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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

I - O INFERNO - UMA PERSPECTIVA BÍBLICA

PARTE 01. Dividida em 03 Partes Tem 11 Paginas. Estudo de Teologia Sobre

O INFERNO - UMA PERSPECTIVA BÍBLICA

Segundo pesquisa do Instituto Gallup realizada nos Estados Unidos em 1991 e publicada na revista Christianity Today em maio do mesmo ano, 60% da população norte-americana crê na existência do inferno, sendo que 34% das pessoas que não professam nenhuma religião também acreditam na existência de um lugar de punição eterna após a morte. Infelizmente, nem todas as igrejas e teólogos entendem o inferno como uma realidade, mas apenas como um símbolo. 



E você já pensou no assunto? Para auxiliar estudantes e à nossa querida igreja evangélica brasileira vejamos o que as Escrituras Sagradas e teologia evangélica nos ensinam sobre o inferno.



Duas palavras gregas: hades e geena


Duas palavras gregas e uma hebraica nos dão o roteiro para a compreensão da realidade do inferno, nas Escrituras Sagradas. Os gregos e os romanos, partindo da mitologia e da religião do império, consideravam que o tártaros era o lugar para onde iam as almas. O tártaros estava localizado abaixo do hades. Assim, o hades era o lugar dos mortos, um lugar de sombras, lúgubre e frio. Essa palavra [hades] aparece 11 vezes no Novo Testamento [Mt 11.23; 16.18; Lc 10.15, 16.23; At 2.27,31; 1Co 15.55; Ap 1.18; 20.13-14] e é quase sempre traduzida por inferno, embora às vezes também apareça como "morte".

A segunda palavra grega importante é geena, e é uma corruptela de "vale de Hinom", uma depressão profunda que ficava ao sul de Jerusalém. Ali, sob o governo do rei Manassés, os hebreus sacrificavam seus próprios filhos a Moloque. O ídolo, que era oco, era aquecido por dentro, até ficar em brasa e, então, as crianças eram jogadas em seus braços. Mais tarde virou o lixão de Jerusalém, onde eram queimadas as carcaças de animais e os corpos de criminosos executados. O fogo e a fumaça permanente do lixão queimando criou a imagem que os hebreus nos transmitiram de inferno. Devido a esses horríveis pecados, e porque ali também era o lugar onde o lixo era queimado, passou a ser sinônimo de lugar de castigo eterno [Mt 18:8,9; Mc 9:43]. Para Jesus, o homem ímpio será lançado no inferno, no vale de Hinom.

Assim, geena é um lugar de tormentos e miséria. É uma dimensão separada da presença de Deus, há trevas, fogo, não há luz, é quente, desconfortável e as condições existentes produzem sede e outros sintomas de insolação. Lá as pessoas perecem, já que estão distante da Vida, que é Cristo. Este lugar foi preparado especialmente para o diabo e seus anjos, mas será também a habitação dos ímpios por toda a eternidade. A palavra geena aparece 12 vezes do Novo Testamento [Mt 5.22, 29, 30; 10.28; 18.9; 23.15, 33; Mc 9.43, 45, 47; Lc 12.5; Tg 3.6].

Dessa maneira, apesar da diferença etimológica das duas palavras gregas elas apresentam uma mesma idéia: um lugar de punição para os perdidos. Ainda encontramos no Novo Testamento o verbo tartaróo como sinônimo de "lançar no inferno". Em 2Pe 2:4 a expressão "precipitando-os no inferno", segundo alguns teólogos, pode referir-se a esfera intermediária (abismos de trevas) onde anjos caídos aguardam o julgamento final, conforme Lc 16:23-26, Ap 20:11-15.


Sheol, uma garganta insaciável


No Antigo Testamento a palavra hebraica sheol é usada como sepultura (Gn 37:35; Is 38:10) e inferno (Dt 32:22; Sl 9:17). Uma das idéias básicas de sheol é a de algo como uma garganta insaciável. O conceito não era muito bem definido e os hebreus recheavam esta vageidade com elementos os mais variados. Assim, o sheol estaria debaixo da terra (Nm 16:30, Ez 31:17; Am 9:2), tinha portas (Is 38:10) e era um lugar tenebroso e melancólico, onde a alma consciente vivia triste e inativa (2Sm 22:6; Sl 6:6; Ec 9:10).

