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sábado, 16 de janeiro de 2010

OS SACRAMENTOS NO BREVE CATECISMO DE WESTMINISTER

Parte XVII

OS SACRAMENTOS NO BREVE CATECISMO DE WESTMINISTER - II

(O Batismo)


 Elaborado no século XVII pela famosa Assembléia de Westminster (Inglaterra), o Breve Catecismo forma, juntamente com o Catecismo Maior e a Confissão de Fé de Westminster, a tríade teológica dos símbolos de fé ou padrões doutrinários das igrejas reformadas e presbiterianas.

 O que é o batismo cristão e qual o modo correto de aplicá-lo? Que critérios são utilizados para se batizar adultos e crianças? De acordo com o Breve Catecismo, "Batismo é um sacramento no qual o lavar com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa e sela a nossa união com Cristo, a participação das bênçãos do pacto da graça, e a promessa de pertencermos ao Senhor" (Resposta 94; cf. Mt 28.19; Jo 3.5; Rm 6.1-11; Gl 3.27).
 Quanto ao modo ou forma de batismo
 A forma de batismo indicada pelo Breve Catecismo é "o lavar com água". O uso da preposição "com" ao invés de "em" significa que por "lavar" o Breve Catecismo não quer dizer "banhar-se" ou "imergir". Pelo contrário, a preposição "com" é utilizada propositalmente para reafirmar o batismo por aspersão ou efusão. O que significa dizer, em outras palavras, que "Não é necessário imergir o candidato na água, mas o batismo é corretamente administrado derramando ou aspergindo água sobre a pessoa".[1]. O entendimento da expressão "lavar com água" no Breve Catecismo fica ainda mais claro quando vemos o que a Bíblia diz sobre batismo.
 Nas Escrituras o verbo grego baptízo (batizar) não é um verbo de movimento, por isso geralmente é usado com a preposição grega en (dativo instrumental), denotando meio ou método, podendo significar "com", "por" ou "em". Raras vezes é usado com a preposição eis, que indica movimento (1Co 10.2; Gl 3.27). Essa preposição significa "para dentro de", "para". Se o sentido original do termo fosse realmente "imergir", era de se esperar que a preposição usada fosse eis, a indicativa de movimento. Isso, porém, não é o que ocorre.
 O verbo baptízo vem de bápto, cujo sentido predominante é "tingir". O sentido de "imergir" vem da implicação de se submergir ou envolver completamente no líquido para o tingimento. Daí vem também a idéia de "purificar", que é o resultado da ação de "lavar" ou "tingir". No seu uso clássico baptízo significa a) lavar um objeto por mergulhá-lo em água ou qualquer outro líquido, para qualquer fim; b) a submersão ou afundamento de algum objeto; c) a cobertura de um objeto pelo derramamento de qualquer líquido sobre ele - daí o uso metafórico de "estar oprimido" ou "coberto", "inundado (de problemas)"; d) molhar (ensopar) completamente um objeto, quer por imersão ou por aspersão. Pelo uso clássico, portanto, não se pode fixar o modo pelo qual o "batismo" é realizado, isto é, como é que o elemento batizante é aplicado ao objeto batizado.
 Tudo o que é indicado é que o primeiro está intimamente em contato com o segundo, ou que o segundo está inteiramente no primeiro.
 Na Septuaginta (LXX) o verbo baptízo ocorre apenas quatro vezes. Duas vezes nos canônicos (2 Rs 5.14; Is 21.4) e duas nos apócrifos (Judite 12.7; Eclesiástico 34.30). Nestes dois últimos usos o sentido é apenas o de "lavar", sem indicação de qualquer método. Em Números 19.19,20, porém, lemos que essa purificação ou "lavagem" não era feita por imersão, mas por aspersão primeiro, e depois, um banho (verbo lúo). A água purificadora era aspergida (cf. Ez 36.25). No grego da LXX, portanto, baptízo significa "submergir", "banhar", "estar tomado de". Nunca é usado no sentido de descrever o ato de alguém mergulhar um objeto ou uma pessoa em qualquer líquido.
 No Novo Testamento a preposição eis mantém seu sentido próprio, indicando a finalidade pela qual uma coisa é feita. Assim, "ser batizado para Moisés" significa ser batizado com o propósito de tornar-se sujeito à lei de Moisés. Ser batizado para Cristo significa ser batizado com o propósito de se tornar um verdadeiro seguidor de Cristo.
 Em suma, no uso grego clássico o verbo baptízo pode significar "imergir", "molhar", "estar possuído de". No uso bíblico significa geralmente "purificar" pela aplicação de água. O método de aspersão está ligado às purificações dos judeus, que eram feitas através da aspersão ou borrifamento de água (Is 52.13; Ez 36.25; Hb 9.10,13,14;). Também o modo como as influências do Espírito são descritas como "descendo" sobre as pessoas, está mais de acordo com o "derramamento" como modo de administração do batismo, uma vez que representa ou é sinal dessas influências.[2].

