, 103: "firme e seguro, sem denotar arrependimento," ou seja, não se sabe se considerou a "traição" como pecado.
83 O Catecismo de Heidelberg (1563) era estudado dominicalmente nas igrejas reformadas. Havia no Brasil uma edição em espanhol, Catechismo (s.l.: Ioris van Henghel, 1628, 135 p.), 1ª pergunta e resposta. Sobre Poti, Schalkwijk, Igreja e Estado, 309.
84 Rodrigues, Bibliografia, 13. Brito Freyre (Armada: 1654; Governador: 1661-1664), Nova Lusitânia, 350.
85 Guerra, Aventura, 79-84, 103. Guerra, Calabar, 42, 69. Ver o post scriptum no fim deste artigo.
86 Santos, Major Calabar, 99, 101 e 205. Capitão Jouer, ver nota 66.
87 A peça "Calabar" (com subtítulo de "O Elogio da Traição" e músicas como "Bárbara"), de Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra, foi proibida em 1973 pelo governo militar, mas liberada em 1980. O alvo era debater a figura do "traidor" por ocasião do sesquicentenário da independência (Veja, 14-05-1980, pp. 60ss).


88 Laet, Verhael, III:98. Gaspar Barlaeus, História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil (Amsterdam: 1647; Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1980), 39.


89 Abreu, Capítulos, 155. Muitos têm opinião semelhante, como Rocha Pombo, História do Brasil, 7ª ed. (São Paulo: Melhoramentos, 1956), I:171; Southey, História do Brasil, II:164: "não se sabe"; Hélio Vianna, História do Brasil (São Paulo: Melhoramentos, 1961), etc.

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