No Novo Testamento, sheol deixa de ser um lugar para onde vão todos os mortos e passa a designar principalmente o inferno. Temos então uranos [céu] e hades [inferno] como lugares opostos, o primeiro de recompensa e o segundo de punição.

A parábola do Lázaro reafirma a idéia de que existem dois lugares, um de punição, o hades, e outro de recompensa, no caso o seio de Abraão ou paraíso. É interessante ver que o texto não usa geena, mas hades, o que leva alguns teólogos a considerar a existência de uma habitação dos mortos no mundo inferior, como lugar de espera para o juízo final.

De todas as maneiras, Jesus na parábola do Lázaro (Lc 16:19-31) está falando de uma dimensão onde não há gozo, onde há memória do passado, remorso, sede insaciável e condenação definitiva. Dessa maneira, se considerarmos que a parábola transmite informações sobre a vida além-túmulo temos que descartar qualquer possibilidade de existência de um lugar de purgação e mesmo de salvação após a morte.

Assim, no inferno há sofrimento mental e físico. Há remorso, lembranças de épocas que foram melhores, dores físicas provocadas pelo calor, pela distância e pela separação de Deus, fonte de todo o bem e vida. 
Embora existam diferenças culturais e etimológicas, conforme apresentamos anteriormente, as três expressões [hades, geena e sheol] traduzem uma única idéia: a da punição eterna.


O inferno é mesmo um lugar horrível?


O escritor e teólogo inglês C. S. Lewis responde de forma inteligente à esta questão. Diz ele: "Pode haver grande parte de verdade no ditado: 'o inferno é inferno, não de seu próprio ponto de vista, mas do ponto de vista celestial'. Não acredito que isto interprete mal a severidade das palavras de Nosso Senhor. Somente aos condenados é que seu destino poderia parecer menos do que insuportável. E deve ser admitido que (...) à medida que pensamos na eternidade, as categorias de dor e prazer (...) começam a retroceder, enquanto bens e males mais vastos surgem no horizonte. Nem a dor, nem o prazer como tais têm a última palavra. Mesmo se fosse possível que a experiência (se pode ser chamada assim) dos perdidos não contivesse dor mas muito prazer, ainda assim, esse prazer negro seria de um tipo tal que faria qualquer alma, ainda não condenada, voar para suas orações num terror de pesadelo". C. S. Lewis, O Problema do Sofrimento, São Paulo, Mundo Cristão, 1983, p 90-91.

Mas vejamos o que o Senhor Jesus nos diz sobre o inferno: Mt 7.19; 8.12; 10.28; 13.42, 50; 18.9; 22.13; 23.33; 25.30, 41, 46; Mc 9.47-48; Lc 12.5, 46-48; 13.28; Jo 5.29.

Se voltarmos ao texto já citado de C. S. Lewis, vemos que "entrar no céu é tornar-se mais humano do que jamais alguém o foi na terra e entrar no inferno é ser banido da humanidade. O que é lançado no inferno (ou se lança) não é um homem: são refugos". Há duas questões que devem ser levadas em conta: (1) a punição eterna só virá depois do julgamento diante do grande trono branco. Embora, ao morrer o ímpio já esteja irremediavelmente condenado, a punição eterna, final, ainda não aconteceu. (2) Satanás não é senhor do inferno. No inferno, ele e seus anjos cumprirão uma pena eterna, sob o senhorio pleno de Jesus Cristo.


Existem níveis de inferno?


Tudo indica que sim. É um lugar de obediência, onde a punição cumpre uma ordem criada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, a quem foi dado o poder sobre todas as coisas, inclusive sobre o inferno [Mt 18.6-7; Mc 12.40; Lc 12.47-48; 17.1-2; 22.22-23; Ap 20.12].