Quanto à fórmula e significado do batismo

O batismo deve ser feito "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Resposta 94; cf. Mt 28.19). Em Mateus 28.19 a preposição grega eis (na expressão eis to onoma = em nome), indica finalidade e pode ser interpretada como "em relação a", ou "na profissão de fé em alguém e na sincera obediência a alguém". A palavra onoma (nome) é usada no mesmo sentido do hebraico shem como indicativo de todas as qualidades por meio das quais Deus se dá a conhecer, e que constitui a soma total de tudo o que Ele é para quem o adora. A fórmula batismal indica que mediante o batismo (isto é, mediante tudo o que o batismo significa) aquele que o recebe encontra-se em uma relação especial com Deus.[3].
 Quanto ao seu significado, o batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo (Mt 28.19; Mc 16.16) não só para admitir na igreja visível a pessoa batizada (1Co 12.13; Gl 3.27,28), mas também para que seja para ela um sinal e selo do pacto da graça (Rm 4.11; Cl 2.11,12), de sua união com Cristo (Rm 6.5; Gl 3.27), de sua regeneração (Tt 3.5), da remissão de seus pecados (Mc 1.4; At 2.38; 22.16) e de sua submissão a Deus por meio de Jesus Cristo para andar em novidade de vida (Rm 6.3,4).[4]. O batismo deve representar a morte completa como de uma pessoa que foi sepultada; mas, também, deve representar uma vida inteiramente nova, como de alguém que venha da ressurreição.
 Convém salientar que tanto em Romanos 6.4 quanto em Colossenses 2.12, Paulo não trata de um batismo com água (como parece entender a maioria dos imersionistas), mas de um batismo espiritual representado desta maneira, isto é, representa, como já foi mencionado, o novo nascimento sob a figura de sermos sepultados (morrer para o pecado) e ressuscitados (viver para Cristo).
 Quanto aos objetos do batismo
 "A quem o batismo deve ser ministrado? O batismo não deve ser ministrado àqueles que estão fora da igreja visível, enquanto não professarem sua fé em Cristo e obediência a ele, mas os filhos daqueles que são membros da igreja visível devem ser batizados" (Pergunta e Resposta 95, cf. Gn 17.7-14; At 2.38,39; 18.8; 1Co 7.14).
 Depois da extraordinária pregação evangelística de Pedro no dia de Pentecostes (At 2.14-36), Lucas relata a reação dos ouvintes assim: "Ouvindo eles estas cousas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?" (At 2.37). Pedro diz que o critério para serem recebidos como filhos de Deus deveria ser o arrependimento de pecados e o batismo como evidência externa do arrependimento. De acordo com o Breve Catecismo, ninguém pode ser batizado enquanto não professar sua fé em Cristo e obediência a Ele. O batismo exige a pública profissão de fé.
 Mas se para alguém ser batizado é necessário primeiro professar a fé, então por que as igrejas presbiterianas batizam crianças? O Breve Catecismo responde parcialmente essa pergunta assim: "... os filhos daqueles que são membros da igreja visível devem ser batizados" (Resposta 95).
 Talvez o primeiro passo para se compreender porque as crianças devem ser batizadas, é respondendo a pergunta: Por que os adultos são batizados? É porque são estranhos ao pacto da graça e somente o arrependimento de seus pecados e o selo do batismo introduzem-nos dentro do pacto. Os filhos de pais crentes já estão naturalmente dentro do pacto. O batismo é o sinal e selo externo desse pacto. O batismo é "um sinal da aliança (como a circuncisão, mas sem derramamento de sangue) e, portanto, um sinal da obra de Deus realizada a nosso favor, que antecede e possibilita nossa própria atuação correspondente".[5]. Por isso, "Enquanto houver oração no Espírito e uma disposição de pregar a palavra evangélica quando vier a oportunidade, as crianças pequenas podem ser incluídas dentro da esfera desta obra vivificante da qual o batismo deve ser o sinal e o selo".[6].
 A base bíblica para o batismo de infantes está em Gênesis 17. Do mesmo modo como a circuncisão introduzia a criança no pacto, assim o faz o batismo. Não temos certeza se nas casas de Atos 16.15,33 e 1Co 1.16, por exemplo, havia crianças, mas se havia, então com certeza foram batizadas por causa da aliança de Deus. "Visto que o batismo tomou o lugar da circuncisão (Cl 2.11-13), as crianças devem ser batizadas como herdeiras do reino de Deus e de Seu pacto" (Form for the Baptism of Infants). Que os filhos de pais crentes, ou aqueles que têm um dos pais crentes, devem ser batizados sobre a base de suas relações de pacto, pode ser visto ainda em Atos 2.39 e 1Coríntios 7.14.
 Portanto, façamos do batismo que recebemos verdadeira expressão de vida cristã para nós e nossos filhos.
 NOTAS
 [1] Confissão de Fé de Westminster (CFW), XXVIII,3.
 [2] Cf. João Alves dos Santos, Comentários de Atos 1.1-8. São Paulo: Obra não publicada, 1981, p. 9-14; Charles Hodge, O Batismo Cristão: Imersão ou Aspersão?. 2a ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 7-34.

[3] Louis Berkhof, Teología Sistemática. 7a ed. Mexico: La Antorcha , 1987, p. 746-47; Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 1419-20.

[4] Cf. CFW, XXVIII,1.

[5] G. W. Bromiley, Batismo Infantil. In: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol. I. São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 158.

[6] Idem, p. 159. V. t. Elias Dantas Filho, Filhos e Filhas da Promessa. Curitiba: Editora Descoberta, 1998, p. 125-140; Guillermo Hendriksen, El Pacto de Gracia. Grand Rapids: Subcomisión Literatura Crist

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