Segundo Vernon Grounds, "em vez de igualdade absoluta, a Escritura indica uma desigualdade infinita na punição. Haverá 'poucos açoites' e 'muitos açoites'. (...) Obediência será a condição normal no inferno. É inútil especular como ela será conseguida. Pode ser que o reconhecimento da perfeita justiça e bondade de Deus leve os perdidos a aceitarem o seu destino. (...) Não há ociosos em uma cadeia bem disciplinada; na grande penitenciária de Deus, deve a ociosidade reinar suprema? (...) Devemos supor que todas as energias dos perdidos deverão ser consumidas em tarefas de castigo sem objetivo? (...) A Escritura não deixa dúvidas de que no mundo vindouro o castigo do pecado será real e perscrutador. Sabemos que ele acarretará banimento da presença de Deus e, além disso, que um amor infinito e uma justiça perfeita medirão o cálice que cada um precisará beber. Todavia, além disso não sabemos absolutamente nada". [Vernon Grounds, O Estado Final dos Ímpios, in Imortalidade, Russel Shedd, Alan Pieratt, São Paulo, Vida Nova, 1992, p 144.] 


O inferno foi preparado para alguém?


Sim, para o diabo e seus anjos. O lago de fogo foi preparado para Lúcifer e seus anjos [Ap 19.19-20; 20.7-15]. Após o julgamento, serão lançados no lago de fogo e enxofre a morte e o inferno. Em seguida, todos aqueles que não estavam inscritos no livro da vida serão lançados no lago de fogo. O inferno será uma conseqüência do juízo, onde Deus retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: dará a vida eterna aos que perseverando em fazer o bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade; mas derramará sua ira e indignação sobre aqueles que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça. Todo homem que faz o mal terá como recompensa tribulação e angústia. É uma penalidade de eterna destruição, banidos para sempre da face de Deus e da glória do seu poder.

Todo aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, profanou o sangue da aliança e ultrajou o Espírito da graça (Hb 10:29). "Estes, sem Cristo, sem esperança e sem Deus no mundo (Ef. 2:12) estão debaixo da lei, debaixo do pecado, debaixo da ira e debaixo do morte". James Packer, Nem Todos os Homens Serão Salvos, in Imortalidade, Russel Shedd, Alan Pieratt, São Paulo, Vida Nova, 1992, p. 105. 


O inferno é eterno?


Se entendermos que inferno é sinônimo do lago de fogo e enxofre, ele é eterno. Se considerarmos que inferno é o hades, e que será um dia -- ele próprio, assim como a morte -- lançados no lago de fogo e enxofre, ele não é eterno. Mas, quer no primeiro caso, quer no segundo, a punição definitiva -- o lago de fogo e enxofre --, sem dúvida, é eterna [Rm 2.3-9; 2Ts 1.6-9; Hb 6.1-2; 10.27-29; 2Pe 2.17; 3.9; Ap 14.9-11; 21.8].

Dessa maneira, não há base bíblica para afirmarmos que a punição não seja eterna. É importante notarmos que essa punição significa em última instância separação da presença de Deus. Embora o nível de sofrimento, tribulação, angústia e dor possam ser diferentes, a separação de Deus é a realidade maior para todos os ímpios.

Sem dúvida, o inferno é um ensino claro de Jesus, das Escrituras Sagradas e aceito por grande parte da igreja evangélica. Deve ser ensinado nas igrejas e faz parte do discipulado cristão. Por isso, finalizamos este estudo com as palavras do teólogo J. I. Packer:

Cremos na "realidade do inferno como um estado de punição eterna e destrutiva, no qual a retribuição justa de Deus é diretamente experimentada... [na] 'certeza do inferno para todos os que o escolhem, através da rejeição de Jesus Cristo e de Sua oferta de vida eterna... [na] justiça do inferno como uma aflição justa da humanidade, causada por Deus, devido às nossas obras malignas e cruéis" [Good Pagans and God's Kingdom, in Chistianity Today, 30:1 (Jan. 17, 1986):22]

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